De olho na cidade

Afonso Mariafra (1943 - 2017)

16 de Janeiro de 2018, por Edésio Lara 1

Banda de Música Santa Cecília e convidados no Adro da Matriz de Nossa Senhora da Penha de França de Resende Costa/MG. A banda toca marcha fúnebre enquanto o cortejo chega trazendo o corpo do maestro Joaquim Pinto Lara para a missa de corpo presente a ser celebrada pelo pároco Monsenhor Nelson Rodrigues Ferreira. Destacam-se no centro o maestro João Mariafra (cabelos brancos e segurando uma clarineta) ao lado do filho Afonso Ligório Bernardes (Afonso Mariafra, no trompete), vindos de Lagoa Dourada especialmente para o enterro do amigo em 24/9/1968. (Foto Scylla)

No início do mês de dezembro último, depois de ter saído de Ouro Preto em direção a Resende Costa, parei em Lagoa Dourada. Na cidade conhecida por todos pelos famosos e saborosos rocamboles vendidos em muitas lojas (O Legítimo Rocambole, O Famoso Rocambole, O Tradicional Rocambole, Rocambole do Jaci, entre outros que disputam, como os nomes sugerem, a sua “paternidade”), resolvi me dirigir até a loja do Jesus Antônio Dutra de Resende - mais conhecido pelo apelido Neném - um simpático e receptivo engenheiro graduado pela UFJF, mas que, atualmente, se dedica à loja de móveis e eletrodomésticos de sua propriedade. Chegando lá, depois de me cumprimentar, perguntou: Edésio, você sabe quem morreu há poucos dias? O Afonso Mariafra. A notícia me surpreendeu. Seu falecimento não havia sido devidamente noticiado.

Afonso Maria de Ligório Bernardes nasceu em Lagoa Dourada no dia 1 de agosto de 1943. Seus pais, muito católicos, deram-lhe o nome de batismo de Santo Afonso, que faleceu na Itália em 1 de agosto de 1798. A data de nascimento de um coincide com a de morte do outro:  Alphonsus Maria de Liguori, o bispo católico italiano que notabilizou-se como escritor espiritual, teólogo e filósofo eclesiástico. Considerado um dos ícones da Igreja Católica, ele fundou a Congregação do Santíssimo Redentor (Redentoristas) em 1732, importante ordem religiosa que atuou decididamente para a construção da Basílica de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida/SP.

Em 13 de agosto de 2011 estive com Afonso Mariafra em sua casa no centro da cidade de Lagoa Dourada. Naquela época, trabalhando na pesquisa para meu doutoramento na UFMG, fui entrevistá-lo para obter mais informações sobre seu pai, o maestro, instrumentista e compositor João Mariafra, falecido em 1989, muito admirado e respeitado por todos que o conheceram. E foi sob forte emoção que Afonso (chegando diversas vezes às lágrimas) me forneceu rico relato sobre as origens do seu pai, sua predileção pela música na cidade, bem como as boas amizades que firmou com maestros de outras cidades, especialmente, com meu avô Joaquim Pinto Lara (Sô Quinzinho), em Resende Costa. O apelido Mariafra, ambos, filho e neto, herdaram de Dona Maria Afra de São José, uma senhora que, além dos afazeres domésticos, trabalhava como costureira nas fazendas da região.   

Ao longo da entrevista, Afonso começou a falar das suas experiências com música iniciadas com o próprio pai que o fez tocar piston (trompete) e tornar-se famoso na região, tanto pelo seu talento quanto pelas boas amizades que fez. As boas relações se deram, principalmente, por estar sempre presente noutras cidades, ora apoiando bandas de música, ora tocando junto com outros músicos em bailes ou outras festas populares. Em Resende Costa, como me disse, tinha apreço pelo Sr. Ivan (Ivan Barbosa) “ô, sujeito fino”; pelo Sr. Geraldo Chaves dizendo “que pessoa fina, que amizade a gente tinha”. Por fim contou que certa vez fora convidado pelo Né (Daniel, ou Né do Chico Daniel), clarinetista da Banda Santa Cecília de Resende Costa, para ajudar a tocar em um baile. Veio para Resende Costa junto com seu irmão Antônio Mariafra e Otacílio Ribeiro Borges de Resende (violonista). Tocando à noite, ele disse, “fomos surpreendidos pelo nosso queridíssimo Sr. Quinzinho, vestido com sua capa (capa ideal), cachecol e chapéu que falou assim: ‘meninos, eu não sei a música de vocês não, mas, quando ouvi que havia filhos do João Mariafra aqui [começou a chorar] não poderia deixar de vir prestigiá-los’. E ele ficou conosco até 4h da manhã. Isso é que é amigo.”

