Ester Mendonça, pioneira em loja de artesanato em Resende Costa


Perfil

José Venâncio de Resende0

fotoA artesã Ester com o tapete tecido por ela (foto José Venâncio)

Ester Pinto Mendonça Vieira, conhecida como Ester do Tenta, pode ser considerada a pioneira em loja de artesanato na Avenida Alfredo Penido e sua redondeza. Natural de Coronel Xavier Chaves (nasceu em 08/04/1949), desde os quatro meses de idade passou a viver com a família em São João del-Rei. Outra mudança em sua vida aconteceu em 1966, quando se casou com Gerson Vieira, o Tenta do Zé Padeiro, e foi morar em Resende Costa.

O casal comprou a casa que pertencia ao irmão de Tenta, o Nonô do Zé Padeiro, então motorista da antiga jardineira que fazia a linha Resende Costa a São João del-Rei. A casa, de n.º 5, fica na antiga Rua Lagoa Dourada (atual Rua Francisca Félix Vieira), saída para os povoados de Barracão e Ressaca (este último, no vizinho município de Lagoa Dourada), esquina com a atual Avenida Alfredo Penido - a Avenida do Artesanato. 

Mulher de fibra, Ester saiu a campo para ajudar o marido e, nesse sentido, contou com o apoio decisivo de seus pais, Jorge e Rosália. Jorge Mendonça tinha uma loja de antiguidades em São João del-Rei e garimpava peças raras na região, inclusive em Resende Costa. Ester passava os fins de semana na casa dos pais e levava na bagagem sacos de colchas de retalho e de “fiado” (algodão) confeccionadas em teares manuais de vizinhas como a Nita do Pascoal e as mulheres da família do Chico Téofilo: a esposa Zizica (Mafalda), a filha Diná, as noras Zélia e Maria e a concunhada Fazinha, além de Socorro (cunhada da Chiquinha do Juquita). Esses artesanatos eram vendidos para turistas que frequentavam a loja de Jorge.

Em paralelo, Tenta começou a restaurar e fazer réplicas de móveis antigos. Até que, por volta de 1968, apareceram em Resende Costa os primeiros turistas enviados por Jorge para comprar tanto as colchas artesanais quanto os móveis antigos. E pelos idos de 1969-70, Tiradentes surge como novo destino, com Ester e Tenta levando as primeiras peças artesanais (colchas e móveis antigos) para venderem em consignação na loja de prataria de Sid Barbosa e Vanilce. Como uma coisa puxa a outra, o Centro de Artesanato Mineiro, no Palácio das Artes em Belo Horizonte, acabou descobrindo em Tiradentes os produtos de Ester e Tenta.

“Eu me empolguei tanto com as vendas que comecei a tecer”, conta Ester. “O Tenta fez um tear pra mim e eu comecei a tecer. E de repente eu passei a ter 150 pessoas a trabalharem pra mim.” O primeiro tear de Ester era o pequeno para colcha com costura (também existe o tear grande para colcha inteiriça).

Trabalhos de diferentes artesãos e artesãs foram aparecendo, em geral fornecidos em consignação. Eram as toalhinhas de linha cléa levadas por Rubinho da Laura do Vantuil; toalhinhas e caminhos de mesa da Chiquinha do Juquita do Chico Teófilo e da Dalva da Cristina (da atual loja Roca); as colchas de retalho do pessoal do povoado dos Pintos; as colchas bordadas, de bico, de retalho e de linha do pessoal do Ribeirão. “Eram colchas muito bem-feitas”, lembra Ester. “Às vezes eles traziam, às vezes eu ia buscar no ´Fiotinho´ (Fiat de carroceria).”

Também é dessa época o tapetão pipoquinha, criação de Ester, em vários tamanhos, embora o mais vendido seja o de 1,5m por 80 cm. Veio substituir a colcha de retalho, que perdeu mercado por ser muito pesada (difícil para carregar, lavar em máquina e enxugar) e ter ficado muito mais cara. Mas “O maior problema foi a competição da colcha industrializada”, reconhece Ester. O tapetão pipoquinha, que é fabricado até hoje, começou a ser vendido em sua loja Nhá Chica, no porão da casa na Rua Lagoa Dourada.

Simultaneamente, Ester começou a trabalhar com “rolos” de retalho para estofado, e ambas as peças (os rolos e o tapetão) ganharam o mercado de Brasília por intermédio de sua irmã Zélia. “Havia semana em que a Zélia levava 200 rolos para Brasília.” E pouco tempo depois, por volta de 1975, uma nova peça foi agregada ao mostruário de Ester: o tapetinho.

E ainda havia o crochê, que Ester fazia“geralmente à tardinha e à noite até o sono chegar”. Muitas mulheres da rua e mesmo da cidade juntaram-se a ela e passaram a confecionar peças de crochê, como colchas de solteiro e de casal e toalhas de mesa, que entregavam em consignação.

Era uma época em que não havia nem avenida nem rodovia asfaltadas, era tudo terra. Com a chegada do asfalto, muitas dessas tecedeiras começaram a mudar da roça para a cidade na medida em que novas lojas foram surgindo. Entre os novos estabelecimentos comerciais, estavam as lojas das filhas de Ester. Cerca de 30 anos atrás, a loja Nhá Chica foi transferida para a filha caçula, Alessandra, e uma segunda loja, de nome Tropeiro, foi aberta para a filha Adriana.

Com o tempo, a loja fundada por Ester, que funcionava no porão da casa, mudou de nome e de local. Sob o comando de Alessandra, passou a ser chamada de Cheia de Graça e, há cerca de oito anos, funciona no pátio da Churrascaria Ramona. Até hoje, Ester fornece tapetinhos e o tapetão pipoquinha para as lojas das filhas. A loja Tropeiro, de Adriana, mantém a tradição de vender unicamente produtos confeccionados em Resende Costa.

 

Voluntariado

Por volta de 2010, uma psicóloga da prefeitura de Itabira apareceu em Resende Costa e convidou Ester para visitar um povoado muito pobre e sem opções de trabalho, de nome Nossa Senhora do Carmo. A partir da visita, ela desenvolveu um trabalho social naquela localidade, levando cinco teares e ensinandoàs mulheres a arte de tecer. “Há mulheres que tecem até hoje e eu envio a matéria-prima para elas.”

Com a repercussão do trabalho, uma funcionária do Supermercado Bretas, também em Itabira, procurou Ester para ensinar a tecer na Fazenda da Esperança, dedicada à recuperação de toxicodependentes. Esses tapetinhos passaram a fazer parte de uma cesta de produtos que os internos fazem (e seus familiares vendem) para ajudar na manutenção do trabalho.   

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