Para cada situação costuma haver um tipo de bebida apropriada, seja pelo clima, tipo de evento, cultura local ou propósito do bebedor. Mas uma coisa é incontestável: se há uma que é a cara do nosso país é a cerveja. Simples, descontraída e refrescante. E de uns tempos para cá, vem quebrando tabus e alcançando espaços antes ocupados por outras bebidas consideradas mais “finas”, o que mostra o valor desse ouro líquido.
Mas para continuarmos a prosa, vamos voltar no tempo e entender um pouco da origem e de como ela é feita. Estima-se que em 9.000 a.C já se fazia cerveja e existem registros de produção em 4.000 a.C, na Suméria, atual Iraque. Antes de desenvolver a escrita o homem já estava tomando uma! E a descoberta - igual o queijo e a cachaça - teria sido acidental: esqueceram uma vasilha com grãos de cereal (cevada, trigo, arroz) na chuva, eles germinaram (amido virou açúcares), secaram, tomaram mais chuva e foram atacados por micro-organismos que fermentaram o caldo (açúcares viraram álcool). Beberam a mistura, ficaram alegres e felizes e começaram a repetir o processo.
Cerveja já foi alimento, matou fome e peste. E hoje é feita a partir de um cereal umedecido, secado e cozinhado em água pura, quando se acrescenta o lúpulo, uma planta da família das canabináceas, que dá amargor, gosto e durabilidade. Por último, as leveduras (fermento), que finalizam o processo. É a receita básica, porém, vários fatores podem concorrer para um resultado final diferenciado: tipo de cereal e a forma como foi tratado (mais torrado = cerveja mais escura), quantidade de lúpulo, acréscimo de outros ingredientes como ervas e frutas etc.
Na prática, se no rótulo se indicar “puro malte”, significa que ela é feita exclusivamente com cereais maltados (cevada e/ou trigo), o que dá bastante diferença na qualidade. É o caso da Heineken, por exemplo, que já é encontrada em Resende Costa e não custa tão mais caro do que uma Skol. Essa, assim como a maioria das marcas consumidas no país, é feita também com cereais “não maltados” (milho, arroz).
Em função dessas diferenças apresentadas e disponibilizadas aos consumidores, tem crescido muito a procura pelas “cervejas especiais”, principalmente as artesanais. Por serem feitas em escala menor e com ingredientes e técnicas superiores, o produto final tende a ser melhor, fazendo com que a cerveja alcance público e ocasiões antes restritas a outras bebidas, além do prazer maior, claro.
Mas e o preço? Embora existam cervejas realmente caras, o crescimento do mercado tem possibilitado tomar cervejas muito boas a preços bons. Dou o exemplo da ótima cervejaria Backer - mineira de BH - cuja garrafa de 600ml do estilo pilsen chega a custar R$4,90 no supermercado, mais em conta do que uma Brahma no bar. Além disso, pelas características da cerveja especial e pela forma como ela é degustada, o volume consumido pode ser inferior ao da cerveja comum, o que diminui o custo do consumo.
Seguindo os passos da cachaça, Minas tem se destacado muito no cenário nacional de produção de cerveja artesanal de qualidade. E BH já é a cidade no país com a maior concentração de cervejarias no seu entorno - como as já tradicionais Áustria, Wäls e Falke Bier - algumas premiadas internacionalmente. Da mesma forma, o número de lojas e bares especializados também aumenta, assim como a procura por cursos de produção caseira, como o da Cervejaria Escola Taberna do Vale. Algumas horas de curso e um pequeno investimento em equipamentos simples (panelas, baldes, balança) já permitem a produção de cerveja boa até dentro do apartamento, prova da sua simplicidade e versatilidade, inclusive quanto às receitas de cada cervejeiro.
Enfim, seja ela mais especial - infelizmente ainda pouco disponível na nossa cidade – ou a mais barata, que a cerveja continue sempre cumprindo seu papel de reunir os amigos para se divertir com alegria e confraternizar com prazer e simplicidade essa bebida espetacular e histórica.
(A receita do mês no blog é a “COSTELINHA CERVEJEIRA”: http://www.casalgastromg.blogspot.com.br/)