Benefícios do asfaltamento entre Cel. Xavier Chaves e Resende Costa


Economia

José Venâncio de Resende*0

Mais de 20 por cento pavimentados (fotos fornecidas pela Prefeitura Municipal).

“A empresa vai acabar reduzindo os horários por falta de passageiros”, disse ao motorista um cobrador do ônibus da linha Resende Costa-São João del-Rei, apontando para o interior vazio do veículo com certo ar de desolação. Antes mesmo de o motorista responder, o cobrador, com vários anos de empresa, acrescentou: “Na hora que sair o asfalto da estrada, a empresa vai acabar passando os horários de ônibus pra lá pra compensar a falta de passageiros”. No final das contas, são 10 km a menos no trajeto entre Resende Costa e São João del-Rei, via Cel. Xavier Chaves.  

O trecho de 4,9 km da estrada (até a divisa com o município de Resende Costa) já está com a terraplanagem pronta, inclusive eventuais reparos de erosão provocada pelas chuvas. Deste total, mais de 20,30% já estão pavimentados, segundo estimativa do engenheiro Renan Medeiro Penna. A previsão dos técnicos da Secretaria Municipal de Obras e Urbanismo é que a obra esteja concluída em abril deste ano. Assim, ficariam faltando asfaltar cerca de 1,5 km em território resende-costense.

A manutenção dos horários de ônibus não seria o único benefício. Em conversas informais com usuários dos trajetos São João del-Rei a Resende Costa, São João del-Rei a Cel. Xavier Chaves e São João del-Rei a Resende Costa via Cel. Xavier Chaves, a quem denomino “interlocutores”, reuni vários argumentos favoráreis à pavimentação da estrada. Circulam por estes caminhos profissionais da saúde (médicos, enfermeiros), funcionários públicos (policiais, professores e pessoal de apoio em escolas etc.), empregados dos Correios e da Copasa, pessoas que vão fazer compras, consultas ou internamentos e turistas. Uns de ônibus, outros de carro próprio.

Ângela Santos, que faz este trajeto desde 2017, atualmente trabalha na secretária do Colégio Militar, em São João del-Rei, e como outros se vira como pode devido à falta de horários compatíveis de ônibus. Já a professora de Química, Elisângela Magalhães, deu aulas durante dois anos, antes da pandemia, em Cel. Xavier Chaves. “Nos primeiros seis meses, eu ia por estrada de terra; só que começou a danificar meu carro: teve um dia que soltou o peito de aço, e eu estava devagar. Passei a ir pelo asfalto; e hoje as pessoas que trabalham lá também preferem o asfalto. O tempo  de ida entre terra e asfalto é quase o mesmo, porque, pelo asfalto, você pode ir numa velocidade maior, mas em quilometragem a diferença é muito grande. Eu vejo que seria um ganho muito grande o asfalto entre as  cidades.”

Horários de ônibus

Um dos fortes argumentos é a necessidade de salvar o meio de transporte público de um colapso, e mesmo incrementar o número de passageiros. Como se pode constatar, os ônibus da Viação Presidente  tem rodado vazios na maior parte das vezes. Assim, o risco de redução dos horários é real, o que prejudicaria pessoas que dependem dessa condução para trabalhar, estudar, fazer estágios, ir ao médico ou às compras. São pessoas que não possuem carro e/ou moto ou deixam os veículos próprios em casa para reduzir gastos. “A diminuição dos horários provocaria um caos na vida dessas pessoas”, disse-me um interlocutor. O asfaltamento pode levar a empresa a reorganizar horários e itinerário, podendo até diminuir o tempo de espera.

Outro benefício é para o setor de serviços. Muita gente de Cel. Xavier Chaves já procura Resende Costa para consultas médicas e internações, tratamentos odontológicos, terapias, serviço de contabilidade, Fórum etc. Além das pessoas limitadas por não possuírem carro, muitos fogem da estrada de terra para não sujar ou danificar seus veículos. O mesmo vale para o comércio. Além de facilitar a entrega de mercadorias (de Resende Costa em Cel. Xavier Chaves ou de São João del-Rei nas duas cidades), mais pessoas seriam estimuladas a frequentar lojas, restaurantes, lanchonetes, etc. “Resende Costa seria uma opção para a compra de roupas e artesanato e para o lazer noturno. Os comerciantes criativos e competentes sempre serão capazes de atrair clientes”, ponderou outro interlocutor.

