Nos 70 anos do fim da 2ª Guerra Mundial, uma homenagem ao ex-combatente de Resende Costa: Osires Gomes de Sousa


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João Magalhães1

fotoÀ esquerda, o ex-combatente resende-costense Ozires Gomes de Sousa. (Foto arquivo familiar)

“Tem Resende Costa mais um ex-combatente. Tal fato encontra-se registrado na história da cidade? Acho que não. Pois é! Enriqueceu-se a história do município com mais um filho no rol dos ex-combatentes da segunda guerra mundial e ninguém disso tem conhecimento, a não ser os familiares mais próximos, como eu, por exemplo, seu sobrinho e afilhado”. O comentário é de Agenor Gomes (Agenorzinho), extraído dos originais de um livro de suas memórias e vivências de Resende Costa que está em processo de finalização e pretende publicar oportunamente e que será, em minha opinião, uma excelente contribuição para a história de nossa terra. E é dele que me vieram todas as informações e documentos para esta matéria em homenagem ao ex-combatente: Osires Gomes de Sousa, mais conhecido em Resende Costa como “Zirico”.

Osires nasceu em 1915 em Resende Costa e faleceu em 1992 com 77 anos em São Paulo, num hospital à rua Pedro de Toledo. Quase perto, o Hospital dos Servidores Públicos de São Paulo, onde fui capelão religioso de 1965-1969. Era irmão de Antônio Gomes de Sousa (o conhecido Totonho do Agenor). De seu casamento com Carmem Íris de Sousa nasceram duas filhas: Maria Catarina e Noemi, residentes em são Paulo.

Agenor: “Chegou a estudar, parece-me, inclusive no famoso Colégio Santo Antônio, na vizinha São João del-Rei. Era culto e inteligente. Sempre gostou de ler bons livros e, especialmente os de doutrina espírita. Como voluntário, no dia 2 de março de 1938,incorporou-se no 11º Regimento de Infantaria, sediado em São João del-Rei. Na sua trajetória militar, prestou serviços, dentre outras, além de São João del-Rei, nas cidades de Porto Alegre, Rio de Janeiro e Recife. Na cidade de Porto Alegre, no Sétimo Batalhão de Caçadores, no mês de julho de 1940, já tinha sido investido na patente de sargento.

No Rio de Janeiro, exerceu suas atividades nas unidades militares na Primeira Companhia Independente de Carros de Combate Leves, a partir de 1º de setembro de 1942 e, anteriormente, na Escola de Motomecanização.

 Conforme documento do Exército Brasileiro: “Dos seus assentamentos consta ter-se deslocado por via marítima, ordem superior, comboiado em missão de vigilância do litoral, à bordo do navio Araranguá, tendo embarcado às onze horas de dezoito de setembro de mil novecentos e quarenta e dois, no porto do Rio de Janeiro, desembarcando no porto do Recife a doze de Outubro do mesmo ano... Participou efetivamente de operações bélicas” (grifo nosso).

Segundo Agenor, “faltam-nos documentos mais incisivos sobre sua permanência nas tropas do Exército Brasileiro”.

Em 1990, uma certidão do Departamento Geral do Pessoal do Ministério do Exército reconhece seus direito à Pensão Especial (lei 8.059/1990) como ex-combatente no posto de 2º tenente. 

Não embarcou para Europa com a Força Expedicionária Brasileira, escalado que foi para a força de defesa do litoral brasileiro, em conjunto com os americanos. E isto o singulariza especialmente entre os ex-combatentes de Resende Costa por ser uma testemunha agente contra os ataques aos navios brasileiros em nosso litoral.

E continua Agenor: “Contou-me tio Osires... alguns casos da vida militar... E isso lá na unidade militar de Recife, no auge da segunda guerra mundial... E o que mais me chamou atenção, registro aqui, foi o fato de que os americanos estavam sempre trajados com uniformes próprios para os mais variados tipos de combate, a qualquer momento e com armas modernas. Mas os brasileiros não. Embora em permanente estado de alerta, próprio de uma unidade militar em estado de beligerância, trajavam uniformes comuns e portavam armas de tecnologia não tão avançada. Dos americanos, disse-me meu tio Osires, ganhavam os soldados brasileiros de tudo. Inclusive um “tablete especial de chocolate”, que dava para substituir a alimentação do dia inteiro, a partir do café da manhã. Narrou-me mais outros fatos do seu tempo de guerra no norte do país. De boa memória lembrava um a um, dos nomes dos navios torpedeados no litoral brasileiro a partir de fevereiro de 1943 a julho de 1944... De um total de 21 embarcações, atacadas no litoral brasileiro, 19 foram afundadas”.

