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Cinema

08 de Setembro de 2008, por Carina Bortolini

Acho muito engraçado quando, em uma conversa na qual o assunto é a sétima arte, escuto: “Ah, mas este filme é de arte, não tenho paciência.” Há um preconceito com os chamados filmes “de arte”: pressupõe-se que são chatos, lentos, complicados. E há também quem assista e comente os filmes assim chamados para parecer intelectualizado, erudito, cult (aliás, essa também uma denominação comumente utilizada para o estilo de filme que aqui comentamos). Na verdade, considero tudo isso uma bobagem. Muitos deixam de assistir a produções maravilhosas, inteligentes e compreensíveis por se tratarem de filmes “de arte”. Confesso, alguns são um pouco complexos, mas pensar um pouco não faz mal a ninguém!... É difícil classificá-los, mas geralmente são filmes mais densos, profundos, em que o diretor quer sempre dizer algo mais do que os sentidos da visão e audição podem captar instantaneamente.

Os principais “culpados” por este gênero artístico são os franceses. E de lá vieram preciosidades cinematográficas. Só para citar alguns mais recentes, temos o esplêndido Todas as Manhãs do Mundo (França/1991/Alain Corneau), com Gérard Depardieu; o atordoante e incômodo Lua de Fel (França/Inglaterra/1992/Roman Polanski); e um dos meus filmes prediletos, o genial, belo e delicadamente divertido O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (França/2001/Jean-Pierre Jeunet). Não faz muito tempo que assisti ao misterioso e elaborado Caché (França/Áustria/Alemanha/Itália/2005/Michael Haneke), esse sim, possui muitas cenas estáticas e um final aparentemente incompreensível. Mas há certos filmes que exigem um pouco de empenho do espectador: ao procurar na internet informações sobre o mesmo, li uma crítica muitíssimo bem feita que elucidou todo o brilhantismo do roteiro e direção. Resultado: amei o filme.

O diretor dinamarquês Lars Von Trier abalou o mundo do cinema ao lançar o estupendo musical Dançando no Escuro (França/2000), com a excêntrica cantora esquimó Björk como protagonista. Quando pensaram que ele não poderia fazer nada mais revolucionário, lançou sua obra-prima, Dogville (França/2003), no qual a cidade onde se passa a história é desenhada com giz no chão de um cenário em negro e Nicole Kidman vive a sofredora Grace. Dizem que, durante as filmagens, Von Trier maltratou-a tanto que a fez perder o controle, a ponto de ela querer desistir do papel. Ao vê-la chegar a seu limite, revelou que aquilo era apenas uma estratégia para fazê-la compreender a alma da personagem.

Há alguns filmes “de arte” de estilo meio amalucado, onde fenômenos estranhos e eventos impossíveis acontecem. Assim o clássico Laranja Mecânica (Inglaterra/1971/Stanley Kubrick); os psicodélicos Magnólia (EUA/1999/Paul Thomas Anderson), Quero Ser John Malkovich e Vanilla Sky (EUA/2001/Cameron Crowe) – e seu original, em espanhol, Preso na Escuridão (Espanha/1997/Alejandro Amenábar) -; além de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (EUA/2004/Michel Gondry), outro de meus favoritos, com atuações perfeitas de Jim Carrey e Kate Winslet.

Posso citar ainda os violentos e alucinantes Pulp Fiction – Tempo de Violência (1994/Quentin Tarantino) e Oldboy (2004/Park Chan-Wook), o primeiro um marco do cinema americano e o segundo uma revelação do cinema sul-coreano. O Canadá internacionalizou suas produções com o satírico O Declínio do Império Americano (1986/Denys Arcand); e sua continuação filmada quase duas décadas depois, As Invasões Bárbaras (2003/Denys Arcand), foi aplaudida e premiada.

O cinema brasileiro também tem seus expoentes. Eu ainda era uma iniciante no mundo da sétima arte quando assisti ao idílico A Ostra e o Vento (1998/Walter Lima Jr.), com Lima Duarte, Fernando Torres e Leandra Leal. Em Nina (2004/Heitor Dhalia), Guta Stresser, a Bebel de A Grande Família, mostra todo seu talento para o drama numa versão nacional de Crime e Castigo, de Dostoiévski. Incluo nesta lista o excelente O Vestido (2004/Paulo Thiago), com Gabriela Duarte e Leonardo Vieira.

Para aqueles que querem se iniciar no gênero, recomendo os lindíssimos e facilmente digeríveis Cinema Paradiso (Itália/1988/Giuseppe Tornatore), Kolya – Uma Lição de Amor (República Tcheca/1996/Jan Sverák), O Piano (Nova Zelândia/1993/Jane Campion), Billy Eliot (Inglaterra/2000/Stephen Daldry), Moça com Brinco de Pérola (Inglaterra/2003/Peter Webber)... São tantos! Afinal, tem filme “de arte” para todos os gostos. Experimente! Prometo uma próxima edição...

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