O uso de Máscaras e o ser Empático (ou apático)
Fui a São João del-Rei no dia 7 de julho visitar e passar alguns dias com minha namorada após dois meses longe um do outro. Foram bons dias e a saudade ainda aperta o peito, porém, sei que o distanciamento neste momento é permeado por uma necessidade vital, o cuidado com a vida. Nesses dias que passei em sua casa fui a uma loja de artigos de pesca para comprar um item a pedido de meu pai, no local percebo dois cidadãos dentro do recinto, além da atendente. Um deles portava máscara, o outro, falante, altivo, espaçoso, estava sem máscara, e no lugar desta, usava toda sua insensibilidade. Quando vejo que ali dentro havia uma pessoa não respeitando as regras de distanciamento e de cuidados para si e com o próximo, escolho ficar de fora da loja e esperá-lo sair.
Foi uma escolha acertada, a atendente me convidou a entrar e eu disse a ela que esperaria um pouco, no entanto, não lhe disse meus motivos. Nesse momento, o altivo falante vocifera a todos que quisessem escutar as suas pretensões e sua hombridade, dizendo: Não tenho medo. A única forma de passarmos por isso é que todos se infectem, não tem mais o que fazer! Neste momento me veio à mente: “há o que fazer se assim o quisermos”. E é a partir desse excerto que proponho iniciarmos um pensamento com a seguinte pergunta: - Há o que ser feito?
Não quero aqui negar as dificuldades de quem não pode se manter em isolamento, muito menos dizer que é culpa do povo todo o contexto da pandemia. Se hoje, dia 14/07, há 72.833 mortes em decorrência do novo vírus, a culpa é antes de tudo do desgoverno de Jair Bolsonaro (Sem Partido) que insiste em não nos cuidar, e que no mais direto possível, nos guia à morte. Porém, quero tocar no que diz respeito à atuação individual de cada um de nós cidadãos. O exigido pelas prefeituras que se use em locais públicos e nos comércios é um aparato de proteção comum e de fácil acesso: as máscaras. Mas, simbolicamente, o que isso tem a dizer? As máscaras são hoje, a meu ver, a representação da mais básica forma de atuação humana de cuidado, a /empatia/, que simplistamente quer dizer /se colocar no lugar do outro/. Ou seja, não é compreender, não é imaginar o sofrimento do outro, mas perceber e respeitar, nos mais diferentes âmbitos da vida, que esse outro sofre assim como eu.
Retorno ao trecho acerca de minha experiência recente. Esse homem que não porta máscara, que não tem medo de se contaminar e que, em consonância a isso, acha que a solução de todos os problemas é justamente contaminar a todos, esse homem, tem algo a fazer? O sentimento que o possibilitaria compreender o quanto a vida de todos ao seu redor é frágil e que todas aquelas milhares de mortes não são só números, não existe. Ele não sabe o que é ser empático, esta não faz parte dele assim como de muitos outros. Antes disso, um sentimento muito presente é a apatia. É muito mais fácil se atentar à própria força e à própria saúde (que são simplesmente suposições, pois o vírus não é racional e não escolhe) do que ampliar a visão e tentar pensar naqueles que não têm tanta sorte, como os idosos, os pneumônicos, os oncológicos.
Há uma banda que gosto muito chamada Ponto Nulo no Céu, que em uma de suas músicas, “Horizontal”, diz: /Os teus carnavais sempre passam de maneiras iguais; Tuas avenidas varridas de fantasias banais; Enquanto a dormência ocupa os lugares; Nos teus dias mais vulgares; Fecha os olhos pra sentir; Esquece os ouvidos pra se ouvir; E o aprendizado da fala certa, se aquieta/. Isso talvez resuma um pouco o que quero dizer, enquanto os olhos permanecerem fechados e o ouvir esquecido não haverá compreensão de um verdadeiro afeto construtor, os dias continuarão ocupados de dormência e o aprendizado aquietado.
A questão extravasa o contexto são-joanense. Resende Costa é maculada também por essa ideia mal-elaborada de cuidado. Enquanto a empatia não significar algo comum no dia a dia, enquanto insistirmos em nos manter cada um em “seu lugar” não haverá possibilidades de fazermos algo. Antes do distanciamento e do uso das máscaras há de se cultivar o bom convívio e a empatia pelos nossos vizinhos, amigos e familiares.