200 ANOS DE INDEPENDÊNCIA: Brasil e o Museu Tesouro Real em Portugal


Cultura

José Venâncio de Resende0

Baixela da Coroa que acompanhou a família Real ao Brasil.

Desde junho que o Museu Tesouro Real, em Lisboa, exibe em caráter permanente as chamadas joias da Coroa (grande parte dos bens da antiga Casa Real portuguesa, pertencentes à Coroa ou provenientes de coleções particulares). São mais de 1000 peças (ourivesaria, joalharia, prataria, têxteis, pintura, etc.) distribuídas por onze núcleos sobre a sua origem e o seu valor artístico e simbólico. 

Este acervo encontra-se guardado a sete chaves numa “casa-forte”, no terceiro andar da recém-construída ala poente do Palácio Nacional da Ajuda. São 10 metros de altura por dez de largura e 40 de comprimento, revestidos com espuma de alumínio dourada e retroiluminada, equivalente a três andares. Ao final do percurso, o visitante encontra a baixela de prata da Coroa, “o maior conjunto preservado no universo da ourivesaria francesa do século XVIII”, encomendada em 1756 pelo rei D. José I ao ourives François-Thomas Germain. 

Esta baixela fez parte do tesouro que a família real e a corte levaram para o Brasil em 1807. Com a nomeação de D. Pedro regente do Brasil e o regresso de D. João VI a Portugal (1821), peças da baixela ficaram no Brasil. Com a vinda para Portugal em 1831, D. Pedro trouxe consigo a prata que D. João VI deixou a seu serviço, depositando-a no Banco Real da Inglaterra, em Londres.

Trata-se de “um acervo único e com particular significado, pela dimensão, raridade e qualidade, para um país com uma história de nove séculos”, segundo José Alberto Ribeiro, diretor do Museu. “As joias, condecorações, moedas, peças de ourivesaria religiosa e civil, são a expressão de riqueza de um povo e testemunham a excelência a que chegaram as artes decorativas.” São peças que evocam o poder régio, a devoção, a atividade diplomática e o colecionismo oitocentista, mas também o cotidiano de uma família real. 

Entre os destaques, pepitas (de jazidas de diamantes do Brasil colonial), moedas e medalhas em ouro, diadema e colar com estrelas cravejadas com diamantes (de D. Maria Pia), a coroa em ouro feita para a aclamação de D. João VI no Rio de Janeiro, cetros, mantos, espadins e insígnias que ainda hoje representam o país, como a Medalha das Três Ordens Militares (de final do século XVIII). E ainda o grande laço de esmeraldas da rainha de Espanha, D. Maria Bárbara de Bragança, bem como a caixa de tabaco de D. José (feita pelo joalheiro do rei Luís XV), internacionalmente considerada obra-prima, e a insígnia da Ordem do Tosão de Ouro de D. João VI (a maior ainda existente). 

Já o conjunto de ourivesaria civil portuguesa do século XVI, o maior existente no mundo, compreende “salvas, pratos e gomis de grande virtuosismo técnico e decorativo, reflexo de um passado áureo. Estão presentes no núcleo dedicado à prata de aparato que servia às cerimônias da Coroa, e no das coleções particulares reunidas pelo rei D. Fernando II e pelo seu filho D. Luís I, dialogando com notáveis peças de outros centros de produção”. 

Novela

A nova ala do Palácio da Ajuda, onde está instalado o Museu, foi concluída após um atraso de 226 anos em relação ao plano original. A obra começou em 2016 e o projeto, que ganhou a designação de “Tesouro Real”, recebeu investimento superior a 31 milhões de euros (ou mais de R$ 160 milhões). 

“Foram várias as propostas para terminar o Palácio da Ajuda, cuja primeira pedra foi lançada a 9 de novembro de 1795, no mesmo local onde tinha ardido no ano anterior o ´Paço Velho´ ou de ´Madeira´, que o povo de Lisboa chamou de ´Real Barraca´, e que por sua vez tinha sido a solução rápida e possível para albergar a família real na capital, após o trágico terramoto de 1755 que destruiu o Paço da Ribeira.”

Segundo Ribeiro, acontecimentos como as invasões francesas, a transferência da Corte para o Brasil, um novo regime liberal e uma guerra civil fizeram com que o país só tivesse alguma prosperidade na segunda metade do século XIX. Nova instabilidade política acabaria com o Regicídio (1º de fevereiro de 1908) e a implantação da República (5 de outubro de 1910). “A história deste edifício foi sempre o reflexo de uma trajetória conturbada e de um país ora sem recursos ora sem um programa definido para o terminar.” 

Apenas em 1968, a antiga residência real e casa-mãe das coleções dos Bragança se abriria ao público como Museu. “De todas as intervenções realizadas no século XX, a mais relevante tendo em vista a apresentação das denominadas ´joias da coroa e baixelas de aparato´ foi a construção de uma casa-forte, inaugurada a 13 de maio de 1954, com cerca de 142m2”, relata Ribeiro. Mas não estava aberta ao público. 

Depois de projetos e projetos, apenas em 1989 surgiu um programa de remate do Palácio para instalar as designadas joias da Coroa, por encomenda do Instituto Português do Patrimônio Cultural ao arquiteto Gonçalo Byrne. “O projeto era ambicioso, mas não avançou”, resume Ribeiro.  

Em 2016, houve o avanço efetivo da obra, através do protocolo de colaboração para financiamento do remate do Palácio entre o Ministério da Cultura, a Direção Geral do Patrimônio Cultural, a Câmara Municipal de Lisboa e a Associação do Turismo de Lisboa. As obras tiveram início em 2018.   

Fontes de apoio: Museu Tesouro Real e RTP   

 

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