De olho na cidade

Ruas de memória: Avenida Prefeito Ocacyr Alves de Andrade

26 de Marco de 2025, por Edésio Lara 0

Avenida Prefeito Ocacyr Alves de Andrade. Ao fundo, o histórico Teatro Municipal e a residência onde residiu o ex-prefeito (foto André Eustáquio)

A maior parte dos logradouros de Resende Costa leva nome de pessoas. Alguns são políticos que se destacaram nas assembleias legislativas, congresso nacional, governos estaduais e presidência da República. Há bairros, como o do Tijuco, em que as ruas receberam nomes de árvores; no bairro Jardim, elas têm nomes de flores. No centro da cidade, espaço denominado pelo povo como “Quatro Cantos”, nasce uma avenida que recebeu o nome de Avenida Prefeito Ocacyr Alves de Andrade.

Trata-se de uma avenida extremamente pequena, não tão diferente de outras que temos no município. Nela há duas casas de morada, um escritório de contabilidade, uma farmácia, uma clínica médica, que já foi residência, uma nova edificação que substituiu a casa do sapateiro Simão Salomão, demolida recentemente. Por fim, há a casa que pertenceu ao prefeito Ocacyr e que se tornou, recentemente, ponto de comércio de roupas, e o Teatro Municipal, que, tombado pelo Conselho Municipal do Patrimônio Cultural (CMPC), tem sua estrutura física preservada. Ele não pode ser demolido nem sofrer alterações na sua fachada e telhado. Porém, entre o Teatro e a antiga casa do Ocacyr, há um corredor que, antigamente, dava acesso à serralheria que pertencia ao ex-prefeito.

Ocacyr não cursou a admissão e muito menos o ginásio. Ele frequentou somente os quatro anos do grupo, hoje conhecido como Educação Básica. Isso, porém, não o impediu de se tornar um empresário de sucesso e um político respeitado pelo povo da cidade.  Casou-se com dona Terezinha, uma mulher simples, discreta, com quem teve três filhos: Selma, Tadeu e José Roberto. Selma não se casou, não teve filhos. Tadeu foi pai de cinco filhos (sendo um já falecido) e José Roberto, uma filha.  Ocacyr nunca foi chamado pelo povo pelo seu prenome. Todos o conheciam como Cici da Candinha, devido ao apelido da mãe, que se chamava Maria Cândida de Andrade.

Sua atividade como empresário foi de sucesso. Dono de uma serralheria, que ficava aos fundos da sua casa e do Teatro Municipal, chegou a ter 40 funcionários. Tal situação contribuiu para torná-lo prefeito municipal pelo partido da Aliança Renovadora Nacional (Arena), tendo como vice-prefeito José Celso da Silva, dirigindo o executivo municipal entre os anos de 1971 e 1972. Posteriormente, foi reeleito para o mesmo cargo, acompanhado de Marcos de Oliveira Neto, como vice entre os anos de 1977 e 1982.

José Carlos de Souza Vale, mais conhecido por Carlos da Santa, sempre esteve ao lado do prefeito. Foi vereador durante seu segundo mandato, quando os membros da Câmara não recebiam um centavo sequer para ocupar o cargo. Ele destaca alguns feitos do prefeito, dos quais ainda nos beneficiamos, tais como: o asfaltamento dos 14 km que nos ligam à MGC 383 e a vinda da Companhia de Saneamento Básico (Copasa) para solucionar problema sério de abastecimento de água no município. Outra ação importante foi a implantação da rede de eletrificação rural, fazendo com que povoados recebessem luz elétrica da Cemig. Mata-burros começaram a ser feitos de ferro, numa época em que a prefeitura municipal não dispunha de máquinas pesadas, como retroescavadeiras e caminhões, e as alugavam em Barbacena para a execução dos trabalhos.

