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Transposição do rio São Francisco

18 de Agosto de 2016, por Instituto Rio Santo Antônio

Diante do título, você deve estar se perguntando: o que a transposição do rio São Francisco tem a ver conosco, moradores de Resende Costa? Estamos a muitos quilômetros da região onde estão acontecendo as obras. E, felizmente, nossa região não tem problemas com escassez de água, como é o caso do Sertão. Mas, as águas de nosso município também contribuem para a sustentação do Velho Chico e, consequentemente, para a transposição. A seis quilômetros da cidade, em linha reta, no alto do Jacarandá (estrada que vai para os Curralinhos), a drenagem já pertence à bacia do São Francisco.

É sempre bom lembrar que o São Francisco nasce na Serra da Canastra, em São Roque de Minas, oeste de Minas Gerais, e corta cinco Estados brasileiros (MG, BA, PE, SE e AL), por seus 2,7 mil km de extensão, até desaguar no Oceano Atlântico. A bacia de drenagem ocupa ainda terras de GO e do DF, perfazendo um total de 507 municípios. Assim, ele é considerado o “rio da unidade nacional”. Destaca-se que a rede hidrográfica de dois afluentes do São Francisco banha o município de Resende Costa. O rio Pará nasce nas imediações de Jacarandira e as águas da região dos Curralinhos convergem para o rio Paraopeba.

O projeto da transposição é bastante polêmico. A ideia, que remonta aos tempos do Império, consiste em retirar 1,4% da vazão da barragem de Sobradinho ou 26,4m³/s (comparando: a vazão média da foz do nosso rio Santo Antônio na Fazendo do Pombal é de aproximadamente 7,0m³/s ou 7.000 litros/s) e direcionar a água, por meio de canais de concreto, até o interior do Nordeste, abastecendo açudes e perenizando rios menores. A obra teve início em 2007 e previa a construção de 720 mil metros de canais até 2015. Serão 390 municípios e 12 milhões de pessoas beneficiadas. O orçamento inicial era de 7 bilhões.

A água será utilizada para irrigação (70%), uso industrial (25%) e dessedentação humana e animal. É uma tentativa de solucionar parte do problema que afeta as populações do semiárido brasileiro, a região mais seca do país. Apesar de socialmente necessário, do ponto de vista ambiental, é um projeto delicado, pois afetará um dos rios mais importantes do Brasil e que já sofre vários problemas, tais como: diminuição da vazão, assoreamento, poluição por esgotos domésticos e industriais.

Ambientalistas afirmam que existem outras formas mais baratas e menos impactantes para minimizar a seca da região, como construção de poços para captação de água do lençol freático e de reservatórios para coleta da água da chuva. No entanto, alguns pontos devem ser colocados. Em grande parte do Nordeste a água subterrânea é insuficiente, é uma região de embasamento cristalino. Em outras, o lençol é salobro, o que impossibilita o aproveitamento in natura. A evaporação da água retida em barragens é muita alta. Resta a água da chuva. O armazenamento da água pluvial, seja no subsolo, em represas ou em cisternas, parece ser uma das soluções, mas certamente não é a única nem a definitiva. O problema da região não é especificamente a falta de chuva, mas a irregularidade na sua distribuição, chove somente em três meses. Quando o período chuvoso fica abaixo da média, temos as terríveis secas.

A localização físico-geográfica do Sertão, e especialmente seu clima semiárido, é um dificultador do desenvolvimento socioeconômico. Em termos de paisagem, quando você se depara com a Caatinga, o choque de realidade é grande. Mesmo em Minas, algumas áreas também possuem restrições hídricas: Vale do Jequitinhonha e Norte. Essas fazem parte do Polígono das Secas. No período da estiagem se percorre vários quilômetros sem encontrar um leito de rio com água.

Por fim, uma questão pode ser colocada: se os moradores do Sertão estão acostumados a conviver com menos disponibilidade de água, nós, moradores do centro-sul, convivemos com o desperdício e com a falsa ideia de que sempre teremos o precioso líquido em quantidade e qualidade. As chuvas bem abaixo da média nos últimos anos mostraram que também somos vulneráveis na questão hídrica. O período chuvoso 2015/2016 foi generoso, senão, estaríamos com um pires seco nas mãos.

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