Cardeal de projeção nacional é homenageado com Medalha Tancredo Neves e exalta líder são-joanense

A sessão solene aconteceu na Câmara Municipal de São João del-Rei com a condecoração de políticos, líderes comunitários, esportistas, uma acadêmica, militares e empresários.


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José Venâncio de Resende0

Cardeal Raymundo Damasceno entre Jânia Costa e o vereador Igor Sandim.

“As alvoradas da liberdade não surgem como um acontecimento natural. As manhãs da liberdade se fazem com a vigília corajosa dos homens que exorcisam com sua fé os fantasmas da tirania.” Esta frase de Tancredo Neves “deveria merecer a maior atenção nos difíceis e sofridos dias que estamos vivendo em nosso país, dividido por tantas contendas e conflitos. Ela nos mostra caminhos seguros a percorrer rumo à pacificação da classe política de nosso país e da população brasileira em geral”, defendeu o cardeal Raymundo Damasceno Assis, ao receber a Medalha Tancredo de Almeida Neves, em sessão solene no dia 26 de abril da Câmara Municipal de São João del-Rei.

Dom Raymundo foi bispo auxiliar e vigário geral da Arquidiocese de Brasília (1986-2003), secretário-geral do Conselho Episcopal Latino-Americano – CELAM (1991-1995), secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (1995-2003), presidente da comissão episcopal para a evangelização da CNBB (2003-2006), arcebispo da Arquidiocese de Aparecida (2004-2016), cardeal (nomeado em 2010), presidente do CELAM (2007-2011), presidente da CNBB (2011-2015), membro do conclave que elegeu o Papa Francisco em 2013 e delegado pelo papa à beatificação de Isabel Cristina em Barbacena (MG).

Além da figura nacional de Dom Raymundo, foram condecorados, por indicação de vereadores, o coronel Rodrigo Piassi do Nascimento, comandante da Polícia Militar de Minas Gerais; Aparecida de Fátima do Nascimento, a Fatinha, primeira árbitra de futebol em São João del-Rei, com a atuação em várias cidades; empresário Ronald Bauer Assunção, professor de Jiu-jitsu faixa coral, várias vezes campeão mundial, brasileiro e pan-americano; Osvaldo Lopes, ex-deputado e ex-vereador de Belo Horizonte, ativista dos direitos dos animais e criador do primeiro hospital público veterinário de Minas Gerais; Mônica de Ávila Todaro, professora do Departamento de Ciências da Educação e do Mestrado em Educação da UFSJ, coordenadora do programa de alfabetização de pessoas idosas (método Paulo Freire) e pesquisadora nas áreas de educação e gerontologia; Ângela Cristina da Silva Chaves, líder comunitária, colaboradora em ações sociais da igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos e da comunidade do povoado de Emboabas; José Lombardi Neto, empresário e responsável pela implementação e administração do Pátio Matosinhos (espaço multisserviços) e CEO das Participações João Lombardi; deputado estadual Rodrigo Aparecido Lopes; Marcos Antônio Lopes, o Kiko, líder comunitário, conselheiro tutelar e coordenador da pastoral familiar da Paróquia São José Operário (Tijuco) e da Forania Nossa Senhora do Pilar (Diocese); Moacir Carlos Silva Maciel, empresário do agronegócio; e o cabo da Polícia Militar Wagner Maciel Longatti.

Em seu discurso, o cardeal – indicado pelo vereador Igor Sandim para receber a medalha – alertou: “Precisamos no Brasil atual de homens e mulheres que busquem seguir o exemplo de Tancredo Neves, nas famílias, nas associações, na vida pública, na política. A propósito, como se tornou grande a carência de pessoas como Tancredo Neves na política brasileira! Na verdade, quão grande é, presentemente, a escassez de homens e mulheres cuja atuação política vá além dos interesses meramente partidários e de ideologias mesquinhas. Para suprir essa insuficiência de verdadeiros e autênticos políticos, necessitamos – insisto – de homens e mulheres com as virtudes de Tancredo Neves, que em essência foi um homem que exerceu a política na sua acepção mais original: arte de construir o bem comum, com a participação do maior número possível de sujeitos, se não for possível fazer com todos”.

