Entre deuses, robôs e ídolos sempre machucados
02 de Julho de 2025, por Vanuza Resende 0

Cristiano Ronaldo, Neymar e Messi (fotos portal GZH)
Quem é o melhor? Messi, Neymar ou Cristiano Ronaldo? Já escutei essa pergunta, que sempre vira debate, dentro da sala de aula, na espera do consultório médico, na mesa de bar, no churrasco da família, na redação de jornalismo... e, mais recentemente, entre os pintores que prestavam um serviço na minha casa. A diferença é que, dessa vez, a discussão se restringia a dois nomes: Messi e Cristiano Ronaldo.
O debate reacendeu após Cristiano levantar mais uma taça por Portugal. Aos 40 anos, músculos definidos como sempre, postura de estátua grega e aquele olhar de quem sabe que nasceu para vencer. Uma taça que talvez nem entre na contagem oficial dos fãs mais fervorosos, mas que serve como argumento eterno: “Olha aí! Até com 40 ele entrega!”. O português, que já foi chamado de arrogante, máquina, robô, hoje parece mais humano e, ainda assim, inalcançável.
Do outro lado da moeda está Lionel Messi. O garoto tímido que fez do silêncio sua assinatura e da bola sua linguagem. O que faltava, ele já tem: uma Copa do Mundo na conta e a consagração definitiva como gênio. Para muitos, já era o maior. Para outros, virou depois do Catar. Para os mais teimosos, ainda não é, mas duvido que digam isso olhando nos olhos dele ou depois de ver aquele passe de calcanhar, fora do script.
E então tem Neymar.
O mesmo Neymar que encantou no Santos prometeu dominar o mundo, driblou com sorriso no rosto e com raiva nos olhos. O mesmo que voltou para casa, ou quase, porque ainda não entrou em campo. Está no Santos, mas não joga. Está presente, mas distante. Corpo lesionado, alma em dúvida. Outro dia ouvi da comentarista Ana Thaís Matos o seguinte: “Ficam sempre esperando o Neymar hipotético jogar. E o Neymar hipotético é maravilhoso, mas ele não existe!”. Eu não tenho nada a discordar. Neymar se confunde entre histórias pessoais, atritos e aparições nas páginas de fofoca mais do que deveria.
É curioso. Enquanto um levanta taça aos 40 e o outro desfila genialidade aos 37, Neymar tenta se reencontrar antes dos 34. Parece que o tempo, para ele, corre em outra velocidade.
Mas a discussão, claro, continua: quem é o melhor?
Talvez nunca haja um consenso, e ainda bem! O futebol vive de debates, de paixões divididas, de exageros. No fim das contas, enquanto Cristiano mostra que idade é só um número, Messi prova que arte não precisa de explicação e Neymar, bem... Neymar continua vivendo do “e se”.
E aí, cada vez mais, vai ficando de fora de uma pergunta que temos a sorte de poder responder: afinal, é bom demais poder discutir quem é o melhor do mundo, sem que ninguém precise nos contar.
Uma tal de camisa vermelha e o milagre que parece impossível
28 de Maio de 2025, por Vanuza Resende 0

O vitorioso Carlo Ancelotti é o novo técnico da seleção brasileira (foto redes sociais - divulgação)
Dizem que santo de casa não faz milagre. No futebol, essa máxima vira, mexe e ressurge quase sempre quando um técnico brasileiro assume a seleção e carrega nos ombros não só uma prancheta, mas um rosário de expectativas. A chegada do treinador italiano Carlo Ancelotti, nome de peso, currículo europeu e passagens por grandes clubes, reacendeu aquela centelha de esperança no torcedor. Afinal, se não é milagreiro, ao menos parece saber de bola.
Mas há contextos em que nem milagre resolve. E talvez seja esse o maior desafio do novo comandante: separar o que é fé do que é futebol, o que é simbólico do que é prático. Porque a seleção brasileira, a mesma que um dia encantou o mundo com dribles, gols e gingado, hoje sangra. Sangra em campo, na criação travada, na defesa perdida, na ausência de um meio-campo que pense. Sangra fora dele, em decisões administrativas desconexas e confusas, em projetos de longo prazo que não duram dois amistosos.
E aí veio ela: a camisa vermelha. Para alguns, heresia. Para outros, apenas marketing. Politizaram mais uma vez! Mas o tom rubro, para mim, veio como um lembrete incômodo: o futebol brasileiro sangra, e a nova camisa apenas mascara a ferida.
