Meio Ambiente

Vale do Jequitinhonha: economia e meio ambiente

02 de Julho de 2025, por Instituto Rio Santo Antônio 0

Maria Eduarda Batista Cordeiro e Lucas Miguel Barroso Afonso*

Adriano Valério Resende**

 

O Vale do Jequitinhonha está localizado no nordeste de Minas Gerais, sendo marcado por sua beleza natural e riqueza cultural, como a Serra do Espinhaço, os artesanatos e as festas tradicionais. A região possui aproximadamente um milhão de habitantes, distribuídos pelos 55 municípios banhados pelo rio Jequitinhonha, cujo nome é de origem indígena e provém da junção das palavras “Jequi”, que na língua nativa significava “armadilha para pegar peixes”, e “onha”, que designa peixes.

Antes de sofrer as ações da colonização portuguesa, o Vale do Jequitinhonha era habitado pelos povos indígenas do tronco Macro-Jê, como os Botocudos, Aranãs, Tocoiós, Ofaié e Cariri. Historicamente, a primeira expedição chegou em terras do Vale em 1553, liderada por Francisco Bruza Espinosa, que estava acompanhado pelo padre jesuíta João de Azpilcueta Navarro, chegando até as cabeceiras do rio, na Serra do Espinhaço. Em 1573, à procura de metais preciosos, a segunda expedição chegou ao rio Araçuaí, principal afluente do Jequitinhonha. No ano seguinte, a expedição de Antônio Dias encontrou indícios de metais preciosos na região.

A ocupação do Vale se iniciou efetivamente na primeira metade do século XVIII, com a descoberta de ouro nas proximidades da cidade do Serro, o que atraiu muitos garimpeiros. Posteriormente, houve a descoberta dos diamantes no Arraial do Tejuco, hoje Diamantina. A fama de riqueza da região entrou em decadência na segunda metade do século XIX, quando foram encontrados diamantes na África do Sul, fazendo com que o preço do metal se desvalorizasse por aqui, levando muitos comerciantes e mineradores à falência. O abandono político e econômico do Vale foi denunciado no final do século XIX pelo jornal “O Jequitinhonha”, criado por Joaquim Felício e Teófilo Otoni. Mas, até meados do século XX, o Jequitinhonha ficou esquecido pela política nacional e, nesse sentido, começou a ser conhecido como o “Vale da Miséria”, visão que, erroneamente, persiste até os dias atuais.

A mineração reapareceu como importante atividade econômica na segunda metade do século XX com a extração de granito para fins ornamentais, especialmente no Médio Jequitinhonha. Muitas empresas vieram do Espírito Santo para atuar na região. Outra atividade que se instalou foi a Silvicultura. Com o objetivo de desenvolver o Vale, na década de 1970, o estado de Minas Gerais repassou as terras devolutas das chapadas para a empresa estatal Acesita, que plantou milhares de hectares de eucalipto para a produção de carvão vegetal, utilizado na siderurgia. Tal situação gerou conflitos com as comunidades locais, principalmente com as que viviam da criação de gado solto nas Chapadas.

Atualmente, a monocultura de eucalipto continua a se expandir, especialmente na região de Capelinha, município referência na cultura do café, trazendo preocupações ambientais devido ao alto consumo de água e impactos sobre a biodiversidade. A pecuária e a agricultura familiar ainda se mantêm como pilares tradicionais da economia local, apesar dos desafios impostos pelas mudanças no uso da terra. A geração de energia é representada, principalmente, pela UHE Irapé, construída em 2006, que inundou uma grande extensão de terras no entorno do rio Jequitinhonha. Recentemente, o Vale vivencia outra transformação econômica: a expansão da mineração de lítio, impulsionada por investimentos significativos que prometem gerar milhares de empregos e atrair investimentos de até R$ 30 bilhões até 2030. Destaca-se que essas dinâmicas econômicas coexistem com a forte presença da fé e das tradições culturais, que continuam a desempenhar um papel central na identidade e na resistência das comunidades locais frente às transformações em curso. 

