Maria Eduarda Batista Cordeiro e Lucas Miguel Barroso Afonso*
Adriano Valério Resende**
O Vale do Jequitinhonha está localizado no nordeste de Minas Gerais, sendo marcado por sua beleza natural e riqueza cultural, como a Serra do Espinhaço, os artesanatos e as festas tradicionais. A região possui aproximadamente um milhão de habitantes, distribuídos pelos 55 municípios banhados pelo rio Jequitinhonha, cujo nome é de origem indígena e provém da junção das palavras “Jequi”, que na língua nativa significava “armadilha para pegar peixes”, e “onha”, que designa peixes.
Antes de sofrer as ações da colonização portuguesa, o Vale do Jequitinhonha era habitado pelos povos indígenas do tronco Macro-Jê, como os Botocudos, Aranãs, Tocoiós, Ofaié e Cariri. Historicamente, a primeira expedição chegou em terras do Vale em 1553, liderada por Francisco Bruza Espinosa, que estava acompanhado pelo padre jesuíta João de Azpilcueta Navarro, chegando até as cabeceiras do rio, na Serra do Espinhaço. Em 1573, à procura de metais preciosos, a segunda expedição chegou ao rio Araçuaí, principal afluente do Jequitinhonha. No ano seguinte, a expedição de Antônio Dias encontrou indícios de metais preciosos na região.
A ocupação do Vale se iniciou efetivamente na primeira metade do século XVIII, com a descoberta de ouro nas proximidades da cidade do Serro, o que atraiu muitos garimpeiros. Posteriormente, houve a descoberta dos diamantes no Arraial do Tejuco, hoje Diamantina. A fama de riqueza da região entrou em decadência na segunda metade do século XIX, quando foram encontrados diamantes na África do Sul, fazendo com que o preço do metal se desvalorizasse por aqui, levando muitos comerciantes e mineradores à falência. O abandono político e econômico do Vale foi denunciado no final do século XIX pelo jornal “O Jequitinhonha”, criado por Joaquim Felício e Teófilo Otoni. Mas, até meados do século XX, o Jequitinhonha ficou esquecido pela política nacional e, nesse sentido, começou a ser conhecido como o “Vale da Miséria”, visão que, erroneamente, persiste até os dias atuais.
A mineração reapareceu como importante atividade econômica na segunda metade do século XX com a extração de granito para fins ornamentais, especialmente no Médio Jequitinhonha. Muitas empresas vieram do Espírito Santo para atuar na região. Outra atividade que se instalou foi a Silvicultura. Com o objetivo de desenvolver o Vale, na década de 1970, o estado de Minas Gerais repassou as terras devolutas das chapadas para a empresa estatal Acesita, que plantou milhares de hectares de eucalipto para a produção de carvão vegetal, utilizado na siderurgia. Tal situação gerou conflitos com as comunidades locais, principalmente com as que viviam da criação de gado solto nas Chapadas.
Atualmente, a monocultura de eucalipto continua a se expandir, especialmente na região de Capelinha, município referência na cultura do café, trazendo preocupações ambientais devido ao alto consumo de água e impactos sobre a biodiversidade. A pecuária e a agricultura familiar ainda se mantêm como pilares tradicionais da economia local, apesar dos desafios impostos pelas mudanças no uso da terra. A geração de energia é representada, principalmente, pela UHE Irapé, construída em 2006, que inundou uma grande extensão de terras no entorno do rio Jequitinhonha. Recentemente, o Vale vivencia outra transformação econômica: a expansão da mineração de lítio, impulsionada por investimentos significativos que prometem gerar milhares de empregos e atrair investimentos de até R$ 30 bilhões até 2030. Destaca-se que essas dinâmicas econômicas coexistem com a forte presença da fé e das tradições culturais, que continuam a desempenhar um papel central na identidade e na resistência das comunidades locais frente às transformações em curso.
A questão ambiental tem ganhado cada vez mais importância na região. Mesmo com a presença de recursos ambientais valiosos, como rios importantes, rica biodiversidade e grandes potencialidades econômicas, a região enfrenta sérios desafios. Problemas como o desmatamento, a degradação do solo e a escassez de água são frequentes, agravados pela má gestão dos recursos naturais e pela falta de políticas públicas ambientais eficazes. Apesar disso, o Vale apresenta grandes oportunidades. Citamos a geração de crédito de carbono, que pode ser alcançada por meio do reflorestamento de eucalipto, e o uso de fontes de energia renovável, como a solar e a eólica, favorecidas pelas condições naturais da região, a radiação solar e os ventos em regiões mais altas. Portanto, a valorização dos recursos naturais e das potencialidades sociais presentes e a adoção de estratégias e práticas ambientalmente corretas são fundamentais para o crescimento sustentável do Vale do Jequitinhonha.
*Alunos do Curso Técnico em Meio Ambiente – CEFET/MG
**Professor CEFET/MG