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Pedro Alves e seu trabalho no Arraial da Lage na segunda metade do século XIX

19 de Agosto de 2021, por Edésio Lara

Partitura de valsa do compositor e copista Neto (foto - arquivo Edésio Lara)

Na edição do último mês de abril, trouxemos uma informação que diz respeito à prática musical em Resende Costa no século XIX. De posse de um manuscrito da habanera El sol de Sevilla, do compositor espanhol Sebastián Iradier Salaverri (1809-1865), deixamos, como se diz, algumas perguntas no ar. A data do trabalho – Lage, 13 de outubro de 1875 – realizado por Neto, chamou nossa atenção e também de outras pessoas interessadas em fatos ocorridos aqui em épocas passadas. Perguntamos quem seria Neto e para quem ou por qual motivo ele realizara a cópia da partitura para voz e piano. Outra curiosidade: para quem teria sido feito o trabalho e quais teriam sido os seus intérpretes naquela época. Desde então, algumas respostas começaram a surgir.

Na época o maestro Wagner Barbosa, regente do Coral e Orquestra Mater Dei, mostrou interesse em ver o manuscrito, visto que tinha informações acerca de Neto, o copista. Segundo o maestro, trata-se de Pedro Alves de Andrade Neto, que se tornou conhecido aqui no Arraial da Lage como Mestre Pedro Alves. Ele nasceu em 1850, em São João del-Rei, e mudou-se com sua família para Resende Costa por volta do ano de 1869. Aqui na Lage, ele atuou como professor público e mantinha uma escola para meninos, enquanto sua mãe, dona Ilídia Mesquita, mantinha uma escola para meninas. Fez parte da mesa administrativa das Irmandades do Santíssimo Sacramento, de Nossa Senhora do Rosário e foi o criador da primeira corporação musical do Arraial, ainda ativa na cidade, com o nome atual de Coral e Orquestra Mater Dei. Pedro Alves faleceu em 1900, com cinquenta anos de idade, e foi sepultado no adro da Igreja Rosário.

Por ser ele inteiramente integrado ao arraial e em reconhecimento às atividades que aqui desenvolvera, é que escolheram uma rua do arraial para dar a ela o nome do músico e professor das primeiras letras. Trata-se da Rua Pedro Alves, de um quarteirão que fica no cento da cidade. Ela começa na Praça Dr. Costa Pinto e finda na confluência da Rua Moreira da Rocha com a pequena Praça maestro João AugustoReis.

Valendo-nos de documentos, como o caso de material musical manuscrito ou impresso, empreendemos um trabalho de pesquisa de forma a buscar mais informações sobre práticas musicais ocorridas em tempos passados tanto no âmbito da Igreja Católica quanto noutros ambientes, tais como residências, auditórios ou fazendas. Foi a partir do manuscrito da peça habanera que, vasculhando um acervo, descobrimos outros trabalhos feitos por ele: a cópia de uma valsa, um Solo ao Pregador, um Domine. A imagem que ilustra hoje nossa coluna é de um manuscrito feito por ele. Nele, o copista Neto deixou sua assinatura bem à direita, na parte superior do documento. Trata-se de uma valsa e a parte é para Ophcleide, instrumento que, apesar de ter uma sonoridade muito agradável, caiu em desuso ainda na segunda metade do século XX.  O pequeno manuscrito, medindo 11,5 x 15,0, não tem data nem lugar. A única certeza que temos, o que é bastante óbvio, é a de que o trabalho foi realizado ainda no século XIX e, certamente, na Lage.

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