A questão ambiental tem ganhado cada vez mais importância na região. Mesmo com a presença de recursos ambientais valiosos, como rios importantes, rica biodiversidade e grandes potencialidades econômicas, a região enfrenta sérios desafios. Problemas como o desmatamento, a degradação do solo e a escassez de água são frequentes, agravados pela má gestão dos recursos naturais e pela falta de políticas públicas ambientais eficazes. Apesar disso, o Vale apresenta grandes oportunidades. Citamos a geração de crédito de carbono, que pode ser alcançada por meio do reflorestamento de eucalipto, e o uso de fontes de energia renovável, como a solar e a eólica, favorecidas pelas condições naturais da região, a radiação solar e os ventos em regiões mais altas. Portanto, a valorização dos recursos naturais e das potencialidades sociais presentes e a adoção de estratégias e práticas ambientalmente corretas são fundamentais para o crescimento sustentável do Vale do Jequitinhonha.

 

*Alunos do Curso Técnico em Meio Ambiente – CEFET/MG

**Professor CEFET/MG

Quadro natural de Resende Costa

28 de Maio de 2025, por Instituto Rio Santo Antônio 0

Adriano Valério Resende

 

Continuando nossa conversa sobre informações geográficas de Resende Costa, baseada num documento impresso elaborado pelo Estado em 1982, falaremos do quadro natural do município, acrescentando alguns comentários quando necessário.

Conforme consta no documento: “A área do Município de Resende Costa pertence ao Pré-Cambriano Arqueozoico. Ao norte da sede municipal as rochas predominantes são as do Embasamento Granítico-Gnáissico Indiviso e ao sul tem predominância as do Grupo Barbacena, com ocorrência no sentido geral SW-NE, de rochas da Formação Lafaiete.” No centro, leste e norte do município, incluindo a sede municipal, predominam as rochas graníticas e gnáissicas, o que justifica a existência das famosas Lajes dentro da cidade, que são afloramentos de granito. As rochas do Embasamento são muito antigas e acondicionam pouca água subterrânea, o que gera as dependências das águas mais superficiais e, portanto, da recarga no período chuvoso. No sul (divisa com Coronel Xavier Chaves) e leste (povoados do Barracão e Curralinhos) do município temos rochas mais metabásicas e xistos, o que condiciona a existência de solos melhores, por exemplo.

“Topograficamente, o Município de Resende Costa é constituído por um planalto, dissecado (erodido) e ondulado, com níveis altimétricos quase sempre acima de 1.000 metros. Na porção leste do município, as altitudes variam de 900 m (junto às várzeas do Ribeirão dos Paulas e alguns de seus afluentes) a 1.100 metros. Na parte oeste as altitudes são um pouco mais elevadas, principalmente nas páreas próximas aos limites municipais com Ritápolis (Serra do Florentino ou São Miguel) e com São Tiago (serras dos Macacos e do Capão Grande), onde se localiza o ponto mais elevado do município, com 1350 metros. As serras da Galga (altitude em torno de 1.200 a 1.300 metros) e das Vertentes (1.100 a 1.200 metros) penetram respectivamente pelo noroeste e norte da área municipal.” Cabe destacar que o ponto mais alto da sede municipal, a igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha de França, possui uma altitude de 1.140 m e a altitude máxima no município fica entre os povoados do Córrego Fundo e da Micaela, na citada serra do Capão Grande. A serra da Galga está nas proximidades do distrito de Jacarandira e a serra das Vertentes começa perto do povoado do Ribeirão, passando pelo Barracão, sentido Lagoa Dourada.

