De olho na cidade

Preços de alimentos que nos assustam no dia a dia: que saudade dos tempos de outrora...

25 de Dezembro de 2024, por Edésio Lara 0

Preço elevado nas gôndolas dos supermercados assustam os consumidores (foto Edésio Lara)

Foi no último dia 9 de outubro, numa quarta-feira, vindo para Resende Costa, que parei em um supermercado na cidade de Lagoa Dourada. Sempre faço isso, trago comigo alguma coisa diferente daquelas que encontramos aqui. Passei pela padaria, circulei entre gôndolas e parei diante de uma, só de frutas. Foi quando levei um susto. De olho nos abacates, fruta que aprecio muito, o preço do kg: R$ 14,90. Isso mesmo, quatorze reais e noventa centavos o quilo. Não acreditei. Pensei: Não seria uma anotação equivocada, feita por engano? Resolvi não comprar nenhum dos belos frutos expostos lá. Antes de deixar o supermercado, ainda incrédulo, fotografei a etiqueta com o respectivo preço absurdo anotado lá. Em Resende Costa, no dia seguinte, procurei um supermercado e fui conferir o preço do quilo da fruta. Fiquei mais espantado: R$ 15,90; um real acima do preço visto na querida cidade vizinha. Passados quinze dias, exatas duas semanas, ouvi pelo rádio que o quilo da fruta estava custando 25 reais em Belo Horizonte.  Aí, foi demais!

Todos nós, que fazemos compras em supermercados, sabemos bem dos preços cobrados por produtos que adquirimos corriqueiramente. São cereais, carnes, leite, pães e material diverso de higiene. Nada além do básico, daquilo que não pode faltar em casa. E é nessa hora que sempre me pergunto: Como é que uma pessoa, ou casal com filho(s), conseguem sobreviver recebendo um salário mínimo por mês, tendo que abastecer a casa com gêneros alimentícios, sem contar os gastos com energia elétrica, gás, abastecimento de água tratada e remédios? Essa é uma conta que não se fecha. Ah, e ainda somos vítimas de trapaças feitas por grandes indústrias que, descaradamente, reduzem a quantidade de produtos das suas embalagens sem, no entanto, diminuir o seu preço. Eu me atento muito para isso e fico realmente revoltado vendo como somos constantemente assaltados. Um litro vira 900ml, 100 gramas tornam-se 90g... mais adiante 80g, e por aí vai. Os mais atentos percebem que a embalagem fica até maior, porém o conteúdo faz o movimento contrário, isto é, diminui. Por sua vez, o preço sobe, e com facilidade. E ao que tudo indica, isso não é fiscalizado, controlado por órgão de governo destinado a cuidar disso.

Pois é nessa hora que me dá aquela saudade de outras épocas. Tempos de casas em terrenos enormes repletos de frutíferas, cheios de “hortas de couve”, como ainda chamamos. Épocas em que nossos avós, pais, não vendiam o que haviam plantado e colhido, mas doavam. Nossos quintais eram abertos, ou semiabertos, livres de muros, o que nos deixava circular entre uma propriedade e outra tranquilamente. As portas estavam sempre abertas e ir tomar café na casa do vizinho era mais do que natural, era parte da nossa rotina. Eu mesmo, ainda pequeno, quando minha mãe perguntava por mim, por volta das 10h, para almoçar, já tinha feito minha refeição na casa do Sebastião Sacristão.

Dinheiro, nem tanta falta fazia. Com uma nota de um cruzeiro, de vez em quando, comprava um canudo na casa da dona Juvita, ou um picolé no bar do Neném. A bem da verdade, ter dinheiro no bolso não era tão normal assim. Vivia-se muito realizando trocas. Trocavam-se produtos por serviços. A vida era mais simples e ir ao armazém para comprar frutas ou verduras não era prática comum. Consumia-se o que se plantava no quintal ou na roça. É certo que não havia variedade de produtos em oferta, no entanto produzia-se bastante com o que havia por perto. Doces de leite, goiabadas, frutas cristalizadas, bolos, broas, pães de queijo, por exemplo, não era preciso comprar, tudo era feito em casa. E isso se estendia para as carnes de frango e de porco. Pouquíssimas casas não possuíam um galinheiro ou chiqueiro que garantiam ovos e carnes para os moradores.