Por fim, ele procurou melhorar o calçamento das ruas e avenidas, mandando fabricar bloquetes no pátio da prefeitura. Isso foi em 1979... e com o trabalho bem feito pelos funcionários da prefeitura! Tais bloquetes são tão bons que superam, quase meio século depois, os que são adquiridos atualmente, via pregão, e que têm vida útil curta, duram uns cinco anos em média. Outras boas ações, segundo o Carlos da Santa, merecem destaque: os convênios com a Emater, o IEF e o projeto MG2, que destinava recursos para o município a fim de serem aplicados em obras.

Cici da Candinha não recebia somente na prefeitura aqueles que o procuravam com suas demandas. Gostava de acompanhar de perto as obras que eram realizadas, momento em que tinha contato direto com as pessoas. Por outro lado, não era difícil encontrá-lo no bar do João Bosco, posteriormente bar do Jorge e atual Parada Obrigatória, tomando uma cerveja Brahma servida em garrafa pequena, que chamamos barrigudinha. E tinha que ser na sua temperatura natural, isto é, quente para muitos cervejeiros, que a preferem bem gelada. Era ali, sentado num banquinho, descansando e saboreando sua bebida predileta que ele dava atenção aos que vinham da roça, dos povoados com suas demandas, certos de que seriam ouvidos e, muitas vezes, atendidos. Ocacyr dedicou-se a trabalhar pelo município. Nada mais justo, portanto, ser lembrado com o nome de uma pequena, porém destacada avenida no centro da cidade.

Ruas de memória: Morro da Nêga

25 de Fevereiro de 2025, por Edésio Lara 0

Morro da Nêga, um dos logradouros mais conhecidos e populares de Resende Costa (foto Daiane Chrisley)

As ruas e avenidas de Resende Costa - pequenas, em sua maioria - diferentes de muitas outras cidades, são identificadas com placas coloridas que substituíram as antigas de cor azul escuro com borda branca. São mais bonitas e trazem a logomarca da prefeitura municipal, responsável pela sinalização e identificação dos logradouros. Quer coisa pior do que procurar uma rua e não encontrar uma placa que a identifique? Esse problema não temos. Há aquelas que têm placa, porém possuem uma segunda denominação, criada espontaneamente pelo povo. Na edição passada desse jornal, citei o caso da Rua Matilde Rios, que também é conhecida por Beco do Barbosinha, no centro da cidade.  

Não é incomum vermos uma pessoa perguntar para outra onde fica determinada rua, mesmo com a ajuda da internet, que, através de um aplicativo no celular, tal como Google Maps ou Waze, por exemplo, nos faz transitar de um lado para outro com segurança. Nomes de ruas servem mesmo para isso, ou seja, identificar lugares, orientar pessoas em seus deslocamentos, sejam eles feitos a pé ou usando algum veículo para locomoção. É assim em qualquer lugar. 

Temos uma rua que poucos a conhecem pelo nome que tem. Trata-se da Rua Vereador Joaquim Coelho de Campos. Ela começa na Av. Expedicionários e finda na Rua Padre Joaquim Carlos. Porém, todos sabem onde fica o Morro da Nêga. As placas da rua indicam o nome do homenageado vereador, porém, para a comunidade, prevalece o “Morro da Nêga”. O nome tem a ver com o apelido dado a uma mulher que morou nessa rua. O nome dela: Marta José de Jesus Santos. Certamente, por ter-se destacado como uma pessoa importante, tornou-se referência para indicar o logradouro.

Marta, segundo Keila Santos, sua neta, não era uma negra retinta, isto é, de pele muito escura, carregada. Era magra e alta. Gostava de usar um lenço na cabeça, sem cobrir todo cabelo, que não era longo, e usava vestidos de linho reto que se estendiam até os joelhos. Keila não teve a oportunidade de conhecê-la; buscou com sua mãe informações sobre a avó. Era biscoiteira e lavadeira de roupas para muitas pessoas, em uma das duas “bicas d’água que havia na ponta do morrão”. Além disso, era sempre vista com feixe de lenha na cabeça e uma bolsinha de pano repleta de ervas que ela, cuidadosamente, utilizava para produzir remédios caseiros.

