Igreja de São Gonçalo do Amarante, em SJDR, e a tradicional família Ribeiro da Silva

Em RC, as fazendas do Ribeirão de Santo Antônio, Lage, Boa Vista, Rio do Peixe, Catimbau e Salva Terra pertenceram à família


Cidades

José Venâncio de Resende 0

Igreja de S.Gonçalo do Amarante, no distrito de mesmo nome em SJDR...

A igreja de São Gonçalo do Amarante - no povoado são-joanense que já teve o nome de São Gonçalo do Brumado e Caburu e agora tem a mesma denominação da igreja - mantém a sua imponência de quase três séculos atrás. Segundo informações orais, a igreja teria sido erguida antes de 1732. De acordo com José Antônio de Ávila*, a obra "coincide com o uso do sistema de construção em taipa de pilão, arquitetura levada pelos paulistas para Minas Gerais".

Quem frequentou a igreja de São Gonçalo do Amarante desde o seu início foi a família do português Antônio Ribeiro da Silva, casado com a conterrânea Antônia Maria de Almeida. O casal migrou do norte de Portugal para a capitania de Minas Gerais no início da década de 1730 e fez fortuna na região de São João del-Rei a partir da fundação de uma fazenda de engenho e lavras de ouro na paragem do Rio Abaixo, entre os antigos arraiais de São Gonçalo do Brumado e Santa Rita do Rio Abaixo (atual Ritápolis), de acordo com Isaac Cassemiro Ribeiro**.

Inventário post-mortem dos bens do alferes Antônio Ribeiro da Silva, realizado em 1777, faz referência a "uma morada de casas sitas no Arraial de São Gonçalo, térreas, cobertas de telhas e seu quintal, tudo velho e parte com casas de Antônio Barbosa Rego e pelas outras de Manoel da Silva Pacheco (...)", compadre, concunhado e vizinho de Antônio Ribeiro no arraial.

Isaac infere daí que há um bom tempo estas famílias conviveram no arraial de São Gonçalo do Brumado, provavelmente aos finais de semana, quando das missas de Domingo, ou nos dias de festas religiosas, quando todos se dirigiam aos arraiais ou às vilas, como era costume na época." Isaac acredita que a "morada de casas" no arraial de São Gonçalo não era a residência fixa de Antônio Ribeiro e sua família.

Desta convivência da família do alferes no arraial, sabe-se por exemplo que o capitão Luiz Ribeiro da Silva, seu filho, foi batizado na igreja de São Gonçalo em 1752 (certidão de batismo fornecida pela Paróquia da Catedral de Nossa Senhora do Pilar de São João del-Rei), apenas duas décadas depois da sua construção.

Antônio Ribeiro da Silva nasceu em São João de Arnóia, vila pertencente a Celorico de Bastos a cerca de 20 quilômetros da cidade portuguesa de Amarante. Em Amarante, encontra-se igreja matriz de São Gonçalo construída entre 1543 (século XVI) e o século XVIII. Por coincidência, a igreja do antigo arraial são-joanense tem como padroeiro justamente São Gonçalo do Amarante.

Fazenda do Rio Acima

Para Isaac Ribeiro, "a pedra fundamental da fortuna amealhada pelo alferes, que deu origem a seus bens ´adquiridos e não hereditários´, tratar-se-ia desta propriedade, a Fazenda do Rio Acima, adquirida por compra (forma mercantil de acumulação de riqueza), mas garantida e provavelmente expandida por uma mercê real, a carta de sesmaria (forma não mercantil de acumulação de riqueza)".

A Fazenda do Rio Acima, na paragem do Rio Abaixo, tratava-se de "uma unidade produtiva mista, combinando, ao menos durante certo tempo, a mineração com a atividade agrícola", descreve Isaac. Carta de sesmaria de 1748, assinada pelo governador Gomes Freyre, dizia que Antônio Ribeiro da Silva "...era senhor e possuidor de terras e matos (...) tinha escravos e fábrica para nelas exercitar a agricultura...". Segundo Isaac, pode inferir-se da carta de sesmaria "que o alferes havia comprado anteriormente as terras nas quais fundou sua fazenda. E que requereu sua sesmaria buscando resguardar-se de futuros conflitos com vizinhos".