Ultimamente, com o crescimento da cidade e espaços para plantio de verduras, frutas e criação de animais muito reduzidos, a saída é buscar nos sacolões e supermercados aquilo que não podemos colher em casa. E com os preços nas alturas, tornamo-nos reféns de empresários, atravessadores e comerciantes que não titubeiam em reajustar preços, sempre para cima.

Só há uma saída para os que não têm como adquirir o que precisam para abastecer suas moradas com gêneros alimentícios: realizar cortes, deixar de comprar o que gostariam. Aqueles tempos de outrora não voltam mais.

A qualidade da música na Igreja Católica

27 de Novembro de 2024, por Edésio Lara 0

A cada ano, em 22 de novembro, comemoramos o Dia do Músico. É o dia de Santa Cecília, a padroeira dos que se dedicam à arte da música. O ex-deputado federal e senador Artur da Távola (1936-2008) dizia que “música é vida interior, e quem tem vida interior jamais padecerá de solidão”. Segundo Padre Cândido da Silva (1946), Artur da Távola também afirmava: “Quem gosta de música tem sempre vida interior, isto é, está sempre feliz com a vida”. Ela está presente em muitos momentos de nossa vida. Se fazemos festa, tem música. Em funerais ela quase sempre está presente. Imagina um casamento, carnaval, Semana Santa sem ela. É possível um baile sem música? Não, não é.

Padre José Cândido, compositor, regente e organista, natural de Itabira/MG e por longo tempo pároco da Paróquia de São Sebastião, no bairro Barro Preto, em Belo Horizonte/MG, em entrevista concedida no Programa Retratos, da TV Horizonte,  em 9/10/2012, ao ser perguntado sobre a importância da música dentro da celebração, ele disse: “Olha, uma das coisas com que a Igreja Católica mais precisa se preocupar é a qualidade da música. A música é um veículo fantástico. Nós temos uma riqueza sacramental muito grande e não podemos descuidar da música. A música é o motor para qualquer atividade humana. Sem ela, a coisa não vai para frente.”

As religiões, praticamente todas, fazem da música um instrumento poderoso em suas celebrações. Independentemente de países e das muitas religiões existentes, a presença da música cantada, com acompanhamento de instrumentos musicais ou não, em seus cerimoniais, é fato. Moro ao lado de uma igreja da Assembleia de Deus. Além das falas dos pastores, o que mais se escuta é a música cantada pelos membros da Igreja. Poucos meses atrás, fui convidado a assistir uma cerimônia na sede da Congregação Cristã no Brasil, em Resende Costa. Fiquei encantado com o belo trabalho deles. Receberam uma orquestra vinda de Carandaí/MG, muito boa, por sinal, e todos, de hinário em mãos, entoaram várias canções com entusiasmo e emoção durante o culto.

Desde as primeiras décadas da Era Cristã, os católicos sempre se valeram da arte de pintores, escultores, arquitetos, escritores e músicos. Não há uma igreja, por mais simples que seja, que não tenha no seu interior imagens de santos, pinturas de cenas da Paixão e Morte de Jesus Cristo, por exemplo. Possui seus músicos integrando corais, tocando instrumentos musicais, necessários para suas celebrações.

Além das vozes, sempre houve atenção especial para o órgão de tubos, que, pelo volume e beleza da sua sonoridade, tornou-se o instrumento básico, fundamental para abrilhantar as cerimônias, tocar fundo no coração dos religiosos. Associadas a ele, havia as orquestras, conjunto necessário para a apresentação de obras escritas para serem interpretadas em missas, principalmente. Ah, não podemos nos esquecer dos harmônios, instrumentos menores, mas de real importância nas celebrações. Em Resende Costa, usávamos esses instrumentos na Matriz e na Igreja do Rosário. Infelizmente foram extintos, trocados, por vezes, por teclados com sonoridades que não se equiparam aos dos harmônios. E isso tem acontecido em muitas igrejas, em muitos lugares.

