RTR se mostra mais do que uma prova de atletismo

Superação e desafios são destaques durante corrida eletrizante na zona rural de Resende Costa


Esporte

Vanuza Resende0

fotoBianca Resende (4°) representou Resende Costa no pódio feminino dos 25 km (foto Vanuza Resende)

No domingo, 26 de novembro, o atletismo mais uma vez se mostrou ser um esporte democrático. Cerca de 130 atletas se reuniram no sítio do Luiz Nei Resende e Maraísa Resende, na Água Limpa, próximo ao povoado dos Pintos, para provas de diferentes quilometragens: 7km, 25km e 42km. No mesmo local, reuniram-se atletas de diferentes perfis. Aqueles que teriam a primeira experiência na corrida, alguns já profissionais, mas todos admiradores do esporte.

O sol, que estava castigando nos dias anteriores, demorou a aparecer na manhã do domingo. E o tempo fresco, aliado às belas paisagens de Resende Costa, fez com que a prova fosse muito elogiada por todos os participantes.

Organizador da prova e um dos grandes nomes do atletismo em Resende Costa, Luiz Nei Resende, falou sobre a competição. “RTR é uma marca que criei em 2017 (Resende Trail Run), uma corrida totalmente voltada pra trilhas, serras e percurso em meio à natureza. A galera adora esse tipo de competição. Eu sou atleta dessa modalidade e corro Brasil afora, trazendo aqui pra região esse estilo de competição que cresce a cada dia”, explica Luiz.

Uma maratona disputada em Resende Costa veio para coroar a nova idade de Luiz. “Em 2023 eu queria descansar e voltar em 2024, e a galera sempre perguntando se teria competição ainda em 2023. E assim lancei a edição do meu aniversário. Completei 42 anos, um quilômetro por ano, e assim uma maratona. Mas criamos distâncias menores para agradar mais ao público. Então tivemos também 25km e 7km.Acho que foi um sucesso”, avalia.

Maratona

Ir de Resende Costa a São João del-Rei e andar mais um pouquinho. Essa é quilometragem dos maratonistas que percorreram o circuito maior, os 42km. Entre trilhas e serras, completar o percurso tem também superação envolvida.

Entre as quatro mulheres que correram a maratona, está Isabel Campos Coelho, de Entre Rios de Minas. Isabel foi a primeira colocada na categoria feminina e fez a prova em um excelente tempo, com 5h05min. Mais do que segurar o troféu de campeã, a corrida para Isabel significa dar a volta por cima. “Completei quatros anos, agora em novembro, que eu corro. Há 13 anos que eu me acidentei. E, desde então, eu procurei o esporte. Até mesmo para sair da depressão. Na minha cidade não havia grupos de corrida. Eu treinava sozinha, machucava-me, eu me lesionava... mas continuava. Há quatro anos estou no grupo de corrida. Comecei a competir e apaixonei-me pelo esporte. Eu comecei no asfalto. Há cerca de um ano que eu me encantei com o Trail Run e não quero mais asfalto”.

Na categoria masculina, o primeiro a chegar foi Michel Schrameck, o Francês, com 3h44min. Morador de Carrancas, Michel acabou de se naturalizar brasileiro e conta sobre sua história no atletismo. “Eu corro há muitos anos. A minha primeira maratona foi em 2001 com 22 anos. Eu gosto de provas mais compridas, corro 42km, 50km e 80km”. Para ele, o segredo de quem quer correr maratonas é o treino. “Eu treino cerca de 100 a 120 km por semana, mas, na verdade, é até pouco. Isso é o que eu consigo para conciliar com os meus trabalhos. Sou guia de turismo e engenheiro de computação. Gostei muito dessa prova de hoje. Inclusive, esse ano não tivemos um trecho onde a gente tinha que subir com corda, e isso foi legal. Sou corredor de ultramaratona de montanha. É disso que eu gosto. E agora eu fui selecionado para competir no mundial máster – acima de 40 anos. Se Deus quiser, eu vou representar o Brasil ano que vem em Portugal, e isso vai me dar muita força para treinar”.

