De olho na cidade

Água tratada e estrada asfaltada: fatos marcantes para Resende Costa acontecidos na década de 1980

17 de Marco de 2021, por Edésio Lara 0

Faixa em homenagem à família Penido estendida na praça Cônego Cardoso que recebeu centenas de pessoas para a inauguração da rodovia (foto arquivo Toninho Melo)

No início da década de 1960, não tínhamos água tratada nem energia elétrica de qualidade em Resende Costa. Contar com a “luz da Azevedo”,que mal dava conta de fazer funcionar rádios e acender lâmpadas em certos momentos do dia, não era para todos. Tudo começou a melhorar quando a antiga distribuidora de energia deu lugar à Cemig, em 1962. Somente 20 anos mais tarde é que a questão do abastecimento de água começou a melhorar com a instalação dos serviços da Copasa na cidade, três anos depois de contrato assinado entre a Prefeitura Municipal e a empresa, o que ocorreu em 1977, quando Ocacyr Alves de Andrade (Cici da Candinha) tomou posse como prefeito municipal.

Conquistar obra de envergadura como essa, para uma cidade tão pequena, foi uma tarefa que exigiu habilidade dos eleitos para ocupar cargos no Executivo e no Legislativo municipais a partir da data citada. Empenharam-se, além do prefeito, todos os vereadores, com destaque para Antônio Pedro da Silva Melo (Toninho Melo, presidente da Câmara Municipal) e José Carlos de Souza Vale (Carlos da Santa). Mas,como não podia ser diferente, o estimado Padre Nelson Rodrigues Ferreira também entrou em cena. Esse quarteto foi atrás daqueles que poderiam abraçar a ideia de resolver o problema do abastecimento de água na cidade, abrir nova estrada e asfaltá-la em direção a São João del-Rei: os irmãos Penido, donos da Construtora Serveng-Civilsan, políticos influentes da família de Bonifácio Andrada, da cidade de Barbacena, e Francelino Pereira, governador do estado. 

Para a questão da água tratada, um fator contribuiu para que o projeto desse certo. O presidente da Copasa naquela época era William Sebastião Penido Vale, primo do Carlos da Santa.Sendo membro da família Penido, ele concordou, prontamente, em receber os três políticos de Resende Costa na sede da Copasa, localizada na Praça da Liberdade em Belo Horizonte, sem que soubesse o motivo da visita. No dia combinado, os resende-costenses fizeram uma jogada de mestre: passaram pela residência do Sr. Elviro – tio do Carlos da Santa e pai do presidente da Copasa – localizada no bairro Santo Antônio, e pediram que ele os acompanhasse.No belo prédio da estatal, quando William Penido se deparou com o grupo, foi logo dizendo: “Uai, pai, o que o senhor está fazendo aqui?”. O pai respondeu: “Meu sobrinho passou lá em casa e me convidou”.  Teve início, naquele momento, o processo de implantação dos serviços de captação, tratamento e distribuição de água em Resende Costa.  

Paralelamente à questão da implantação dos serviços da Copasa, havia outra demanda do grupo: a abertura e o asfaltamento de uma nova estrada. A via que usávamos continuamente é a que sai da Rua São João del-Rei, no Pau de Canela, passa pela cidade de Coronel Xavier Chaves até chegar ao trevo e tomar destino para centros maiores, como Belo Horizonte, por exemplo. Não era uma viagem segura e confortável, visto que, durante o verão e com chuvas intensas, era difícil vencer aclives acentuados com os ônibus e automóveis precários daquela época.Por vezes, amarravam-se correntes nos pneus dos veículos na tentativa de superar os deslises deles quando em contato com o solo barrento e escorregadio. Isso nem sempre dava certo. Era preciso lançar mão das famosas baldeações ou desistir da viagem.