Surgiram também, principalmente a partir da década de 1960, práticas que têm implicado negativamente na qualidade dos repertórios e suas interpretações. Canções tradicionais, muitas delas publicadas em hinários, tal como a Harpa de Sião, que contém coleção de cantos sagrados para vozes e harmônio, foram abandonadas. Maltratado ficou o entusiasmo dos católicos que cantavam junto com o coro um repertório de qualidade que encantava a todos. Sobressaíram-se alguns compositores, tais como Padre Zezinho (1941), autor de “Oração pela Família” e “Amar como Jesus Amou”; Padre José Cândido (1946), autor do Hino da Jornada Mundial da Juventude, em 2013; Irmã Míria Kolling (1939-2017), que compôs mais de 600 obras; e Frei Fabreti (1954-1992), este último, autor de Pelos Prados, Cantar a Beleza da Vida, A ti, meu Deus, Oração pela Paz, e Eis-me aqui Senhor. Alguns, como esses quatro citados aqui, ainda conseguiram produzir trabalho de qualidade em virtude da sua sensibilidade e de bom preparo musical. De resto, poucos se destacam na arte de compor músicas, atividade essa que não é para todos.

Houve alterações profundas na maneira de cantar, tocar instrumentos musicais nas igrejas. O que era bom e bem-feito deu lugar a trabalhos de baixa qualidade que não emocionam nem contribuem para que os fiéis participem ativamente das missas e de outras cerimônias. 

O antes e o depois das eleições municipais em Resende Costa

23 de Outubro de 2024, por Edésio Lara 0

Passados alguns dias das eleições municipais realizadas no último dia 6 de outubro, quando foram eleitos o prefeito, o vice-prefeito e nove vereadores para compor a Câmara Municipal entre os anos de 2025 e 2028, os comentários acerca do período de campanha dos candidatos e os resultados alcançados por eles são muitos. Há os que dizem ter acertado seus palpites, outros se surpreenderam com o apurado nas urnas eletrônicas. Antes mesmo do resultado ser confirmado pela junta eleitoral, já circulavam as notícias sobre os eleitos, bem como a quantidade de votos recebidos por eles. O que se via era muita gente com celular na mão, acompanhando o resultado através do site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), até o trabalho ter sido concluído às 19:12:46. O candidato a prefeito Lucas Paulo obteve 5.835 votos e Emídio, seu concorrente, 1.469. Houve número baixo de votos nulos: 201 (2,55%) e votos em branco: 146 (1,85%). De um lado, do vitorioso Lucas Paulo (PSD), juntaram-se os partidos MDB e PL, enquanto do lado de Emídio, (PT), coligaram-se Avante, PcdoB e PV.

Os candidatos, a fim de conquistarem o voto do eleitor, se valeram, principalmente, das redes sociais, da distribuição de santinhos, cartazes e panfletos para divulgarem suas propostas de governo. Não houve comícios, tal como se via antigamente, nem showmícios, muito menos carros circulando com som nas alturas solicitando votos, ou sequer um debate. Lucas Paulo se valeu de postagens de vídeo na internet, mas não desvalorizou o “bater de porta em porta” junto com seu companheiro de chapa, o Paulinho. Emídio optou por convidar pessoas para um café no Mirante das Lajes, com o objetivo de tomar depoimento delas acerca do que julgavam ser necessário fazer caso ele fosse eleito. E a questão mais destacada foi a da saúde pública no município, considerada por ele com problemas, como pudemos ver no Instagram, por exemplo.