   Afonso gostava de falar sobre a experiência de ter sido visto ao vivo, através da TV, por milhares de pessoas no Brasil inteiro nos programas de auditório do Silvio Santos e do Chacrinha.  Na época – entre as década de 1970 e 1980 – até o exigente José Fernandes, conhecido por não gostar de conferir nota alta aos calouros, deu-lhe 5, nota máxima, acompanhando todos os outros membros da banca que lhe cobriram de elogios.

Afonso deixou claro que, não fosse Lagoa Dourada, gostaria de morar em Resende Costa, “cidade agradável e de gente humilde”. Por fim, revelou sua paixão pelo violão, com o qual gravou alguns CDs em São João del-Rei. O violão, por motivos diversos, ele deixou de possuir dizendo que “gostaria de ter um antes de morrer”. Nesse momento ele colocou para tocar um dos CDs que gravou ao violão e fez dois pedidos: 1º, “posso tocar uma música no trompete para você”? Foi quando usando um playback para o acompanhamento, tocou Proponho, canção de Roberto Carlos; 2º, “antes de continuarmos, posso fumar um cigarro?”.

Transporte público em Resende Costa

14 de Novembro de 2017, por Edésio Lara 0

No último mês de outubro, a notícia de que a empresa de transporte coletivo Presidente, que opera a linha Resende Costa – São João del-Rei, faria uma redução no preço das passagens, deixou parte da população animada e outra, desconfiada. A Viação Sandra, recentemente, reduziu o preço da passagem de ônibus entre Belo Horizonte e Resende Costa, portanto, a intensão não nos pegou de surpresa, nem foi motivo de alarde. Essas “bondades”, vindas de empresários detentores de exclusividade nas linhas que operam, são resultado de fatos que as têm atingido em cheio.

Antigamente, até meados da década de 1960, ir de ônibus a São João del-Rei era uma coisa rara e, para nós meninos, uma festa. Quase ninguém possuía automóvel ou motocicleta e São João parecia longe quando a viagem era feita em ônibus precários em estrada de terra que cortava a vizinha Coronel Xavier Chaves (Coroas). No período chuvoso (e como chovia muito naquele tempo!), entre os viajantes uma pergunta era inevitável: será que a jardineira (ônibus) passa pela ‘cava amarela’? O aclive mais acentuado da estrada era como divisor de espaços, visto que os veículos nem sempre conseguiam vencê-lo. Para transpô-lo, era então necessário promover a baldeação: o coletivo parava ao pé do morro e os passageiros seguiam a pé até seu ponto mais alto para embarcar em outro veículo e seguir viagem até São João del-Rei, o que durava quase duas horas. As pessoas dependiam e muito dos serviços prestados pelos ônibus.

Na década de 1980, as coisas começaram a mudar e melhorar, quando uma estrada nova e asfaltada diminuiu o tempo de viagem e passou a oferecer mais conforto aos passageiros. O que se viu também, no mesmo período, foi a frota de veículos particulares dos resende-costenses crescer de forma expressiva. Os moradores da cidade, aos poucos, passaram a depender menos do transporte coletivo para circular entre as cidades. Desde então, a empresa de transporte começou a perder passageiros que passaram a considerar o conforto, rapidez e agilidade dos automóveis.

Alguns anos atrás, a Empresa Nossa Senhora da Penha (do Nísio), que operava o trecho, foi substituída pela Presidente. A nova empresa, apesar de operar com ônibus melhores e mais confortáveis, não viu crescer o número de passageiros em suas viagens. Pelo contrário, as poltronas vazias passaram a ser em maior número. Recentemente, com o uso do telefone celular e outros meios que aproximam e facilitam a comunicação entre pessoas, surgiram os “grupos de carona”. Basta um proprietário de veículo postar no Facebook ou encaminhar mensagens de oferta de cartona paga para grupos no WhatsApp para que esses circulem por aí transportando passageiros entre um lugar e outro. As empresas de ônibus, que décadas atrás eram únicas quando o assunto era transporte coletivo, perderam muitos passageiros nos dois últimos anos.

