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Você é o que você come

12 de Marco de 2014, por Cláudio Ruas

Passou o carnaval. Agora começa 2014 e a tentativa de cumprimento dos planos de muitos brasileiros, apesar de já ter passado quase um quarto do ano. Ano de copa, aliás. E o plano de cuidar da saúde e da alimentação é tão recorrente quanto adiado. Enquanto isso, o fato é que cada vez mais o bicho homem tem morrido pela boca, literalmente.

A vida “moderna”, a predominância da comida industrializada e a introdução de novos hábitos têm trazido uma série de problemas para nós. Muita doença, muita vida perdida e dinheiro gasto por conta disso, apesar de não parecer (e de não deixarem parecer). A questão da alimentação no mundo, não só em relação à saúde, mas também do ponto de vista social, ambiental e cultural, começa a chamar a atenção de muitos, mesmo que tardiamente.

Longe de levantar uma bandeira radical e extremista, da qual não faço - e nem quero fazer - parte, tenho pensado cada vez mais nesse caminho que estamos trilhando. A forte relação e a dependência com a comida industrializada (ou processada) já atinge até o homem do campo. Esse, por sua vez, gasta seu dinheiro suado com um suco artificial que vai lhe fazer mal, ao invés de tomar o da fruta, que está perdendo ali no pé, e que lhe vai fazer bem. Um pequeno exemplo de tantos outros que me entristece. Enquanto isso, na cidade, aqueles que querem a fruta de verdade pagam cada vez mais caro para consumir um produto de qualidade quase sempre indesejável, sem frescor e cheio de agrotóxicos. Estamos num mato sem cachorro e sem fruta. Mas precisamos sair dele.

Assisti a um documentário muito bacana e que deveria ser transmitido em rede nacional no horário nobre (ou pobre?!), chamado “Muito além do peso”. Ele mostra o problema da alimentação infantil no Brasil, do elevado número de crianças com sérias doenças de adulto (colesterol, pressão alta, diabetes) e do poder das grandes indústrias alimentícias sobre o mercado, as leis e, principalmente, nós. Fica bem claro que os todinhos, suquinhos, biscoitinhos e batatinhas, quase sempre associados aos queridinhos personagens infantis, estão muito mais para grandes vilões. Quantidades enormes de açúcar, sal, gordura e um monte de nomes medonhos e impronunciáveis estão ali sem que ninguém saiba. Uma passagem curiosa é de uma professora que resolveu guardar um bolinho pronto distribuído para as crianças na escola. Passado mais de um ano, o bolinho (aberto e mordido) sequer mofou. Ou seja, nem o mofo quis consumir aquilo! Mas nossas crianças sim. E de frente para a tevê ou o computador, outros dois grandes perigos. O filme pode ser visto ou baixado de graça na internet, o que eu recomendo sem medo de parecer ser chato.

Levando, como sempre, a prosa para a cozinha, é indiscutível como o alimento fresco e mais natural tem um resultado muito melhor na panela. E inclua nessa panela até um belo toucinho de porco fresco, que apesar dos pesares, pode permanecer no nosso cardápio de vida, afinal de contas, nós também precisamos alimentar a alma. Comer bem, na minha opinião meio gulosa, é comer de tudo, sem radicalizar nos extremos do torresmo ou do alface O segredo é o equilíbrio e a moderação, o que costuma ser o mais difícil.

Nessa hora então é que a comida industrializada se dá bem, já que seus “truques” ocultos fazem com que comamos muito mais do que percebemos e precisamos. Uma coca cola, por exemplo, está cheia de sal (sódio), que te fazer sentir sede e beber mais (coca). Para compensar a salmoura, uma dose grande de açúcar, que ainda vai dar o gostinho agradável e que também vai te fazer beber mais (coca). Junte-se a isso o fato de que temos um poder de compra maior do que antigamente e estamos cada vez mais reféns da enorme publicidade dessas poderosas empresas, e o resultado é um consumo assustador. Quando eu era criança, refrigerante era só em dia de festa ou aos domingos. Mesmo assim, um guaraná de um litro era dividido para cinco pessoas. E éramos felizes.

Infelizmente - ou felizmente - nós realmente somos o que comemos: gordos, esbeltos, doentes, sadios, chatos ou felizes. Cabe a nós prestar mais atenção naquilo que estamos consumindo e temperar nossa vida com mais carinho e cuidado, igual uma comida bem feita, onde o tempero não falta nem sobra. 

 

 

(Aprenda uma receita de “hambúrguer caseiro com batata frita”, mas numa versão mais leve, onde nada é frito. Tudo preparado no forno, que pode substituir muito bem grande parte das frituras que tanto usamos: www.casalgastro.blogspot.com.br).

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