Lucas Paulo, até então vice-prefeito em exercício do cargo de prefeito – apesar de ter substituído o prefeito Zinho Gouveia desde 2021, que se licenciou do cargo por motivos de saúde –, aproveitou o período de seu mandato para se preparar até se candidatar ao cargo de prefeito. No Brasil, quando prefeitos, governadores e o presidente da República podem ser reeleitos, não vencer as eleições é tarefa difícil. Só não se reelegem os incompetentes, antipáticos, investigados sob suspeita de corrupção, além de questões emocionais, psicológicas ou outras bastante particulares. Portanto, quem está no cargo para o qual se candidata à reeleição raramente sai derrotado no pleito.

Os candidatos a vereador, na sua maioria, circularam pelo município para conversar com eleitores, distribuir santinhos e dizer das suas intenções. Tanto eles, quanto os candidatos a prefeito, deixaram alguns temas à parte, tais como o plano diretor da cidade, o cuidado com bens patrimoniais tombados, arte, cultura, meio ambiente, tratamento de esgoto, assistência social entre outras políticas públicas fundamentais para o bom desenvolvimento do município. A responsabilidade de administrar uma cidade e de fiscalizar ações do governo municipal, que cabe aos vereadores, é imensa. Dizer o que pretendem fazer, às vezes sem a mínima noção das reais possibilidades de cumprir o que desejam, é fácil. Dar conta de realizar o que prometeram em campanha, nem tanto.

Pois bem, enquanto acompanhávamos os resultados das eleições pela internet, momento em que nossa Rádio Inconfidentes FM se encontrava fora do ar devido a questões técnicas, íamos nos surpreendendo com a relação dos vereadores mais bem votados naquele dia. É muito comum, durante o período de campanha, ouvirmos uma frase afirmativa: “Fulano de tal já está eleito.” Mas, isso se parece muito com o futebol, quando se canta vitória de um time antes do jogo. Houve surpresas quando determinados candidatos, tidos como praticamente eleitos, foram derrotados. A respeito de que alguns vereadores da atual legislatura seriam bem votados, já havia consenso.

Coló do Cajuru obteve, agora, mais votos que no pleito passado. Ele está entre os três vereadores que conseguiram se reeleger. Muita gente ficou surpresa com a eleição do Dinô Mamão com Açúcar, o segundo mais bem votado. Agora, difícil de entender, é a questão do coeficiente eleitoral. Esta lei faz com que um candidato com mais votos fique como suplente e não assuma o cargo. Desta vez, os três últimos colocados obtiveram, no total, 780 votos, contra os que conquistaram 844 e permanecem na lista como suplentes.

Fanfarra da E. E. Assis Resende no desfile de 7 de Setembro

25 de Setembro de 2024, por Edésio Lara 0

Fanfarra da E. E. Assis Resende desfilando na rua Gonçalves Pinto, em comemoração ao 7 de Setembro (foto Edésio Lara)

Assistimos, a cada ano, aos desfiles realizados no dia 7 de setembro, em Resende Costa, com movimentação de pessoas entre a Escola Estadual Assis Resende até a praça Dr. Costa Pinto, no centro da cidade, onde sempre há um palco montado para receber autoridades municipais. Ao lado dele, posta-se a banda de música para interpretar alguns dobrados e marchas do seu repertório. Esse evento é realizado há anos, décadas, quando celebramos o dia em que o Brasil se tornou independente de Portugal em 1822. Os preparativos para a festa começam nas escolas com ensaios de alunos chamados a participar do evento.

Na capital do Brasil, em datas comemorativas como o 7 de Setembro, o presidente da República geralmente desfila num Rolls-Royce Silver Wraith, carro aberto fabricado em 1952 na Inglaterra e encomendado a pedido do presidente Getúlio Vargas naquele ano. O Exército exibe suas armas, tanques de guerra; as polícias, seus equipamentos de trabalho, além de cavalos e cães que os acompanham em serviços. A Aeronáutica se incumbe de exibir aviões, com realce para a Esquadrilha da Fumaça; e os bombeiros mostram seus equipamentos para combate a incêndios ou outros destinados a acidentes que lhes cabem combater. É uma festa. E ela se repete nas capitais estaduais, provavelmente, em todos os 5.568 municípios do país.   

