A trajetória do Alessandro Telinhas e a arte de transformar o artesanato


Série Negócios que Contam Histórias

Vanuza Resende0

fotoO casal Alessandro e Telinha - referência no ramo empresarial do artesanato têxtil (foto arquivo pessoal)

Na sétima reportagem da série especial “Negócios que Contam Histórias”, mergulhamos no universo do casal Alessandro Silva Resende e Maria Estela da Silva Resende, mais conhecida como Telinha, que comandam as empresas Alessandro Telinhas, a Tecelagem Tixa e o Artesanato Trilhos da Arte. As empresas se destacam como referência no cenário de Resende Costa, uma cidade que consolidou seu nome como um dos polos nacionais do artesanato. A história do casal revela o impacto da tradição familiar, da inovação e do empreendedorismo no crescimento do setor têxtil local.

Alessandro explica, com clareza, a divisão do negócio: “funcionamos da seguinte forma: Alessandro Telinhas é a fábrica e a venda de matéria-prima; a filial é a tecelagem Tixa. Eu, Alessandro, forneço para a Telinha, que é do Trilhos da Arte, as mercadorias para ela repassar para lojistas e comerciantes, varejistas e tudo mais”.

O empresário relembra como teve a ideia de expandir os negócios, que começaram em 2005. “Quando eu tive essa iniciativa de crescimento, vi que o artesanato podia ser melhorado. Eu acho que o artesanato já foi mais criativo, em pedais, em designs diferentes. Com o passar do tempo, isso se tornou mais trivial, com todos produzindo da mesma maneira. Então, eu vi que poderíamos criar coisas diferentes, e isso foi me motivando. O mercado foi aceitando e foi acolhendo. Isso me deu a possibilidade de crescimento.”

 

Os desafios são constantes

Alessandro destaca que no início o maior desafio era comercializar as mercadorias. Segundo ele, Resende Costa, antes de se consolidar como destino turístico, oferecia poucos recursos para atrair clientes. “Como se vendia o produto sem turismo aqui? Poucos conheciam, era tudo por telefone. Hoje, graças ao Instagram e às câmeras, você pode mostrar as peças para os clientes, mas antes era um desafio vender por telefone, descrevendo cada tapete, cada detalhe.”

A evolução do artesanato em Resende Costa também reflete as melhorias estruturais e turísticas empreendidas na cidade. Alessandro destaca as mudanças: “primeiro, o cliente vinha, comprava e ia embora porque Resende Costa não tinha um acolhimento. Hoje, além do artesanato, o Poder Público se preocupa com o conforto do cliente, com melhorias que vêm sendo feitas na cidade. Temos bons hotéis, boas lanchonetes e bons restaurantes.”

 

Um marco na evolução do artesanato de Resende Costa

A visão empreendedora permitiu à empresa Alessandro Telinhas não apenas crescer, mas também facilitar a vida de outros artesãos: “o Alessandro Telinhas desenvolveu o negócio das teias nos rolos. Esse investimento veio para ajudar na produção de peças mais prontas para que a pessoa não ficasse perdendo tempo em fazer o preparo para depois tecer. Eu já entregava isso pronto para a pessoa pensar em sua produção. Eu fiz as bobinas de fácil troca, de adaptação nos teares. Também substituí os pentes de bambu, que apresentavam muitos defeitos, por pentes de ferro.

Atualmente, o casal conta com mais de 100 colaboradores, sendo 40 funcionários nas lojas e mais de 80 pessoas envolvidas no acabamento dos materiais. Esse ambiente de trabalho é marcado pela colaboração e pela camaradagem. “Com os meus funcionários, eu praticamente vejo que não sou patrão deles, e acho que eles também não me veem como patrão. Somos como amigos, dando-nos muito bem nessa área de trabalho”.

Alessandro também comenta sobre a importância da valorização da mão de obra para que Resende Costa possa continuar produzindo. “Muita gente fala assim: ah, ninguém no futuro vai querer tecer nos teares de pau, mexer ali. Mas quando somos bem motivados e bem valorizados, a realidade é outra. O que eu tento fazer é valorizar a peça artesanal, dando mais incentivo à mão de obra. Hoje eu divido meu lucro com cada um de meus colaboradores para que eles se sintam com um salário bom. Quando percebo que alguém faz o que gosta, eu compartilho e ajudo para que a pessoa se sinta valorizada naquilo que faz. E assim vai dando esse bom fruto e esse bom resultado para o futuro”.

 

Inovação e futuro

Olhar para o futuro é algo constante na mente do casal. Alessandro compartilha os planos: “para ter uma continuidade com o nosso artesanato e com o nosso público de clientes vindo à nossa cidade, estou fazendo um espaço turístico aqui em Resende Costa. Vai funcionar como uma cadeia produtiva em tempo real. O cliente virá, vai conhecer do início ao fim a produção e, depois, se ele quiser, terá a satisfação de se sentar no tear e levar seu próprio tapete. Esse é um dos primeiros passos que estamos organizando. O segundo é a galeria, a Antiga Vila que a gente vai fazer aqui em Resende Costa para ter o espaço maior com várias lojas e oportunidades também para aqueles pequenos proprietários de empreendimentos ali no artesanato, com diversos ateliês. E com isso vamos atrair mais turistas dentro do mesmo espaço”.

Alessandro acredita que o futuro do artesanato está assegurado graças ao que ele e tantos outros estão plantando agora. Para ele, o segredo do sucesso está em fazer o que se ama, com dedicação e criatividade. “O segredo desse bom resultado é simples: fazer aquilo que gosta com dedicação, para decorar a casa do cliente como se fosse a sua própria casa. O que eu posso dizer e deixar aqui para quem está começando nessa área, nesse ramo de artesanato é: não se preocupe com a concorrência, faça o que você ama, pois as coisas vão aparecendo na nossa vida por consequência daquilo que fazemos. Fazer com capricho, com gosto, com bom atendimento. Assim, vamos nos destacando no mercado. E hoje, quem está começando nessa área do ramo têxtil está com a cama, está com a faca e o queijo na mão. Resende Costa já está com o nome reconhecido, já está com o título [de Capital Nacional do Artesanato Têxtil]. Há muitas coisas adiantadas, coisas que lá no passado eu e também outros não tivemos. A cama pronta para deitar e dormir. É só sonhar agora”.

O casal Alessandro e Telinha se tornou peça-chave no cenário do artesanato de Resende Costa, ajudando a transformar a cidade em um dos maiores polos comerciais de artesanato em nível nacional. “Fico muito satisfeito com a minha empresa, a Alessandro Telinhas. Somos conhecidos e respeitados aqui na cidade. Eu me sinto responsável como artesão em Resende Costa, como empreendedor que chegou onde eu cheguei. Hoje eu posso colaborar com muitas famílias daqui, onde cada um pode tecer e ganhar o pão de cada dia devido a esse trabalho, ao amor pelo nosso artesanato”, conclui Alessandro.

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