De olho na cidade

A Rua Pérsio Babo de Resende

02 de Julho de 2025, por Edésio Lara 0

Pessoas homenageadas com nomes de rua, em Resende Costa, são muitas. Algumas nascidas na cidade, outras não. Mas qual o motivo de dar nome de não resende-costenses a logradouros? A causa é simples. O povo, naturalmente, elege como importantes aqueles que se destacaram como políticos, principalmente. Juscelino Kubitschek de Oliveira, ex-presidente, e Gabriel de Rezende Passos, ex-ministro de Minas e Energia, ambos mineiros, têm seus nomes cravados em uma rua e em uma avenida no município. Bastou o reconhecimento pelo trabalho que fizeram para receberem essa reverência conferida pelo povo. Pelo que sei, nenhum deles esteve em nossa cidade. Getúlio Vargas, ex-presidente do Brasil, sem nunca ter vindo aqui, também pôde ser exaltado com nome de uma avenida. No entanto, como dito na coluna do mês passado, foi excluído para dar lugar ao nome do Monsenhor Nelson. O estimado sacerdote, apesar de ter passado maior parte de sua vida aqui, entre nós, era natural de Emboabas, distrito de São João del-Rei. 

Há, também, outras pessoas que não nasceram aqui nem se sobressaíram como políticos, artistas, professores ou grandes empresários. É o caso de Pérsio Babo de Resende. Ele tem nome de rua aqui em Resende Costa e, também, no bairro Ouro Preto, na capital mineira. Aqui em nossa cidade, ela é paralela à Praça Mendes de Resende. Essa é uma rua que passou a existir desde quando parte da Praça Mendes de Resende foi cedida para a instalação da sede da Telecomunicações de Minas Gerais S/A (Telemig), fundada em 1953 e extinta em 1998. Trata-se de uma rua pequenina, que nasce onde residiu a família do senhor Aquim Coelho de Resende – um dos muitos alfaiates da cidade – e se encerra onde há uma academia de ginástica. Nela há um conjunto de cinco imóveis, três deles destinados a atividades comerciais.

Mas quem foi Pérsio Babo de Resende? Pouca gente sabe, porém há os que vão se lembrar muito dele. Foi um jovem simpático e muito bonito, natural de Belo Horizonte, que frequentava muito nossa cidade. Apesar de sua mãe, Leda Babo de Resende, ser natural de Patos de Minas, seu pai, Geraldo Majela de Resende (chamado por todos de Dr. Geraldo), nasceu aqui na Fazenda do Pinhão e sempre se apresentou como uma pessoa apaixonada por Resende Costa. Isso o fez vir para cá com frequência para passear e visitar familiares, trazendo consigo a esposa e os filhos Marco Túlio, Pérsio, Flavio e Leda Maria. Pérsio, segundo filho do casal, nasceu em 11 de novembro de 1955. Aluno do Colégio Santo Agostinho, na capital mineira, cursava o terceiro ano do científico e se preparava para prestar o vestibular, com o objetivo de fazer o curso de Odontologia, quando, prematuramente, veio a falecer no dia 3 de março de 1973, com a idade de 17 anos.

Seus irmãos se lembram dele como um jovem extremamente sensível e carinhoso. Era uma pessoa linda, amava a vida, a família e os amigos. Sempre foi amado por todos, sem se esforçar para isso. Pérsio tocava violão, escrevia poesias e amava o Cruzeiro, seu time do coração. Seu lindo sorriso era contagiante. Dono de um coração gigante, era uma pessoa única e que representou uma geração; sem vícios, generoso, e espalhou doçura e amizade entre todos que conviveram com ele. Regina Azevedo, sua prima, nos disse que Pérsio deixou muita saudade ao ponto de ainda hoje, passados 52 anos de sua morte, muito se falar dele entre amigos e familiares. Desde então, uma pequena rua localizada a poucos metros da casa de seus avós recebeu o nome de Pérsio Babo de Resende.

A avenida que teve nome de um importante estadista: Getúlio Vargas!