Em Resende Costa, eu me lembro, éramos treinados a marchar. Agrupávamos repetindo um formato que se vê de militares desfilando. Quem nos treinava era sempre um policial militar, acompanhado pelo prof. Geraldo Sebastião Chaves. Eram muitos ensaios, às vezes realizados no campo de futebol do Expedicionários. No dia 7, íamos para a avenida, uniformizados e bem-vestidos, para participar da grande festa cívica. Éramos vistos pelo povo, acompanhados pela banda de música, autoridades municipais e, às vezes, por um militar de alta patente do Exército Brasileiro, vindo do 11º BI sediado em São João del-Rei.

Ultimamente, os desfiles se repetem com a participação de alunos de todas as escolas do município, vestindo uniformes que usam para ir à escola e portando faixas que destacam assuntos que merecem a atenção de todos os brasileiros. Os estudantes são acompanhados pelos seus professores e equipes de apoio que atuam nos seus educandários.

Neste ano, a Escola Estadual Assis Resende novamente compareceu ao evento e nos apresentou uma fanfarra durante seu desfile, dirigida pelo Gabriel Augusto dos Santos. Ele é natural de Resende Costa e tem 21 anos de idade. Reside no bairro Nova Resende com sua mãe, seu irmão, uma tia e uma avó. É filho de Júlia de Fátima Pinto e Ivonei Aparecido dos Santos (já falecido). Oito anos atrás, com 13 anos de idade, ele iniciou seus estudos musicais na Banda de Música Santa Cecília. Naquele momento, “sentiu necessidade de conhecer algo novo, ter experiências novas”, ele me disse. Foi quando ingressou na Orquestra Mater Dei, na qual permanece tocando flauta desde 2018. Em 2019, querendo ampliar seus conhecimentos, matriculou-se no Conservatório de Música Padre José Maria Xavier, em São João del-Rei, nele permanecendo até o ano de 2022. Foi nesse momento que decidiu dar mais um passo à frente na sua formação acadêmica:  foi aprovado no Enem e ingressou no Curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Orientado pelo professor de flauta Dr. Antônio Carlos Guimarães, Gabriel está em fase de conclusão do seu curso.

Segundo Gabriel, “o projeto da fanfarra na escola veio por meio de uma conversa com a professora Roseni Fernandes, diretora da Escola Estadual Assis Resende, onde me formei em 2021”. A expectativa de ambos era de que a fanfarra sobressaísse como “algo novo e que ajudasse no desenvolvimento dos estudos de alunos e que pudesse participar de eventos”, como ocorreu no 7 de Setembro deste ano.

Devemos ressaltar a participação dessa fanfarra criada recentemente, destacando duas coisas:  1) a oferta de ensino gratuito, que começa no primeiro ano do ensino básico e se estende até o curso superior, da qual se valeu o Gabriel para se profissionalizar como instrumentista e professor de música; 2) as oportunidades surgidas, como a Lei Paulo Gustavo, criada durante a crise aguda pela qual passamos com a pandemia da covid-19. Através dela, o governo federal disponibiliza recursos para apoiar ações emergenciais destinadas ao setor cultural. Foi através desta lei que Gabriel, a exemplo de outros artistas resende-costenses, conseguiu aprovar projeto e levantar recurso capaz de sustentar o início de suas atividades. Espera-se, para este grupo, mais apoio e, dele, muita participação dos seus integrantes e boas performances.

Antônio Vieira de Andrade, compositor resende-costense

30 de Agosto de 2024, por Edésio Lara 0

Na foto, Maria das Dores Resende. No colo: Onofre Resende Andrade. Assentada: Eunice Resende Andrade. Em Pé: Zilah Andrade Resende, Antônio Vieira de Andrade e ao seu lado, de mãos dadas, Eurico Rezende Andrade.

