Produção de mel e peixes, atividades em expansão no município


Economia

José Venâncio de Resende0

Apiário Cardoso, de Samuel Oliveira

Resende Costa tem-se destacado, nos últimos anos, como produtor de mel e de peixes. Em 2020, foi o município segundo colocado da microrregião das Vertentes na apicultura, com 34,5 toneladas de mel, atrás apenas de São João del-Rei (48 toneladas). Na aquicultura, ocupou a primeira posição, com 20 toneladas de tilápia, seguido de São Tiago (16,5 toneladas). As informações são do último levantamento por município do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE Cidades)

Esse resultado é fruto de um trabalho de longo prazo, segundo explica Marcos Túlio Resende Maia, extensionista agropecuário da Emater. Na apicultura, o impulso ocorreu em 2002 com o surgimento da Associação dos Criadores de Abelhas de Resende Costa (ACARC), cujo primeiro presidente foi Antônio Orlando de Mendonça, e o início dos cursos de profissionalização (coleta de enxames, criação de rainhas, processamento do mel e do própolis) promovidos pela Emater. O setor cresceu e os apicultores começaram a andar com as próprias pernas.

A ACARC, com 19 produtores e um total de 1.094 colméias, é dirigida por Samuel Cardoso de Oliveira. Em 2022, a produção conjunta dos associados foi estimada em cerca de 12 toneladas de mel e 875 kg de própolis, de acordo com o vice-presidente da entidade, Tiago Luiz da Silva Mendonça.

 

Peixes

Já os primeiros cursos de profissionalização em piscicultura (construção de tanque, criação de alevinos, qualidade da água etc.) começaram por volta do ano 2000. Produtores como Marco Túlio de Resende, o Túlio do Lalado, abraçaram a causa desde o início.

Atualmente, ele é um dos dois produtores de maior porte no município que produzem para o comércio, principalmente pesque-pagues da região (São João del-Rei, Tiradentes, Conselheiro Lafaiete, Carandaí, Passa Tempo etc.). A maioria é formada por pequenos piscicultores, que criam em “fundo de quintal” para consumo próprio.

Em 2021, Túlio do Lalado vendeu 17 toneladas de peixe gordo (cerca de 10 toneladas de tilápia, 3 t de cat fischer, 3 t de pacu, 1 t de carpa). Em 2022, ele encerrou a temporada com 12 toneladas (cerca de 8 t de tilápia, 2 t de cat fischer e 2 t de pacu).

Mas Túlio do Lalado está mudando o perfil da sua produção “porque o comércio de pesque-pague em geral está fracassando muito”. Em 2023, ele pretende produzir alevinos e transformá-los em juvenis para vender para tanque-rede. Assim, planeja produzir no próximo ano entre 20 e 30 mil juvenis de tilápia por mês (média de 350 mil/ano), 100 mil carpas e 50 mil lambaris. Sua ideia é entregar toda a produção para a empresa GM Alevinos* de Contagem (MG).

 

Vocação

Resende Costa não tem tradição na produção de grãos. Para Marcos Túlio, da Emater, o que limita o município é a topografia, já que culturas como milho e soja exigem grandes áreas mecanizáveis. A produção de milho, por exemplo, ocupa pequenas áreas (em torno de quatro a cinco hectares), sendo toda ela destinada à produção de forrageira para a alimentação do gado.

O mesmo vale para o café, com um agravante, explica Marcos Túlio. “O que limita o café em Resende Costa não é apenas a topografia, mas também a falta de mão de obra; e não há tradição no município de produzir café de serra.”

 

Eucalipto

A cultura do eucalipto foi implantada no município nos anos 1980, graças ao trabalho do Instituto Estadual de Florestas (IEF), especialmente do técnico Murton Carvalho Moreira. O eucalipto adaptou-se bem à grande maioria das terras pouco férteis de Resende Costa, explicou Marcos Túlio. “Foi uma alternativa interessante de renda na propriedade para pequenos e médios produtores de leite e de gado de corte. O eucalipto apresenta rendimento financeiro compensador.”

Sua destinação doméstica como uso alternativo (mourões, construções etc.) “diminuiu muito a pressão sobre a floresta nativa”. Mas 99% são destinados à produção de carvão, o que levou ao surgimento da profissão do carvoeiro (ele queima as pequenas áreas em parceria com o proprietário); ou seja, “é uma mão de obra alternativa ao produtor”, resume Marcos Túlio.

Murton estima que Resende Costa já teve em torno de 20 mil hectares de eucalipto, que produzia cerca de 60 mil metros cúbicos. “Mas caiu nos últimos anos, pois tem ocorrido destoca, passando para outras lavouras. A produção também caiu devido ao péssimo preço que teve início em 2007, obtendo-se somente agora nos últimos dois anos um melhor preço de mercado.”

 

Futuro

As variedades de eucalipto cultivadas no município são adaptadas ao corte para a produção de carvão (entre cinco e seis anos). O carvão vegetal é comumente utilizado como combustível em aquecedores, lareiras, churrasqueiras, fogões e sobretudo na produção industrial.

Há uma tendência no mundo de substituir fontes de energia poluentes por energias renováveis (hidrelétrica, solar, eólica, hidrogênio verde, etc.) para combater a crise climática. O carvão vegetal, fruto do cozimento do eucalipto, por ser uma árvore, contribui para retirada de CO2 da atmosfera, mas na sua queima há emissão do mesmo, diz Adriano Valério Resende, do Instituto Rio Santo Antônio (IRIS). “Então, ficam elas por elas, vamos dizer assim.”

De qualquer forma, uma alternativa seria a mudança gradual do perfil do eucaliptal com a implantação de variedades mais adequadas a outras atividades, como a produção de móveis. Essas variedades já existem, com um período de corte superior ao do corte para carvão. Mas, para que isso aconteça, será necessário a instalação de uma indústria moveleira na região que utilize essa matéria-prima, pondera Marcos Túlio, da Emater.

 

*GM Alevinos: https://gmalevinos.com.br/

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