“As serras da Galga e das Vertentes são importantes divisores de água na Zona Campo das Vertentes. A porção norte de Resende Costa pertence à Bacia do Rio São Francisco, sendo drenada, principalmente, por afluentes dos rios Pará e Brumado (afluente do Paraopeba). A porção sul inclui-se na bacia do Rio Grande, através dos rios Santo Antônio e do Peixe.” A sede municipal está na bacia do rio Santo Antônio, afluente do rio das Mortes.

“O Clima predominante, de acordo com a classificação de Köppen, é Cwb (clima tropical de altitude com estiagem no inverno e média do mês mais frio inferior a 18ºC). Ocorrem duas estações climáticas: uma, de outubro a março, caracterizada por temperaturas mais elevadas e maiores precipitações; outra, de abril a setembro, período de inverno e estiagem. O total pluviométrico varia em torno de 1.259 mm anuais. A temperatura média anual é da ordem de 20,7 ºC, sendo a média das máximas de 26,2 ºC, e das mínimas de 13,9 ºC.”

“A vegetação de campos de altitude é a mais comum na região, principalmente nas áreas mais elevadas. Restos da antiga vegetação arbórea, retirada pra dar lugar às pastagens, ainda revestem alguns topos de elevações. Ao longo dos cursos d’água ocorrem matas galerias ou ciliares. Manchas esparsas de cerrados completam a paisagem vegetal do munícipio.” Destaca-se que o município está dentro do bioma Mata Atlântica e possui predominância de espécies tanto da floresta tropical (sul, leste) quanto do Cerrado (norte, centro, oeste). Para se ter uma ideia da retirada da cobertura florestal em Resende Costa, segundo dados do Inventário Florestal de Minas Gerais de 2007, restava apenas 7,45% da vegetação nativa no município. Outro dado é que o reflorestamento de eucalipto na região foi incentivado pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), que possuía um escritório em Resende Costa (funcionou de 1980 a 2023). Inclusive havia distribuição gratuita de mudas de eucalipto, além de outras espécies, produzidas no Horto Florestal, que era mantido pelo IEF com apoio da Prefeitura Municipal. Acrescenta-se que, segundo dados do Censo Agropecuário Brasileiro, realizado pelo IBGE na mesorregião do Campo das Vertentes, mais de 60% das terras estão ocupadas com pastagem e metade dessa área está classificada como fortemente degradada.

A geografia de Resende Costa

30 de Abril de 2025, por Instituto Rio Santo Antônio 0

Adriano Valério Resende

 

Tempos atrás, tive a felicidade de receber de presente um documento impresso contendo informações geográficas sobre o município de Resende Costa, elaborado pelo governo do Estado de Minas Gerais e datado de 1982. Sabemos que a década de 80 foi indicadora da modernidade para Resende Costa, que viveu mudanças significativas, como a construção da estrada asfaltada ligando a cidade até a BR 383, o funcionamento do sistema de abastecimento de água implantado pela Copasa e a expansão do comércio de artesanato na área urbana.

Com relação ao documento citado, constam os seguintes itens: posição geográfica; evolução (política); quadro natural; população; agropecuária; indústria, comércio e serviços; estrutura da cidade; infraestrutura básica; problemas e perspectivas. Constam ainda dois mapas, um situando o município em sua localização geográfica regional, na escala 1:1.500.000, e outro da área central da cidade e seus principais equipamentos urbanos regional, em uma escala maior, 1:4.000. Apesar de hoje em dia, com um simples acesso à internet você conseguir acessar facilmente várias informações geográficas, especialmente no site do IBGE, vou transcrever e atualizar, quando necessário, algumas informações relevantes sobre o nosso município presentes no documento.

