Cristo Redentor, cercado de torres de TV e celular, mas gente mesmo que é bom...


Cidades

José Venâncio de Resende1

O Cristo Redentor disputa espaço com torres de celular e de TV.

O monumento ao Cristo Redentor de São João del-Rei – no Alto da Boa Vista, Bairro Senhor dos Montes - vive hoje cercado por uma paraférnália tecnológica de torres de transmissão de televisão/rádio e de operadoras de telefonia móvel, mas carente da presença de gente em geral  preocupada com a falta de segurança.

Adriana Soares e Vera Paiva, por exemplo, jogaram futebol, trinta anos atrás, num gramado que existia atrás do Cristo – hoje, raramente passam por lá. Naquela época, meninos e meninas jogavam misturados. Também praticavam vôlei numa quadra improvisada onde hoje estão instaladas torres de televisão e de celular.

A carioca Vera, em criança, vinha passar férias na casa da avó perto do Cristo, onde ficava até o carnaval. Hoje, ela mora em São João del-Rei e ainda lembra dos dois portões de ferro que existiam na entrada do Cristo, e que eram fechados a partir das 22 horas. “Tinha muito namoro aqui. Naquela época, as mulheres que frequentavam o Cristo à noite eram mal-faladas”, caçoa.

De uns 20 anos para cá, recordam Adriana e Vera, a insegurança aumentou por conta do abandono, principalmente a falta de atrativos, com a ocorrência de roubos e a presença de usuários de drogas. A quadra e o campo não existem mais. Recentemente, a administração municipal construiu uma pracinha com alguns bancos e um pequeno espaço para eventos. O local andou recebendo eventos esporádicos como gincanas, concursos de pipas e apresentação de hip hop. Mas ficou nisso.

Moradores reinvindicam mais segurança (posto policial, por exemplo), uma programação regular de eventos e algum estabelecimento gastronômico (lanchonete ou barzinho, por exemplo), o que permitiria a ocupação do espaço e a atração de turistas. Uma esperança de dias melhores é a guarda civil recém-criada pela administração municipal.

 

Histórico. O monumento ao Cristo Redentor, cuja pedra fundamental foi lançada em 11 de fevereiro de 1934, é tombado pelo Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Cultural, de acordo com José Antônio Ávila Sacramento. “Mais tarde, em 08 de dezembro de 1942, o monumento foi inaugurado; naquele dia, a população foi acordada com alvorada festiva. O Arcebispo de Mariana deu a bênção e aconteceu a celebração de missa campal, acompanhada de coral de 120 vozes, orquestra, e descerramento de placa com revoada de pombos; aviões do aeroclube local davam espetáculos em vôos rasantes...”

A imagem do Cristo Redentor – com 4,50m de altura e aproximadamente uma tonelada sobre um pedestal de 13 metros - é um projeto de Silva Costa que recebeu a forma definitiva pelas mãos do escultor Nicola Arrighini, diretor da Academia de Belas Artes de Petrossanto, da Itália, que a fundiu no bronze, relata José Antônio. “Quando a imagem chegou ao Rio de Janeiro, ficou exposta no Mosteiro de São Bento e, depois, veio para São João del-Rei em cima de um caminhão, chegando na cidade em 27 de agosto de 1939. Aqui permaneceu por mais de 3 anos, enquanto eram realizados a terraplenagem do então Alto da Boa Vista e a construção do seu pedestal.”

Alguns anos atrás, foi apresentado um projeto de teleférico entre a antiga rodoviária, no centro de São João del-Rei, e o Cristo Redentor no alto do morro para incentivar o turismo ao local. O projeto original, porém, nem começou  a ser executado. Envolvido em muita polêmica, foi abortado depois de embargo por parte dos órgãos preservacionistas - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural.

 

Modelo. A escultura do “Cristo Inacabado”, que faz parte do acervo da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, serviu de modelo para a fundição da cabeça em bronze do Cristo Redentor de São João del-Rei, conta José Antônio. “É uma imagem talhada em madeira, com tamanho natural e de formas anatômicas perfeitas; a autoria dela é creditada ao escultor são-joanense Joaquim Francisco de Assis Pereira. Supõe-se que ela teria sido uma encomenda para ser utilizada no Descendimento da Cruz, mas, por ter ficado por demais pesada, não foi terminada: faltou esculpir-se os braços, e por esse motivo tomou o nome de Cristo Inacabado.”

A imagem estava escondida ou descartada num dos cantos do forro da igreja do Carmo e foi descoberta por acaso pelo arquiteto Heitor da Silva Costa, autor do projeto do Cristo Redentor do Rio de Janeiro, quando ele, em 1935, visitava o templo. Maravilhado com a perfeição da obra, sugeriu que ela ficasse exposta. 

Comentários

  • Author

    Já estamos completando 5 dias sem sinal de vários canais de TV. O que está acontecendo? TV aberta


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