Muitos vão se lembrar da famosa cava amarela que se transformava em barreira quase intransponível quando chovia muito. Todo ano, gastava-se dinheiro para jogar cascalho, consertar mata-burros, refazer pontes de madeira e dar uma “patrolada” na estrada de chão. Mais ainda, quando não era chuva, o desgaste vinha com o excesso de poeira em tempos de seca.Para termos estrada asfaltada, os Penido foram decisivos quando abordaram o governador Francelino Pereira, que autorizou a realização dos serviços. Assim sendo, em 20 de março de 1981, os jornais da região noticiaram a inauguração dos 14 km da nova estrada que ligava nossa Resende Costa à MG383.Ao cortar a fita de inauguração da obra, Francelino Pereira e Ocacyr Alves de Andrade sinalizaram a chegada de novos tempos para a cidade.

Estrada asfaltada e o desenvolvimento da cidade

18 de Fevereiro de 2021, por Edésio Lara 0

Entrada da cidade com a avenida Alfredo Penido, a conhecida Avenida do Artesanato, asfaltada, no início da década de 1980 (Foto: arquivo Toninho Melo)

Em 1981, Resende Costa estava em festa, não sem razão. Enfim, uma nova estrada asfaltada havia sido construída para benefício dos que sofriam com a precária estrada de terra que nos ligava a Coronel Xavier Chaves e São João del-Rei. As más condições da estrada, até aquele ano, eram como uma barreira para o pleno desenvolvimento do nosso município. A estrada asfaltada tornou-se, portanto, uma necessidade. Para resolver o problema, sentaram-se à mesa o prefeito municipal, o pároco, o presidente da Câmara Municipal e, posteriormente, o governador do estado e os irmãos da família Penido, daqui de Resende Costa, proprietários da empresa de construção civil Serveng Civilsan. Inaugurada a estrada, o ir e vir se tornou mais seguro, rápido e confortável para os viajantes. Aquela foi uma obra que não contrariou nem foi tida como desnecessária por ninguém. Não houve protestos, só elogios.

Bem construída, com pista mais larga e com traçado bom, a estrada fez com que o número de visitantes crescesse. E foi nessa época que os olhares se voltaram para uma atividade que envolvia muitos resende-costenses: o artesanato em tear. Os trabalhos bem feitos começaram a ser mais bem apreciados pelos que aqui vinham a passeio ou a negócio. E, aos poucos, muitas pessoas começaram a se interessar por aprender a tecer colchas, jogos americanos, caminhos de mesa, tapetes e toalhinhas, principalmente. A arte de tecer foi sendo passada de pais para filhos, ou mesmo entre amigos ou de uma vizinha para outra, de forma a atender a demanda crescente pelo artesanato local. Os relatos dos atuais artesãos comprovam isso. Por isso mesmo, muitas casas, além do mobiliário básico de uma moradia, passaram a ter pelo menos um tear. É certo que em muitas delas há dois ou mais teares que servem aos seus moradores. Aquela atividade pequena, que envolvia poucas pessoas, tornou-se grande tanto em volume de produtos artesanais quanto em pessoas envolvidas na sua produção e comercialização.

Ao longo desses anos, nós nos acostumamos a ver pessoas sentadas do lado de fora de suas casas, conversando animadamente e enrolando novelos de retalhos. Enquanto isso, outros estão nos seus teares, tecendo ou dando o acabamento final aos produtos antes de serem colocados à venda. Por fim, vemos pessoas de todas as idades carregando o resultado do trabalho para entregá-lo a lojistas ou a viajantes que aqui vêm em busca desses produtos artesanais para vendê-los noutros locais. E há ainda quem se dedica em enviá-los pelos Correios a outras cidades do Brasil, e até do exterior, devido às vendas feitas pela internet.

Muita coisa mudou nesses quarenta anos. A cidade cresceu, está diferente daquela da década de 1980. A pequena Resende Costa, cujos limites não ultrapassavam o campo de futebol dos Expedicionários e dos cruzeiros do Tijuco e do Pau de Canela, no fim da Rua São João del-Rei, ficou para trás. Surgiram novos bairros com construções que trazem a assinatura de arquitetos e engenheiros civis, o que era raro. Ampliaram-se, também, em virtude desse crescimento, serviços de saúde, restaurantes, pousadas, entre tantas outras atividades comerciais. A estrada asfaltada e a melhoria do poder aquisitivo da população refletiram-se até na qualidade da educação de estudantes universitários, que saem todos os dias para estudar na UFSJ ou no Uniptan, em São João del-Rei.

