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Sou do mundo, sou Minas Gerais

15 de Fevereiro de 2013, por Cláudio Ruas

“Ser Mineiro é não dizer o que faz, nem o que vai fazer,
é fingir que não sabe aquilo que sabe,
é falar pouco e escutar muito,
é passar por bobo e ser inteligente,
é vender queijos e possuir bancos”.

O título vem da música cantada por Milton e o trecho do poema é do Drummond. Duas figuras importantes que saíram de Minas, mas nunca deixaram Minas sair delas. E que sempre fizeram questão de mostrar nossas inúmeras riquezas, inclusive uma delas que é o nosso jeito de ser. Afinal, “minas são muitas”.

Ocorre que, por uma série de fatores históricos, culturais e até geográficos, grande parte dessas riquezas sempre foram muito bem guardadas, sobretudo a gastronomia. Tal como o ouro antigamente, cuja existência não poderia ser revelada sob pena de confisco, nossos produtos, receitas e técnicas culinárias seguiram o mesmo caminho.

Se por um lado esse segredo foi benéfico quanto à preservação interna da riqueza gastronômica - muito bem cozida em fogo baixo ao longo dos anos - por outro, já estamos passando da hora de começar a servir esse prato e colher os seus frutos. E para isso, precisamos abrir as portas das nossas despensas e quintais para o mundo.

Como bem disse o chef Eduardo Avelar, que por sinal realiza belíssimo trabalho de registro e valorização da nossa gastronomia com o “Sabores de Minas” e a “Conspiração Gastronômica”, “se antes escondíamos as refeições em gavetas sob as mesas, hoje queremos mais do que nunca mostrar a todos”.

E o ano de 2013 deve ser considerado um marco para nós mineiros: pela primeira vez na história do principal evento de gastronomia do mundo – o Madrid Fusión, na Espanha – não houve um país homenageado, mas sim um Estado. O nosso! Se nos anos anteriores o foco do festival foram nos países cuja gastronomia vem merecendo destaque mundial (Peru, México etc.), agora decidiram que Minas Gerais seria a bola da vez.

Pode-se dizer que tudo começou através do Festival de Gastronomia da nossa vizinha Tiradentes, hoje o principal do país. A convite do Governo do Estado, os organizadores do evento espanhol vieram e ficaram encantados com o que viram de perto. Não só no festival, mas no Mercado Central de BH... e quem sabe até na nossa rua do artesanato em Resende Costa. Certamente, tomaram uma boa cachaça de Salinas com um pedaço de queijo Canastra, um café do Sul de Minas com biscoito de São Tiago e comeram um frango do quintal com quiabo da horta e angu de fubá do moinho d’água. Viram a hospitalidade e o orgulho das origens que só nós mineiros temos, além das montanhas e paisagens únicas. E aí não teve jeito de não se encantar.

Para completar, um grande esforço do governo estadual com apoio político e financeiro para viabilizar a participação e lá se foi a comitiva formada por 15 chefs mineiros, que atravessaram o oceano levando no embornal parte do nosso verdadeiro tesouro, não aquele extraído das minas de ouro, mas sim dos quintais. E como já era de se esperar, fizeram tremendo sucesso, apesar do infantil e lamentável “ciúme” do resto do país, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro.

Nossos representantes foram responsáveis pelo coquetel de abertura do evento e serviram não só clássicos como a rabada com agrião, paçoca de carne serenada, pastel de angu e pão de queijo, mas também pratos mais contemporâneos feitos com nossos ingredientes. Assim, mostraram que nossa cozinha não vive só de uma sólida raiz do passado, mas também tem as suas asas para o futuro e, se bem valorizada e divulgada, pode trazer inúmeros frutos para todos nós, a começar pelo homem do campo.

Enfim, chegou a hora de entender de uma vez por todas que somos muito mais ricos do que imaginamos e que por isso podemos ser do mundo, mas sem abrir mão de ser Minas Gerais.

(A receita do mês no nosso blog – com fotos e vídeos - é uma riqueza garimpada recentemente lá no Sul de Minas, o “pastel de milho”, com uma massa deliciosa feita com farinha de milho, diferentemente do pastel de angu - www.casalgastromg.blogspot.com.br)

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