Essa é uma das frases mais ditas no cotidiano das roças, cidades mineiras e também Brasil afora. Prova da presença e importância dessa bebida em nossas vidas. Na casa mais rica ou mais pobre, o café tornou-se item indispensável, seja para alimentar, acordar ou servir à visita. Além de dar prazer, prevenir doenças e movimentar a economia mundial com bilhões de dólares.
Tudo isso graças às cabras da Etiópia, no nordeste da África, que foram as descobridoras desse tesouro. De acordo com a famosa lenda de Khaldi, por volta do ano 500 d.C., os criadores de cabra da região começaram a perceber que elas ficavam mais ativas e espertas depois de comer aquele grão vermelho parecido com uma cereja. Então resolveram consumir também, inicialmente mastigando ou bebendo um fermentado alcoólico feito com o grão. Posteriormente, ele foi levado para a península Arábica, que se tornou a principal região produtora, consumidora e exportadora do grão, que ainda demorou bastante tempo a ser preparado da forma atual. Pela importância da bebida, ela era chamada de “kahwah”, que significa vinho em árabe, palavra que deu origem ao nome café. De lá também vem o nome da espécie “café arábica”, que é sinônimo de grão de qualidade, anunciado em destaque nas embalagens como “100% arábica”.
Atualmente o Brasil é o maior produtor mundial, também se destacando pela qualidade dos grãos, cada vez mais apreciados no exterior. E nossa Minas Gerais é o estado que mais produz, com aproximadamente 50% da safra nacional. Para se ter uma ideia da importância da nossa terra, para cada quatro xícaras de café tomadas no mundo, uma é feita com café mineiro! Ele é exportado para mais de 60 países e no quesito qualidade também está no topo da lista. Em recente torneio na Europa, entre dez cafés especiais selecionados do mundo todo, seis eram daqui. Basta entrar em um supermercado sofisticado de Paris para ver a valorização que o café mineiro tem tido lá fora, o que infelizmente ainda não ocorre por aqui como deveria.
O Sul de Minas é a região que mais se destaca, não só na qualidade, mas na quantidade, apesar de ser a cidade de Patrocínio, no Alto Paranaíba, o município que mais produz no país. O sul do estado, cujas características climáticas e geográficas são o diferencial, tem abraçado cada vez mais essa atividade, que não se restringe a plantar e vender o grão. Assim como outros produtos ligados à gastronomia, o café tem se tornado uma importante ferramenta de desenvolvimento do turismo. Já existem roteiros turísticos e agências que levam os turistas para conhecer as fazendas produtoras e, consequentemente, apreciar a belíssima região, a culinária etc., além de festivais, como o “Café com Música”, da charmosa cidade de Cristina. Exemplo a ser seguido pela nossa Resende Costa, que já passou, e muito, da hora de ter o seu grande “Festival do Artesanato”.
Voltando para a bebida, assim como já falamos da cerveja, o café também tem seu lado social, principalmente para nós mineiros. Ele é a desculpa para o de fora entrar pra cozinha, esticar a prosa e, claro, se deliciar com os acompanhamentos que aqui são muitos: queijo, broa de fubá, biscoito polvilho, pão de queijo e por aí vai. Portanto, o café está muito ligado ao jeito mineiro acolhedor e farturento de receber, uma das nossas grandes virtudes.
Todos nós temos a chamada “memória olfativa”, que nos faz remeter a uma situação do passado quando sentimos algum cheiro ou gosto. E uma memória das mais marcantes para mim é a do cheiro do café sendo torrado e depois moído, que me transporta imediatamente para a fazenda dos meus bisavós em Moeda, quando criança. Adorava ajudar a moer o grão no moinho velho e ficava intrigado com a força do cheiro da torrefação, que parecia subir quilômetros morro acima, perfumando até hoje aquele lugar.
(Veja no blog dicas sobre o uso do café, além de uma receita deliciosa de “Frango assado com molho de café”: http://www.casalgastromg.blogspot.com.br/).