É comum ouvirmos dizer que em Resende Costa só não trabalha quem não quer. E isso é bem verdade. Todos trabalham. É comum ouvirmos ruídos vindos dos teares ainda de madrugada. Uns precisam produzir muito para atender à demanda, outros é porque têm, além da atividade com o artesanato, que assumir funções em demais serviços. Não é à toa que há pessoas que possuem até três frentes de trabalho, incluindo, evidentemente, a do artesanato. Enfim, em Resende Costa, as pessoas trabalham muito.

A demolição do casarão e a memória perdida

20 de Janeiro de 2021, por Edésio Lara 0

Antigo sobrado sendo demolido na rua Gonçalves Pinto, centro de Resende Costa (foto André Eustáquio)

No primeiro domingo deste ano, fui me encontrar com a Filomena. Ela completará 91 anos de idade no próximo dia 5 de fevereiro. Cheguei no horário marcado. Ela já me aguardava do lado de fora da casa, com um sorriso próprio dos que adoram a vida. Não por acaso, ela já planeja uma grande festa para o dia 5 de fevereiro de 2030, para celebrar seu aniversário de 100 anos de idade. Viúva e mãe de seis filhos, ela nasceu em Resende Costa. Filomena Andrade Lourdes Resende, porém, anda um tanto inquieta devido à pandemia do coronavírus que a impede de andar pela cidade, visitar amigos, ir à missa e cantar no coral do qual participa há mais de 70 anos.

Filha de José Luís de Lourdes (1882) – o Zequinha de Lourdes –, natural de Carmo da Mata (MG), e de Isbela Andrade Lourdes (1896), do Morro do Ferro, próximo de Oliveira (MG), teve oito irmãos, sendo seis mulheres do primeiro casamento do pai e dois homens do segundo casamento. Empreendedor, pelo que parece – ele era celeiro, mestre de obras e proprietário de uma jardineira que ligava nossa cidade a São João del-Rei –, construiu na cidade uma casa para cada uma das seis filhas do primeiro casamento. Entre elas, estão a da Pensão do Boqueirão, como é conhecida, e a do senhor Barbosinha, o farmacêutico. Ambas as casas localizadas na rua principal da cidade, a Gonçalves Pinto.

O imóvel que construiu para a família na década de 1920, localizada na Rua Gonçalves Pinto, número 114, está sendo demolido. Nessa casa, Filomena morou até os quinze anos de idade. Em 1945, seu pai a vendeu para o senhor Sylla Reis e quem nasceu nela foi o padre Fábio Rômulo Reis. Daquele tempo ela se recorda dos bons vizinhos: “Dona Maria Joaquina, biscoiteira, dos meus avós Quinzinho e Nhazinha e da enorme jabuticabeira que tinha no quintal.” Na fonte da chácara ela buscava água para beber, enquanto seus dois irmãos, João Batista e José Maria, ajudavam a mãe a cuidar das galinhas. Outra boa lembrança são os jogos de vôlei nas lajes de cima, quando os meninos ficavam à distância, deitados no chão apreciando-as, e ao jogo também, prontos para buscar a bola quando esta descia laje abaixo, principalmente em direção ao Buraco do Inferno.

Outra lembrança são as cenas das boiadas que passavam pela rua, sendo conduzidas em direção a César de Pina para, de lá, seguirem de trem de ferro em direção aos matadouros dos centros de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Os últimos moradores da casa de nº 114, na rua Gonçalves Pinto, centro de Resende Costa, foram o casal Aires Reis (Neném do bar) e Altair e seus filhos. Abandonada há alguns anos, os novos proprietários solicitaram autorização para promover a sua demolição. Isso agradou alguns e desagradou a outros. Os descontentes acham que o imóvel deveria ter sido tombado pelo Conselho Municipal de Patrimônio e Cultura. Mas isso não foi possível. Outros não veem motivo para mantê-lo de pé, ante o estado precário de conservação em que se encontra.

