Voltar a todos os posts

O curioso caso de Benjamin Button / O Leitor

15 de Marco de 2009, por Carina Bortolini

Tendo passado o carnaval em Belo Horizonte, aproveitei para assistir a três dos indicados ao Oscar de Melhor Filme. A cerimônia se realizou no dia 22, e teve como grande vencedor Quem Quer Ser Um Milionário?, produção anglo-indiana. Não consegui assistir nem a esse nem a Frost-Nixon, pois não haviam estreado. Minha impressão dos demais – ótima, por sinal - está exposta a seguir.


O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON (The Curious Case of Benjamin Button, EUA)
Gênero: Drama
Direção: David Fincher
Tempo de duração: 166 min.
Ano: 2008


Chega a ser inacreditável que um só homem possa ser excelente ator, ótimo pai, marido dedicado e, de quebra, o homem mais bonito do mundo. Pois acreditem, esse homem existe e atende pelo nome de Brad Pitt. E sua consagração profissional vem com o papel do título, pelo qual concorreu ao Oscar de Melhor Ator. Em 1918, ao fim da Primeira Guerra Mundial, nasce Benjamin Button (Pitt). Sua mãe morre no parto e seu pai, assombrado com seu aspecto medonho, o abandona na porta de um asilo. Na verdade, não se tratava de nenhum monstro, mas sim, de um bebê com a aparência e as enfermidades de um velho de oitenta anos e que, com o passar dos anos, rejuvenesce. É então adotado pela dona do tal asilo (Taraji P. Henson, indicada a Melhor Atriz Coadjuvante), mulher temente a Deus que não questiona a situação atípica de Benjamin. Ainda criança, ele conhece a mulher que amará por toda a vida, Daisy (Cate Blanchett, bela como nunca), com quem terá encontros e desencontros que percorrerão toda a (longa) história. Numa espécie de saga solitária, Benjamin percorre o mundo a bordo de um navio rebocador, se envolve com a esposa (Tilda Swinton) de um espião na gélida Rússia, vê seus amigos morrerem na Segunda Guerra e, finalmente, consegue viver sua história de amor com Daisy. Numa belíssima metáfora sobre a fugacidade da vida e a inexorabilidade do tempo, Benjamin e Daisy se encontram na melhor forma de ambos, belos e jovens. Mas é claro que esta felicidade plena não durará para sempre. É comovente assistir ao rejuvenescimento de Benjamin até a infância e sua consequente desmemoria, bem como ao envelhecimento de Daisy e sua angústia em relação ao destino de seu amado. David Fincher, diretor dos excelentes Seven, Clube da Luta e Zodíaco, distribui doses harmônicas de humor, drama, fantasia e romance em quase três horas de filme, baseado no conto homônimo de F. Scott Fitzgerald. Atenção para a história relatada pela decrépita Daisy, sobre o relógio que andava para trás instalado numa estação de trem da cidade no ano em que Benjamin nasceu – uma demonstração do virtuosismo de Fincher, merecidamente indicado a Melhor Diretor. Ganhou 3 Oscars, nas categorias de Melhores Efeitos Especiais, Direção de Arte e Maquiagem (realmente impressionante!). Foi ainda indicado a Melhor Roteiro Adaptado, Fotografia, Figurino, Edição, Trilha Sonora e Som. Classificação: 12 anos.



O LEITOR (The Reader, EUA/Alemanha)
Gênero: Drama
Direção: Stephen Daldry
Tempo de duração: 124 min.
Ano: 2008


Não é a primeira vez que elogio o extraordinário talento de Kate Winslet nesta coluna. Mas viram só como eu tinha razão? A moça finalmente arrebatou o Oscar de Melhor Atriz, após 6 indicações. Nesta belíssima e intimista história, Michael Berg (interpretado pelo ótimo David Kross na adolescência e por Ralph Fiennes na maturidade) é um garoto de quinze anos que se envolve com Hanna Schmitz (Winslet) na Alemanha pós-2ª Guerra Mundial. Ela, uma mulher abrutalhada com o dobro da idade de Michael. O tórrido caso tem uma poética peculiaridade: antes do sexo, Hanna pede que o garoto leia para ela. Totalmente cativo e dominado por Hanna, Michael fica aterrado quando a mesma desaparece, do dia para a noite. Anos mais tarde, quando o rapaz já é um estudante de direito, ele se surpreende ao assistir a um julgamento em que sua antiga amante é a ré. O julgamento diz respeito aos crimes de guerra cometidos pelos nazistas, e Hanna é acusada por, na função de guarda de um campo de concentração, ter permitido que 300 judias morressem queimadas, dentre outras atrocidades. O horror pelo qual Michael é tomado se mistura a outros sentimentos mais complexos, como a culpa, a cumplicidade, a vergonha. A todos esses sentimentos, soma-se um dilema moral, vez que o rapaz conhece um segredo da ré que mudará o curso do julgamento. O filme acende questionamentos polêmicos ligados ao holocausto, mas que podem gerar reflexões muito hodiernas. Quanto pode ser exigido de uma pessoa que age em obediência à ordem vigente? Quem agiria diferente estando no mesmo contexto? Até que ponto somos inocentes quando testemunhamos uma barbaridade e não fazemos nada a respeito? Até que ponto condenamos um ato quando ele é praticado por alguém que amamos? Kate Winslet colabora esplendidamente para que as respostas a essas indagações se tornem ainda mais obscuras. Faço apenas uma ressalva em relação ao final, prolongado e explicativo demais. Recebeu ainda indicações a Melhor Diretor, Roteiro Adaptado e Fotografia. Classificação: 16 anos.



MILK – A VOZ DA IGUALDADE (Milk/EUA)
Gênero: Drama
Direção: Gus Van Sant
Tempo de duração: 128 min.
Ano: 2008


Desde que assisti a Uma Lição de Amor, Sean Penn é um dos meus atores favoritos. No papel do primeiro homossexual assumido a ser eleito para um cargo político nos Estados Unidos, ele levou sua segunda estatueta de Melhor Ator para casa. No início dos anos 70, Harvey Milk (Penn) decide morar com seu namorado Scott (o lindíssimo James Franco) em San Francisco, onde abriram uma pequena loja de revelação fotográfica. O local logo se torna ponto de encontro de ativistas dos direitos dos homossexuais, e Milk se torna um símbolo desse ativismo. Tendo persistido até ser eleito, o mesmo desperta a ira de diversos setores da sociedade, principalmente a direita católica. Mas quem coloca fim à vida de Milk com uma saraivada de tiros antes que ele completasse 50 anos fora um colega de cargo frustrado com sua carreira política e possivelmente recalcado em relação a sua sexualidade. Atenção para a atuação soberba de Josh Brolin (concorreu a Melhor Ator Coadjuvante), no papel do malfadado assassino. Levou ainda o Oscar de Melhor Roteiro Original, tendo sido indicado também nas categorias Melhor Diretor, Edição, Figurino e Trilha Sonora. Classificação: 16 anos.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário