Dúvida / Gran Torino
12 de Novembro de 2010, por Carina Bortolini 0

Dúvida
Gênero: Drama
Direção: John Patrick Shanley
Tempo de duração: 104 min.
Ano: 2008
Meryl Streep, aos 60 anos, é campeã de bilheteria e recordista absoluta em indicações ao Oscar. Philip Seymour Hoffman já mostrou seu talento absurdo no premiado Capote, pelo qual recebeu o Oscar de Melhor Ator em 2006. Neste longa, o embate entre os personagens de ambos não poderia resultar em nada menos que espetacular (tanto que foram indicados ao Oscar 2009). Meryl vive a irmã Aloysius Beauvier, temida diretora da tradicional escola católica em que o padre Flynn (Hoffman) leciona. Ela, conservadora, preconceituosa e repressora, tem como inimigos a serem combatidos Flynn e seus ideais igualitários e de tolerância. Quando a jovem irmã James (a também excelente Amy Adams, indicada a Melhor Atriz Coadjuvante em 2009, juntamente com outra colega de elenco, Viola Davis) revela à diretora suas suspeitas acerca das intenções do padre em relação ao único aluno negro da escola, Aloysius encontra o que procurava para iniciar uma verdadeira cruzada moral contra Flynn. O sermão do padre no início do longa, destrinçando o valor da dúvida, permeia todo o enredo. Até que ponto há reais indícios de um crime hediondo? Ou tudo não passa de mero pretexto para perseguição? A desconfiança é, de fato, fundada ou só se enxerga aquilo que se quer ver? Confesso que demorei a indicar essa produção porque fiquei eu mesma na dúvida do que significou a cena do desfecho. Mas, tendo em vista o tema abordado e o próprio título do filme, a dúvida é até apropriada. A quem assistir, convido a uma troca de ideias comigo no blog do Jornal das Lajes! Classificação: 16 anos.
GRAN TORINO (Gran Torino, Austrália / EUA)
Gênero: Drama
Direção: Clint Eastwood
Tempo de duração: 116 min.
Ano: 2008
Muitos consideraram este o melhor filme de Clint Eastwood. Isso não sei dizer, já que vários de seus trabalhos estão em minha lista de favoritos. Mas uma coisa posso assegurar: Gran Torino vem dar continuidade, com toda a coerência e argúcia, aos últimos trabalhos do diretor, tendo sempre como essência a história dos Estados Unidos, o esquadrinhamento do perfil de seu povo e a contribuição desse país ao mundo, sem ufanismo, mas também sem se deixar levar pela onda do tacanho e simplista antiamericanismo. Voltando a dirigir a si mesmo, o que não acontecia desde o maravilhoso Menina de Ouro (2004), Eastwood interpreta o veterano de guerra Walt Kowalski, homem ranzinza, impertinente e racista. É com desgosto que assiste à tomada de seu bairro pelos asiáticos da etnia hmong, não perdendo qualquer oportunidade de demonstrar seu desprezo pela vizinhança. Tampouco se orgulha de sua família, composta de filhos gordos, noras fúteis e netos mal-educados. Sua preciosa rotina consiste em fazer reparos na casa, beber sua cerveja e lustrar o símbolo do império que ele tanto preza: um Ford Gran Torino que ele mesmo ajudou a montar na fábrica, nos tempos áureos da indústria automobilística americana. Quando o neto de sua vizinha hmong tenta roubar seu carro, Walt empunha seu rifle e coloca para correr a gangue que pressionou o garoto a cometer tal ato. Eis que a comunidade local reage de forma inesperada: considerando o veterano um herói, passam a presenteá-lo e respeitá-lo; e sua vizinha obriga Thao, o jovem infrator, a trabalhar de graça para Walt, como forma de se remir da tentativa de roubo. A convivência com o garoto e, consequentemente, com sua família faz com que Walt volte a conhecer o valor da verdadeira amizade e resgate sentimentos que ele há muito deixara pelo caminho: consideração estima, concórdia. O personagem de Eastwood funciona como um microcosmo da América, com todas suas virtudes e vilezas expostas. Temos assistido a muitas produções cinematográficas que aludem à cultura americana e à sua anunciada derrocada, seja com o fanfarrão Michael Moore (Fahrenheit 9/11 - 2004), com o polêmico dinamarquês Lars Von Trier (Dogville - 2003) ou com o canadense Denys Arcand (O Declínio do Império Americano – 1986 / As Invasões Bárbaras -2003). Mas é o velho cowboy que vem trazer uma visão absolutamente inédita, de dentro pra fora, sem recorrer ao senso comum. Ao final, ele oferece esperança ao povo americano e, via de consequência, a todos nós. Ora, não sejamos hipócritas: a democracia, a liberdade e o Estado de Direito que adotamos e temos em tão alto preço são, apesar de hoje lá estarem fora do eixo, algo a creditarmos àquela nação. Classificação: 14 anos.