Eu conheci bem esse casarão de cinco janelas e cinco portas de madeira na parte de baixo, onde funcionava a selaria. Quando menino, por vezes lá me encontrei com o Nenzito para formarmos um duo – eu na requinta, ele na clarineta – e tocar parte do repertório da Banda de Música Santa Cecília, da qual participávamos, ou os boleros, polcas e valsas como “Branca”, “Saudade de Matão” ou “Saudade de Ouro Preto”, de que gostávamos muito.

De décadas atrás, do lindo casario da Rua Gonçalves Pinto – que chamamos de avenida– não temos mais nada. Os que querem saber como era a rua e suas as casas devem recorrer aos relatos dos mais velhos ou às fotografias. Os mais velhos, também, da forma como recordou Filomena, lembram-se, saudosos, do footing – o andar para lá e para cá dos jovens –, momento precioso para o flerte. Sábados e domingos à noite, enquanto os rapazes caminhavam em uma direção, podiam cortejar as moças que vinham no sentido contrário.

Infelizmente, o casario que mereceria tombamento foi sendo substituído pelos atuais imóveis. O que havia de harmonia nas construções, com seus telhados característicos de quatro águas, janelas e portas de madeira, se foi. As ruas, avenidas e praças lindamente calçadas de paralelepípedos estão, a contragosto, sendo descalçadas ou cobertas por massa asfáltica. Quanto aos imóveis, algumas perdas são irreversíveis, como é o caso do casarão da Rua Gonçalves Pinto, 114.

As mulheres e as eleições municipais de 2020 em Resende Costa

13 de Dezembro de 2020, por Edésio Lara 0

Itane Batista, do PDT, foi a candidata mais votada, porém, não conseguiu se eleger (foto redes sociais - reprodução)

A primeira Câmara de Vereadores de Resende Costa tomou posse no ano de 1912, quando o então distrito da Lage se emancipou de Tiradentes. Tomaram posse naquela época e sob a presidência do Coronel Francisco Mendes Rezende homens das famílias Gonçalves Pinto, Souza Santos, Rezende Mendonça, Coelho, Oliveira Braga e Reis. O quadro de fotografias exposto na sala do plenário da Câmara Municipal nos apresenta homens de cor branca, todos usando bigode, cabelos bem cortados e vestidos de alinhados ternos e gravatas.

A ausência quase absoluta de negros e a de mulheres no Legislativo Municipal é uma triste realidade durante 108 anos de sua existência. E se nos colocarmos diante do painel com fotografias de prefeitos e vice-prefeitos afixado na Biblioteca Municipal, não vemos um negro. Nem uma mulher.

Ao longo do tempo, dos 18 prefeitos que teve a cidade, somente três foram eleitos mais de uma vez. Gilberto José Pinto assumiu o Poder Executivo por três vezes. Depois, Ocacyr Alves de Andrade e Aurélio Suenes de Resende emplacaram dois mandatos cada um. Entre eles há ainda um fato: dois irmãos, de partidos diferentes, tornaram-se prefeitos municipais: Gilberto José Pinto (PMDB e, posteriormente, pelo PSDB) e Luiz Antônio Pinto (PT). Foi durante o mandato deles e, antes, no mandato do então prefeito Adenor de Assis Coelho, entre 1963 e 1967, que a cidade viu mulheres sendo eleitas vereadoras.

