Ilha de Santa Maria pretende valorizar “Impérios do Divino Espírito Santo”


Cultura

José Venâncio de Resende0

fotoNos Açores, começa a época das festas do Divino Espírito Santo (foto: Associação dos Emigrantes Açorianos).

Vila do Porto, na ilha de Santa Maria, Açores, “pretende conceber e promover o Programa de Valorização dos Impérios do Divino Espírito Santo de Santa Maria”, disse a presidente do Município, Bárbara Chaves, de acordo com o jornal O Baluarte de Santa Maria (Abril/2024). O anúncio foi feito em evento, no dia 6 de Abril, que contou com palestras dos professores João Leal (da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas) e Rui Costa (que foi Vice-presidente da Câmara Municipal de Alenquer).

João Leal abordou dois tópicos sobre “a história da circulação das festas do Espírito Santo”. O primeiro ciclo de viagens foi de Portugal continental para a Madeira e os Açores. Depois, do continente, dos Açores e da Madeira para o Brasil, a partir do século XVIII até o XX. Um terceiro ciclo de viagens seria dos Açores para a América do Norte (Estados Unidos, Canadá, Havaí e Bermuda).

Um segundo tópico são “as viagens de regresso das festas, isto é, a maneira como, por um lado, os emigrantes vão ser extremamente importantes, nomeadamente no caso de Santa Maria, para a realização de impérios ao longo dos anos 60, 70 e 80 (do século passado)”. A maior parte dos emigrantes, quando volta, inclusive, traz “coisas dos Estados Unidos, que nasceram lá, e que eles vão introduzir aqui nas festas”.

João Leal cita como exemplo o caso das “queens” (rainhas), “uma tradição que nasceu na Califórnia e que se espalhou depois para Nova Inglaterra e mais tarde para o Canadá (…)”; e que foi incorporada por uma festa na freguesia das Ribeiras (ilha do Pico) que começou a ter rainhas, provavelmente a partir de 1924, “o que se mantém até hoje”.

João Leal citou ainda o caso de São Luís do Maranhão (Brasil) onde existem 80 festas do Divino Espírito Santo por ano “e que tem a particularidade de serem celebradas em terreiros de tambor de milha, isto, uma região afro-brasileira”, “onde, além do Divino Espírito Santo, de evocações de Nossa Senhora e santos católicos, são cultuadas também entidades espirituais de origem africana, mas também brasileira e indígena, conhecidas como encantados”.

Sobre o papel de Santa Maria, João Leal enfatiza que é a ilha onde foram registradas “mais cedo festas do Espírito Santo aqui nos Açores, na Crônica do Gaspar Frutuoso”. Além disso, “Santa Maria foi importante nas viagens das festas para o Brasil, nomeamente para o Maranhão e para o Pará”.

Patrimônio vivo

Em entrevista ao Baluarte, o vice-presidente do Município do Porto, Domingos Barbosa, responsável pelo projeto, destacou que o objetivo é “implementar medidas e ações concretas, devidamente planeadas, consistentes e perduráveis”, para preservar e  valorizar “Esta vivência extraordinária (os Impérios do Divino Espírito Santo de Santa Maria), replicada ao longo dos tempos, (que) é nosso patrimônio vivo”.

“Não é por acaso que em Santa Maria o ´império´ não é um edifício, mas, sim, celebração, de fé, alegria, partilha e cooperação entre as pessoas”, explica Domingos. Ele assegura que “os impérios marienses atualmente possuem vitalidade e não se pode dizer que haja uma ameaça iminente à sua continuidade. A comunidade tem sabido responder às novas realidades”. “Contudo, é preciso antecipar e acautelar constrangimentos futuros”, alerta. Assim, o “Município propõe um programa assente num acordo alargado com diversos intervenientes e cuja elaboração resulte de uma construção coletiva, inclusiva e representativa da comunidade mariense”.

Ele prossegue: “Queremos contar com os detentores do saber-fazer tradicional, entre outros, foliões, cozinheiros, copeiros, mestras e ajudantes; com os detentores do saber-saber, acadêmicos e investigadores; mas também com a comunidade mariense em geral, clubes e associações, sem esquecer o papel fundamental da comunidade educativa. Pelo que todos, ainda que com papéis e responsabilidades diferentes, serão chamados a contribuir e participar”.

Segundo Domingos Barbosa, a ideia é implementar o programa no início de 2025. A execução contemplará três etapas: preparação, elaboração e implementação. As duas primeiras estarão concluídas até o final de 2024. 
             

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