A cozinha até pouco tempo atrás era um dos lugares menos valorizados do lar, com algumas exceções. Sempre dispostas ao fundo da casa ou apartamento, até por razões justificáveis, mas muito distantes, escondidas e oprimidas. A sala sempre foi, digamos, o lugar “nobre” da residência, de se receber visita, seja na cidade ou até mesmo na roça.
Mas felizmente, de uns tempos para cá, essa ordem vai se mudando e a cozinha passa a se tornar o cômodo mais valorizado e importante, como sempre deveria ter sido.
Cada vez mais a cozinha é maior e mais integrada a outros ambientes, e o melhor, muitas vezes ainda existe uma outra, ou um espaço gastronômico. É o que podemos chamar de “cozinha de fora”, que já existia na roça e nas moradias mais simples do interior há tempos e hoje é item obrigatório em casas ou prédios de luxo da cidade grande.
Seja um “espaço gourmet” como dizem, ou uma “cozinha de fora”, o fato é que esse fenômeno nos mostra que estamos reverenciando cada vez mais a gastronomia. Queremos ver a comida, o preparo, o cheiro e o cozinheiro de perto. Buscamos mais espaço e estrutura para cozinhar, de preferência em um lugar agradável, mais aberto, separado, no qual caiba mais gente. Nós mineiros então, adoradores de cozinhas desde sempre, reacendemos cada vez mais os fogões de lenha que tanto cozinharam nos quintais do passado e que não são mais exclusivos do campo e do interior, assunto que rende outro texto.
Seja em volta da churrasqueira - como faz o brasileiro e o gaúcho em especial - ou em torno de um forno à lenha – como o povo de São Paulo – ou então ao redor do nosso mineiríssimo fogão de lenha, a cozinha de fora é um lugar de festa, de reunião e de celebração. Na roça, esse espaço costuma também ser improvisado no terreiro, que recebe uma trempe grande de pedras para ajeitar o tacho de cobre ou o caldeirão de ferro em dias de se fazer doce ou de matança de porco. Até o cupim do pasto pode virar uma trempe perfeita, que guarda todo o calor do fogo sem esquentar o cozinheiro. Uma árvore no canto pra fazer as vezes de telhado e um rego d’água por perto como pia e está pronta a cozinha, também chamada de “giral”.
Além das vantagens óbvias de uma cozinha de fora, destaca-se o fato de que ela permite o preparo de certas iguarias que demandam mais espaço e tempo, sem bagunçar a cozinha de dentro e sem interferir no seu dia a dia, para alegria da dona da casa. Em função disso, as pessoas ficam mais à vontade e o resultado final tende a ser sempre melhor. Inclusive muitos restaurantes têm adotado uma espécie de cozinha de fora, geralmente próxima aos clientes, para que o cozinheiro execute ou finalize a receita na frente de todos, o que costuma ser um atrativo interessante do estabelecimento.
Enfim, fico muito feliz com essa valorização que tem ocorrido com esse espaço tão especial, não só da casa, mas também de nossas vidas, já que sobrevivemos graças a ele. Tão feliz quanto estou agora, escrevendo ao lado do fogão de lenha aceso da nossa cozinha de fora, recém inaugurada na roça, um sonho antigo realizado.
(A receita do mês no nosso blog é boa para ser feita pra muita gente na cozinha de fora, mas também pode ser preparada dentro de casa para poucos: “arroz de arado com açafrão, taioba e linguiça caipira enfumaçada no fogão”. www.casalgastromg.blogspot.com.br
Cozinha de fora
16 de Janeiro de 2013, por Cláudio Ruas