Em 21 de fevereiro de 1963, tomou posse, como primeira vereadora eleita no município de Resende Costa, Maria Raimunda da Conceição, a dona Maroca, do distrito de Jacarandira. Dona Maroca, porém, cumpriu somente um ano do seu mandato, renunciando no fim do primeiro ano. Em 1983, Maria Luíza Cesconi foi eleita vereadora pelo PMDB e ocupou uma das cadeiras na Câmara de Resende Costa, presidindo-a entre 1985 e 1986, quando Gilberto Pinto se elegeu pela primeira vez. Posteriormente, ao vencer as eleições em 1992, Luiz Antônio Pinto viu sua colega de partido, Cidinha do Posto (Geralda Aparecida R. Sousa), ser eleita e tornar-se a terceira vereadora do município. Por fim, e também pelo Partido dos Trabalhadores, Maria das Dores Silva, a Maria do Pedro, foi a quarta representante do sexo feminino na Câmara de vereadores, por duas vezes, entre os anos de 2001 e 2008.

Atualmente, quando um partido político busca entre seus filiados os interessados em participar do pleito destinado à escolha de vereadores, é preciso que 30% das vagas sejam do sexo feminino. Portanto, não é possível uma legenda lançar candidatos sem que seja cumprida essa regra. Trata-se de uma estratégia adotada para fomentar a presença feminina na política e estimular a participação das mulheres nas eleições deste ano. Nas eleições 2020 em Resende Costa, tivemos 71 candidatos a vereador, sendo 23 mulheres, isto é, 32,85% do total. Juntas, obtiveram 1.120 votos. Já os 47 homens somaram juntos 5.133 votos, 78,19% dos votos válidos. Novamente não elegemos uma mulher.  

A mais bem votada entre elas, com 182 fotos, foi Itane Trindade de Jesus. Filha da Regina da Lilica e artesã, ela completou 21 anos no último dia 4 de setembro. Itane mora no centro da cidade e estudou nas escolas Conjurados Resende Costa e no Assis Resende. Atualmente, faz curso técnico de Controle Ambiental no IFMG, em São João del-Rei. Filiada ao PDT, Itane, orgulhosamente, apresenta-se como líder do Movimento de Empoderamento Feminista Negro – Pretas Presentes. Quando lhe perguntei o que a levou a se candidatar a vereadora nas últimas eleições, ela respondeu: “A falta de representantes mulheres pretas no Poder Legislativo e no Executivo e, também, a insatisfação com o nosso sistema fizeram-me pensar que a diferença e a representatividade partiriam de mim.”

Itane, terminado o pleito, disse ter sido “bem recebida por todos durante a campanha eleitoral. Achei interessante, pois, se fizermos comparações por causa do sexo, eu fiquei como 2ª suplente, poderia ter chegado a uma das cadeiras. Adorei participar da campanha, conheci pessoas fantásticas, recebi apoio de mulheres que não imaginava; fica aqui minha gratidão por vocês.”

Nossas cidades vizinhas, Coronel Xavier Chaves, Ritápolis e Desterro de Entre Rios elegeram três mulheres, cada, nas eleições do último dia 15 de novembro. Duas representantes do sexo feminino vão assumir seus mandatos em Lagoa Dourada e São Tiago. Já os eleitores de Entre Rios de Minas e da nossa Resende Costa não conseguiram eleger uma mulher sequer.

A persistente ausência de mulheres, e também de negros, tanto no Legislativo, quanto no Executivo municipal, deve ser motivo de estudo, merece ser bem avaliada.

Escritores resende-costenses e suas memórias

18 de Novembro de 2020, por Edésio Lara 1

Você sabia que a cada terceiro domingo do mês de julho Resende Costa comemora o “Dia do Resende-Costense Ausente e Amigo de Resende Costa”? Sim, esse dia existe. Quase trinta anos atrás, exatamente em 21 de julho de 1991, depois de aprovada por unanimidade pela Câmara de Vereadores, o projeto de criação desse dia foi transformado em lei. Naquela data e em seção solene na sede da Câmara Municipal, houve o lançamento do livro Visões Perdidas, de Gentil Ursino Vale, advogado e escritor natural de Resende Costa, que, por motivos de trabalho, foi morar em Divinópolis/MG no ano de 1958. 

