Famílias de imigrantes brasileiros na Irlanda ganham Mala de Leitura

Conheça ainda a experiência de ensino da língua portuguesa em Dublin


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José Venâncio de Resende, especial de Dublin 0

Clarissa no cenário de leitura dramatizada

As famílias de imigrantes brasileiros na Irlanda ganharam, em abril deste ano, a Mala de Leitura de Dublin. Clarissa Oliveira, idealizadora do projeto, diz que a ideia é levar a língua portuguesa para todas as partes do país, incentivando a leitura em português. “Nosso maior objetivo é promover a manutenção da cultura e da identidade brasileiras.”

Nesta fase inicial, as apresentações da Mala de Leitura estão focadas no público (mães, pais e crianças) da Associação das Famílias Brasileiras na Irlanda (AMBI). São leituras dramatizadas, com um narrador e personagens, que acontecem nos encontros mensais da AMBI, conta Clarissa. “Existe um momento chamado ´Senta que lá vem leitura´.”

A iniciativa tem origem na Mala de Leitura de Munique, criada pela também brasileira Andréa Menescal Heath. Clarissa foi uma das professoras do projeto de POHL (Português como Língua de Herança) da AMBI - as outras duas foram Vanessa Pacheco e Airna Oliveira do Nascimento - que participaram do II Simpósio Europeu sobre o Ensino de Português como Língua de Herança (SEPOLH), em outubro do ano passado em Munique (Alemanha).

“Nossa ida a Munique foi muito importante porque pudemos ver como as comunidades brasileiras trabalham a questão da identidade, além da troca de experiências e contatos que continuam através das mídias sociais”, resume Clarissa que coordena o projeto POHL da AMBI. Para ela, a maior satisfação foi saber que, na Inglaterra e na Suíça, o trabalho dessas comunidades já está solidificado e reconhecido na esfera governamental (escolas públicas). “O sonho é que um dia consigamos que o português seja incluído no currículo escolar.”

Projeto pedagógico

Clarissa começou a participar da AMBI como professora em 2010, através de uma mãe que conhecia na entidade. “A AMBI tinha aulas de português dadas por professores nos encontros mensais. Acontecia de forma não estruturada, ou seja, não tinha projeto político-pedagógico (por exemplo, não tinha currículo escolar organizado).”

Este esquema funcionou até 2014, quando Clarissa voltou de sua pesquisa de campo no Brasil, com a comunidade polonesa de Malet (PR) que fala o  polonês como língua de herança há mais de três gerações, “sempre mantendo a língua viva”. Inspirada nesse trabalho de Malet, para o curso de doutorado na University College Dublin, ela comunicou à presidência da AMBI na época que gostaria de estruturar o ensino de POHL dentro da entidade.

Sua proposta coincidiu com a vontade da então presidente da AMBI, Haryanna Alencar, de transformar as aulas mensais em semanais. Assim, Clarissa desenvolveu o projeto político-pedagógico para esta nova fase. “Nós não sabíamos como seria a aceitação da comunidade. O contato que a gente tinha na época era com a Brasil em Mente, de Nova York, que atua nessa área há vários anos.”

Para desenvolver este projeto, Clarissa aproveitou a sua formação em Letras – com mestrado em estudos de segunda língua e pesquisa de doutoramento na University College Dublin, com bolsa da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior),  em língua de herança – e suas experiências, como professora de inglês em escola pública e na UFT (Universidade Federal do Tocantins). Além disso, durante a faculdade, desenvolveu um trabalho com os indígenas Apinagés (de Tocantins) onde o português era trabalhado como segunda língua.

Boa aceitação

Na elaboração do projeto, Clarissa contou com a colaboração da pedagoga Flávia Passos. O lançamento foi em setembro de 2014 com a presença do embaixador brasileiro na Irlanda, Afonso Cardoso, e sua esposa Solange Escosteguy Cardoso. “A primeira doação de livros para a biblioteca da AMBI foi feita pelo embaixador, que fez um trabalho importante de apoio a comunidades brasileiras organizadas na área cultural (capoeira, música etc.), além do projeto da esposa, chamado Cine Brasil, que apresenta filmes brasileiros gratuitamente.”

O projeto começou com duas salas de cerca de seis alunos por sala (uma sala com turma de 4 a 6 anos e outra de 6 a 12 anos), lembra Clarissa. “O projeto piloto solidificou-se porque a aceitação foi muito boa.” Tanto que, em novembro de 2015, foi inaugurada a terceira sala (alunos com idade de 2,5 anos a 4 anos).

Nova diretoria

A AMBI está com nova direção desde o início de abril deste ano: Aline Volpi, presidente; Cintia O´Toole, tesoureira; e Helena Costello, secretária.

Uma das suas primeiras iniciativas foi a organização da biblioteca, que já foi apresentada à comunidade brasileira, conta Helena que é a responsável pelo setor. “Hoje, temos 198 livros catalogados, 99% infanto-juvenil, entre aquisições e doações.” Com esta medida, passa-se a ter maior conhecimento e consequente controle do acervo da biblioteca. “Três meses depois, continuo a receber livros que não estavam catalogados”, acrescenta Helena.

Para a retirada de livros, foi criada uma carteirinha denominada “passaporte da leitura”. Toda vez que a criança devolve o livro à biblioteca, ela preenche um espaço com no máximo cinco estrelas, significando o quanto ela gostou do livro. “É uma forma lúdica de incentivar a leitura em português.”

O plano é contemplar também os pais, segundo Helena. A expectativa é que em setembro a biblioteca tenha um acervo de no mínimo 50 livros para adultos.

Outra novidade é o retorno dos encontros mensais, que foram substituídos por eventos distribuídos pela cidade (piqueniques e datas comemorativas como carnaval, festa, junina e sete de setembro). Helena acredita que os encontros mensais podem conviver com os eventos. “Achamos que esses encontros são bons para dar suporte principalmente às mães de primeira viagem, para conhecerem pessoas na mesma situação, dividir experiências etc. E é um momento de descontração.” Uma média de 20 famílias frequentam estes encontros, número que sobe quando há datas comemorativas. 

Links relacionado:

- Cresce na Europa movimento de mães imigrantes pelo português e a cultura brasileira - http://www.jornaldaslajes.com.br/integra/cresce-na-europa-movimento-de-maes-imigrantes-pelo-portugues-e-a-cultura-brasileira-/1745/

- Mala de Leitura de Munique aproxima filhos de brasileiros de língua e cultura - http://www.jornaldaslajes.com.br/integra/mala-de-leitura-de-munique-aproxima-filhos-de-brasileiros-de-lingua-e-cultura/1759/

 

 

 

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