O caso da Presidente, que reduziu o preço da passagem entre RC e SJDR, com aval do Executivo Municipal, é reflexo disso: da concorrência informal, como exposto acima. Só não deu certo, porque a empresa resolveu trocar os ônibus de poltrona acolchoada e reclinável e bagageiro, por veículos que são utilizados para transporte municipal e que não oferecem conforto e segurança. Os bancos desses lotações, como chamamos esses veículos, são duros, não possuem cintos de segurança e nem dispõem de espaço adequado para a acomodação de bagagem. O que não era tão bom, ficou pior ainda. Os usuários “botaram a boca no trombone” e o prefeito municipal também se posicionou. Ante as manifestações de protesto, a empresa voltou atrás, isto é, recolocou os veículos mais confortáveis na estrada.

Atualmente, com o aprimoramento dos meios e veículos de comunicação, governos e empresários precisam rever estratégias de suas ações, quando o assunto é a prestação de serviços públicos de transporte de pessoas. Se nos assustamos com o progresso – e aqui não há como deixar a internet fora da reflexão – imagina como não estará o mundo daqui a cinco, dez, quinze anos? Certamente, e para o bem de todos, esperamos que os serviços de transporte coletivo, definitivamente, sejam mais eficientes e melhores dos que temos agora. Isto, porque a população necessita dele.

As ruas de Resende Costa e seus personagens

15 de Setembro de 2017, por Edésio Lara 0

Certa vez, conversando sobre música e músicos de Resende Costa com o maestro Geraldo Sebastião Chaves, ele me disse de Marcos Reis, que, vindo de outro lugar, esteve em nossa cidade e atuou, não sei se como instrumentista ou regente de banda. Procurei me informar sobre esta pessoa, mas, nada descobri sobre ela. Certo é que, como me apontou o maestro Geraldo Chaves, o nome de Marcos Reis permaneceu entre nós através de nome de rua que lhe deram. Atrás de alguma informação sobre ele, dirigi-me até a sede da Câmara Municipal à procura de notícias sobre o citado músico. Nada encontrei. Não há qualquer documento, segundo me disse uma funcionária do legislativo municipal, sobre esta pessoa e muito menos um registro sobre qual vereador coube a tarefa de propor aos demais um nome de rua em homenagem ao dito músico.

Pessoas importantes, em todos os lugares, permanecem na memória de muitas maneiras. É comum seus nomes serem perpetuados em prédios públicos, praças, ruas ou cidades. Em Resende Costa, não diferente de outras cidades, há um número significativo de logradouros que lembram pessoas importantes para a comunidade em sua época, tais como padres, artistas, médicos, políticos, professores, por exemplo. O nome da nossa cidade é exemplo desse fato, visto que mantém viva a memória de José de Resende Costa, um pai e outro filho, figuras centrais da Inconfidência Mineira.

Aqui, quero me referir a Gervásio Pereira Alvim. Fazendeiro, morador nos Campos Gerais, proprietário de rancho e pouso de tropas no caminho da Lage, ele era descendente do Inconfidente José de Resende Costa. Por isso mesmo, depois de morto, mereceu ter seu nome destinado a uma rua em nossa cidade. Não devemos confundi-lo com Dr. Gervásio, médico, que também recebeu a mesma homenagem pelos serviços prestados em nossa terra. Cito aqui o nome de Gervásio Pereira Alvim, falecido em 7 de março de 1837, por simples razão: em breve será lançado pela Editora Alameda, livro de autoria de Paula Chaves Teixeira Pinto, jovem historiadora resende-costense, bastante conhecida na cidade. O livro sairá em breve com o título “De Minas para a Corte. Da Corte para Minas: movimentações familiares e trocas mercantis (c.1790 – c.1880)”. Trata-se de tese defendida por Paula Chaves na Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. A obra tem como personagem principal Gervásio Pereira Alvim.

A publicação tornou-se possível através de uma parceria entre a Associação de Amigos da Cultura de Resende Costa (AMIRCO), Prefeitura Municipal e Câmara Municipal de Resende Costa.

Assim que o livro for lançado, o que deve ocorrer no início de 2018, e distribuído nas principais livrarias do país, Resende Costa será motivo de comentários. A própria Paula Chaves, ao citar com entusiasmo seu trabalho, diz que há muito por ser pesquisado sobre a região onde está nossa cidade. Certamente, seu livro servirá como fonte preciosa para outros pesquisadores que têm interesse em fatos ocorridos no passado e que ainda são pouco conhecidos.

