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A copa e a cozinha

16 de Julho de 2014, por Cláudio Ruas

Iniciando a prosa, esclareço duas coisas. Primeiro, em relação ao título, que não se refere aos ambientes de uma casa, mas sim à Copa do Mundo de futebol e à gastronomia, mais necessariamente, ao turismo da qual ela faz parte. Em segundo lugar, digo que sempre fui contra a vinda da Copa para o Brasil, pelas razões mais óbvias. Porém, acho que devemos aproveitar ao máximo desse evento, que pelo menos nos deixará como legado diversas experiências e exemplos a serem tomados – ou não - daqui em diante. Se a vaca foi pro brejo, que pena, mas amanhã pode ter um belo churrasco!

Escrevo esse artigo ainda sem saber se o Brasil ganhou a Copa, apesar do favoritismo por jogar em casa. Parafraseando o mestre Tostão em seus imperdíveis artigos, o futebol é o esporte do acaso. Já as coisas que o cercam, como o turismo, não. É uma ciência complexa, que demanda não só a existência ou criação de atrativos, mas também uma organização por trás deles, o que não ocorre em geral por aqui: temos muita coisa boa, mas às vezes não sabemos mostrá-las e servi-las da melhor forma.

Por trabalhar na região da Savassi (point dos turistas estrangeiros em BH), pude acompanhar de perto o movimento turístico da cidade, o que me permite trazer algumas impressões. A primeira delas é a falta de planejamento e de estrutura para transporte e acomodação na rua para o grande fluxo de pessoas, numa praça importante e que até hoje sequer possui um banheiro público. Se existe uma coisa que turista faz com certeza - além de gastar dinheiro - é ir ao banheiro. Ausência de mais postos de informação, placas indicativas, propaganda e distribuição maciça de bons guias para os atrativos da cidade também foram outros pecados, assim como a total falta de preparo em relação à linguagem mundial, o inglês. (Quando revisava esse texto caiu um enorme viaduto que deveria estar pronto para a copa, matando duas pessoas e ferindo várias. Sem comentários.)

Por outro lado, as impressões mais positivas e unânimes entre os “de fora” foram a hospitalidade do mineiro e a nossa gastronomia, em especial o feijão tropeiro. Prato que é a nossa cara e que tem uma grande ligação com o futebol, já que sempre trouxe “sustança” aos jogos do Mineirão há anos. Correndo por fora, a cachaça, os queijos e, claro, nosso pão de queijo. O aspecto interiorano da nossa capital chamada de “roça grande”, o Mercado Central, as feiras de rua, a proximidade de cidades históricas e atrativos naturais também chamaram a atenção, fazendo com que BH tenha sido talvez a grande surpresa da Copa. A sede “come-quieta”! Afinal, em se tratando de Brasil, os gringos geralmente só têm notícia de Rio, São Paulo e praias do Nordeste. Assim, a expectativa é de que nossa capital e nosso estado entrem de vez no mapa do turismo internacional.

Enquanto isso, temos uma situação semelhante na nossa Resende Costa. Estamos vivendo um momento importante de confirmação da identidade turística. Temos um produto típico e já consolidado (artesanato de tear), estamos inseridos numa belíssima região turística (Tiradentes, São João del-Rei), temos atrativos culturais (igreja, museu de arte sacra, teatro) e naturais (lajes, cachoeiras), um festival do artesanato e entidades envolvidas com a cultura e o bem estar da cidade (AmiRCo, Iris, Jornal das Lajes). E hospitalidade de sobra. Ou seja, temos a faca e o queijo na mão.

 

Resta agora saber cortá-lo adequadamente, o que pode ser feito a partir de simples medidas. A começar pela instalação de várias placas na estrada, desde longe, dando notícia da “cidade do artesanato”, o que estranhamente não existe. Propaganda barata e fundamental para conduzir e “roubar” os muitos viajantes que circulam pela região. Outra medida seria a distribuição, aos que entram na cidade nos finais de semana e feriados, de um guia completo e bem elaborado (e não meramente comercial) de tudo que temos além do artesanato, com mapa e opções de gastronomia e hospedagem. Fazer com que o turista passe mais tempo na cidade, ao invés de ir embora depois das compras, é fundamental. Muitas outras coisas ainda podem ser feitas, como a implementação de uma feira de sábado maior e mais organizada, mas hoje interrompo essa prosa por aqui.

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