Duplicidade / Uma canção de Amor para Bobby Long / A Mulher Invisível
11 de Outubro de 2010, por Carina Bortolini 0

Duplicidade
DUPLICIDADE (Duplicity, EUA)
Gênero: Comédia / Romance / Suspense
Direção: Tony Gilroy
Tempo de duração: 125 min.
Ano: 2009
Julia Roberts dispensa apresentações: a atriz mais bem paga de Hollywood é garantia de alta bilheteria. Após um tempo afastada das telonas, ela volta triunfante nesta produção inteligente e divertida. Para seu par romântico, foi escalado o bonitão e charmoso inglês Clive Owen. Ele é Ray, agente da inteligência britânica, e ela é Claire, agente da CIA. Eles se conhecem numa festa em Dubai, e o que parecia ser o início de um cálido romance se mostra um legítimo jogo de gato e rato: após passarem uma noite juntos, Claire deixa Ray dormindo e foge com os documentos confidenciais que o mesmo carregava. O reencontro se dará após seis anos, com ambos trabalhando no setor privado: cada um deles realiza espionagem industrial para megacorporações rivais do segmento de higiene. No desenrolar do filme, ver-se-á que aqueles seis anos não passaram em branco para o casal, e que nada é realmente o que parece. À medida que os mistérios vão se desvelando, o espectador fica cada vez mais envolvido, curioso pelo desfecho. E vale a pena esperar: o final não é nada previsível, nem ordinário. O roteiro e direção têm o mérito de trazer para uma trama típica de “golpistas sexy e espertos” um tanto de originalidade e sarcasmo, sem deixar para trás o ritmo e sagacidade do gênero. É diversão garantida. Classificação: 12 anos.
UMA CANÇÃO DE AMOR PARA BOBBY LONG (A Love Song For Bobby Long, EUA)
Gênero: Drama
Direção: Shainee Gabel
Tempo de duração: 120 min.
Ano: 2004
Não tinha ouvido falar deste filme antes de assisti-lo, e talvez por isso ele tenha me surpreendido tanto. John Travolta já havia provado sua competência dramática em filmes como Pulp Fiction (1994) e A Senha: Swordfish (2001), bem distantes do rapazola dançante de Grease – Nos Tempos da Brilhantina (1978) ou do comediante canastrão de Olha Quem Está Falando (1989). Mas eu, pessoalmente, nunca havia me encantado tanto com uma interpretação do astro americano como neste longa. Ele é o Bobby Long do título, um ex-professor de literatura inglesa que largou tudo para se afogar na boemia novaorleanense. A jovem Purslane (Scarlett Johansson) recebe a tardia notícia da morte de sua mãe, com quem quase não tinha contato. Disposta a reivindicar a casa onde a mesma morava, ela parte para New Orleans e, lá chegando, qual não é sua surpresa ao encontrá-la habitada pelo decadente e beberrão Bobby e por um pupilo seu, Lawson Pines (Gabriel Macht), aspirante a escritor. A convivência forçada logo fará da casa palco de discussões e trocas de ofensas entre Purslane e Bobby, devido principalmente ao mau-humor e arrogância do ex-professor. Mas, aos poucos, a garota perceberá o quanto ele pode ser fascinante, com seu romantismo incurável e sua curiosa mania de conversar citando trechos de livros dos melhores autores da língua inglesa. Os segredos da vida de uma mãe que ela não conheceu virão à tona, e Purslane começará a ver com outros olhos a vida daquelas pessoas esquecidas pelo mundo – ou escondidas dele. O trio inusitado é na verdade muito harmônico: cada um deles tomou um rumo errado em algum momento de sua trajetória, e arca com as conseqüências disso. O personagem de Travolta é extremamente complexo e rico, e ele o sustenta maravilhosamente. Ao final, não haverá quem não concorde que ele mereça mesmo uma canção de amor. Classificação: 12 anos.
A MULHER INVISÍVEL (Brasil)
Gênero: Comédia
Direção: Cláudio Torres
Tempo de duração: 105 min.
Ano: 2009
Cláudio Torres, filho de Fernanda Montenegro e de Fernando Torres, dirigiu apenas quatro longas, mas já mostrou a que veio: dois deles a que assisti, adorei. O primeiro foi Redentor (2004), uma comédia ficcional carregada de crítica social estrelada pelos irretocáveis Pedro Cardoso e Miguel Falabella. O segundo é este que estreou ano passado, grande sucesso dos cinemas. Escolhendo muito bem escolhido seu protagonista, Cláudio Torres já entendeu que filme com Selton Mello tem tudo para dar certo. Ele é Pedro, homem que acreditava que tinha o casamento perfeito até sua esposa (Maria Luiza Mendonça) comunicar-lhe, serenamente, que o estava deixando para fugir com seu amante. Humilhado e deprimido, Pedro se isola e passa a viver de ressentimento até o dia em que uma nova vizinha bate à sua porta: é Amanda (Luana Piovani, geralmente chatinha, aqui parece ter sido feita para o papel), por quem ele logo se apaixona e é prontamente correspondido. Ela é a mulher perfeita: não é ciumenta, adora e entende de futebol e ainda faz todo o serviço doméstico de lingerie! Achou demais? Pois é claro que essa mulher não poderia existir, sendo fruto da imaginação de Pedro. Tendo recuperado sua auto-estima e felicidade, ele demora a atentar para a realidade, o que rende cenas hilárias como a do “casal” dançando e se esfregando numa boate cheia de gente – lá está Selton Mello, se agarrando ao ar e dando beijos de língua no vazio. A partir do momento que ele descobre a verdade, acho que o filme toma um rumo um pouco aborrecido, com um viés até piegas se comparado ao começo transgressor. Mas nada que desmereça uma indicação. Classificação: 14 anos.
Ilha do Medo / Intrigas do Estado / Tempos de Paz
10 de Agosto de 2010, por Carina Bortolini 0

Ilha do Medo
Tinha que ser você / A Onda / Xeque-Mate
13 de Julho de 2010, por Carina Bortolini 0

Tinha que ser você
TINHA QUE SER VOCÊ (Last Chance Harvey, Inglaterra/EUA)
Gênero: Romance / Drama / Comédia
Direção: Joel Hopkins
Tempo de duração: 92 min.
Ano: 2008
Chega a ser engraçada a classificação do gênero, mas é por aí mesmo: há romance, há drama, há humor. Kate (Emma Thompson) é uma inglesa de meia-idade que vive às voltas com sua mãe controladora e encontros arranjados (invariavelmente mal-sucedidos). Harvey (Dustin Hoffman), um decadente compositor de jingles publicitários nos EUA, vai a Londres para o casamento de sua única filha. O encontro dessas duas pessoas solitárias e com muitas decepções e frustrações na bagagem resultará numa sensível e engraçada história, com a qual o telespectador facilmente se identificará por sua verossimilhança. A leveza e a naturalidade das atuações dos consagrados Hoffman e Thompson conferem elegância e profundidade ao que poderia ser mais uma comédia romântica. Sem qualquer traço de pateticismo ou pieguice, o filme aborda de maneira genuína o que muitos dizem ser o mal do século: a solidão. Classificação: 12 anos.
A ONDA (Die Welle, Alemanha)
Gênero: Drama
Direção: Dennis Gansel
Tempo de duração: 107 min.
Ano: 2008
Em 1967, numa escola secundária americana, o professor William Ron Jones realizou um audacioso experimento em sua sala de aula. Com fins pedagógicos, ele simulou a criação de um regime totalitário fascista com seus alunos. As inesperadas consequências desse simulacro inspiraram o diretor Dennis Gansel, que situou na Alemanha hodierna o desdobramento de tais acontecimentos. Em uma aula sobre autocracia, o professor Rainer Wegner (Jürgen Vogel) se sente desafiado quando um aluno afirma não haver possibilidade de ressurgimento de um Estado nos moldes nazistas. Propondo uma experiência, a princípio, de uma semana, Wegner começa exigindo o uso de uniformes e tratamento formal quando os alunos se dirigissem à sua pessoa. Reforçando dia-a-dia nos estudantes o sentimento de pertencerem a um grupo, faz com que adorem um símbolo, uma saudação e um padrão de comportamento hierárquico. É assustador perceber como os alunos aderem à referida “onda”, atingindo rapidamente um fanatismo eufórico. Até o professor se rende, inconscientemente, às armadilhas do poder. O uso de um microcosmo para refletir como Hitler alcançou uma quase unanimidade entre os alemães, especialmente entre os jovens e foi a melhor forma de chamar a atenção para o perigo atual do totalitarismo. Chega a ser didático. Classificação: 14 anos.
XEQUE-MATE (Lucky Number Slevin, EUA)
Gênero: Ação / Suspense
Direção: Paul McGuigan
Tempo de duração: 109 min.
