Maisa, arquiteta são-joanense que migrou para nova profissão e vive no leste europeu


Perfil

José Venâncio de Resende0

fotoMaisa, estrategista digital (fotos fornecidas pela entrevista).

Mudou de profissão e de país, numa completa reinvenção em busca de novas experiências. “Queria conhecer novos lugares, novas pessoas, novas culturas.” A são-joanense Maisa Coelho Miranda, 27 anos, formou-se em arquitetura e urbanismo pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), mas pouco antes da pandemia migrou para a Irlanda e, em 2020, tornou-se estrategista digital. Filha do guia de turismo Luiz Antônio Sacramento Miranda e da professora Margarida Coelho Miranda, ela é descendente de resende-costenses - sua avó, Arlinda Miranda, pertence à família dos Souza, de Resende Costa.

De posse do certificado de arquiteta, Maisa deixou o Brasil, em 2019, rumo a Dublin, capital irlandesa, na União Europeia. “Na Irlanda, trabalhei em várias coisas: fui faxineira, camareira, entregadora de comida em bicicleta, cuidadora de idoso. Foram várias atividades até entender que eu queria ir além.”

Atuar em arquitetura fora do Brasil era difícil, pois precisava de vários cursos complementares, mesmo gostando da profissão como é o caso de Maisa. “Eu estudei arquitetura porque gosto. Em Dublin, eu não sabia bem o que queria fazer, mas eu queria viver novas experiências.”

Ainda Dublin, Maisa começou a trabalhar no mercado digital, como designer – “que é uma atribuição da arquitetura, que a gente aprende na faculdade”. Prestava serviços digitais para empresas, a distância (online), sem precisar de nova graduação. “Comecei fazendo isso na Irlanda durante a pandemia.”

No último meio ano na Irlanda, Maisa conheceu o namorado Nikola Sušac, que é bósnio-croata. Depois de um ano e meio vivendo em Dublin, no meio da pandemia, eles mudaram para a Bósnia (fronteira com Croácia, Sérvia e Montenegro na região dos Balcãs), já que “estava tudo muito restrito na Irlanda”. Viveram este tempo todo entre a Bósnia e a Croácia.

E foi na Bósnia que Maisa migrou de vez para a profissão de estrategista digital. É “um trabalho mais focado em marketing, em criar estratégias de marketing e vendas para empresas de educação, basicamente - empresas que vendem, no meio digital, produtos de informação (cursos, treinamento, mentoria, consultorias etc.). No final de 2020, fiz os primeiros lançamentos e, desde então, trabalho com isso”. 

Embora o seu foco seja a estratégia digital, Maísa tem uma empresa que presta serviços de design gráfico para o digital (sites, instagram, thumbnails de youtube, identidade visual etc.). “Em ambas, atendo clientes ao redor do mundo, clientes que falem português ou inglês.” 

Na Bósnia, Maísa e o namorado tem residência fixa na cidade de Mostar, na Bósnia. “Mas, na Croácia, já vivemos em mais de uma cidade, mais de um lugar. Lá é muito comum alugar casas mobiliadas, sem contratos de longo prazo. Então, a gente está sempre mudando de cidade, às vezes fica em locais diferentes na mesma cidade.” 

Atualmente, Maísa está no Brasil a trabalho – “vim aqui para eventos de negócios, mas volto para a Bósnia no início do próximo ano”. Ela só não sabe ainda se fica na Bósnia ou vai para a Croácia. “A gente está olhando também outros países como a Albânia e o Montenegro. A gente gosta de considerar todas as opções.” 

Aprendizado 

A experiência de viver e trabalhar fora do Brasil é enriquecedora porque amplia os nossos horizontes, na visão de Maisa. Uma “oportunidade de ter contato, profissionalmente, com outros modelos de trabalho... Como eu trabalho com marketing, tenho que dominar a percepção de cada público, de como vender naquela sociedade. Eu consigo perceber isso na hora da venda, na hora de criar as campanhas, de criar as estratégias. Então, é muito enriquecedor estudar a fundo uma cultura. A gente fica mais criativa, consegue adaptar uma estratégia a cada país”. 

Mas não é apenas o lado profissional, admite Maisa. “Viver em outro país, conviver com outras culturas, faz com que a gente tenha ainda mais respeito, uma compreensão maior pelo outro, pelo que as outras pessoas têm a dizer, a ter uma escuta mais ativa, a entender melhor o lado do outro. É muito disruptivo quando a gente começa a conhecer lugares diferentes, pessoas diferentes. A gente vê que o mundo é muito maior do que a gente imagina.” 

Ao mesmo tempo, valoriza-se mais o próprio país, revela Maisa. “Eu mudei muito a maneira de ver o Brasil. Muitas vezes, a gente acha que o Brasil é muito ruim. Nós temos uma síndrome de vira-latas gigantesca. Eu mesma fui pra fora com esse sentimento. E, hoje, eu vejo que o Brasil é gigante, não só em território; as pessoas admiram o Brasil. E digo mais: Minas Gerais. Eu sempre sou extremamente bem-recebida pelo mundo quando eu falo que sou mineira. Eu passei a valorizar mais a cultura brasileira, a nossa comida - de todas as que eu provei no mundo segue sendo a melhor... Claro que também tem o choque de realidade, um acorda. A gente aprende a entender que cada sociedade está num momento diferente de evolução social e política, tem a sua história. Então, é preciso respeitar cada cultura.” 

Por isso, Maisa recomenda que, quem tiver a oportunidade, deve passar um tempo fora do Brasil. “Faz de nós pessoas e profissionais muito melhores. A gente consegue compreender um pouco mais o que é o mundo, o que são as outras culturas, que as outras pessoas vivem de uma forma diferente da nossa, que acreditam em coisas diferentes… Então, é uma experiência única. Acredito que em cada lugar onde piso, eu crio mais consciência sobre mim mesma, sobre o outro, sobre outra cultura, sobre respeito, empatia e vários outros sentimentos, emoções com que a gente vai aprendendo a lidar. Então, é um processo de autoconhecimento, de autodescoberta.”

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Um giro por São João del-Rei com o guia de turismo Luiz Miranda 

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