De olho na cidade

Ações do Conselho Municipal de Patrimônio e Cultura de Resende Costa

18 de Julho de 2018, por Edésio Lara 0

O Conselho Municipal de Patrimônio e Cultura de Resende Costa, que ora presido, reúne-se periodicamente e tem realizado trabalho de importância para o município. Neste espaço, gostaria de destacar três ações relevantes que estão em curso. Em reunião realizada em maio último e em resposta ao Ministério Público Estadual, o Conselho mostrou-se empenhado em providenciar a limpeza e a sinalização adequadas das já tombadas ruínas históricas da Fazenda dos Campos Gerais e da Fazenda da Laje. Ante o compromisso do senhor prefeito municipal de disponibilizar os recursos necessários que chegam ao município através do ICMS Patrimônio Cultural, os trabalhos devem ser iniciados. Antes, porém, é preciso encontrar equipe capaz, treinada para trabalho que demanda cuidado específico na sua condução. Os locais onde foram erigidas as fazendas deverão receber cerca, limpeza total da área e placas de identificação. Terminados os serviços, o que se espera é que os interessados tenham acesso facilitado às mesmas. As ruínas são testemunho das origens do nosso município. Por isso mesmo é que foram tombadas e devem ser preservadas pelo município.

Outra ação que está em curso é o restauro de um crucifixo e dos altares laterais da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha de França. As intervenções, que vimos acompanhando in loco, podem ser visualizadas por todos. Para o trabalho minucioso, o pároco de Resende Costa, padre Fábio Rômulo Reis, se incumbiu de levantar os recursos necessários para a sua concretização. Os trabalhos vêm sendo realizados pelo Rogério, do Ateliê de Restauração Nossa Senhora Aparecida, de São João del-Rei.

Por fim, os seis Livros de Tombo da Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França que, por insistência nossa, recentemente foram devolvidos à paróquia, deverão ser tombados pelo Conselho de Patrimônio após apreciação dos pareceres que justificam a decisão e que ficaram a cargo da jovem historiadora resende-costense e membro do CMPC, Ana Luíza Coelho Andrade. Após apreciação dos pareceres, o tombamento desses documentos importantes entra em pauta da reunião do Conselho nesse mês de julho. A partir de então, eles estarão disponíveis para consulta, não podendo ser retirados ou emprestados a quem quer que seja. O Conselho de Patrimônio sugere a digitalização dos documentos para que possam ser disponibilizados na Internet.

Ultimamente, o Conselho Municipal de Patrimônio e Cultura tem sido consultado por moradores e proprietários de imóveis antigos da cidade quando pretendem realizar algum serviço de reforma nos mesmos. Isso demonstra uma consciência que vem sendo construída pelas pessoas que reconhecem e veem a importância da preservação de imóveis, a começar, principalmente, por aqueles que se encontram no entorno da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha e do Teatro Municipal, por exemplo – ambos os imóveis tombados pelo município.

A Tixa e as crianças

12 de Junho de 2018, por Edésio Lara 0

No último mês de maio, iniciamos o que foi combinado com as diretoras das escolas do município de Resende Costa: a apresentação da Tixa para os estudantes da pré-escola ao ensino médio. A Tixa, definitivamente, tornou-se a mascote da cidade. Ao lado das esculturas da Tixa, todas caracterizadas e de autoria do escultor Leci Silva, muitas pessoas têm se deixado fotografar. As esculturas colocadas em diversos locais chamam a atenção de crianças, jovens e adultos. Seu sucesso tornou-se incontestável, desde o seu lançamento oficial, ocorrido em 8 de dezembro de 2017. Desde então, muitos tiveram acesso à Revista da Tixa. A revista, que tem texto de José Antônio Oliveira de Resende e ilustração de Pablo Quaglia Rodrigues, conta de maneira inteligente e bem-humorada a história da cidade, desde o seu nascimento, em 1749, aos dias atuais. 

As crianças ficaram encantadas com a escultura da Tixa que nos acompanhou nas sedes das escolas municipais do Curralinho, Ribeirão e Jacarandira, bem como na Cmei Aquarela, esta na sede do município. Compareceram às escolas citadas alunos de outros povoados. Os do Cajuru, por exemplo, foram direcionados para Jacarandira, o que ocasionou momentos de confraternização e de troca de experiências entre professores e alunos.  Os professores e funcionários prepararam bem os estudantes para o evento. Houve momento cívico com o canto dos hinos nacional e de Resende Costa no Ribeirão. Lá, cuidaram de produzir uma Revista da Tixa, que ficou exposta em um varal. Nos textos, alunos da 9ª série abordaram aspectos históricos, do cotidiano, dos trabalhos no campo, de afazeres domésticos e de belezas naturais. Houve, também, quem aproveitou o momento para nos alertar contra o preconceito, como manifestado pela pequena Emilly: “…Moramos numa comunidade / considerada quilombola/ que por esta questão / sofremos preconceito sobre cores e valores. // O desafio é grande / precisamos de fé e consideração / respeito à nossa cidadania / valorizando a nossa nação.”