O cardeal condecorado agradeceu “tão valorosa homenagem” a qual recebeu “com humildade e com renovado propósito de bem servir ao próximo, ciente do elevado valor que ela representa para quem a recebe”. Falou de sua trajetória de servir a Deus e aos irmãos, “colaborando na construção de uma sociedade pautada pela justiça, pela paz e pelo amor entre as pessoas”, bem como do seu compromisso de “fundamentar a sua atuação no direito e na promoção do bem comum” em todas as instituições por onde passou. “Na verdade, se a Medalha Presidente Tancredo Neves é concedida aos cidadãos que prestam relevantes serviços em defesa da preservação dos direitos humanos, mais do que a mim, ela deve ser atribuída a pessoas que comigo trabalharam nas instituições de que participei no exercício de meu sacerdócio e de meu episcopado.” “(N)ada mais fiz do que coordenar o trabalho de pessoas, estas sim as verdadeiras protagonistas da defesa dos direitos humanos, segundo os preceitos do Evangelho.”

Homenagem a Tancredo

Dom Raymundo considerou ser seu dever prestar homenagem “àquele que é um dos nomes mais ilustres da história pátria. Reconheço, valorizo e reverencio a feliz memória do doutor Tancredo Neves, um dos mais importantes dos nossos tempos para a política e para o povo brasileiro”. Mesmo tendo galgado todos os cargos públicos, “não foi apenas a sua atuação no campo político que lhe conferiu a dimensão de primeira grandeza entre os mais célebres nomes de nossos compatriotas. O que fez com que sua memória viesse a ultrapassar o tempo, levando seu nome a permanecer na história, foi sobretudo o fato de ter sido um homem de bem, de família, de valores e princípios humanos e cristãos”, acrescentou o cardeal homenageado.

“Na Medalha Tancredo Neves está sintetizada toda a história de um homem nascido nessa generosa cidade de São João del-Rei e educado numa família de princípios e vivência católicos. Desde a infância como coroinha e na prática dos sacramentos da igreja, ao longo da vida, e como membro da Ordem Terceira de São Francisco, desde os 16 anos de idade, estimulado por sua mãe, e na participação nas procissões católicas, durante toda a sua vida, Tancredo Neves deu-nos o exemplo de ser um cristão autêntico”, prosseguiu Dom Raymundo.

A vida de homem religioso refletiu de forma substancial a vida pública de Tancredo Neves, enfatizou Dom Raymundo. “E foi nesse cadinho de homem religioso e político que se formou a personalidade de Tancredo Neves, hábil no diálogo, conciliador, sempre empenhado na busca da ordem e da paz. Generoso no sacrifício da própria vida pelo bem comum. Foi sob a égide do Evangelho e dos ensinamentos da Igreja, mãe e mestra do direito, que se formou o agir de Tancredo Neves. Homem que superou o seu tempo porque esteve sempre fundado na solidez e na grandeza dos valores humanos e cristãos.”

O cardeal condecorado colocou-se como “o porta-voz do clamor que este evento faz ressoar em nossas consciências e no nosso agir”. “Que os exemplos que o doutor Tancredo nos deixou em sua vida pública continuem, pois, a inspirar o nosso pensar e o nosso agir, onde quer que estejamos, seja qual for o cargo ou função que exercemos.” Inspirado nos valores e princípios humanos, éticos e cristãos que marcaram a ação de Tancredo Neves, o cardeal homenageado propôs “a todos que estão na vida pública a se fazerem arautos e praticantes desses mesmos valores”.

Ao encerrar seu discurso, Dom Raimundo lembrou de outros “ilustres filhos dessa terra consagrada a São João”. São eles o cardeal Lucas Moreira Neves, o cronista Otto Lara Rezende, o compositor sacro padre José Maria Xavier, a beata Nhá Chica e o músico Chico Lobo.

Veja o vídeo da sessão solene de entrega da Medalha Presidente Tancredo de Almeida Neves

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