É curioso pensar nas cores da camisa da seleção. A amarela é orgulho, é história. A azul, superstição boa — de 58 e 94, e o manto azul de Nossa Senhora vestiu Pelé no primeiro título mundial da seleção. A verde, ocasional e discreta. A branca já foi a principal até ser deixada de lado em 1950, junto com o Maracanaço. A vermelha, agora, parece carregar mais do que tecido: traz o peso do estranhamento, da provocação, da ruptura. Mas uniforme nenhum ganha jogo. Camisa bonita pode até inspirar, mas não segura o meio-campo adversário, não arma contra-ataque, não mata bola no peito.
Ancelotti, santo ou não, entra em campo com um grupo jovem, alguns nomes conhecidos, outros ainda em fase de teste. E o torcedor, que entre um meme e outro ainda torce, observa com desconfiança. Porque a paixão segue ali, mas o brilho nos olhos se apagou faz tempo.
No fim das contas, a missão do novo técnico talvez seja menos sobre milagre e mais sobre resgate. Resgatar o prazer de jogar. A identidade perdida. A conexão com as arquibancadas. Entre a camisa amarela, azul, verde ou até vermelha, o que importa mesmo é o futebol. E esse, infelizmente, ainda segue precisando de cuidados — antes que sangre de vez.
Por enquanto, seguimos esperando. Entre uma camisa com cor que não faz parte da bandeira e um técnico que não é brasileiro, eu espero que milagres aconteçam! O que me resta para além disso é desejar boas-vindas ao Ancelotti!
O cartão, a aposta e o jogo que ninguém quer jogar
30 de Abril de 2025, por Vanuza Resende 0
No Brasil, o futebol já foi chamado de muitas coisas: arte, religião, escola de samba em chuteira. Mas ultimamente anda merecendo outro título, menos poético: enredo de série policial.
A bola mal rola e, de repente, o cartão amarelo não é só um aviso do juiz — é uma senha para alguém lucrar no submundo das apostas. O mais novo personagem dessa novela é Bruno Henrique, atacante do Flamengo, indiciado pela Polícia Federal por supostamente forçar um amarelo no jogo contra o Santos, lá no Brasileirão de 2023. Dizem que o lance renderia um trocado — mas, convenhamos, no mundo das apostas ilegais, o trocado de um vira o carro novo de outro.
Em troca de mensagens com o irmão Wander, que também é alvo da Polícia Federal, a clareza de um bom investimento: “O tio você está com 2 cartão no brasileiro?” Em resposta, o atacante escreveu: “Sim”. Wander segue: “Quando [o] pessoal mandar tomar o 3 liga nós hein kkkk”, Bruno Henrique responde: “Contra o Santos”. Wander: “29 de outubro”, “Será que você vai aguentar ficar até lá sem cartão kkkkkk”. Bruno Henrique: “Não vou reclamar”, “Só se eu entrar forte em alguém”. Wander então responde: “Boua já vou guardar o dinheiro investimento com sucesso”.
Agora, cá entre nós: forçar um cartão, no Brasil, é quase arte milenar. Quem nunca viu um jogador chutando a bola pra longe aos 47 do segundo tempo, só pra “limpar” a barra antes de um clássico? Mas o problema, dessa vez, é que a motivação teria saído do vestiário direto pra conta de um apostador esperto, com a bênção de um irmão no WhatsApp e uma odd generosa piscando na tela do celular.
O futebol brasileiro, que já conviveu com gramados esburacados, arbitragens duvidosas e dirigentes criativos, agora precisa enfrentar a nova moda: a manipulação digitalizada. Esqueça o juiz comprado da década de 90. Agora é tudo mais sutil, mais limpo, mais difícil de pegar. Tudo estampado nas placas de propaganda do estádio, nas chamadas do rádio, da TV, e na propaganda do celular.
Enquanto você lucra a sua cervejinha no fim de semana assistindo ao seu time na TV, com sua aposta simples, seu entendimento de torcedor e um pouco de sorte, tem quem consegue nas apostas os melhores dos investimentos.
Talvez seja hora de pensar no quanto estamos dispostos a deixar que a lógica das apostas dite o ritmo do esporte. Porque se o drible, o gol e o cartão amarelo virarem só mercadoria em um mercado invisível, o que sobra do jogo?