Outros personagens, da forma como acontece agora com Gervásio Pereira Alvim, serão relembrados. Atualmente, nomes de alguns homens e mulheres nascidos no lugar ou que nele vieram morar estão registrados em edifícios, placas de sinalização de praças ou ruas da cidade, sem que os próprios moradores desses logradouros tenham notícia sobre os mesmos. O momento é oportuno, nos convida a voltarmos nosso olhar para conhecermos melhor fatos e pessoas de séculos passados, que são a origem do que somos hoje.

Notas sobre ações do Conselho Municipal de Patrimônio e Cultura de Resende Costa/MG

13 de Julho de 2017, por Edésio Lara 0

Desde o último mês de abril, tornei-me membro do Conselho Municipal de Patrimônio e Cultura de Resende Costa/MG. Este conselho é composto de quatorze membros entre titulares e suplentes e tem mandato com duração de dois anos. Cabe a este conselho que presido, a responsabilidade de acompanhar, analisar ou propor ações que preservem o patrimônio histórico e cultural do município. Destaco aqui, parágrafo de texto publicado pela prefeitura municipal e que descreve o conceito de patrimônio histórico: “Por patrimônio histórico entende-se o conjunto de bens móveis e/ou imóveis existentes em nosso território vinculados a fatos históricos memoráveis ou fatos atuais que agregam valor cultural ao patrimônio. Também são considerados patrimônio histórico os bens de natureza imaterial que constituem a cultura de nossa cidade e acrescentam valor ao nosso patrimônio. Esses bens devem ser protegidos contra ações de natureza prejudicial decorrente da atividade humana ou mesmo pelo decorrer do tempo”.

Os atuais membros do conselho, já no dia em que tomaram posse, chamaram para si a incumbência de dar mais visibilidade às suas ações e, também, de discutir com os moradores da cidade sobre a importância do trabalho de tombamento e preservação de bens históricos do município. E há muito por ser feito.

Atualmente o conselho está empenhado em ver as obras fundamentais de preservação do que já foi tombado sendo iniciadas. Não basta tombar um imóvel, por exemplo, mas acompanhar e fiscalizar todas as ações que devam preservá-lo. Em paralelo, quer o conselho que seja feito um trabalho de esclarecimento, de conscientização da importância do que nos restou de épocas passadas e merece ser preservado. São imóveis, móveis, documentos, enfim, um conjunto de bens materiais ou imateriais que dizem respeito às nossas origens.

Cito uma ação que exemplifica bem o que pretendemos. Em 1944, o então Padre Nelson Rodrigues Ferreira, recém chegado à Resende Costa, notou que documentos importantes da paróquia estavam espalhados, completamente desorganizados. Eram tantos escritos, havia anotações de registro de batismo e de óbito, que datam dos séculos XVIII e XIX. Pois bem, o novo padre, preocupado com a conservação desses documentos, mandou encaderná-los. São seis livros e, em dois deles, registrou sua preocupação. No livro de óbitos deixou escrito: “Mandei encadernar este livro para não se perderem as folhas que se acham esparsas aqui e acolá quando assumi esta paróquia de Resende Costa”. Noutro livro, o de batismo, mudou um pouco o texto, deixando claro que, pelo mal acondicionamento do material, algumas folhas já haviam sido perdidas: “... as folhas como perdidas algumas estão que se acham soltas e espalhadas aqui e acolá”.  Por fim, como exemplo do que contém esses livros, transcrevo aqui um registro de batismo: “Aos 11 de maio de 1796 nesta capella da Lage baptismei solenmte a Thereza nascida a 27 de abril, filha natural de Vitória, escrava de Francisco José de Mesquita. Foram padrinhos Joaquim José de Aquino e sua mulher Maria Silveira desta aplicação. O Pe. João José”. Junto a este registro de batismo, o padre Nelson anotou ao lado do nome do pai da criança: “Envolvido na Inconfidência Mineira.”

Esses livros que pretendemos tombar são um patrimônio da cidade, precisam ser bem cuidados. Antes, porém, devem ser apreciados por especialistas para que seu conteúdo seja transcrito e disponibilizado. São informações importantíssimas e que interessam principalmente a estudiosos – historiadores, notadamente – que dependem muito dessas informações para o pleno desenvolvimento de suas pesquisas.

Desde meados da década de 1990, os livros antigos de batismo e de óbito se encontravam fora da Paróquia de Nossa Senhora da Penha. Uma ação conjunta da Paróquia e do Conselho de Patrimônio trouxe-os de volta para onde jamais deveriam ter saído. Um bem público como esse não pode ficar em mãos de uma pessoa mas, sim, guardados em local apropriado e à disposição de todos, para consultas. Agora, de posse desses documentos desde o último dia 16 de junho, iremos, na próxima reunião do conselho, encaminhar a indicação de tombamento dos mesmos.

