Dor e esperança


Editorial

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Era para ser, como ocorre neste espaço do JL todo fim de ano, um editorial de felicitações por mais um Natal celebrado e votos prósperos para um novo ano que se inicia. Mas, numa curva do destino, eis que surge um acontecimento trágico capaz de obscurecer qualquer sentimento de felicitação e inibir votos de esperança por dias melhores.

Por volta das 7h da manhã do dia 7 de dezembro último, uma van de Resende Costa, que transportava alunos adolescentes para o Instituto Federal de São João del-Rei, encontrou, numa curva da LMG – 839, um caminhão betoneira totalmente sem controle. O desfecho desse trágico encontro todos já sabemos e, infelizmente, é tema de uma reportagem desta edição do Jornal das Lajes.

Uma cidade arrasada, uma população chocada e estarrecida diante de tanta brutalidade. No acidente ocorrido na rodovia de acesso a Resende Costa, três pessoas tiveram suas vidas precocemente ceifadas e outras ficaram feridas. Mas qual ferimento é maior do que a dor de famílias que acordaram naquela manhã com a notícia daquele brutal e fatídico acidente?

Ao nos depararmos com um acontecimento trágico, como o acidente ocorrido no último dia 7 de dezembro na rodovia de Resende Costa, tratamos logo de buscar explicações, as causas que de alguma forma justifiquem a fatalidade. Não as encontramos com facilidade. Dificilmente um acidente, seja ele automobilístico ou na aviação, ocorre somente devido a um fator, a uma causa. Geralmente uma combinação de fatores causam um grave acidente com vítimas fatais. Pode ser erro humano, falha mecânica, intempéries ou a combinação de todos esses e outros elementos. Dificilmente saberemos o que de fato causou, com precisão, a tragédia que vitimou M.F.S., 49 anos, J.G.S., 15 anos, e T.R.H., 32 anos.

Reflitamos, pois, sobre uma palavra que soou da boca de tanta gente nestes últimos dias: tragédia.  Para os gregos antigos, tragikós (tragédia) possuía um significado diferente do que conhecemos na língua portuguesa e em nossa cultura. Para nós, tragédia define um acontecimento fatal, trágico, brutal. Para os gregos, tratava-se de um drama, um gênero artístico teatral em cujo enredo o herói estava condenado pelo destino ao seu infortúnio e às leis, contra os quais nada poderia fazer. Somente aceitar.

Se partirmos desse conceito de tragédia para ousarmos entender o que o destino reservara àqueles jovens que estavam na van e no caminhão betoneira na fatídica manhã do 7 de dezembro de 2023, culparíamos o infortúnio e o próprio destino escrito previamente para eles. Isso nos conforta? Acredito que não. Não somos capazes de aceitar estoicamente o que o destino determinara, ignorando a nossa capacidade de mudar rumos, rever trajetórias.

Acreditamos, sim, que podemos mudar os rumos do nosso “destino”. “Tragédias” podem ser evitadas através de ações preventivas que, se adotadas, salvam vidas nas estradas, nas cidades etc. O que não podemos é nos curvar diante do trágico, do fatídico, do sofrimento.

Difícil conter a dor. Impossível ignorar o sofrimento. Não há palavras de consolo, não há abraço que minimize a dor de um coração despedaçado pela perda precoce de um filho querido. Mas, diferentemente da tragédia grega, contra a qual não há luta, acreditamos na esperança, na nossa capacidade de alterar os rumos da vida. Cremos que após a tormenta o sol brilhará, que da seca brotará a rama verde, do solo seco e tórrido um manancial generoso surgirá refrescando o suor escorrido na face.

Se pudermos falar alguma coisa àqueles que sofrem as consequências do trágico acidente do dia 7 de dezembro, olhem para o presépio, contemplem o Menino Jesus. Busquem a esperança e o consolo Naquele que ainda pequenino fora vítima de sanguinárias perseguições, de incompreensões, mas que no fim venceu a morte.

Que a luz do Natal e o Menino Jesus iluminem os lares de todos nós (especialmente das famílias que perderam seus filhos no acidente na LMG – 839) que sofremos neste fim de ano. Que a estrela de Belém não deixe apagar nossas esperanças por um Ano-Novo com menos sofrimento, mas faça ressurgir, apesar dos infortúnios, a força da vida.

Feliz Natal, um 2024 repleto de esperança, de vida nova, de saúde e paz!

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