Os Resendes em Coronel Xavier Chaves


Especiais

José Venâncio de Resende0

fotoCapela Nossa Senhora do Rosário.

Reforço à integração regional e ao turismo, mas sobretudo o fortalecimento dos laços históricos. É o que pode proporcionar o asfaltamento da estrada que liga Coronel Xavier Chaves à rodovia de Resende de Costa, já em fase adiantada. Mais de 20% do trecho de 4,9 km da estrada (até a divisa dos municípios) já estão pavimentados, segundo o engenheiro Renan Medeiro Penna da Secretaria Municipal de Obras e Urbanismo de Coronel Xavier Chaves. O restante 1,5 km fica em território resende-costense.

A presença dos Resendes em Coronel Xavier Chaves vem de longa data, mais precisamente do século XVIII. Para recuperar esta história, o JL conversou com Francisco Assis Rodrigues, o Chico, que é um estudioso do assunto. Chico é filho de Maria da Conceição Chaves Rodrigues, da Fazenda do Rochedo, e bisneto de Tobias Rodrigues Chaves (e de sua primeira esposa Maria Cornélia Rodrigues Chaves), irmão do coronel Xavier Chaves.

É de Chico a informação de que, em 30 de setembro de 1754, o Capitão Francisco Pinto Rodrigues casou-se com Ana Maria Bernardes de Góes e foi morar na Fazenda do Ribeirão de Santo Antônio, no município de Resende Costa. Ana Bernardes era filha do Capitão Pedro Bernardes Caminha e de Ângela de Góes Cardoso, ambos da antiga Capela de Nossa Senhora da Conceição do Mosquito.

“Os pais de Maria Bernardes estão entre os mais antigos povoadores da região do Mosquito”, diz o historiador Fábio Carlos Vieira Pinto*, atual diretor da Escola Estadual Coronel Xavier Chaves. O português Pedro Bernardes Caminha casou-se em 1730, em Lagoa Dourada, com Ângela de Góes Cardoso, nascida na região, mais um exemplo dos “casamentos entre portugueses e mineiras”. Capitão de ordenanças da vila de São João del Rei, Pedro “deve ter sido o responsável pela construção da capela de Nossa Senhora da Conceição do Mosquito, muitas vezes chamada de Mosquito do Mato Dentro ou de capela de Pedro Bernardes na documentação eclesiástica do século XVIII”.

Ainda segundo Fábio Pinto: “O mais antigo registro que encontramos com menção à capela data de 1745, como Capela de Nossa Senhora da Conceição da Freguesia da Vila de São José, num batismo de um escravo de Maria Madalena do Sacramento. Em 1752, o registro de Conceição do Mato Dentro começa a aparecer e, em 1757, como pertencente a Pedro Bernardes Caminha. A partir da década de 1770, o registro consolida-se como Conceição do Mosquito ou do Ribeirão do Mosquito, sendo muitas vezes chamada apenas de Capela do Mosquito ao longo do século XIX”**.

A capela Nossa Senhora da Conceição do Mosquito, que se subordinava à matriz de Santo Antônio, da vila de São José (atual Tiradentes), esteve vinculada à Lage (atual Resende Costa), entre 1840 e 1852, de acordo com Olinto Santos Filho, citado por Fábio Pinto. Em 1920, a capela passou a ter o título de Nossa Senhora do Rosário, quando foi construída a nova igreja matriz de Coronel Xavier Chaves, com a invocação de Nossa Senhora da Conceição. “Originalmente, a capela era rebocada e pintada de branco e azul. É a mais antiga construção ainda existente da antiga fazenda do Mosquito, e a tradição oral da cidade atribui a ela a data de 1717, o que não pudemos verificar em nenhum documento pesquisado”,  acrescenta o historiador.

Quarteirão do Mosquito

Por um mapa populacional de 1838, a Freguesia de Nossa Senhora da Penha de França da Lage foi dividida em quatro quarteirões, sendo o primeiro deles o do Mosquito, de acordo com Chico Rodrigues. “Nesse quarteirão, aparece o quartel-mestre João Gonçalves de Lara e Góes, que era sobrinho da Ana Maria Bernardes de Góes, citada acima.”