Ano: 2006
Quando este filme fora lançado, tive grande interesse em assistir a ele, mas não calhou à época. Tendo agora essa oportunidade, posso dizer que tal produção muito me empolgou! O elenco é estelar: Bruce Willis, Morgan Freeman, Josh Hartnett (colírio para os olhos femininos, muitos o comparam a Brad Pitt), Ben Kingsley e Lucy Liu. É aquele tipo de filme feito para entreter, e que cumpre muito bem seu papel. O jovem Slevin (Hartnett) é confundido com um amigo atolado em dívidas de jogo e acabará caindo nas mãos de dois chefões do crime nova-iorquino: os arquirrivais interpretados por Kingsley e Freeman. Para completar essa enrascada, Slevin se verá às voltas com uma charmosa vizinha aparvalhada (Liu) e um onipresente e misterioso homem (Willis). A ação competente e as bem engendradas reviravoltas do enredo fazem a diferença que destaca Xeque-Mate da maioria dos filmes do gênero. É diversão na certa. Classificação: 16 anos (cenas violentas).
Guerra ao Terror / Alice no País das Maravilhas
12 de Maio de 2010, por Carina Bortolini 0

Guerra ao Terror
GUERRA AO TERROR (The Hurt Locker, EUA)
Gênero: Guerra / Drama
Direção: Kathryn Bigelow
Tempo de duração: 131 min.
Ano: 2009
Mulheres dirigindo filmes não é algo comum. Mulheres dirigindo filmes de ação ou guerra então... Kathryn Bigelow ganhou notoriedade com Caçadores de Emoção (Point Break, 1991), thriller de ação que revelou Keanu Reeves e contava ainda com Patrick Swayze. Mas sua ousadia foi ainda maior em Guerra ao Terror. O filme mostra a rotina (?) nada estável do esquadrão anti-bombas do exército americano no Iraque. Após a morte do líder da equipe numa tentativa frustada de desativar uma bomba, o sargento William James (Jeremy Renner, indicado ao Oscar de Melhor Ator) assume seu posto. A personalidade egoística, temerária e camicase de Renner assusta e irrita seus companheiros. O perigo é iminente e constante, e a morte está à espreita. Como lidar com tamanho risco e ameaça diariamente? Uns surtam, outros assumem a atitude suicida de Renner. E quando este é diretamente indagado acerca de suas motivações, a resposta fica no ar. Bigelow foi brilhante pela técnica irrepreensível e justamente por conseguir manter o controle e não exagerar, não revelar demais. Resultado: foi para casa como a primeira mulher a ganhar um Oscar de Melhor Direção e ainda deixou o ex-marido (James Cameron) com as mãos abanando. Filme tenso, intenso, que testa os nervos e o coração do espectador. Classificação: 14 anos.
ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS (Alice In Wonderland, EUA)
Gênero: Aventura
Direção: Tim Burton
Tempo de duração: 111 min.
Ano: 2010
Só agora me dei conta de que este é o primeiro filme de Tim Burton que indico nesta coluna. Uma enorme injustiça. Do melancólico Edward Mãos de Tesoura (Edward Scissorhands, 1990) ao anárquico e hilariante Marte Ataca! (Mars Attacs!, 1996), do bizarro A Fantástica Fábrica de Chocolate (Charlie and The Chocolate Factory, 2005) à lírica animação A Noiva Cadáver (Corpse Bride, 2005), Tim Burton garantiu seu lugar entre os mais respeitados diretores contemporâneos. Seu estilo é inconfundível e inimitável. A trilha sonora de cantos sombrios e os personagens góticos e lânguidos estão sempre presentes. Há também, invariavelmente, um humor nefasto e a presença de sua esposa Helena Bonham Carter e do astro cool Johnny Depp são quase imprescindíveis. O diretor declarou seu fascínio pela obra de Lewis Carroll (autor de Alice no País das Maravilhas e Alice Através do Espelho) e penso que não haveria ninguém mais apropriado para tal adaptação. O mote psicodélico dos livros foi amplamente explorado por Burton (o que mais se poderia esperar dele, afinal?). Cores alucinantes e seres estranhos se misturam à beleza pálida de Alice (a estreante Mia Wasikovska), que no filme conta com 19 anos (e não com 10, como na literatura). Nesta versão do diretor, a jovem Alice, literalmente fugindo de um noivado arranjado, cai num buraco e vai parar no Underworld (mundo subterrâneo). A crítica não poupou Burton, alegando que a aventura perdera sua aura de mistério e que a protagonista fora completamente descaracterizada. É verdade que ver a doce Alice enfiada numa armadura de guerreira e o originalmente caótico Chapeleiro Maluco (Depp) derretido de amores não é lá muito palatável. Mas o filme tem seu mérito, e atinge o ápice nas cenas da excêntrica Rainha Vermelha (Rainha de Copas, no original), interpretada por Helena Bonham Carter. Sua tirania burlesca a torna bem mais interessante que sua irmã boazinha, a Rainha Branca (Anne Hathaway) – aliás, como toda boa vilã o faz. Desta vez, não foi Depp quem roubou a cena. Classificação: 10 anos.