O prazo de entrega desse artigo já vinha rompendo e eu ainda meio em dúvida do que iria assuntar. Escrever, assim como cozinhar, costuma depender muito de inspiração e do que temos em nossa volta naquele momento. Olhando a despensa de casa outro dia, vi que tava bom de fazer uma comida meio mexicana (abacate, tomate, milho...). Aí, peguei um livro do assunto, com um pouco de história e tudo mais, e comecei a salivar e matutar uma coisa: o tanto que nossa gastronomia mineira parece com a deles, bem mais do que imaginamos. No final das contas, fizemos uma janta mexicana de lamber os beiços e ainda decidi antecipar esse assunto “México” aqui na nossa prosa. Foi sem querer querendo.
História e gastronomia andam, comem e dormem juntas, e o caso mexicano é parecido com o brasileiro, em especial o mineiro: interessante mistura da culinária local com a da colônia europeia que veio depois. No caso deles, os espanhóis, vizinhos de cerca dos portugueses. Ambos trouxeram muita coisa interessante de comer (especiarias do oriente, carnes variadas, doces, destilados, técnicas importantes etc.). Talvez pra compensar as doenças, a pólvora e a ganância que também trouxeram.
O milho é o alimento símbolo do México. É com ele que fazem as tortilhas, espécie de panqueca mais grossa, usada como “colher, prato e pão”, pra se comer várias coisas (refogados de carne, verduras, queijos, feijão). Por aqui também não vivemos sem ele, principalmente na sua forma esplendorosa do angu. Outra similaridade que chama a atenção é a presença do refogado de alho e cebola como base de muitos preparos, ensopados ou chapeados. Tomate e pimentão então, nem se fala. São originalmente de lá.
O porco também grita muito nos chiqueiros mexicanos, tal como nos mineiros. E se aqui adoramos o tutu de feijão, lá o negócio deles é o “feijão refrito”, espécie de tutu, porém sem farinha. Ele engrossa somente com o fogo mesmo. E o melhor: eles não têm o preconceito que temos de comer esse feijão de várias outras formas, como na tortilha ou no pão, como se fosse um patê. (delícia de patê, não?!)
No norte do México, como no norte de Minas, tem calor e gado. E sua carne de sol, seu queijo, seu coentro e seu cacto palma, que também vira sopa ou dá fruto, tipo nossa “saborosa”. Falando em fruta, manga e goiaba por lá também não faltam. Nem urucum, carne acebolada e frango ensopado. Tudo com pimenta, outro símbolo mexicano – e mineiro. Diz que lá servem pimenta até no carrinho de picolé, e parece que é verdade mesmo.
Outro ícone dos nossos irmãos americanos, além do chocolate (nascido por lá) é o abacate, cujo nome teria origem – acreditem – no testículo dos deuses, pelo formato da fruta e pelos seus “poderes”. Só que ao contrário de nós - que infelizmente só comemos o abacate com açúcar (ou na deliciosa vitamina) - eles o comem salgado, geralmente amassado e misturado com cebola, tomate, limão, azeite, pimenta e cheiro verde. É a famosa “guacamole”, boa pra qualquer hora, como no sanduíche, tira-gosto com torrada ou até no churrasco, como o nosso vinagrete, muito usado por eles e chamado de “pico de gallo”. E a bebida típica? Tequila lá, cachaça aqui. Ambos destilados rústicos, o nosso de cana, o deles de agave, um tipo de cacto. Mas na minha opinião nossa cachaça dá de dez nas tequilas servidas aqui no Brasil.
A culinária mexicana ganhou o mundo muito mais que a brasileira, graças também à influência do seu vizinho Estados Unidos com seu modelo fast food. Porém, é um país bem tradicionalista e ligado às suas origens, muito interessantes por sinal. Lá é a terra das antigas civilizações maia e asteca, de povo esperto, trabalhador e que via e tratava a terra como sua verdadeira mãe. Gente sábia e que manjava muito de engenharia, astronomia e de agricultura, mesmo naquele tempo tão antigo.
Acho que as semelhanças não ficam só lá na cozinha. No lado cultural, geralmente, nota-se que o mexicano é um povo caloroso, de religiosidade católica forte e loucos por futebol. Na música, ainda tem seus violeiros de chapelão de palha na cabeça, os “mariachis”. É muita coisa parecida, bonita e familiar. E olha que só viajei até lá através dos livros, fotos, tevê e também do meu ídolo mexicano, o “Chaves do oito”. Acabei me apaixonando de vez pelo país. E foi sem querer querendo.