Primeiramente, transcrevo a evolução política do município. “A primeira capela de Nossa Senhora da Penha de França, filial da Matriz de São José, foi erguida no Lugar da Lage por provisão de 12 de dezembro de 1749. Em 1802, o Arraial da Lage era mencionado entre os do termo da Vila de São José (atual Tiradentes). Segundo publicações oficiais, o distrito foi criado em 1836, pela Lei nº 50, e elevado o curato a freguesia em 3 de abril de 1840 (Lei nº 184), com o título de Nossa Senhora da Penha de França do Arraial da Laje. A Lei nº 556, de 30 de agosto de 1911, criou o município constituído do Distrito da Lage, com a denominação de Vila de Resende Costa (sua primeira Câmara Municipal foi instalada em 02/06/1912). Como o distrito continuou sendo denominado Lage, foi preciso que a Lei nº 843, de 7 de setembro de 1923, mudasse sua denominação para Resende Costa. Atualmente, o município é constituído de dois distritos: o da sede e o de Jacarandira.”

Sobre a posição geográfica, o documento menciona que o município de Resende Costa se localiza na zona (atual mesorregião) Campo das Vertentes, fazendo parte da microrregião Mantiqueira (atual microrregião de São João del-Rei) e limita-se com os municípios: São Tiago, Passa Tempo, Desterro de Entre Rios, Entre Rios de Minas, Lagoa Dourada, Coronel Xavier Chaves e Ritápolis. “Do ponto de vista da posição geográfica contata-se a situação privilegiada de Resende Costa que se localiza relativamente próxima a três importantes centros industriais: São João del-Rei, Conselheiro Lafaiete e Barbacena, entre outros, sendo que ao primeiro está ligada através da BR-383.”

“Juridicamente, é a sede da Comarca de 1ª Entrância, tem sob sua jurisdição o município de Coronel Xavier Chaves.” Acrescenta-se que a Comarca foi instalada em 15/08/1948 e está vinculada ao Grupo Jurisdicional JESP (Juizado Especial) de São João del-Rei. “A sede do município (está situada) a 1.140 metros de altitude, tem a sua posição determinada pelas coordenadas geográficas de 20º 55’ 19” S e 44º 14’ 16” W (Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha de França). ” Foi informada também a área do município, com seus 618 km². Segundo o site do IBGE, a área do município de Resende Costa é de 618,312 km², o que o coloca no 2º lugar em extensão entre os 14 municípios da microrregião, perdendo só para São João del-Rei, na posição 259 entre os 853 municípios de Minas Gerais e em 2.110 entre os 5.570 municípios brasileiros.

“O espaço onde se localiza Resende Costa corresponde a uma área de transição, tanto do ponto de vista do relevo como da vegetação. O relevo faz parte do Planalto Sul de Minas, que se estende da Serra da Mantiqueira a leste aos relevos modelados em rochas sedimentares a oeste e ao norte. As serras que cortam o município são importantes divisores entre as bacias do Rio Grande e São Francisco (destacamos a Serra das Vertentes). Com relação à vegetação, a região caracteriza-se pela presença de espécies tanto da floresta tropical como do cerrado, entre outras.”

 

 (Continua na próxima edição)

Mudanças climáticas em médias e pequenas cidades

26 de Marco de 2025, por Instituto Rio Santo Antônio 0

Fotografia revela os efeitos catastróficos de um deslizamento de terra (foto reprodução)

Yasmim Stefany Lima Soares*

Adriano Valério Resende**

 

Em sua história, a Terra já passou por significativas alterações climáticas naturais. No entanto, a partir da 1ª Revolução Industrial, elas se intensificaram devido à ação humana. Hoje, tornou-se comum ouvir pessoas, especialmente as mais idosas, comentarem sobre transformações que afetam diretamente o nosso cotidiano. E, nesse sentido, os moradores das cidades já têm sofrido as consequências do que parece ser um novo padrão climático.