Marta, segundo Keila, gostava muito de cantar. Era muito religiosa, devota e, por isso, mesmo deu nome de santos e santas aos sete filhos que teve. Foi casada com Alício José da Silva e levou a vida cheia de muitas atividades, trabalhos e atenção dedicada à família. Era, segundo me disse a professora dona Eunice de Sousa Gomes, uma mulher prestativa e super alegre. Era “pau para toda obra”, isto é, mostrava-se sempre disposta, não negava serviços. Quando alguém precisava de seus serviços, sabia muito bem onde encontrá-la, lá na rua de aclive acentuado, para quem a percorre em direção ao Campo de Futebol do Expedicionários. O morro, portanto, passou a ser identificado como Morro da Nêga.

Da dona Marta (a Nêga), por enquanto, não restou uma fotografia. Talvez, nem documentos ou escritos deixados por ela. Seus netos, ao que parece, não têm uma imagem dela na memória. Vão construí-la através de relatos que surgem acerca da sua figura e da importância dela como uma pessoa do bem, do bom relacionamento com os outros e da dedicação dada aos filhos, alguns deles já falecidos. Na memória de algumas pessoas ela permanece viva. E, para mim, ela é merecedora de uma placa com seu nome na rua, ponto de referência importante para nós moradores da cidade e para quem nos visita. A Rua Vereador Joaquim Coelho de Campos permanecerá também como o Morro da Nêga. Isso não se apaga, é para sempre.

Ruas de memória: o Beco do Barbosinha

22 de Janeiro de 2025, por Edésio Lara 0

Beco do Barbosinha (Rua Matilde Rios) no centro da cidade (foto André Eustáquio)

A partir desta edição, quero me empenhar na tarefa de comentar sobre nomes de ruas da nossa cidade. Historiadores apontam que os homens começaram a dar nomes aos locais por onde passavam por volta de 4000 anos antes de Cristo. As pessoas, há milhares de anos, sentiram necessidade de dar nome aos lugares por onde passavam a fim de se orientarem. Ao longo do tempo, tornou-se comum dar nome de ruas, praças e avenidas da forma como conhecemos na atualidade. Vilas têm seus nomes, cidades e bairros também recebem nomes diversos, diferentes um pouco, quando se trata de ruas, por exemplo.

São avenidas, praças, ruas, ou mesmo becos, cada logradouro identificado por nome dado principalmente pela Câmara Municipal. Vereadores apresentam projetos justificando o porquê da indicação do nome a ser dado a uma via pública. São nomes de pessoas, datas comemorativas relacionadas a fatos históricos, além de santos e santas cujas memórias são comemoradas e celebradas popularmente. 7 de Setembro, Av. Tiradentes, Av. Juscelino Kubitschek, Av. Ministro Gabriel Passos, Av. 8 de Dezembro, são exemplos fáceis de nomes de logradouros a serem encontrados na região em que estamos. Nomes de cidades vizinhas também são muito usados para dar nomes a ruas. É o caso, por exemplo, da Rua São João del-Rei, uma das mais antigas de Resende Costa e que se situa na entrada da cidade, para quem ainda usa a estrada de terra que nos liga a Coronel Xavier Chaves.

Há, também, nomes que surgem naturalmente, sem que tenham sido propostos por quem quer que seja. Um exemplo claro que se encontra bem do centro da cidade é o Beco do Barbosinha. Trata-se de uma rua pequena e estreita que nasce na Rua Gonçalves Pinto, em frente à Agência do Banco do Brasil, e finda na confluência da Rua Assis Resende com a Praça Mendes Resende. Nela, ou melhor, no “Beco”, há seis imóveis, sendo que um deles funciona, também, como escritório destinado aos serviços de despachante junto ao Detran. No entanto, poucos sabem que o Beco do Barbosinha, na verdade, chama-se Rua Matilde Rios. Por vezes, já foi identificada como travessa Matilde Rios, devido ao seu tamanho e por ser ligação entre outras vias importantes da cidade. É certo dizer que poucos, quase ninguém, se referem a esse pequeno logradouro pelo nome oficial que possui, mas pelo beco onde morou o saudoso farmacêutico resende-costense Antônio da Silva Barbosa, mais conhecido por senhor Barbosinha.

