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No vale das sombras / A conquista da honra

05 de Julho de 2008, por Carina Bortolini

Coincidentemente, os três lançamentos que trago nesta edição giram em torno da guerra, seja ela real ou fictícia. Interessante para vermos diferentes pontos de vista sobre um mesmo tema, todos com excelentes direções. Confiram!

NO VALE DAS SOMBRAS (In the Valley of Elah, EUA)
Gênero: Drama
Direção: Paul Haggis
Ano: 2007


Neste filme soberbo, Tommy Lee Jones é Hank, um militar aposentado que procura por seu único filho: o rapaz teria voltado da guerra do Iraque, mas está prestes a ser considerado desertor pelo exército por não haver se reapresentado ao pelotão após uma suposta noite de farra. Inconformado com o sumiço do filho e com o fato do mesmo não haver sequer ligado para seus pais após seu retorno da guerra, Hank começa a investigar o que teria acontecido. As explicações que lhe são dadas pelo comando militar não o convencem por não coincidirem com o temperamento e caráter do filho que conhece, o que o leva a procurar a ajuda da detetive de polícia Emily (Charlize Theron, em mais uma convincente demonstração de que tem muito mais que beleza). À medida que o filme deslancha o espectador é levado a imaginar teorias conspiratórias e a conjeturar quem teria dado um fim no garoto, mas é aí que mora o grande trunfo de Paul Haggis: o que de fato acontecera é muito mais terrível do que qualquer suspeita do pai, justamente por não haver um culpado palpável. Susan Sarandon emociona ao interpretar a mãe arrasada pela tragédia em sua família. Tommy Lee Jones recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator por tal atuação, e injustamente não a levou. Ele deixa transparecer a essência do filme nos olhos de seu personagem: a perplexidade diante da guerra, especialmente essa guerra que começou sem um justo motivo e se estende sem ter alcançado sequer um resultado louvável. É tocante a cena em que Hank se dá conta de que poderia, talvez, ter evitado o infortúnio ocorrido com seu filho, ao se lembrar de um telefonema que esse lhe fizera. Esta é uma história de como a guerra muda tristemente a natureza e a índole daqueles que se envolvem nela, tornando-os irreconhecíveis. Devastador. Classificação: 14 anos.

A CONQUISTA DA HONRA (Flags of Our Fathers, EUA)
Gênero: Drama
Direção: Clint Eastwood
Ano: 2006


Só agora vim a assistir ao ponto de vista americano da batalha de Iwo Jima, a outra parte da empreitada de Eastwood que resultou também no filme Cartas de Iwo Jima (já comentado nesta coluna) – o ponto de vista japonês. É verdade que Cartas seja superior a Conquista, o que de forma nenhuma quer dizer que este filme não seja ótimo. A sangrenta batalha pela posse da ilha de Iwo Jima, durante a Segunda Guerra Mundial, gerou uma imagem-símbolo da guerra: cinco fuzileiros e um integrante do corpo médico da Marinha erguendo o mastro da bandeira dos Estados Unidos no monte Suribachi. A célebre foto, tirada em fevereiro de 1945, funcionou então como uma potente arma de propaganda de guerra, usada pelo governo americano para angariar fundos para o esforço de guerra. Dos seis protagonistas da mesma, apenas três sobreviveram à batalha e foram trazidos de volta para iniciar uma campanha de arrecadação para os cofres da Defesa. Essa história real conta como John Bradley (Ryan Phillippe), Ira Hayes (Adam Beach) e Rene Gagnon (Jessé Bradford), os tais heróis americanos, encararam de diferentes formas a bazófia que se formou em torno deles. A culpa, a depressão e o deslumbramento são alguns dos sentimentos vividos pelos mesmos, atônitos com o que a guerra fez deles e com a transformação da mesma, diante de seus olhos, em tudo o que ela não pode ser: um espetáculo. Classificação: 16 anos.

EU SOU A LENDA (I Am Legend, EUA)
Gênero: Ficção Científica
Direção: Francis Lawrence
Ano: 2007


Refilmagem do clássico da ficção científica A Última Esperança da Terra, de 1971, esta primorosa produção traz Will Smith no papel do cientista e militar Robert Neville, um sobrevivente de uma epidemia deflagrada por um vírus modificado para o tratamento do câncer. Com efeitos especiais fantásticos, mas que não suplantam o enredo nem a interpretação de Smith, o filme surpreende ao mostrar uma Nova York completamente devastada e abandonada, após a dizimação de sua população: carros enferrujando no meio das ruas cobertas de mato, antílopes correndo livremente no meio deles e... dentro dos prédios e lojas, escondidos da luz solar, seres humanos metamorfoseados em criaturas violentas e assustadoras. Durante o dia, quando não há perigo, Robert sai com sua inseparável cadela Sam para caçar antílopes, pegar filmes numa locadora e, é claro, tentar encontrar algum outro sobrevivente, imune ao vírus como ele. Já à noite, quando os mutantes tomam as ruas, ele se esconde numa casa que é uma fortaleza e, em seu laboratório, tenta descobrir uma vacina para tal infecção. Destaque para Alice Braga, a maior revelação brasileira no cinema americano nos últimos tempos: ela é Anna, outra sobrevivente da epidemia que salvará a vida de Robert na segunda metade do filme e será a chave do desfecho do mesmo. Para quem gosta de ação com enredo, Smith mostra mais uma vez por que é o ator mais bem pago da atualidade. Classificação: 12 anos.

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