As mudanças climáticas naturais são alterações que ocorreram nos padrões climáticos da Terra em longos períodos de tempo por fatores como atividade solar, erupções vulcânicas e glaciações. No entanto, a ação humana intensificou essas transformações, notadamente pela emissão excessiva de gases do efeito estufa. A intensificação desse fenômeno natural, especialmente pela queima de combustíveis fósseis e pela alteração do uso do solo (desmatamento), tem levado ao aumento excessivo da temperatura do planeta, ocasionando o chamado aquecimento global. As mudanças mais notáveis no clima são as temperaturas cada vez mais altas, especialmente no verão, e alterações nos padrões climáticos de eventos naturais, como o El Niño e a La Niña, que estão cada vez mais intensos e causando dados a locais pouco preparados para se adaptarem a essa variação.

As mudanças climáticas na atualidade têm causado impactos significativos, especialmente nas áreas urbanas, onde se concentra a maior parte da população e das atividades econômicas. O aumento das temperaturas tem intensificado o fenômeno “ilha de calor”, tornando as cidades cada vez mais quentes. Além disso, eventos climáticos intensos, como chuvas torrenciais e longos períodos de seca, estão ocorrendo com maior frequência, comprometendo a infraestrutura urbana e a qualidade de vida da população.

No entanto, as áreas urbanas não são afetadas da mesma forma. As comunidades de baixa renda e as periferias são as mais vulneráveis, pois enfrentam problemas estruturais como falta de saneamento básico, moradias precárias, baixa arborização e sistema de drenagem inadequado. A urbanização desordenada agravou essa situação ao, por exemplo, ocupar as margens de cursos d’água, encostas íngremes e impermeabilizar o solo, o que dificulta a absorção da água da chuva e aumenta o risco de enchentes e deslizamentos de terra.

Muitas das vezes, a precariedade da infraestrutura urbana também se torna um grande obstáculo. A falta de sistemas eficientes de drenagem e de saneamento básico contribui para alagamentos em períodos de chuva intensa e para a escassez de água em épocas de seca. Sem medidas adequadas para lidar com essas situações, os moradores acabam sofrendo com problemas como contaminação da água, perda de moradias, além de prejuízos econômicos e, o pior, perda de vidas. Em muitos casos, o crescimento desordenado e a ausência de políticas públicas voltadas para a sustentabilidade têm tornado as áreas urbanas cada vez mais vulneráveis. Convém destacar que, as cidades de médio e pequeno portes enfrentam grandes dificuldades para se adaptarem aos efeitos das mudanças climáticas, seja pela falta de verbas ou de mecanismos tecnológicos necessários.

Diante desse cenário, é essencial buscar estratégias para atenuar os efeitos das mudanças climáticas e tornar essas cidades mais resilientes aos desafios ambientais do futuro. Algumas estratégias são: preservar e ampliar as áreas verdes (parques) e plantar árvores nas ruas como forma de reduzir o efeito das altas temperaturas; melhorar a qualidade do ar e minimizar os impactos das chuvas intensas; melhorar o sistema de saneamento básico, para evitar alagamentos e garantir o abastecimento de água em períodos mais críticos; utilizar sistemas de captação e reuso de água da chuva, visando otimizar os recursos hídricos em áreas mais sujeitas à seca; incentivar a utilização de energia solar nos prédios públicos e nas residências.

Por fim, a conscientização e o engajamento da população, o planejamento urbano e o investimento em infraestrutura sustentável são imprescindíveis para enfrentar os desafios climáticos e tornar as cidades mais resilientes e, assim, melhorar a qualidade de vida nas áreas urbanas.

 

*Aluna do Curso Técnico em Edificações – CEFET/MG

**Professor - CEFET/MG

A importância da preservação dos solos

25 de Fevereiro de 2025, por Instituto Rio Santo Antônio 0

Perfil de solo - horizontes A, B e C

Gabriela Marcília Brito Coelho*

Adriano Valério Resende**

 

O solo é um ambiente dinâmico e essencial para sustentar a vegetação e manter diversas atividades humanas, como agropecuária, construção civil e mineração. Além disso, abriga vários organismos que são fundamentais para a biodiversidade do planeta e é um grande reservatório de água e de carbono, sendo esse um elemento crucial para o controle do aquecimento global. Preservar e manter a sustentabilidade do solo é um dos principais desafios que a humanidade enfrenta atualmente.

O solo se forma da desagregação da rocha e de maneira muito lenta. Dependendo do tipo de rocha e dos agentes envolvidos no intemperismo (físico, químico ou biológico), a formação de poucos centímetros pode levar milhares de anos. Para se ter uma ideia, em áreas de clima super-úmido, onde chove o ano todo, a formação de 1 centímetro de solo leva mais de 100 anos.

Ele se organiza em horizontes ou camadas, cada uma com características físicas, químicas e biológicas específicas, sendo classificadas pelas letras iniciais do alfabeto, as mais comuns são: A, B, C, D ou R. Os horizontes A e B são os mais importantes para a agropecuária. O horizonte A (chamado de solo arável), em particular, é a camada mais superficial, onde ocorre a maior parte das atividades biológicas e tem grande concentração de nutrientes e de matéria orgânica (o que dá uma coloração mais escura). Sua preservação é essencial para a produção de alimentos e reprodução de pastagens para o gado.

O solo é constituído por cinco elementos principais: matéria mineral sólida, que inclui fragmentos da rocha de origem e minerais de diferentes tamanhos, determinando sua textura; matéria orgânica, composta por restos de plantas e organismos em vários estágios de decomposição; água (abundante na época chuvosa); ar e organismos vivos (formigas, minhocas, fungos, bactérias etc.).

A fertilidade do solo é sua capacidade de fornecer nutrientes para o crescimento das plantas. Os nutrientes são basicamente elementos químicos e seus compostos. Os que as plantas mais precisam são chamados de macronutrientes: carbono, oxigênio, hidrogênio, nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre. Por exemplo, a adubação em grande escala geralmente é feita com um fertilizante químico na forma de NPK (nitrogênio, fósforo e potássio), facilmente encontrado nas lojas de agropecuária. No geral, a fertilidade dos solos no Brasil varia de baixa a média, mas temos alguns destaques: solo de terra roxa (localizado em áreas do Centro-Sul), massapê (litoral do Nordeste) e os aluviais (comuns nas margens dos rios e lagos).

Como falamos anteriormente, a base para a produção de alimentos são os solos; no entanto, as atividades agrícolas e pecuárias insustentáveis têm causado cada vez mais a sua degradação. Nesse sentido, é importante estimular as práticas que visam o manejo responsável das terras cultiváveis, evitando a erosão, promovendo o uso eficiente dos recursos naturais e a preservação da biodiversidade. Eis algumas técnicas mais usadas: adubação verde, que melhora a fertilidade do solo por meio do plantio de plantas específicas; a rotação de culturas, que alterna diferentes espécies para aumentar a produtividade e reduzir as pragas; plantio direto, que preserva a estrutura do solo e a matéria orgânica ao evitar a aragem.

Outra questão importante é que o solo mantém uma grande reserva de água e de carbono. A água subterrânea, por exemplo, é essencial para o abastecimento de várias cidades. Já a manutenção do carbono junto aos compostos do solo é importante porque é um mecanismo que regula o seu ciclo na atmosfera, o que ajuda a mitigar os efeitos do aquecimento global. Segundo dados da plataforma SEEG, dentre os cinco macro setores, as mudanças no uso da terra e floresta (incluindo as queimadas) e a agropecuária contribuem com mais de 2/3 dos gases estufa no Brasil; seguidos de energia, processos industriais e resíduos.

Por fim, manter a sustentabilidade do solo é essencial para garantir a segurança alimentar da população e a manutenção de praticamente todas as instâncias da vida no planeta. Cuidar do solo é cuidar da vida.

 

*Aluna do Curso Técnico de Meio Ambiente – CEFET/MG

**Professor CEFET/MG