Nem sempre prevalece o nome oficial dado ao logradouro e, sim, predomina aquele criado espontaneamente pelo povo. Foi o que aconteceu com a Rua Matilde Rios. Os moradores aproveitaram para indicar a farmácia e seu proprietário ao se referir à rua, visto que, além do ponto comercial, era nela que o sr. Barbosinha residia com sua família. Um edifício de dois andares (sobrado) tinha no térreo a farmácia e no andar superior a residência do farmacêutico.  E esse tipo de edificação era muito comum na cidade: na parte de baixo uma atividade comercial; na superior, a residência do seu proprietário.

Antônio da Silva Barbosa aparece como vereador e Auxiliar da Câmara, função que existiu desde a primeira legislatura (1912) e perdurou até 1959, tendo sido extinta a partir de 1960. Entre 1960-1962 e 1963-1966, foi eleito vereador e presidiu a Câmara Municipal nas respectivas legislaturas. O destaque maior para o senhor Barbosinha se deu a partir da sua atividade como farmacêutico. Em décadas passadas, e com a dificuldade de ter médicos atuando na cidade, era ele quem cuidava de todos os que pela sua farmácia passavam à procura de atendimento para cura de suas enfermidades. Era ele, também, que ia até as casas de enfermos para levar remédios, aplicar injeções. Foi ele, portanto, muito importante, já que era o proprietário da única farmácia do município. Devido à atenção que dava às pessoas, recebeu delas a justa consideração.

Por fim, o nome do senhor Antônio da Silva Barbosa aparece como nome da avenida principal do bairro Várzea, que se estende da imediação da rodoviária municipal até o Cruzeiro do Tijuco. No entanto, a Rua Matilde Rios bem que merece uma placa secundária, identificando-a, também, como “Beco do Barbosinha”.

Preços de alimentos que nos assustam no dia a dia: que saudade dos tempos de outrora...

25 de Dezembro de 2024, por Edésio Lara 0

Preço elevado nas gôndolas dos supermercados assustam os consumidores (foto Edésio Lara)

Foi no último dia 9 de outubro, numa quarta-feira, vindo para Resende Costa, que parei em um supermercado na cidade de Lagoa Dourada. Sempre faço isso, trago comigo alguma coisa diferente daquelas que encontramos aqui. Passei pela padaria, circulei entre gôndolas e parei diante de uma, só de frutas. Foi quando levei um susto. De olho nos abacates, fruta que aprecio muito, o preço do kg: R$ 14,90. Isso mesmo, quatorze reais e noventa centavos o quilo. Não acreditei. Pensei: Não seria uma anotação equivocada, feita por engano? Resolvi não comprar nenhum dos belos frutos expostos lá. Antes de deixar o supermercado, ainda incrédulo, fotografei a etiqueta com o respectivo preço absurdo anotado lá. Em Resende Costa, no dia seguinte, procurei um supermercado e fui conferir o preço do quilo da fruta. Fiquei mais espantado: R$ 15,90; um real acima do preço visto na querida cidade vizinha. Passados quinze dias, exatas duas semanas, ouvi pelo rádio que o quilo da fruta estava custando 25 reais em Belo Horizonte.  Aí, foi demais!