De acordo com Isaac, a "fazenda do engenho", na "Paragem do Rio Abaixo", era "o mais valioso dos bens de raiz de Antônio Ribeiro". Em 1777, "a unidade produtiva ligada à agropecuária (Fazenda do Rio Acima) era bem superior aos bens de raiz ligados à mineração, suas lavras auríferas". Esta diversificação das atividades econômicas leva Isaac a considerar que "poderíamos enquadrar a fazenda de Antônio na categoria de ´unidade produtiva com mineração´".

Fazendas dos descendentes

Dos doze filhos do casal fundador da família Ribeiro da Silva, seis (dos quais cinco homens) migraram da região onde nasceram. O primeiro e mais velho seguiu a vertente sul de expansão da antiga comarca do Rio das Mortes, enquanto os outros quatro filhos seguiram a vertente de expansão oeste da comarca, notoriamente nos passos dos caminhos abertos pela "Picada de Goiás". Segundo Isaac, o motivo para o povoamento da região oeste esteve diretamente ligado à criação de fazendas voltadas para a produção de alimentos.

É neste cenário que entra em cena a montagem das unidades produtivas (fazendas) ligadas a (ou fundadas por) membros da família Ribeiro da Silva, de acordo com Isaac. "As fazendas mais antigas que pertenceram ao grupo (do Rio Acima, do Mato Dentro, de São Miguel, do Ribeirão de Santo Antônio e da Lage), construídas ainda nos primeiros três quarteis do século XVIII, tiveram sua fundação ligada ao período no qual predominava a extração aurífera na capitania (1700-1770)."

Outro grupo de fazendas que pertenceu à família surgiu entre o período de declínio da mineração e a consolidação da economia de produção de gêneros alimentícios para o abastecimento interno (entre 1780 e 1822), de acordo com Isaac. "As fazendas que surgiram neste período, às quais denominamos intermediárias, em relação às mais antigas, foram construídas por filhos do casal fundador da família." São elas as fazendas do Bom Retiro do Jacaré, do Lambari e da Tartária, em Oliveira. Tais fazendas foram construídas nos arredores da Picada de Goiás por grupos familiares como os dos Ribeiro da Silva.

Já as fazendas "mais novas" são "aquelas fundadas no período em que a economia mineira de abastecimento interno já estava consolidada, e as atividades agropecuárias passaram a ser o seu eixo central na província (1822 - 1889). Foram elas fazendas como a do Catimbau e da Salva Terra, no arraial da Lage, e a da Lagoa, em Oliveira. Todas elas construídas no século XIX, por netos ou maridos de netas do casal fundador...".

Arraial das Lages

A partir da análise de 40 inventários, Isaac constatou que "os membros da família Ribeiro da Silva, seguindo a tendência da economia mineira do século XIX, formaram fortunas consideráveis para a região, por meio da produção de gêneros alimentícios destinados ao abastecimento interno, tanto da Província quanto do Império".

Em seu conjunto, as fortunas foram distribuídas desigualmente entre os povoados para onde membros da família migraram no século XVIII e deixaram descendência no século XIX (Formiga, Carrancas, Ibituruna, Lage, Oliveira, Santa Rita e São Vicente). Segundo Isaac, “no Oeste da comarca do Rio das Mortes, arraiais como Oliveira e Lage tornaram-se propícios a formação de fortunas ligadas ao abastecimento no século XIX, tanto pela eficiência das estratégias familiares levadas a cabo pelo grupo nessas regiões, como por uma característica econômica própria desses lugares..."

A maior parte da fortuna da família (participação percentual no total da riqueza do grupo) concentrava-se na sub-região de Oliveira (43%). Em seguida, a sub-região do arraial da Lage (Resende Costa) detinha 29% do total das fortunas da família. De acordo com Isaac, nestas sub-regiões encontravam-se “os grupos formados por membros da segunda geração da família com maiores índices de endogamia em sua descendência". Ou seja, "o grupo formado pela parentela dos irmãos Inácio Ribeiro da Silva e José Ribeiro de Oliveira Silva, na sub-região de Oliveira, e o grupo formado pelos descendentes de Ana de Almeida e Silva (filha do casal fundador da família Ribeiro da Silva) com o capitão Joaquim Pinto de Góes e Lara, no arraial da Lage".