Dando baixa do exército, voltou para Resende Costa, aqui vivendo até março de1949, quando mudou-se para São Paulo.

Quanto à sua atuação aqui em nossa cidade, passo novamente a palavra ao Agenor: “Enquanto aqui esteve, exerceu, na Prefeitura Municipal, as funções do cargo de “Fiscal do Distrito da cidade”, para o qual fora nomeado, consoante certidão de tempo de serviço, datada de 9 de abril de 1980 e assinada por Selma Aparecida Andrade. Nesse paço municipal além das funções do cargo de fiscal, exercia  à parte, as funções de mecânico e motorista.

Na prefeitura havia dois veículos, um automóvel Ford/1939, de cor preta, de oito cilindros, e um pequeno caminhão, três quartos, também Ford do ano 1935. Era azul. Ambos, durante a guerra, diante da escassez de combustível, foram impedidos de trafegar. E, como consequência, enferrujaram-se, tiveram seus motores danificados. Foi tio Osires, com seus conhecimentos de mecânica e de eletricista, que os fez, novamente funcionar. E neles, tanto no automóvel como no caminhão, muito viajei de carona. Lá na antiga prefeitura municipal, ainda Praça da Bandeira, num cantinho de um pátio, que dava para as lajes, havia uma bomba hidráulica, que da grande caixa d’água, situada logo adiante, puxava o precioso líquido. Era manual.  Inúmeras vezes, convocado por meu tio e padrinho, manobrei a tal bomba d’água para lavar o automóvel. E isso a troco de uma voltinha, que sempre acontecia, no Ford/1939.

Era meu tio e padrinho um exímio eletricista, tanto com corrente contínua ou alternada. A prestadora do serviço de iluminação da cidade, de propriedade de um tal de Azevedo, deixava a desejar, para não ser mais contundente. Na época da seca, com a falta d’água na usina geradora, a energia elétrica, só e somente, servia para alumiar, e mal, as casas dos moradores da cidade. As ruas, praças e avenidas, com um poste de luz aqui e outro a mais de cem metros de distância, estavam sempre às escuras. Não era a energia elétrica suficiente nem para funcionar um rádio. E olha, nem um tal de “rádio-rabo-quente”, de baixo consumo de energia. Daí, o que fez o meu tio e padrinho? Habilmente, com papel manteiga, pedaços de lata de banha, recortados cientificamente, conexões de circuito de alimentação e mais fios e fios elétricos, idealizou um tal de “acumulador”, que o povão o apelidou de “transformador”. Depois de devidamente fabricado e montado o acumulador, valia-se o tio Osires dos serviços de um marceneiro, o Crispiniano, que o adaptava numa caixa de madeira envernizada.

De posse desse aparelho, que supostamente aumentava a potência do quilowatt, unidade de medida de potência ativa, puderam os proprietários dos rádios, finalmente, ouvir as notícias do mundo. Inclusive os ferros-elétricos, também, passaram a funcionar. Só que esse aparelho não gerava eletricidade. Sugava-a, acumulando-a, para soltá-la mais concentrada. E daí? Daí que as lâmpadas da cidade, das casas e das ruas, já quase sem nenhuma iluminação, de vez, pode-se dizer, transformavam-se em umas verdadeiras candeias. E o resultado de tudo isso, no entanto, foi que, a partir da invenção do Tio Osires, passaram os resende-costenses a ouvir, nos seus receptores, notícias, músicas e novelas das Rádios Tupi, Nacional, Mauá, todas as noites. Noites? Sim! Noites. É que, durante o dia, nas décadas de 1940/1950, não gerava a usina do Azevedo energia elétrica. Também, pra quê? “Se de dia havia o Sol para alumiar a cidade”, segundo o tal de Azevedo.

 

Demitindo-se da Prefeitura Municipal.... foi o tio Osires para São Paulo. Aí, no início da Avenida Rebouças, logo após a Avenida Paulista, numa oficina elétrica para veículos, de propriedade de um tal de Senhor Carvalho, meu meio parente pelo lado de minha mãe, Leonor, iniciou as atividades de mecânico-eletricista. Nessa oficina, trabalhei, como aprendiz, de janeiro a julho de 1950. Posteriormente, de empregado passou tio Osires a dono da oficina”.

Comentários

  • Author

    Gostei muito desta homenagem ao meu avô!
    Sinto orgulho que ele fez parte de Resende Costa.
    Saudade imensa dele!
    Sou Daniel, filho de Noemi.


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