O hexa, o 50º título e a supremacia alvinegra em um Mineiro sem azul na final
26 de Marco de 2025, por Vanuza Resende 0

Pôster Atlético campeão mineiro (foto Jornal Estado de Minas)
O Atlético é campeão mineiro. De novo. Pela sexta vez consecutiva. Pela quinquagésima vez na história. Já virou rotina, quase que um ritual: o Galo entra no campeonato estadual, dá aquela espiada nos rivais, sente a temperatura e, quando vê, já está levantando a taça. Dessa vez, o roteiro até teve um pequeno plot twist, um fiapo de emoção ali no segundo jogo da final. Mas, sejamos sinceros, alguém realmente achou que o América ia estragar a festa?
O Coelho até tentou. Fez o que pôde. Inclusive, fez um gol! Servindo aquele famoso “água no chopp” para a Massa, que já estava com o grito de campeão engatilhado. Mas, cá entre nós, era só uma gotinha, nada que fizesse a cerveja perder o gás. O Atlético administrou, cozinhou e, sem maiores sustos, confirmou o título.
E o Cruzeiro? Bem… ficou só olhando de longe. Foi eliminado antes mesmo de ter a chance de dar um pouco mais de graça ao campeonato. E aí o Mineiro, que poderia ter tido mais dois clássicos entre Atlético e Cruzeiro, ficou sem aquele tempero especial.
O torcedor atleticano, que já estava acostumado a vencer o rival na final, teve que se contentar com um título sem esse ingrediente. Mas sejamos honestos: depois de seis títulos seguidos, cinquenta no total, e um adversário que não consegue sequer chegar até a decisão, será que o torcedor sente falta mesmo? Ou já está curtindo esse novo hábito de ver o Atlético desfilar soberano no futebol mineiro?
Seja como for, a taça é do Galo. O hexa está na conta. O número 50 na prateleira. E a pergunta que fica no ar é: tem alguém aí para impedir o sétimo?
Deu a lógica de novo: clássico não segue a lógica
25 de Fevereiro de 2025, por Vanuza Resende 0
Se existe uma regra no futebol que nunca falha é a de que clássico não tem lógica. E, para quem duvida disso, basta olhar para o primeiro Cruzeiro x Atlético oficial de 2025, disputado no dia 9 de fevereiro. O Cruzeiro, jogando com o Mineirão lotado, com reforços de peso e um Atlético ainda tentando remontar seu elenco, tinha um ligeiro favoritismo. Aí o jogo começou... e, bem, deu a lógica: o favorito não venceu.
O torcedor celeste até pode dizer que a expulsão do Gabigol mudou tudo. E de fato complicou. Mas e a marcação? E a falha, mais uma, do Cássio? Mas sejamos justos: o problema não foi a defesa. Foi a lógica.
E se tem algo que clássico adora é pregar peças. O Cruzeiro chegou embalado, empurrado por 60 mil torcedores: parecia que tinha um roteiro pronto para a vitória. O Atlético, por outro lado, perdeu peças importantes no elenco e chegou como quem não queria nada. E a gente sabe como essa história costuma terminar. O azarão vira valente, o favorito – ainda que, nesse caso, sem um amplo favoritismo - se complica e a imprevisibilidade entra em campo para mostrar que estatística e análise tática ficam pequenas diante da mística dos grandes jogos.
Aliás, isso não é novidade. Quem não se lembra de 2011? O Atlético tinha tudo para rebaixar o Cruzeiro e dar o troco de anos de gozação. Mas, como se fosse obra de algum espírito zombeteiro do futebol, o Cruzeiro não só escapou, como meteu 6 a 1 no maior rival. Ou, então, em 2013, quando o time azul fez uma campanha de almanaque e, mesmo assim, apanhou nos confrontos diretos contra o Galo. Ou seja, favoritismo em clássico vale tanto quanto promessa de político em época de eleição.
A verdade é que clássico bom é assim: cheio de reviravoltas, sem roteiro definido e capaz de deixar qualquer torcedor com o coração na boca. Quem tenta prever o resultado acaba refém da decepção – ou da surpresa. Porque no futebol a lógica pode até existir, mas, quando se trata de Cruzeiro x Atlético, ela costuma ser apenas um detalhe.
O que nos resta? Simples: menos lógicas, mais clássicos. Porque, no fim das contas, é isso que faz desse duelo um dos maiores do Brasil!