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Os donos do pomar

12 de Julho de 2012, por Cláudio Ruas

Se na edição passada nós tratamos da “dona da horta” - a tão cultivada e apreciada couve - nesse mês vamos falar dos “donos do pomar”, sobretudo nessa época do ano em que estamos.

É claro que nossos pomares mineiros geralmente têm uma variedade interessante de frutas, mas, dentre elas, algumas se destacam, seja pela predominância ou pelo consumo, principalmente nesse período: a laranja, a mexerica e o limão.

A chegada da temporada de seca, a princípio, daria uma idéia de falta de vida e fartura na roça, porém, não é bem isso que acontece. A natureza é sábia e sabe muito bem aproveitar a época “das águas” e, quando ela se vai, em seguida vêm os frutos, principalmente os cítricos, perfeitos contra os resfriados do inverno.

Junho e julho, para mim, são meses especiais na roça por uma série de motivos, a começar pela beleza dos dias e das noites. Mas, a abundância do pomar é o que mais me fascina, ao ponto de dar vontade de sair da capital só pra ir encher a carroceria de laranja serra d’água, mexerica candongueira, limão capeta...

Na roça, sair da cama no inverno é ruim, mas ir se esquentar no sol chupando mexerica ao lado de um pé carregado é algo sublime, assim como fazer o suco dela misturado com a laranja, usar o caldo pra preparar uma carne de porco ou então comer aquele doce de casca de laranja com queijo minas e umas gotas de limão pra equilibrar perfeitamente com o açúcar.

Falar que essas frutas fazem bem pra saúde é chover no molhado, pois todos já sabem. Então, acho que devemos pensar mesmo é no tanto que elas podem ser mais exploradas e valorizadas, principalmente por aqueles sortudos que têm essa fartura toda à sua volta e não sabem o que é pagar R$ 4,00 no quilo de mexerica ruim na cidade grande.

Bem fazia meu querido avô - o velho Góes - que sempre aproveitava a fartura de laranja pra fazer vinho, o que praticamente não se vê mais hoje em dia, salvo exceções, como a do Mazinho do Saneco, que ainda produz a iguaria.

O limão, então, é uma fruta das mais especiais, principalmente pela sua utilidade na cozinha: tirar a “mardade” da carne de porco, marinar peixes, refrescar e temperar uma costelinha e um torresmo fritos, temperar molhos e saladas e até “cozinhar” um pescado sem que esse vá ao fogo, apenas com seu poder de reação química em função da acidez. Caso do delicioso “ceviche”, prato típico das culinárias peruanas e chilenas e que cada vez mais faz sucesso mundo afora, muito fácil de se fazer: picar em cubos pequenos um filé de tilápia fresca (congelada não é possível) e misturar com cebola roxa fatiada, suco de limão, sal, azeite e coentro (ou salsinha). Esperar uns 10 minutos (tempo para que o limão e o sal “cozinhem” o peixe) e servir. Experimente sem medo, o peixe não estará cru! Aproveite também para experimentar usar mais essas frutas no preparo de comida salgada, o que às vezes vai de encontro aos nossos costumes. Temperar e assar uma costelinha com um pouquinho de suco de laranja não vai deixá-la doce e estranha, muito pelo contrário. Ficará macia, suave e com uma cor linda e dourada.

Se o limão é minha fruta favorita, o capeta é o meu preferido, pois tem um sabor diferenciado, adocicado e único, além de ser bastante rústico e produzir por mais tempo. Mas o mais interessante é a quantidade de nomes diferentes que vemos por aí em relação ao limão capeta: limão rosa, limão de moça, limão do rio, limão bergamota, laranja capeta, mexerica capeta etc., o que mostra a sua presença na nossa cultura.

Por fim, como já disse em outra ocasião, dói no peito ver alguém na roça gastando dinheiro pra tomar suco artificial ou refrigerante enquanto nem os passarinhos dão conta de tanta fruta gostosa, saudável e DE GRAÇA no pé.

Recusar esse presente da natureza é pecado bem pior do que o da gula...  

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(Quem quiser aprender uma receita fácil de “lombo de panela ao molho de mexerica”, basta acessar o nosso blog: casalgastromg.blogspot.br.)

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