28 de Maio de 2025, por Edésio Lara 0

Homenagear ex-presidentes da república colocando seus nomes em ruas, edifícios, estradas, viadutos tornou-se comum no Brasil e, pode-se dizer, em muitos outros países. Há casos em que o nome de um político passou mesmo a ser nome de cidade. É o caso de João Pessoa (antiga Cidade Real de Nossa Senhora das Neves, fundada em 1585), capital do Estado da Paraíba. O político paraibano foi assassinado em 1930, quando concorria a vice-presidente da república na chapa encabeçada por Getúlio Vargas. Após sua morte, a capital paraibana, que teve outros nomes, passou a ser identificada pelo nome do ilustre filho da terra. Em Minas Gerais, por exemplo, há duas cidades que levam nomes de dois ex-presidentes. É o caso da cidade de Presidente Juscelino, que homenageia o ex-presidente Juscelino Kubitschek, mineiro de Diamantina, com mandato entre os anos de 1956 a 1961; e da cidade de Presidente Bernardes, em memória do também ex-presidente Arthur da Silva Bernardes, outro mineiro, natural de Viçosa, que foi o 12º presidente do Brasil entre 1922 e 1916. Portanto, deparar-se com logradouros que têm nomes de ex-presidentes da república por aí afora é normal.

Em Resende Costa, um ex-presidente já foi nome de avenida. Trata-se de Getúlio Vargas. Ditador para alguns, para outros um grande estadista, o gaúcho esteve à frente da nação em dois momentos: a partir de 1930 e, posteriormente, desde 1945 para, somando os dois mandatos, permanecer no poder por quase 20 anos. Advogado, militar e político, foi dele a implantação no Brasil do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDS) e do Banco do Nordeste, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Durante seu governo, regulamentou o trabalho do menor aprendiz, que vigorou até o ano de 2005. Destacam-se, também, a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o direito a férias remuneradas para o trabalhador, a instituição do salário mínimo no país, a promoção da industrialização com a criação de estatais como a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), a Petrobrás, além da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf). São ainda do seu governo a fundação do Ministério da Justiça, Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, em 1930, e do Ministério da Educação e Saúde, em 1931.

Como se vê, os feitos relacionados aos mandatos de Getúlio Vargas foram importantes, com vários deles perdurando até hoje. E devido a isso, o nome do ex-presidente é encontrado com muita facilidade em diversos logradouros públicos do país. Quem reside em Belo Horizonte/MG ou frequenta muito a capital mineira sabe muito bem onde fica a Av. Getúlio Vargas. Ocorre o mesmo, pode-se dizer, no Rio de Janeiro/RJ, que também tem uma enorme avenida com seu nome. E há, ainda, a famosíssima Fundação Getúlio Vargas (FGV), fundada em 1944, que tem sua sede localizada no Rio de Janeiro, mais filiais em São Paulo e Brasília. Ela tem por objetivo, enquanto instituição privada de ensino superior (graduação e pós-graduação), preparar pessoal qualificado para as administrações pública e privada do país.  

Em meio a uma crise instalada no governo, Getúlio se suicidou em 24 de agosto de 1954, com um tiro no peito, dentro do Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Deixou naquele momento uma carta-testamento ao povo brasileiro. Da carta manuscrita, tornada pública em 1967, ele deixou registrado: Deixo à sanha de meus inimigos o legado de minha morte. Levo o pesar de não ter podido fazer, por este bom e generoso povo brasileiro, e principalmente pelos mais necessitados, todo o bem que pretendia.

Getúlio Vargas recebeu homenagens após sua morte. Entre elas, como dito aqui, estão os nomes de ruas e avenidas. Em Resende Costa, a Câmara Municipal optou por tirar-lhe o nome de uma avenida no centro da cidade. Uma parte da Av. Getúlio Vargas tornou-se Prefeito Ocacyr Alves de Andrade e outra, Monsenhor Nelson. Não houve sequer o desejo de colocar uma placa com seu nome em outra via pública ou edifício público do município. Porém, o que se apagou aqui permanece vivo em outros lugares do nosso país.

Ruas de memória: Uma pequena praça com nome de um músico resende-costense

30 de Abril de 2025, por Edésio Lara 0

A pracinha Maestro João Augusto dos Reis, localizada entre a Rua Pedro Alves e a Rua Moreira da Rocha, no centro da cidade (foto André Eustáquio)

Há em Resende Costa um número expressivo de praças. Algumas levam o nome de pessoas que de maneira ou de outra prestaram algum serviço à comunidade, e de forma voluntária. São religiosos, artistas e políticos de uma época em que não recebiam qualquer remuneração pelo que faziam. Duas se destacam: a Praça Cônego Cardoso e a Mendes de Resende. São duas praças lindas, bem cuidadas e localizadas na parte alta da cidade. A primeira fica em frente à Matriz de Nossa Senha da Penha de França; a segunda, atrás da mesma igreja. Cônego Cardoso prestou seus serviços na cidade entre os anos de 1916 e 1921. Já o Coronel Francisco Mendes de Resende - primeiro administrador municipal - constituiu família e residiu na praça que leva seu nome.

