Depois de Portugal e França, chegou a hora de encerrar nossa jornada no velho mundo, já que a saudade do arroz com feijão começa a dar as caras. Para encerrar, lugar melhor do que a Itália não haveria.
Antes da pizza, o que me vem à cabeça quando penso naquele país é o macarrão. É impressionante o tanto que eles apreciam e consomem as massas, na minha opinião, uma das grandes invenções do homem na cozinha. Dizem que foram os chineses os inventores dessa mistura simples de farinha de trigo e água (ou ovo), mas são os italianos quem mais se aprofundaram nas receitas e formas infinitas. Se na França existe um tipo de queijo pra cada dia do ano, na Itália isso também acontece com as variedades de macarrão, que vão muito além dos tradicionais espaguete, talharim e lasanha. O tipo de formato da massa não é à toa, pois ele tem uma função em razão da característica do molho ou ingrediente usado no prato. Por exemplo, não funciona bem uma massa em forma de tubo (como o pene ou o goela de pato) para uma receita que não seja molhada, já que essa forma é feita para “transportar” o molho até a boca.
Os italianos gostam tanto de comida (discutem acaloradamente sobre ela) que são até sistemáticos no serviço das refeições: começam degustando um “antepasto” (espécie de tira-gosto), como uma muçarela de búfala (a escrita correta no português é com “ç” mesmo). Depois, é servido o “primeiro prato”, que sempre é uma porção generosa de macarrão ou risoto, capaz de nos satisfazer por si só. Em seguida, o “prato principal”, com uma carne ou pescado e uma salada ou vegetais, tudo sempre acompanhado de pão e vinho. Por fim a sobremesa, quase sempre à base de frutas - ou simplesmente as frutas mesmo - e pra arrematar, o café, que eles tomam bem forte e curto. Em algumas regiões, depois disso tudo ainda comem um pedaço de queijo, outra paixão deles. Dá pra ficar cheio só de pensar, mas vale muito a pena passar por essa maratona. E ai de nós querer inverter a ordem ou misturar os pratos, eles até brigam. Mas no fundo têm razão, já que nós também estranharíamos um italiano comendo arroz, feijão, couve e angu separado em etapas. Na gastronomia, a tradição é algo muito importante e tem uma razão de ser, apesar de que às vezes ela deve ser quebrada.
Notamos muita coisa em comum com a nossa gastronomia, com a diferença de que por lá eles não têm certos preconceitos como aqui. Uma dobradinha com feijão branco por aqui soa como um prato restrito aos botecos brasileiros. Mas não. É um prato tradicional da nobre região de Milão, que ainda faz algo parecido com nossa feijoada, porém mais rústica ainda: as carnes e miúdos são cozidos juntamente com o feijão em um caldeirão de barro dentro do forno. Em Roma então, um prato tradicional é o rabo de boi cozido com mocotó. O porco é bem consumido de diversas formas, sobretudo em embutidos, que também são feitos com o javali, um ícone da culinária da região da Úmbria e da Toscana – a “Minas Gerais” deles. A polenta também é tão consumida quanto nosso angu, mas é feita com um “fubá” mais grosso, costuma ser temperada e também frita ou grelhada na brasa.
Já a pizza (sempre individual) é bem diferente da nossa, pois é feita com uma massa mais fina e com poucos ingredientes, o que na minha opinião é uma grande vantagem. Além disso, ainda é bem mais barata do que as vendidas por aqui, algo em torno da metade do preço, o que acontece com várias outras iguarias.
E apesar de tantas outras coisas boas, como os vinhos, azeites, tomates e pescados do mediterrâneo, a saudade da nossa comida mineira e brasileira parece crescer na mesma proporção do prazer que sentimos degustando a comida deles. É hora de voltar, mas trazendo na bagagem os bons exemplos da cultura italiana, da valorização dos produtos locais, da tradição, do sentar à mesa diariamente com a família, de comer com calma...e com alma.
(A receita desse mês no nosso blog é um prato ítalo-mineiro, bem interessante: “massa com linguiça caipira e ora-pro-nobis - http://www.casalgastromg.blogspot.com.br/)
De Portugal à Itália, via Resende Costa (Final)
16 de Outubro de 2012, por Cláudio Ruas