Todos nós, que fazemos compras em supermercados, sabemos bem dos preços cobrados por produtos que adquirimos corriqueiramente. São cereais, carnes, leite, pães e material diverso de higiene. Nada além do básico, daquilo que não pode faltar em casa. E é nessa hora que sempre me pergunto: Como é que uma pessoa, ou casal com filho(s), conseguem sobreviver recebendo um salário mínimo por mês, tendo que abastecer a casa com gêneros alimentícios, sem contar os gastos com energia elétrica, gás, abastecimento de água tratada e remédios? Essa é uma conta que não se fecha. Ah, e ainda somos vítimas de trapaças feitas por grandes indústrias que, descaradamente, reduzem a quantidade de produtos das suas embalagens sem, no entanto, diminuir o seu preço. Eu me atento muito para isso e fico realmente revoltado vendo como somos constantemente assaltados. Um litro vira 900ml, 100 gramas tornam-se 90g... mais adiante 80g, e por aí vai. Os mais atentos percebem que a embalagem fica até maior, porém o conteúdo faz o movimento contrário, isto é, diminui. Por sua vez, o preço sobe, e com facilidade. E ao que tudo indica, isso não é fiscalizado, controlado por órgão de governo destinado a cuidar disso.

Pois é nessa hora que me dá aquela saudade de outras épocas. Tempos de casas em terrenos enormes repletos de frutíferas, cheios de “hortas de couve”, como ainda chamamos. Épocas em que nossos avós, pais, não vendiam o que haviam plantado e colhido, mas doavam. Nossos quintais eram abertos, ou semiabertos, livres de muros, o que nos deixava circular entre uma propriedade e outra tranquilamente. As portas estavam sempre abertas e ir tomar café na casa do vizinho era mais do que natural, era parte da nossa rotina. Eu mesmo, ainda pequeno, quando minha mãe perguntava por mim, por volta das 10h, para almoçar, já tinha feito minha refeição na casa do Sebastião Sacristão.

Dinheiro, nem tanta falta fazia. Com uma nota de um cruzeiro, de vez em quando, comprava um canudo na casa da dona Juvita, ou um picolé no bar do Neném. A bem da verdade, ter dinheiro no bolso não era tão normal assim. Vivia-se muito realizando trocas. Trocavam-se produtos por serviços. A vida era mais simples e ir ao armazém para comprar frutas ou verduras não era prática comum. Consumia-se o que se plantava no quintal ou na roça. É certo que não havia variedade de produtos em oferta, no entanto produzia-se bastante com o que havia por perto. Doces de leite, goiabadas, frutas cristalizadas, bolos, broas, pães de queijo, por exemplo, não era preciso comprar, tudo era feito em casa. E isso se estendia para as carnes de frango e de porco. Pouquíssimas casas não possuíam um galinheiro ou chiqueiro que garantiam ovos e carnes para os moradores.

Ultimamente, com o crescimento da cidade e espaços para plantio de verduras, frutas e criação de animais muito reduzidos, a saída é buscar nos sacolões e supermercados aquilo que não podemos colher em casa. E com os preços nas alturas, tornamo-nos reféns de empresários, atravessadores e comerciantes que não titubeiam em reajustar preços, sempre para cima.

Só há uma saída para os que não têm como adquirir o que precisam para abastecer suas moradas com gêneros alimentícios: realizar cortes, deixar de comprar o que gostariam. Aqueles tempos de outrora não voltam mais.

A qualidade da música na Igreja Católica

27 de Novembro de 2024, por Edésio Lara 0

A cada ano, em 22 de novembro, comemoramos o Dia do Músico. É o dia de Santa Cecília, a padroeira dos que se dedicam à arte da música. O ex-deputado federal e senador Artur da Távola (1936-2008) dizia que “música é vida interior, e quem tem vida interior jamais padecerá de solidão”. Segundo Padre Cândido da Silva (1946), Artur da Távola também afirmava: “Quem gosta de música tem sempre vida interior, isto é, está sempre feliz com a vida”. Ela está presente em muitos momentos de nossa vida. Se fazemos festa, tem música. Em funerais ela quase sempre está presente. Imagina um casamento, carnaval, Semana Santa sem ela. É possível um baile sem música? Não, não é.