Entre outras, há uma que passa despercebida, apesar de ficar no centro da cidade. Eu a vejo como sendo uma “micropraça”, de tão pequena que é. Tem, aproximadamente, 70m² e formato triangular. Só possui um banco de alvenaria, lá instalado em 1976, com dizeres já gastos pelo tempo: “Homenagem ao prefeito Ocacyr Alves de Andrade”. Seus canteiros não têm flores. Há uma luminária ao centro e que geralmente está apagada, denotando total descuido da Prefeitura Municipal pelo espaço. A única palmeira que a enfeitava foi cortada e em seu lugar nada foi plantado. Não é incorreto dizer que há quem tem gosto por derrubar árvores na cidade. Numa época em que o mundo se vira para questões climáticas adversas que sugerem a preservação de áreas verdes e recomenda o plantio de árvores, não dá para entender como a força do machado ou da motosserra ainda se impõe.  

A pracinha, que se localiza entre a Rua Pedro Alves e a Rua Moreira da Rocha, recebeu o nome de “Maestro João Augusto dos Reis”. O maestro ficou mais conhecido por Joãozinho sapateiro, profissão que assumiu aqui em Resende Costa e posteriormente em São João del-Rei, na Avenida Leite de Castro, para onde se mudou com a família. Sua mãe gostava de chamá-lo por João dos óculos, simplesmente pelo fato de ele os usar e achar bonito. Joãozinho tornou-se músico aqui em Resende Costa. Deve ter recebido ensinamentos dentro da própria Banda Santa Cecília, que funcionava como uma escola de música no município. Bandas de música eram e ainda continuam sendo, em muitos lugares, o espaço em que se ensina gratuitamente música em nosso país. Seu sobrinho, Ronan César dos Reis (filho do Miguel sapateiro e irmão de Joãozinho) nos disse que seu tio, além de ter atuado como regente da nossa banda de música, exerceu a função noutras cidades, a exemplo de Lagoa Dourada e São João del-Rei.

No livro “Retratos de Centenária Resende Costa”, publicado pela Associação de Amigos da Cultura de Resende Costa (amiRCo) em 2016, na página 124, lá está a imagem dele de terno e gravata, segurando seu trompete com a mão direita, tendo na esquerda, possivelmente, as partes musicais que a Santa Cecília usava naquele momento em suas apresentações, sendo dirigida por Joaquim Pinto Lara (Sô Quinzinho). Apesar de estar sem data, a foto deve ser de meados do século passado, entre as décadas de 1950/60.

Atualmente, poucas pessoas têm lembranças dele, da dona Cici, sua esposa, e de muitos dos seus filhos. A residência da família era no fim da pequena Rua Pedro Alves, nº 74 (nome de músico são-joanense que se estabeleceu em Resende Costa para atuar também como professor das primeiras letras). Atualmente, nela reside a professora Maria do Carmo.

O maestro faleceu há bastante tempo. Era filho do senhor João Franklin dos Reis (carreiro, candeeiro de bois) e de dona Alice Reis (dona de casa, doméstica). Teve uma irmã de nome Maria e oito irmãos: Tarcísio, José, Benedito, Mário, Dativo, Miguel, Cinval e Antônio Damasceno, todos eles muito conhecidos no município. No paredão que serve de divisa entre a pracinha e a casa onde residiu, permanece seu nome: Rua Maestro João Augusto Reis, colocando-o entre aqueles que, de certa forma, se destacaram e prestaram serviços à nossa comunidade. 

Ruas de memória: Avenida Prefeito Ocacyr Alves de Andrade

26 de Marco de 2025, por Edésio Lara 0

Avenida Prefeito Ocacyr Alves de Andrade. Ao fundo, o histórico Teatro Municipal e a residência onde residiu o ex-prefeito (foto André Eustáquio)

A maior parte dos logradouros de Resende Costa leva nome de pessoas. Alguns são políticos que se destacaram nas assembleias legislativas, congresso nacional, governos estaduais e presidência da República. Há bairros, como o do Tijuco, em que as ruas receberam nomes de árvores; no bairro Jardim, elas têm nomes de flores. No centro da cidade, espaço denominado pelo povo como “Quatro Cantos”, nasce uma avenida que recebeu o nome de Avenida Prefeito Ocacyr Alves de Andrade.