Em 1928, os avós paternos de Chico, José Maria Pinto e Maria Teresa Pinto, nascidos no fim do século XIX em Resende Costa, compraram a Fazenda dos Dois Córregos e da Ponte de Pedra, em Coronel Xavier Chaves, das mãos de Antônio Gonçalves de Resende Maia, Cristóvão Gonçalves Pinto e sua mulher Maria Cristina Gonçalves Pinto***. Nascido na Fazenda do Barro Vermelho, José Maria Pinto era filho de Francisco Machado Pinto (Chichico do Barro Vermelho) e de Teresa Emídia de Jesus (Teté), irmã de José Procópio de Resende Júnior (Coronel Zeca Procópio). Maria Teresa Pinto, nascida na Fazenda do Retiro, de Resende Costa, era filha do Coronel Zeca Procópio e de Adolfina Cássia de Mendonça; ela, natural de São Tiago mas com antepassados na antiga Fazenda do Mosquito.

Dos filhos de Zeca Procópio, Sérgio Procópio de Resende e Pedro Procópio de Resende casaram-se na Fazenda do Campestre, de Coronel Xavier Chaves, respectivamente com Teresa de Jesus e Maria Benedita da Glória.

Em 1929, José Maria Pinto e o seu irmão Pedro de Alcântara Pinto compraram um terreno, na região de “Mãe não me chore”, de Pedro Celestino de Mendonça e sua mulher Esmênia Luíza de Resende (Cartório de Prados, livro 3-F, folha 13, número 21). Em junho de 1934, houve nova compra de terreno na “Mãe não me chore” (documento também do Cartório de Prados), por parte de José Maria Pinto; os vendedores foram os mesmos.

Quando o casal José Maria e Maria Teresa foi para a Fazenda dos Dois Córregos, a filha Maria do Carmo Resende já estava casada (12-07-1924) com José Procópio de Resende Neto (da Fazenda dos Campos Gerais). Já a outra filha, Teresa Maria da Conceição, casou-se em 25-07-1931, já em Coronel Xavier Chaves, com Evaristo Procópio de Resende, natural de Resende Costa (Curralinho dos Paulas), filho de Evaristo de Paula Resende e de Rita de Cássia Sobrinha.

Pedro de Alcântara Pinto, irmão de José Maria, é pai da irmã de caridade Benedita Pinto, a Irmã Geralda, nascida de seu primeiro matrimônio com Maria Teresa da Conceição (casamento realizado em 28-01-1911 em Resende Costa). Pedro morou no Curtume, de Coronel Xavier Chaves, onde foi realizado (em 24-07-1926) o seu segundo matrimônio, com Ana do Espírito Santos Vieira Camargos.

Francisco das Chagas Pinto, outro irmão de José Maria Pinto, foi casado a primeira vez, em Resende Costa, com a prima Mafalda da Anunciação de Resende. As segundas núpcias, em Coronel Xavier Chaves, foram com Maria da Conceição de Jesus, filha de Antônio Serafim dos Santos e de Maria José do Amor Divino.

Antônio de Pádua Resende Pinto, também irmão de José Maria Pinto, casou-se em 8 de setembro de 1915, na Fazenda do Sumidouro (pertencente ao pai da noiva), com Maria Madalena de Resende Chaves. Ele é filha de Tobias Rodrigues Chaves e sua segunda esposa Maria Salomé de Resende Chaves. O casal tinha uma casa em Resende Costa, um pouco abaixo do Lar São Camilo.

Importância política

Tobias é irmão do coronel Xavier Chaves, filhos do comendador Cipriano Rodrigues Chaves, o Cipriano do Jacaré. Já um dos filhos de Tobias, Eduardo Rodrigues Chaves, casado com Francisca Mendonça Chaves (filha do coronel Xavier Chaves), é pai de Tobias Rodrigues de Mendonça Chaves, da mesma turma de Direito de Tancredo Neves (em 1932). Tobias (neto) foi promotor de Justiça por mais de 20 anos em São João del-Rei, respondendo eventualmente pela promotoria de Resende Costa, Prados e até de Tiradentes. Foi ainda subprocurador geral do Estado, procurador da Justiça e finalmente procurador geral do Estado. Tobias (neto), juntamente com outros, teve papel importante na consolidação do município de Coronel Xavier Chaves, ressalta Chico.

*PINTO, Fábio Carlos Vieira. O Quarteirão do Mosquito: famílias, fazendas e a economia agropastoril das Minas Gerais (séculos XVIII e XIX. Jundiaí-SP: Paco Editorial, 2022.

**Registros Paroquiais de batismo, óbito e casamento – Arquivo Eclesiástico da Diocese de São João del Rei.

***Documento de Cartório de Registro de Imóveis de Prados, livro 3-E, folha 131, número 1687.

LINK RELACIONADO

Coronel Xavier Chaves: emancipação tardia em momento histórico da vida nacional

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário