Cidadania no combate à dengue


Editorial

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Até o momento em que este editorial estava sendo escrito, o Brasil havia ultrapassado 650 mil casos de dengue somente nos dois primeiros meses de 2024. De acordo com a Agência Brasil (EBC), lideram o número de casos: Minas Gerais, com 192 mil; São Paulo, com 90 mil; e Distrito Federal, com 67 mil. O Jornal das Lajes traz nesta edição uma reportagem sobre o aumento no número dos casos de dengue em Resende Costa. De acordo com o secretário municipal de Saúde, Douglas Cobucci, a situação no município preocupa as equipes de saúde. Diante do cenário epidemiológico atual, ele apela aos munícipes uma rápida mudança de atitude para combater o inimigo transmissor da doença: o mosquito Aedes aegypti.

Em cada início de ano, quando se intensifica o período das chuvas, especialmente em ano de El Niño, o Aedes aegypti volta a assustar os brasileiros. Água empossada em vasilhas e calhas, lotes vazios e sujos, caixas d’água descobertas são ambientes perfeitos para o mosquito habitar e se multiplicar.

O Brasil mal acaba de sair de uma pandemia, a da Covid-19, e já há cidades e estados decretando situação de emergência por causa do aumento assustador dos casos de dengue. Notícias de unidades de saúde cheias começam a ganhar destaque novamente nos veículos de comunicação. As autoridades de saúde preveem que 2024 será o ano em que os casos de dengue alcançarão sua marca histórica no país. Causa espanto o fato de saber que grande parte da responsabilidade por essa triste e vexaminosa estatística é do próprio cidadão.

Estima-se que o Aedes aegypti habita o Brasil há mais de 400 anos. Ora, tempo suficiente para conhecê-lo e erradicá-lo, não é? Algumas doenças, que no passado causaram epidemias, foram erradicadas no país através de vacinas e medicamentos eficazes. Um exemplo é a varíola. Sarampo, rubéola e coqueluche deixaram também de ser problema de saúde pública graças ao avanço das pesquisas, do surgimento de medicamentos, sobretudo, da descoberta e desenvolvimento de vacinas.

Qual é o nosso papel de cidadãos no controle de doenças que se proliferam em nosso meio? A pandemia de Covid-19 nos colocou à prova. Durante a fase crítica do enfrentamento ao novo coronavírus, enquanto a ciência buscava o conhecimento e a partir dele desenvolvia medicamentos capazes de combater o vírus, a única arma de que dispúnhamos eram as medidas de isolamento social, a higiene pessoal, o uso de máscaras, entre outras ações que nos protegiam e dificultavam a transmissão do patógeno, que se dá por meio do contato com secreções contaminadas (espirro, tosse, aperto de mão etc.).

Diferentemente da Covid, a dengue se transmite através da picada do mosquito. Dificilmente o vemos voando em nosso entorno. Quando sabemos que ele esteve entre nós, já estamos infectados. Se a máscara, o isolamento e as medidas de higiene pessoal nos protegem de vírus, como o coronavírus, transmitido por meio do contato interpessoal, não existe prevenção para a dengue, senão combatermos o Aedes e seu habitat.

As campanhas de conscientização têm como endereço o cidadão, principalmente sua postura diante do meio ambiente. Já há conclusões científicas que apontam serem uma das causas da proliferação do Aedes aegypti as agressões que estamos causando à natureza. O aquecimento global aparece como uma das principais causas para o descontrole do clima e suas consequentes alterações no meio ambiente.

Estudos também mostram que as mudanças climáticas podem aumentar a população de Aedes aegypti nos países tropicais e subtropicais, além de levar os mosquitos a lugares onde antes eles não habitavam, como em áreas montanhosas da América do Sul e em certas regiões da Europa. Ou seja, a dengue começa a preocupar as autoridades de saúde de países que a conheciam somente pela literatura médica. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a dengue acomete anualmente 80 milhões de pessoas em 100 países de todos os continentes, exceto a Europa. Todavia, com os efeitos das mudanças climáticas, a Europa poderá entrar, em breve, no radar do Aedes aegypti.

A epidemia de dengue no Brasil, neste início de ano, cobra de todos nós, mais uma vez, um compromisso com a cidadania, com a coletividade, algo que experienciamos durante a pandemia de Covid-19. Precisamos fazer a nossa parte enquanto o estado e a ciência cumprem o papel deles. E o que devemos fazer? Primeiramente acreditar na ciência e seguir as orientações que nos são transmitidas, sendo a principal delas o extermínio dos ambientes que facilitam a proliferação do mosquito transmissor. Cuidemos das nossas casas, das nossas hortas, do ambiente em que vivemos. É fácil isso. Difícil é lidar com a doença e com as complicações dela.

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