Trata-se de uma avenida extremamente pequena, não tão diferente de outras que temos no município. Nela há duas casas de morada, um escritório de contabilidade, uma farmácia, uma clínica médica, que já foi residência, uma nova edificação que substituiu a casa do sapateiro Simão Salomão, demolida recentemente. Por fim, há a casa que pertenceu ao prefeito Ocacyr e que se tornou, recentemente, ponto de comércio de roupas, e o Teatro Municipal, que, tombado pelo Conselho Municipal do Patrimônio Cultural (CMPC), tem sua estrutura física preservada. Ele não pode ser demolido nem sofrer alterações na sua fachada e telhado. Porém, entre o Teatro e a antiga casa do Ocacyr, há um corredor que, antigamente, dava acesso à serralheria que pertencia ao ex-prefeito.

Ocacyr não cursou a admissão e muito menos o ginásio. Ele frequentou somente os quatro anos do grupo, hoje conhecido como Educação Básica. Isso, porém, não o impediu de se tornar um empresário de sucesso e um político respeitado pelo povo da cidade.  Casou-se com dona Terezinha, uma mulher simples, discreta, com quem teve três filhos: Selma, Tadeu e José Roberto. Selma não se casou, não teve filhos. Tadeu foi pai de cinco filhos (sendo um já falecido) e José Roberto, uma filha.  Ocacyr nunca foi chamado pelo povo pelo seu prenome. Todos o conheciam como Cici da Candinha, devido ao apelido da mãe, que se chamava Maria Cândida de Andrade.

Sua atividade como empresário foi de sucesso. Dono de uma serralheria, que ficava aos fundos da sua casa e do Teatro Municipal, chegou a ter 40 funcionários. Tal situação contribuiu para torná-lo prefeito municipal pelo partido da Aliança Renovadora Nacional (Arena), tendo como vice-prefeito José Celso da Silva, dirigindo o executivo municipal entre os anos de 1971 e 1972. Posteriormente, foi reeleito para o mesmo cargo, acompanhado de Marcos de Oliveira Neto, como vice entre os anos de 1977 e 1982.

José Carlos de Souza Vale, mais conhecido por Carlos da Santa, sempre esteve ao lado do prefeito. Foi vereador durante seu segundo mandato, quando os membros da Câmara não recebiam um centavo sequer para ocupar o cargo. Ele destaca alguns feitos do prefeito, dos quais ainda nos beneficiamos, tais como: o asfaltamento dos 14 km que nos ligam à MGC 383 e a vinda da Companhia de Saneamento Básico (Copasa) para solucionar problema sério de abastecimento de água no município. Outra ação importante foi a implantação da rede de eletrificação rural, fazendo com que povoados recebessem luz elétrica da Cemig. Mata-burros começaram a ser feitos de ferro, numa época em que a prefeitura municipal não dispunha de máquinas pesadas, como retroescavadeiras e caminhões, e as alugavam em Barbacena para a execução dos trabalhos.

Por fim, ele procurou melhorar o calçamento das ruas e avenidas, mandando fabricar bloquetes no pátio da prefeitura. Isso foi em 1979... e com o trabalho bem feito pelos funcionários da prefeitura! Tais bloquetes são tão bons que superam, quase meio século depois, os que são adquiridos atualmente, via pregão, e que têm vida útil curta, duram uns cinco anos em média. Outras boas ações, segundo o Carlos da Santa, merecem destaque: os convênios com a Emater, o IEF e o projeto MG2, que destinava recursos para o município a fim de serem aplicados em obras.

Cici da Candinha não recebia somente na prefeitura aqueles que o procuravam com suas demandas. Gostava de acompanhar de perto as obras que eram realizadas, momento em que tinha contato direto com as pessoas. Por outro lado, não era difícil encontrá-lo no bar do João Bosco, posteriormente bar do Jorge e atual Parada Obrigatória, tomando uma cerveja Brahma servida em garrafa pequena, que chamamos barrigudinha. E tinha que ser na sua temperatura natural, isto é, quente para muitos cervejeiros, que a preferem bem gelada. Era ali, sentado num banquinho, descansando e saboreando sua bebida predileta que ele dava atenção aos que vinham da roça, dos povoados com suas demandas, certos de que seriam ouvidos e, muitas vezes, atendidos. Ocacyr dedicou-se a trabalhar pelo município. Nada mais justo, portanto, ser lembrado com o nome de uma pequena, porém destacada avenida no centro da cidade.