No arraial da Lage, situavam-se duas fazendas setecentistas que, em algum momento, estiveram sob domínio de membros da família Ribeiro da Silva: a fazenda da Lage e a fazenda do Ribeirão de Santo Antônio.

Fazenda da Lage

A fazenda da Lage foi construída em princípios do século XVIII, precedendo a fundação do arraial de mesmo nome, por João Francisco Malta, relata Isaac. “No fim do século XVIII, a fazenda pertenceu ao inconfidente cel. Francisco Antônio de Oliveira Lopes. A propriedade foi sequestrada pela Coroa portuguesa e arrematada (…), em 1796, por um tio de Hipólita Jacinta, esposa do inconfidente, permanecendo, assim, uma ´propriedade da família´.”

Em 1850, um filho adotivo de Hipólita trocou a fazenda da Lage pela fazenda do Curralinho, com o tenente-coronel Joaquim Tomás da Costa Gonçalves, prossegue Isaac. Pouco tempo depois, com o “assassinato” de Joaquim Tomás, a fazenda foi adquirida em leilão pelo coronel Francisco Pinto de Assis Resende, filho de Felisberto Pinto de Almeida, que por sua vez era neto do casal fundador da família Ribeiro da Silva.

“Assis Resende foi grande potentado local, membro da parentela dos ´Pinto de Góes e Lara´, descendia de uma importante aliança desta família com os Ribeiro da Silva a partir do casamento de Ana de Almeida e Silva, décima primeira filha do casal fundador, com o capitão Joaquim Pinto de Góes e Lara, ambos detentores de uma das maiores fortunas da região da Lage no começo do século XIX, proprietários da fazenda do Ribeirão de Santo Antônio…”.

Fazendas de Santo Antônio e Boa Vista

A fazenda do Ribeirão de Santo Antônio, ou fazenda do Ribeirão, foi fundada provavelmente pelo capitão Francisco Pinto Rodrigues, casado com Maria Bernardes de Góes e Lara, na primeira metade do século XVIII, segundo Isaac. “Assim como as fazendas do Rio Acima e da Lage, a do Ribeirão de Santo Antônio teve como motivo de sua fundação um rio próximo e ´ouro que dele se extrai´.”

“Os dois filhos mais velhos do casal se casaram na família Ribeiro da Silva: Maria Joaquina de Góes e Lara, casada com o alferes Luiz Ribeiro da Silva, da fazenda do Mato Dentro; e o capitão Joaquim Pinto de Góes e Lara, casado com Ana de Almeida e Silva, sucessores do casal na propriedade da fazenda do Ribeirão.”

Segundo Isaac, o mesmo capitão Francisco Pinto Rodrigues, pessoa importante na região, caiu nas graças da administração colonial, com isso recebendo duas sesmarias em pontos avançados da Picada de Goiás, ambas na freguesia da Lage. As sesmarias da Boa Vista e do Rio do Peixe dariam origem a duas fazendas do mesmo nome, que passaram do capitão a seus descendentes.

Em 1772, chegou a Lisboa outro pedido no qual se lia: “Requerimento de Francisco Pinto Rodrigues, capitão da Companhia de Cavalaria Auxiliar da Nobreza dos distritos da Lage e Santa Rita, termo da Vila de São João Del Rei, solicitando a D. José I a mercê de o confirmar no exercício do referido cargo”. “O que sancionaria seu poder como representante da Coroa e membro da ´nobreza´ da região”, relata Isaac.

*"Restauração da Igreja do Distrito São-joanense de São Gonçalo do Amarante", José Antônio de Ávila Sacramento, dezembro de 2008, patriamineira.com.br

**Família e povoamento na Comarca do Rio das Mortes: Os "Ribeiro da Silva", Fronteira, Fortunas e Fazendas (Minas Gerais, séculos XVIII e XIX)

LINK RELACIONADO: 

https://www.jornaldaslajes.com.br/integra/a-saga-da-familia-ribeiro-da-silva-na-regiao-de-sao-joao-del-rei/2076

 

 

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