A Biblioteca Municipal Antônio Gonçalves Pinto merece ser mais bem cuidada

16 de Junho de 2017, por Edésio Lara 0

Prédio da quase centenária Biblioteca Municipal Antônio Gonçalves Pinto (Foto André Eustáquio)

Uma biblioteca pública guarda, conserva, organiza e disponibiliza seu acervo ao público. Mais ainda, é espaço de fruição cultural e convivência importante para a comunidade. Assim é a biblioteca de Resende Costa que, em 2018 completará cem anos de existência. Além do acervo composto principalmente de livros e periódicos, possui sala de informática, sala para leitura e reuniões, bem como pequeno auditório onde podem acontecer minicursos, conferências ou outras atividades afins. Situada em prédio próprio e em lugar privilegiado, no ponto mais alto e belo da cidade, ela é resultado de uma ação de Antônio Gonçalves Pinto. Ele doou os livros que possuía para sua instalação no fim da década de 1910, seis anos após a emancipação do município. Até hoje nos valemos do seu gesto altruísta.    

Muitos livros, alguns publicados nos séculos 18 e 19, que temos como obras raras estão, em parte, bem conservadas, depois de a Associação dos Amigos da Cultura de Resende Costa (AMIRCO) ter se incumbido de buscar recursos para recuperá-los. Outros aguardam nova frente de trabalho para que não sejam destruídos pela ação do tempo ou mesmo pela falta de cuidado específico. Esses livros antigos, todos guardados em sala especial, não são emprestados. Mas, há outros que são costumeiramente retirados para leitura que demandam, também, reparos, antes de serem considerados sem condição de uso. Manutenção, portanto, é um assunto que precisa ser colocado em pauta e a biblioteca não possui pessoal capaz de realizar este trabalho.

Ao observar os muitos livros que precisam ser retocados, entre os quase 10.000 exemplares que a biblioteca possui, fica uma pergunta: qual tem sido a ação da prefeitura municipal da cidade para cuidar deste acervo? Qual tem sido o investimento para compra de novas obras? Digo isso, pois conheço bem este ofício. Eu aprendi a lidar com a recuperação de livros quando fui bolsista do Colégio São João em São João del-Rei. Lá, para poder pagar pelos meus estudos, trabalhei na biblioteca do colégio. Aprendi a recuperar, dar manutenção adequada aos livros e recolocá-los em boas condições para leitura e empréstimo. Por que não treinar jovens estudantes oferecendo-lhes uma bolsa para efetuar esse trabalho?

Outra questão que precisa ser colocada, diz respeito à compra de livros. Prefeitos e seus secretários, ao longo do tempo, não foram capazes de reservar uma verba específica para esse fim. Assim, a atualização do cúmulo depende de pessoas que, periodicamente, fazem doações. São aquelas pessoas, depois de ler, não têm interesse em manter as obras em suas casas, preferindo deixá-las à disposição de outras pessoas em lugar adequado, como é o caso da nossa biblioteca.  

Outra questão relevante diz respeito à modernização dos serviços oferecidos à comunidade. Os computadores enviados pelo governo federal há quase uma década, pasmem, só agora estão sendo instalados. A informatização dos serviços de controle e empréstimo de livros e sua divulgação através do site da prefeitura deveria ter sido realizada em 2008 quando a biblioteca passou a ocupar o prédio construído naquela época. É preciso colocar na internet o que tem a biblioteca de forma que consulta e reserva de livros possam ser feitos à distância. O sistema de controle do acervo, cadastro de leitores e empréstimos através de fichinhas é coisa do século passado.

Por fim, a obtenção de novos títulos para o acervo poderá fazer com que o interesse pela biblioteca se amplie, possibilitando aumento de público interessado com benefícios incalculáveis para o desenvolvimento do gosto pela leitura. Considero ainda que o horário de atendimento ao usuário seja revisto, senão ampliado. Muitos, por motivos diversos, poderiam frequentar a biblioteca em horários em que ela encontra-se fechada. Espaços públicos como esse precisam ficar abertos ao longo do dia e à noite. E, para tanto, é preciso convocar a bibliotecária aprovada em concurso público para ocupar a vaga. A melhora no atendimento ao público e realização de obras no edifício é urgente. Nossa expectativa é a de que o atual prefeito, sensível às demandas colocadas, reaja e dê atenção às ações que apontamos para biblioteca.