Ruas de memória: Morro da Nêga

25 de Fevereiro de 2025, por Edésio Lara 0

Morro da Nêga, um dos logradouros mais conhecidos e populares de Resende Costa (foto Daiane Chrisley)

As ruas e avenidas de Resende Costa - pequenas, em sua maioria - diferentes de muitas outras cidades, são identificadas com placas coloridas que substituíram as antigas de cor azul escuro com borda branca. São mais bonitas e trazem a logomarca da prefeitura municipal, responsável pela sinalização e identificação dos logradouros. Quer coisa pior do que procurar uma rua e não encontrar uma placa que a identifique? Esse problema não temos. Há aquelas que têm placa, porém possuem uma segunda denominação, criada espontaneamente pelo povo. Na edição passada desse jornal, citei o caso da Rua Matilde Rios, que também é conhecida por Beco do Barbosinha, no centro da cidade.  

Não é incomum vermos uma pessoa perguntar para outra onde fica determinada rua, mesmo com a ajuda da internet, que, através de um aplicativo no celular, tal como Google Maps ou Waze, por exemplo, nos faz transitar de um lado para outro com segurança. Nomes de ruas servem mesmo para isso, ou seja, identificar lugares, orientar pessoas em seus deslocamentos, sejam eles feitos a pé ou usando algum veículo para locomoção. É assim em qualquer lugar. 

Temos uma rua que poucos a conhecem pelo nome que tem. Trata-se da Rua Vereador Joaquim Coelho de Campos. Ela começa na Av. Expedicionários e finda na Rua Padre Joaquim Carlos. Porém, todos sabem onde fica o Morro da Nêga. As placas da rua indicam o nome do homenageado vereador, porém, para a comunidade, prevalece o “Morro da Nêga”. O nome tem a ver com o apelido dado a uma mulher que morou nessa rua. O nome dela: Marta José de Jesus Santos. Certamente, por ter-se destacado como uma pessoa importante, tornou-se referência para indicar o logradouro.

Marta, segundo Keila Santos, sua neta, não era uma negra retinta, isto é, de pele muito escura, carregada. Era magra e alta. Gostava de usar um lenço na cabeça, sem cobrir todo cabelo, que não era longo, e usava vestidos de linho reto que se estendiam até os joelhos. Keila não teve a oportunidade de conhecê-la; buscou com sua mãe informações sobre a avó. Era biscoiteira e lavadeira de roupas para muitas pessoas, em uma das duas “bicas d’água que havia na ponta do morrão”. Além disso, era sempre vista com feixe de lenha na cabeça e uma bolsinha de pano repleta de ervas que ela, cuidadosamente, utilizava para produzir remédios caseiros.

Marta, segundo Keila, gostava muito de cantar. Era muito religiosa, devota e, por isso, mesmo deu nome de santos e santas aos sete filhos que teve. Foi casada com Alício José da Silva e levou a vida cheia de muitas atividades, trabalhos e atenção dedicada à família. Era, segundo me disse a professora dona Eunice de Sousa Gomes, uma mulher prestativa e super alegre. Era “pau para toda obra”, isto é, mostrava-se sempre disposta, não negava serviços. Quando alguém precisava de seus serviços, sabia muito bem onde encontrá-la, lá na rua de aclive acentuado, para quem a percorre em direção ao Campo de Futebol do Expedicionários. O morro, portanto, passou a ser identificado como Morro da Nêga.

Da dona Marta (a Nêga), por enquanto, não restou uma fotografia. Talvez, nem documentos ou escritos deixados por ela. Seus netos, ao que parece, não têm uma imagem dela na memória. Vão construí-la através de relatos que surgem acerca da sua figura e da importância dela como uma pessoa do bem, do bom relacionamento com os outros e da dedicação dada aos filhos, alguns deles já falecidos. Na memória de algumas pessoas ela permanece viva. E, para mim, ela é merecedora de uma placa com seu nome na rua, ponto de referência importante para nós moradores da cidade e para quem nos visita. A Rua Vereador Joaquim Coelho de Campos permanecerá também como o Morro da Nêga. Isso não se apaga, é para sempre.