Zilah Andrade Resende (11/01/1927 – 11/08/2024) faleceu em Resende Costa no último dia 11 de agosto, quando completou 97 anos e 11 meses de vida. Seu velório durou pouco mais de 2 horas e, depois, seu corpo seguiu para Belo Horizonte, onde foi sepultado no Cemitério do Bonfim. Ano passado, em setembro, ela disse aos filhos que queria vir morar em Resende Costa. Eles a trouxeram e aqui ela viveu seus últimos meses de vida. Seu desejo de vir para cá tem a ver com a sua origem: ela era filha de Antônio Vieira Andrade e de Maria das Dores Resende, ambos nascidos aqui, em Resende Costa.

Antônio era filho único de Pedro Alves de Andrade Neto (1850-1900) e de Maria Vieira de Andrade (?). Seu pai, juntamente com sua avó dona Ilidia, deixaram São João del-Rei – cidade natal de ambos – para trabalharem em Resende Costa como professores das primeiras letras, principalmente. Pedro Alves, que foi homenageado com nome de rua na cidade, dava aulas para os meninos e sua mãe, para as meninas. Ele, além do trabalho como professor, destacou-se como músico (regente e violinista), tendo deixado alguns manuscritos que temos arquivados, quando se identificava como Neto.

Maria das Dores era filha de Antônio Sebastião de Resende Lara (1861-1933) e de Macrina Augusta de Albergaria Lara (1863-1903). O pai resende-costense e a mãe, ouropretana, tiveram muitos filhos. E na residência da família, as visitas do mestre Pedro Alves eram frequentes. Antônio de Lara Resende, em suas Memórias: do Belo Vale ao Caraça, pag. 305, o descreveu como “baixote, gorducho, de andar pendular, particularidade que herdou ao filho, que, também ao andar, parecia ter mais calos nos pés que cabelos na cabeça”. 

Os pais de Zilah, Antônio e Maria das Dores, descenderam de famílias ligadas à educação e às artes, com destaque para a música e a literatura. Maria das Dores, apaixonou-se por Antônio, vindo a casar-se com ele – segundo familiares, a contragosto de uma de suas madrinhas –, para se instalarem em Itumirim, então distrito de Lavras. Lá nasceram seus filhos. Tornaram-se donos de escola (internato) e de uma padaria, de onde tiravam os recursos para sustento da família. Tudo ia bem, levavam uma vida tranquila, até a Revolução Constitucionalista de 1932, quando enfrentaram dificuldades financeiras e optaram por trabalhar em Belo Horizonte, indo residir na Rua Macedo, bairro Floresta. Na capital mineira, o resende-costense conseguiu emprego na Rede Ferroviária Federal, chegou a prestar serviços particulares de contabilidade para libaneses, além de aulas particulares de música e atividades junto a uma banda de música e uma orquestra que se dedicava a tocar música popular. 

Antônio Vieira de Andrade, em seu certificado de reservista de 3ª categoria (Ministério da Guerra), datado de 1921, foi descrito como sendo de cor branca, cabelos e olhos castanhos, altura de 1,65cm, nariz reto, rosto oval, boca regular e sem sinais particulares. É bem provável que tenha recebido em Resende Costa, e do próprio pai, as aulas de teoria da música e de violino ou de outros instrumentos de banda de música. Em Belo Horizonte, mostrou-se mais afeito à música popular, escrevendo peças para piano e canto, por exemplo, de gêneros muito em voga na segunda metade do século XX, tais como marchas e valsas. Atuou como mestre da banda de música e chegou a integrar a Orquestra do Maestro Delê (José Braz de Andrade – Ouro Preto, 03/02/1916 e Belo Horizonte, 19/04/1980), que atuava em clubes da cidade e no Cassino Pampulha, entre os anos de 1930 e 1946, quando do fechamento dos cassinos no Brasil.

Devemos destacar mais sobre esse artista e pesquisar sobre ele, conterrâneo nosso, contando com acervo deixado pelo mesmo e que, por hora, encontra-se sob guarda de familiares e, principalmente, do neto Antônio Sebastião de Resende Lara, para ser inventariado e receber cuidados destinados à sua preservação e futura disponibilização para pesquisadores e intérpretes.