Estamos diante de uma tragédia. Imagino que todos tenham noção das dificuldades que nos estão sendo impostas pela pandemia do novo coronavírus. Alguém, quatro meses atrás, poderia imaginar tudo o que estamos vivenciando com a evolução da Covid-19? Imagino que não. As primeiras notícias acerca do coronavírus nos chegaram de Wuhan, uma imensa cidade chinesa, de tamanho e população equivalentes a São Paulo, a maior cidade do Brasil. Quando começaram a divulgar o número de infectados e de mortos naquela cidade, um alerta emitido pela OMS (Organização Mundial da Saúde) provocou a reação de muitos governos no sentido de proteger a população contra os males causados por esse vírus. Alguns levaram o alerta a sério, outros não. Os que se preveniram evitaram muitas mortes; aqueles que subestimaram a letalidade da Covid-19 veem o número de infectados e de mortos crescer dia após dia.
Ao longo de quatro meses, o vírus rapidamente se espalhou pelo mundo. E foram os mais ricos que, viajando para lá e para cá de avião ou navio, se infectaram e o fizeram circular, pois, como disse um prefeito de cidade do Triângulo Mineiro: “Vírus não anda, quem anda são as pessoas.” Agora vemos os mais pobres, sem recursos, abandonados, senão totalmente ignorados por classes dominantes, sofrerem muito. Não nos é difícil apurar que, se essa pandemia tivesse se instalado entre nós antes do carnaval, a catástrofe teria sido muito, mas muito superior à que observamos hoje. A partir de então, as práticas de quarentena, de isolamento social e até a de isolamento obrigatório (lockdown) passaram a fazer parte da nossa vida.
Quarentena é uma prática que surgiu na China antiga, mesmo país de onde nos veio o novo coronavírus. Segundo Iris Santos e Wanderson Nascimento, (Revista - Centro Universitário São Camilo - 2014), tudo começou quando os chineses perceberam que crostas extraídas dos acometidos por varíola permaneciam infectadas por cerca de quarenta dias durante o inverno e vinte dias, no verão. Uma maneira de praticar a quarentena se dá através do isolamento social. Em Resende Costa, o setor de saúde municipal agiu rápido e, mediante decretos baixados pelo prefeito, interveio para suspender atividades em diversos setores da economia local. O objetivo, claro, foi o de fazer diminuir a circulação de pessoas e evitar aglomerações que potencializam, nesse caso, a propagação da doença. Houve ranger de dentes, contrariedades. Mas para salvar vidas, esse é um recurso eficaz, até que surja uma vacina capaz de nos proteger desse vírus.
As redes de televisão foram obrigadas a alterar a produção e exibição de programas, práticas esportivas foram canceladas e cerimônias religiosas precisaram ser transmitidas através do rádio e da internet, sem a presença dos fiéis nos templos. Rezas e leilões, tradicionalmente organizados nos povoados estão cancelados. Festa junina, nem pensar. Certamente, não teremos as festas de aniversário da cidade, da nossa Santa padroeira e a do parque do campo, que ocorre em julho. Será que teremos carnaval em 2021? O último evento que realizamos na cidade foi o lançamento do livro publicado pelo nosso conterrâneo José Venâncio de Resende, ocorrido no dia 14 de março no prédio da biblioteca pública. Naquele dia, com a preocupação instalada, evitamos os contatos físicos, abraços e apertos de mão. Ainda não estávamos usando máscaras nem praticando o distanciamento mínimo de dois metros entre pessoas.
Como nunca vivenciamos situação igual a essa, cabe-nos aproveitar o momento, tirar proveito dele. A partir de agora, eu penso, teremos pela frente que adotar, senão aprimorar, novas condutas de contato pessoal, de higiene corporal. Alguns comportamentos sugeridos agora, muitos de nós já os tínhamos: lavar bem as mãos ao longo do dia, deixar os sapatos do lado de fora da casa, usar álcool em gel para desinfecção das mãos, entre outras ações. Vai ser preciso, enquanto o vírus estiver circulando, evitar muitos abraços e beijinhos, infelizmente. Digo infelizmente, já que adoramos festas, práticas esportivas, reuniões entre familiares e amigos, quando os contatos físicos são inevitáveis. Esse é o jeito nosso de ser.