No último mês de outubro, a notícia de que a empresa de transporte coletivo Presidente, que opera a linha Resende Costa – São João del-Rei, faria uma redução no preço das passagens, deixou parte da população animada e outra, desconfiada. A Viação Sandra, recentemente, reduziu o preço da passagem de ônibus entre Belo Horizonte e Resende Costa, portanto, a intensão não nos pegou de surpresa, nem foi motivo de alarde. Essas “bondades”, vindas de empresários detentores de exclusividade nas linhas que operam, são resultado de fatos que as têm atingido em cheio.
Antigamente, até meados da década de 1960, ir de ônibus a São João del-Rei era uma coisa rara e, para nós meninos, uma festa. Quase ninguém possuía automóvel ou motocicleta e São João parecia longe quando a viagem era feita em ônibus precários em estrada de terra que cortava a vizinha Coronel Xavier Chaves (Coroas). No período chuvoso (e como chovia muito naquele tempo!), entre os viajantes uma pergunta era inevitável: será que a jardineira (ônibus) passa pela ‘cava amarela’? O aclive mais acentuado da estrada era como divisor de espaços, visto que os veículos nem sempre conseguiam vencê-lo. Para transpô-lo, era então necessário promover a baldeação: o coletivo parava ao pé do morro e os passageiros seguiam a pé até seu ponto mais alto para embarcar em outro veículo e seguir viagem até São João del-Rei, o que durava quase duas horas. As pessoas dependiam e muito dos serviços prestados pelos ônibus.
Na década de 1980, as coisas começaram a mudar e melhorar, quando uma estrada nova e asfaltada diminuiu o tempo de viagem e passou a oferecer mais conforto aos passageiros. O que se viu também, no mesmo período, foi a frota de veículos particulares dos resende-costenses crescer de forma expressiva. Os moradores da cidade, aos poucos, passaram a depender menos do transporte coletivo para circular entre as cidades. Desde então, a empresa de transporte começou a perder passageiros que passaram a considerar o conforto, rapidez e agilidade dos automóveis.
Alguns anos atrás, a Empresa Nossa Senhora da Penha (do Nísio), que operava o trecho, foi substituída pela Presidente. A nova empresa, apesar de operar com ônibus melhores e mais confortáveis, não viu crescer o número de passageiros em suas viagens. Pelo contrário, as poltronas vazias passaram a ser em maior número. Recentemente, com o uso do telefone celular e outros meios que aproximam e facilitam a comunicação entre pessoas, surgiram os “grupos de carona”. Basta um proprietário de veículo postar no Facebook ou encaminhar mensagens de oferta de cartona paga para grupos no WhatsApp para que esses circulem por aí transportando passageiros entre um lugar e outro. As empresas de ônibus, que décadas atrás eram únicas quando o assunto era transporte coletivo, perderam muitos passageiros nos dois últimos anos.
O caso da Presidente, que reduziu o preço da passagem entre RC e SJDR, com aval do Executivo Municipal, é reflexo disso: da concorrência informal, como exposto acima. Só não deu certo, porque a empresa resolveu trocar os ônibus de poltrona acolchoada e reclinável e bagageiro, por veículos que são utilizados para transporte municipal e que não oferecem conforto e segurança. Os bancos desses lotações, como chamamos esses veículos, são duros, não possuem cintos de segurança e nem dispõem de espaço adequado para a acomodação de bagagem. O que não era tão bom, ficou pior ainda. Os usuários “botaram a boca no trombone” e o prefeito municipal também se posicionou. Ante as manifestações de protesto, a empresa voltou atrás, isto é, recolocou os veículos mais confortáveis na estrada.
Atualmente, com o aprimoramento dos meios e veículos de comunicação, governos e empresários precisam rever estratégias de suas ações, quando o assunto é a prestação de serviços públicos de transporte de pessoas. Se nos assustamos com o progresso – e aqui não há como deixar a internet fora da reflexão – imagina como não estará o mundo daqui a cinco, dez, quinze anos? Certamente, e para o bem de todos, esperamos que os serviços de transporte coletivo, definitivamente, sejam mais eficientes e melhores dos que temos agora. Isto, porque a população necessita dele.