Entre os mais de 20 atletas que tiveram a emoção de disputar uma maratona, está Edivaldo Gonzaga de Resende, 65 anos. Edivaldo, que corre há mais de 20 anos, teve sua primeira experiência com a impiedosa maratona, e completou a prova com 5h40. “A minha vontade era colocar no meu currículo que eu já corri uma maratona valendo pódio. A experiência foi boa, muito boa. Eu sofri. Sofri em uns percursos muito difíceis, meio do pasto, sem estrada, tendo que prestar muita atenção nas marcações. Mas foi bom. Eu senti dores no joelho, porém, no fim das contas, tudo bem”, destaca Edivaldo, que foi o primeiro em sua categoria.

Para Edivaldo, que, entre tantas funções, também é atleta, o segredo para conseguir completar uma maratona é estar bem preparado física e mentalmente. “Você tem que colocar na cabeça que vai chegar. Mesmo que chegar arrastado, sofrendo com dores... mas você tem que colocar na cabeça: eu vou e eu tenho condições! Eu acho que a cabeça manda muito. Além, claro, de fazer uma preparação como eu fiz. Treinando alguns dias antes”. Questionado se pensou em desistir, a resposta franca mostra o amor pela corrida. “Não, hora nenhuma, de jeito nenhum. Não passou nem por um segundo esse lance de querer parar, de querer voltar. Sempre falando que eu iria dar conta. E consegui, graças a Deus”! Com a primeira maratona no currículo, se outras oportunidades surgirem, Edivaldo diz estar preparado. “Se aparecer uma oportunidade boa, com um percurso bom, eu irei novamente”.

Tá voando

Sair à frente de uma prova de 25 km, perder-se no caminho, esperar o segundo colocado chegar para então encontrar o percurso, e tirar o atraso para pegar o primeiro lugar no pódio, completando a prova em 1h51min. Foi isso que José Igor Resende fez no domingo. De Resende Costa, o menino, que parece voar nas provas, conta com naturalidade o feito. “Foi no quilômetro cinco. Eu errei, fiquei meio perdido, aí esperei o segundo colocado. Acabou que depois ele foi para um lado, eu fui para o outro e aí nós conseguimos achar o caminho. Retomei a liderança e continuei”.

Treinando pelo menos cinco vezes na semana, Igor concilia o esporte com suas atividades diárias. “Há dias em que eu chego em casa cansado, vou correr às 19h, 20h, 21h. Já aconteceu de eu terminar o treino às 22 horas. É bem pesado, mas dá pra correr”. Sendo o primeiro colocado em várias provas de distâncias mais curtas, como 5 km e 10km, Igor, que corre sem nenhum apoio de patrocinador, está disposto a continuar levando o nome de Resende Costa para a região na disputa de provas de atletismo.

Se há atleta da casa, há gente que viajou mais de 200km para correr em Resende Costa. Foi o caso de Bruna Matos, de Contagem, que correu pela primeira vez os 25km e foi a campeã geral. A atleta se inscreveu para os 7km, mas no domingo, pela manhã, mudou a sua inscrição e foi feliz ao completar a prova em 2h41. “O clima ajudou muito. Estava bem fresco. Um percurso muito lindo, uma prova muito bem marcada, foi excelente”.

Sobre a participação feminina no esporte, Bruna enumera os benefícios. “Eu acho de extrema importância os benefícios que a corrida proporciona à mulher. Uma força enorme. Eu descobri na corrida um potencial muito bacana, acho que só nos fortalece como mulher. Podemos conseguir fazer uma prova bruta e, hoje, por exemplo, a primeira colocação foi surpreendente. Eu vim para correr os 7, não vim pra correr os 25. Mas deu certo, confiei e, com certeza, será a primeira prova de 25 de muitas”, conclui a campeã.

 

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