As perspectivas do rocambole artesanal diet de Lagoa Dourada


Cidades

José Venâncio de Resende0

Muitas excursões para Resende Costa param na Padaria Jaci

Produzido há cerca de 20 anos, o diet representa em torno de 3% das vendas de rocamboles da Padaria do Jaci, que variam de 2.000/2.500 unidades por mês a 3.000/3.200 unidades (meses mais frios – maio a agosto). Já a padaria O Legítimo Rocambole usa entre 3 e 4 quatro massas (loja de São João del-Rei) e cerca de 10 massas (loja de Lagoa Dourada) de rocambole diet, semanalmente; quantidade ínfima num universo de vendas semanais entre 1.000/1.200 unidades e 1.200/1.700 unidades (quando há eventos em Tiradentes).

Na receita da Padaria do Jaci, usa-se adoçante culinário na massa e doce de leite diet da marca São Lourenço no recheio, segundo Heloisa de Resende Andrade. “O rocambole diet não contém adição de açúcar.” O Legítimo Rocambole produz o diet há cerca de 10 anos por demanda dos clientes que não podem consumir açúcar, de acordo com André Youssef. E “nós desenvolvemos a nossa receita, na época, com um nutricionista”. A massa é totalmente diet, com adoçante, e “o recheio também é um doce no qual não vai nenhum tipo de açúcar”.

Heloisa e André admitem que a demanda pelo rocambole diet ainda é pequena, mas acreditam que a procura tende a aumentar com as novas perspectivas de mercado. Não apenas em decorrência da volta à normalidade no pós-pandemia e da conquista municipal do título de “Campeão Nacional do Rocambole”, mas também pela mudança de comportamento. “Eu acredito que aos poucos vai aumentando essa demanda porque a população no geral começou a se preocupar em estar consumindo menos açúcar”, argumenta André.

 

Sazonalidade

O rocambole diet acompanha a sazonalidade das vendas, diz Heloisa, da Padaria do Jaci. Em geral, “a quantidade de rocamboles vendidos no mês é bem variável e leva em conta feriados e festas na região. Nossa venda é, em grande parte, para turistas e viajantes.” Há finais de semana “muito pesados”, principalmente nas férias e na exposição agropecuária, relata Heloisa. “Eu atendo muitas excursões de estudantes, muitas delas agendadas.” E, no período de setembro até a segunda quinzena de dezembro, todo final de semana “passam muitas excursões para Resende Costa, de pessoas que vão para comprar artesanato. Há dia em que passam oito, dez grupos entre ônibus e microônibus”.

Com o passar do tempo, ocorreu uma mudança no calendário das vendas, conta Heloisa. Já houve época em que se vendia muito no Carnaval. Mas, “hoje em dia, isso acontece mais na Semana Santa, na semana de exposição (agropecuária), em alguns eventos em Tiradentes (por exemplo, semana da gastronomia), em feriados prolongados e na época do Natal”.

Já André, de O Legítimo Rocambole, destaca o papel da descentralização da empresa – uma loja em Lagoa Dourada e outra em São João del-Rei – e do movimento de Tiradentes na demanda do seu produto. “Quando há festa em Tiradentes, as nossas vendas disparam”. Ele acredita que, com a abertura da terceira loja, na Savassi de Belo Horizonte, “a gente possa aumentar bastante a nossa produção”.

O carro-chefe da empresa é o rocambole tradicional de doce de leite, em meio a cerca de 30 sabores de rocambole. “Todos têm uma demanda bem grande, mas a gente usa cerca de uma tonelada e meia por semanas ó de doce de leite.” É um produto “totalmente artesanal, feito todos os dias pela manhã em nossas padarias e que não leva nenhum tipo de conservante”.

 

Recuperação

Depois da queda vertiginosa durante a pandemia, nos últimos anos as vendas estão voltando ao normal, diz Heloisa. “Só que, de maneira geral, o poder aquisitivo está um pouco menor. As coisas estão muito caras, principalmente a parte de lácteos. O preço do doce de leite aumentou muito; assim, o custo e o preço do rocambole aumentaram muito também. As pessoas que antigamente levavam dois, três, hoje em dia levam apenas um. Quem levava um, leva meio... pessoas de poder aquisitivo menor levam menor quantidade. Mas as vendas já vão chegando ao que eram antes. O ano passado foi muito bom; o atual ano caminha da mesma forma.”

Também André enfatiza o sofrimento, fruto da “obscuridade da época da pandemia”. “A gente sofreu muito, as nossas vendas caíram 80%; durante os primeiros meses da pandemia foi ainda pior”. Porém, “pelo fato de sermos uma padaria, pudemos voltar a abrir só para atender os clientes na porta do estabelecimento”, o que “dificultou muito o nosso trabalho em geral. Reduzimos a mão-de-obra em mais da metade, infelizmente. Já voltamos mais ou menos ao normal. Ainda não é o ideal, mas está ótimo.”

 

Projeção nacional

Heloisa acredita que as vendas vão aumentar na esteira do título de Capital Nacional do Rocambole. Já há muita gente que visita as padarias, aguçada pela curiosidade: Estou experimentando para ter uma noção de onde que é melhor. “Nas últimas semanas já tem acontecido isso”, constata. “Eu acredito que ao longo dos anos vai melhorar muito para a cidade, para as empresas da cidade. E, aumentando as vendas, a gente aumenta a quantidade de pessoas trabalhando, movimenta a economia local.”

Também é uma oportunidade para se dar dicas de locais atrativos, como a Fazenda Ecológica. Heloisa vê ainda uma outra mudança no movimento dos turistas. Por Lagoa Dourada, passam os turistas que vão em direção a São João del-Rei e a Tiradentes. Mas a tendência é aumentar a presença dos turistas do Rio e de São Paulo: “Acho que vai aumentar a curiosidade de conhecer a cidade do rocambole e de experimentar todos os rocamboles”. O que “é bom para toda a região porque a gente acaba indicando outras cidades”, para além de São João del-Rei e Tiradentes, “como Resende Costa, Prados, Coronel Xavier Chaves…”

Apesar de a cidade já ser “muito famosa por causa do rocambole”, André acredita que essa fama vai aumentar ainda mais com o título de Capital Nacional do Rocambole. “Com isso, gera-se mais empregos na cidade.” Apesar do pioneirismo – “Nós fomos a primeira casa de rocambole em Lagoa Dourada” -, “estamos sempre procurando expandir, melhorar a nossa qualidade”.

O rocambole começou, há quase 120 anos (foi em 1907), com os bisavós de André, que imigraram do Líbano. No início, eles serviam rocambole “como um tira-gosto”, na época em que nem havia a rodovia passando por Lagoa Dourada. “Com o passar do tempo, chegou a BR à cidade e começou a passar mais gente e o rocambole foi criando fama.” Depois, o avô de André assumiu o negócio e passou a investir mais porque “percebeu que o rocambole se destacava entre os produtos da nossa loja”. O negócio mudou para as mãos do “meu pai, Ricardo”, que criou outros sabores (doce de leite com coco, chocolate e goiabada) e também espalhou placas na região, propagando a “cidade do rocambole” numa época em que não havia internet nem redes sociais.

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