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Ouro, prata e bronze

31 de Julho de 2024, por Regina Coelho

Evento multiesportivo programado para acontecer de 26 de julho a 11 de agosto deste ano, na França, os Jogos da XXXIII Olimpíada despertam a atenção mundial para muito além dos segmentos envolvidos diretamente no entorno das atividades voltadas para a sua realização. Entre alguns deles, os comitês olímpicos, patrocinadores, as diversas mídias e, claro, as grandes estrelas do espetáculo. Impressionam os números: de atletas, mais de 10 mil; de países, mais de 200. Considerando os competidores, um novo dado de relevância surge com a igualdade numérica entre os gêneros. Do outro lado, como assistência a esse gigantesco acontecimento, a previsão do Comitê Olímpico Internacional é a de que 1,5 bilhão de pessoas acompanhem as Olimpíadas em todo o planeta.

Nesse contexto, com centenas de milhões de olhos e ouvidos voltados para os cenários franceses das disputas, o que dizer sobre esse contingente humano de esportistas em busca de um grande feito?

“Esforço físico, dor e repetição; dedicação extrema, pressão psicológica, frustração. O cotidiano de um atleta de alto rendimento está longe de se resumir às glórias do lugar mais alto do pódio. O caminho entre a descoberta e o prazer da prática esportiva e a conquista de medalhas e troféus é para poucos e exige uma rotina exaustiva de treinamentos, lesões e tratamentos que nem sempre garantem recompensa para quem nele se aventura”, expõe o jornalista Adriano de Lavor em artigo de agosto de 2021 para a revista Radis (FioCruz/ Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca - ENSP) parte dos obstáculos enfrentados por quem almeja o topo ao longo da carreira no esporte.

A judoca Mayra Aguiar é uma dessas atletas. Ao conquistar em 2021 (no Japão) seu terceiro bronze olímpico seguido em uma modalidade individual, a primeira brasileira a alcançar essa façanha desabafou: “Foram difíceis os últimos tempos, bem difíceis. Tem que superar, superar de novo e de novo. Não aguentava mais fazer cirurgia. (foram sete), ainda mais no momento que vivemos (da pandemia). Tive medo, angústia.”

Falar em angústia, ainda que potencializada pelos anos pandêmicos por que passamos, como no caso de Mayra, faz lembrar Simone Biles, a ginasta mais condecorada de todos os tempos. Corajosa, a norte-americana desistiu de disputar a final individual geral da ginástica artística nas Olimpíadas de Tóquio para preservar sua saúde mental. “Preciso me concentrar no meu bem-estar, há vida além da ginástica. Infelizmente aconteceu nesse palco”, esclareceu ela à época. Acima de tudo, humana e, às vezes, vulnerável, por que não? E como todos nós.

Hoje, com os Jogos Olímpicos de Paris em evidência total, o carioca Marcus D’Almeida, número 1 do mundo no tiro com arco, afirma sentir uma alta pressão sobre sua performance e diz não se incomodar com essa situação. “Ninguém chega a número 1 do mundo sem gostar de pressão. Eu procurei isso e adoro ser a atração do show”, admite, sem rodeios.

Com tantas histórias de gente que se entrega de corpo e alma a um ideal de vitórias e títulos de reconhecida importância, desafiando limites, buscando recordes, submetendo-se a uma preparação extenuante e renunciando a uma rotina dita “normal”, fico só pensando no que se passa na cabecinha da Rayssa Leal, que parece brincar quando compete. Já famosa na internet ainda aos 7 anos após publicar um vídeo realizando manobras de skate com a fantasia da fada Sininho, aos 13, a menina encantou o mundo e se tornou a medalhista brasileira mais nova na trajetória dos Jogos Olímpicos. Não devem lhe faltar a leveza e a alegria juvenis, atributos que Rayssa mantém, mesmo agora, com a responsabilidade de uma história esportiva vitoriosa em curso e, para tanto, contando com o suporte da terapia como elemento de equilíbrio a uma vida nada comum.

Caminhada árdua a desses atletas de ponta, tantas vezes feita de dores, fracassos e renúncias e em que ser um atleta olímpico é a grande aspiração. Chegar mais longe e ser ouro, prata ou bronze é a consagração eterna.

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