Padre José Cândido, compositor, regente e organista, natural de Itabira/MG e por longo tempo pároco da Paróquia de São Sebastião, no bairro Barro Preto, em Belo Horizonte/MG, em entrevista concedida no Programa Retratos, da TV Horizonte,  em 9/10/2012, ao ser perguntado sobre a importância da música dentro da celebração, ele disse: “Olha, uma das coisas com que a Igreja Católica mais precisa se preocupar é a qualidade da música. A música é um veículo fantástico. Nós temos uma riqueza sacramental muito grande e não podemos descuidar da música. A música é o motor para qualquer atividade humana. Sem ela, a coisa não vai para frente.”

As religiões, praticamente todas, fazem da música um instrumento poderoso em suas celebrações. Independentemente de países e das muitas religiões existentes, a presença da música cantada, com acompanhamento de instrumentos musicais ou não, em seus cerimoniais, é fato. Moro ao lado de uma igreja da Assembleia de Deus. Além das falas dos pastores, o que mais se escuta é a música cantada pelos membros da Igreja. Poucos meses atrás, fui convidado a assistir uma cerimônia na sede da Congregação Cristã no Brasil, em Resende Costa. Fiquei encantado com o belo trabalho deles. Receberam uma orquestra vinda de Carandaí/MG, muito boa, por sinal, e todos, de hinário em mãos, entoaram várias canções com entusiasmo e emoção durante o culto.

Desde as primeiras décadas da Era Cristã, os católicos sempre se valeram da arte de pintores, escultores, arquitetos, escritores e músicos. Não há uma igreja, por mais simples que seja, que não tenha no seu interior imagens de santos, pinturas de cenas da Paixão e Morte de Jesus Cristo, por exemplo. Possui seus músicos integrando corais, tocando instrumentos musicais, necessários para suas celebrações.

Além das vozes, sempre houve atenção especial para o órgão de tubos, que, pelo volume e beleza da sua sonoridade, tornou-se o instrumento básico, fundamental para abrilhantar as cerimônias, tocar fundo no coração dos religiosos. Associadas a ele, havia as orquestras, conjunto necessário para a apresentação de obras escritas para serem interpretadas em missas, principalmente. Ah, não podemos nos esquecer dos harmônios, instrumentos menores, mas de real importância nas celebrações. Em Resende Costa, usávamos esses instrumentos na Matriz e na Igreja do Rosário. Infelizmente foram extintos, trocados, por vezes, por teclados com sonoridades que não se equiparam aos dos harmônios. E isso tem acontecido em muitas igrejas, em muitos lugares.

Surgiram também, principalmente a partir da década de 1960, práticas que têm implicado negativamente na qualidade dos repertórios e suas interpretações. Canções tradicionais, muitas delas publicadas em hinários, tal como a Harpa de Sião, que contém coleção de cantos sagrados para vozes e harmônio, foram abandonadas. Maltratado ficou o entusiasmo dos católicos que cantavam junto com o coro um repertório de qualidade que encantava a todos. Sobressaíram-se alguns compositores, tais como Padre Zezinho (1941), autor de “Oração pela Família” e “Amar como Jesus Amou”; Padre José Cândido (1946), autor do Hino da Jornada Mundial da Juventude, em 2013; Irmã Míria Kolling (1939-2017), que compôs mais de 600 obras; e Frei Fabreti (1954-1992), este último, autor de Pelos Prados, Cantar a Beleza da Vida, A ti, meu Deus, Oração pela Paz, e Eis-me aqui Senhor. Alguns, como esses quatro citados aqui, ainda conseguiram produzir trabalho de qualidade em virtude da sua sensibilidade e de bom preparo musical. De resto, poucos se destacam na arte de compor músicas, atividade essa que não é para todos.

Houve alterações profundas na maneira de cantar, tocar instrumentos musicais nas igrejas. O que era bom e bem-feito deu lugar a trabalhos de baixa qualidade que não emocionam nem contribuem para que os fiéis participem ativamente das missas e de outras cerimônias.