Gentil fez o curso primário no Grupo Escolar Assis Resende. Depois foi estudar Humanidades na prestigiadíssima Escola Apostólica do Caraça, situada nos municípios mineiros de Catas Altas e Santa Bárbara. Concluiu o curso de Direito somente em 1977, quando já havia publicado livros e ganhado prêmios pelos trabalhos literários, aos quais se dedicou desde o ano de 1957.  

Abel Lara foi outro escritor resende-costense que obteve reconhecimento pelos seus trabalhos. Dele são a letra e a música do Hino de Resende Costa. Em 1953, publicou seu primeiro livro, Alma Atormentada. Atualmente, Evaldo Balbino, outro poeta da cidade, em projeto de pesquisa desenvolvido na UFMG, resgata a produção literária de Abel Lara no sentido de nos oferecer uma edição de seus trabalhos publicados em jornais, suplementos, coletâneas ou periódicos.  

Outro escritor, memorialista dos melhores, Antônio de Lara Resende, publicou em dois volumes as suas memórias. O primeiro é o Memórias: do Belo Vale ao Caraça. O segundo é o Da Serra do Caraça à Serra do Véu de Noiva. O autor é filho do resende-costense Antônio Sebastião de Resende Lara e da ouro-pretana Macrina Augusta de Albergaria Lara, professora no Povoado de Nossa Senhora da Boa Morte, da atual cidade de Belo Vale/MG. Lara Resende nasceu lá em 24 de setembro 1894, mas, em janeiro de 1895, isto é, quatro meses depois, veio com a família para a Vila de Resende Costa. A maior parte dos seus vinte anos ele viveu entre Resende Costa e no Caraça, onde também estudou Humanidades. 

Antes, porém, é preciso mencionar outros três homens importantes e que se dedicaram às letras: o inconfidente José de Resende Costa, o filho, em 1836, escreveu o livro Memória Histórica sobre os diamantes. José Augusto de Rezende, primeiro diretor do Grupo Escolar Assis Resende, em 1920, publicou o seu Livro de Pálidas Reminiscências da Antiga Lage – Villa de Rezende Costa. Por fim, destaco o Memórias do Antigo Arraial de Nossa Senhora da Penha de França da Lage, atual cidade de Resende Costa, de José Maria da Conceição Chaves, (o Juca Chaves). Os três livros foram reeditados pela Associação de Amigos da Cultura de Resende Costa (amiRCo) e estão à disposição dos leitores na Biblioteca Municipal Antônio Gonçalves Pinto, em Resende Costa. Outras obras de Gentil Vale também podem ser encontradas na Biblioteca Municipal.

Atualmente, temos escritores que se dedicam em seus textos a tratar de temas relacionados a Resende Costa: Alair Coêlho de Resende, Evaldo Balbino da Silva, José Venâncio Resende, Rosalvo Gonçalves Pinto e José Antônio Oliveira de Resende fazem parte desse time. 

A boa notícia é que, finalmente, um grupo de mulheres começou a atuar em área até então dominada pelos homens. Stella Vale Lara e Maria Luzia de Resende, com suas poesias e contos; as historiadoras Larissa Ibúmi Moreira, autora do livro Vozes Transcendentes: os novos gêneros da música brasileira, e Paula Chaves Teixeira Pinto, com sua obra De Minas para a Corte, da Corte para Minas, que tem como personagem principal o resende-costense Gervásio Pereira Alvim – inclusive tem seu nome cravado em uma rua da cidade – nos encantam com suas publicações. Mas, para não ficar somente com essas escritoras, tivemos a grata surpresa de ver a jovem Danielle Tonioli publicar seu Ginásio de Metamorfoses: contos e poesias, disponível, por enquanto, pelo Kindle, no site www.amazon.com.br Outra notícia boa é que Regina Maria Coelho Resende, professora aposentada e colunista do JL, está terminando a escrita de um livro de memórias e que estará pronto até março de 2021. 

Tenho me dedicado a comentar como tem sido a nominação de ruas e edifícios públicos em Resende Costa. Estranho, senão triste, é saber que nenhum dos escritores falecidos e mencionados acima ainda não recebeu uma homenagem dessa. Será por quê?