Os profissionais que trabalham nas cidades vizinhas também seriam beneficiados. Muitas vezes, estes profissionais que residem em Resende Costa, Cel. Xavier Chaves ou São João del-Rei, por dificuldades de encontrar emprego em suas áreas de atuação, precisam desempenhar suas funções em outras cidades. O menor custo com transporte (combustível, manutenção do veículo etc.) será um fator de incentivo, sobrando mais dinheiro para outras necessidades; além do menor tempo de viagem e da maior segurança na estrada.

Há ainda os casos de emergência, sobretudo quando nossa única via de acesso pavimentada está em situação caótica devido ao excesso de chuvas ou à falta de manutenção. “Um deslizamento de terra, uma erosão na pista, um acidente de grandes proporções ou outro fator que interdite nosso acesso ao trevo pode causar um dano considerável para nossa cidade por um bom tempo”, observou outro interlocutor. Aumento de preços por parte das transportadoras, cancelamento de excursões por parte de turistas, dificuldade para chegar ao local de trabalho em outra cidade etc. são alguns inconvenientes da estrada de terra.

Por outro lado, a pavimentação pode incentivar os encontros de membros de uma família que vivem nas duas cidades devido à proximidade geográfica. “Com a realização da obra, essas pessoas poderiam encontrar-se com maior frequência, fortalecendo os afetos entre elas”, opinou um dos interlocutores.

Cultura e turismo

Outro aspecto importante é a integração cultural. A pavimentação da estrada deve aumentar a oferta de opções de lazer em ambas as cidades. Mais pessoas de Cel. Xavier Chaves poderão contemplar o pôr do sol na Laje de Cima ou mais resende-costenses poderão visitar a “igrejinha de pedra” no final de semana. “Passeios como esse, que exigem poucos gastos, são sempre bem-vindos diante da necessidade de relaxamento do trabalho estressante ou do dinheiro curto”, acrescentou um interlocutor.

Acredita-se que há espaço para aumentar o intercâmbio de saberes entre as duas cidades em várias áreas. “Esta assimilação de práticas exitosas (organização de decoração natalina, cerimônias religiosas, blocos carnavalescos, etc.), desde que bem apreendidas e incorporadas pelos residentes e as administrações municipais, servirá para alavancar o turismo nos dois municípios e também melhorar o nível cultural das pessoas, gerando maior qualidade de vida”, observou um interlocutor. A obra também poderá estimular o turismo regional, possibilitando a criação de roteiro integrado e alternativo. Ou seja, turistas de regiões mais distantes (em busca de atrativos) poderiam encontrar mais opções (igrejas, praças, cachoeiras, monumentos históricos, artesanatos etc.) em um ou mais locais de uma pequena área geográfica.

A pavimentação dessa rodovia será um estímulo a mais para turistas que estejam hospedados em Tiradentes ou São João del-Rei e queiram escolher um roteiro diferente – por exemplo, visitar uma cidade aconchegante como Cel. Xavier Chaves, que tem casas históricas, uma igreja colonial de pedra e um engenho colonial em pleno funcionamento, e uma cidade charmosa chamada Resende Costa onde poderá ter contato com o artesanato típico e encantar-se com a matriz ou com as Lajes. “É mais fácil o sujeito comprar um tapete e uma cachaça a comprar um tapete ou uma cachaça, no cartão de crédito”, resumiu um entrevistado. “Usar a proximidade com a bela Cel. Xavier Chaves a nosso favor é uma estratégia”, acrescentou.

Por fim, uma palavra sobre a necessidade de melhoria do “trevo” da estrada, localizado numa curva da rodovia principal no Alto do Rochedo. A saída da estrada (que está sendo asfaltada) para a pista principal tem a visão prejudicada pela existência de mato e também porque há uma subida. “Alguém que saia em baixa velocidade pode causar um acidente (nem sempre por imperícia do condutor) se encontrar alguém subindo a rodovia principal em alta velocidade,  já que o mato na curva impede a visão”, alerta um dos interlocutores.

*Colaboraram nesta reportagem João Carlos Resende (Resende Costa) e Francisco Assis Rodrigues, o Chico (de Coronel Xavier Chaves).  

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