Houve paródia apresentada em Jacarandira pelos alunos do lugar. Lá, ao escutar nosso carro chegando com a escultura da Tixa, ouvimos de uma voz vinda do interior da escola: “Ôba, a Tixa chegou!” Assim foi, também, que os pequeninos da Cmei Aquarela nos receberam. Com os olhos brilhando de alegria e curiosidade, todos tocaram a escultura com ar de encantamento. E, como não podia deixar de ser, fizeram questão de serem fotografados, depois de apresentarem trabalhos realizados em sala: recortes de desenhos da Tixa vestindo roupas coloridas.

Pois foi nesse ambiente festivo e de muita criatividade que eu, Lucas Lara e Fagner Oliveira, ambos da Secretaria de Artesanato, Turismo e Cultura de Resende Costa, fomos acolhidos. A Tixa, definitivamente, é uma realidade.

O centenário da Biblioteca Municipal Antônio Gonçalves Pinto, de Resende Costa

15 de Maio de 2018, por Edésio Lara 0

Em junho de 2017, dediquei atenção especial à biblioteca municipal nesta coluna. Naquela época, além de enaltecer as conquistas conseguidas com a edificação do prédio, apontei o que considerava importante a ser feito para tornar ainda mais qualificado os serviços prestados por ela. Hoje vejo que uma das questões levantadas foi contemplada: a sala de informática, o Telecentro. Decorridos 10 anos de inauguração do edifício, finalmente, ela foi instalada. Atualmente, a biblioteca abriga a Secretaria de Turismo, Artesanato e Cultura (SETAC), a sede da Amirco, o telecentro, uma sala de multiuso para pequenas reuniões ou minicursos, sala de leitura e um espaço em que estão guardadas obras raras. O que temos de fazer é explorar ao máximo tudo o que este espaço de cultura nos oferece. 

Nesta edição, antes de comentar o evento promovido para festejar seu centenário, faço uma pergunta: para que serve uma biblioteca? A biblioteca pública, aberta à comunidade, segundo a cientista social Christine Castilho Fontelles, é o lugar por excelência para termos acesso gratuito aos recursos e atendimento, para que possamos fazer nossas consultas, empréstimos, pesquisas e nos tornarmos leitores. Mas, não basta o espaço e o acervo se não temos os interessados em leitura. E para que surjam novos e bons leitores, é preciso que, desde cedo, as crianças sejam educadas para esse fim. Segundo ela, educar para ler é uma missão que requer esforço, concentração e criatividade, principalmente em uma época com excesso de informações midiáticas e escassez de tempo, como a nossa. Ao que parece, nossa biblioteca tem contribuído para a formação de leitores em nossa cidade. 

No último dia 28 de abril, a Secretaria de Turismo, Artesanato e Cultura promoveu um evento para celebrar os 100 anos de vida deste importante espaço sociocultural. Foram realizadas leituras de poesias, exposição e venda de livros, relato histórico da biblioteca, obliteração de selo realizado pelos Correios, homenagens a ex-servidores que prestaram e ainda atuam na biblioteca e, principalmente, aos leitores - por faixa etária - que se destacam como os que mais frequentam e tomam livros de empréstimo na biblioteca. Não há como não realçar os leitores homenageados: Alícia Maria Daher Oliveira, Petúlia Vitória Resende, Paulo Eduardo de Andrade e Elódia Rita de Resende Paiva. O prêmio dado aos quatro foi o ponto alto da cerimônia. E como não poderia deixar de ser, aplausos calorosos recebeu a pequena Alícia Maria que, como foi dito pela Cláudia Lúcia Pinto Resende, atual funcionária que responde pelo espaço, “parece ter nascido na biblioteca; frequenta-a desde que nasceu”.

Por fim, gostaria de fazer um registro para este momento de festa. Não podemos nos esquecer da figura de Gilberto José Pinto (1948-2015), ex-prefeito da cidade que, durante seu terceiro e último mandato, acolheu dos mais próximos a recomendação de que a cidade necessitava de um espaço mais amplo, confortável e moderno para abrigar a biblioteca. Fez coro junto aos correligionários o Jornal das Lajes. Desde a fundação do jornal, que acabou de completar 15 anos de atividade, questões relevantes relacionadas à cultura e às artes tem sido abordadas pelos seus colaboradores. A biblioteca sempre esteve entre os tantos assuntos de interesse da comunidade versados pelo periódico.

A biblioteca pública, que desperta a atenção de turistas e os cuidados dos resende-costenses, ainda tem muito a oferecer. Nós que a frequentamos, precisamos nos unir para ajudá-la a ampliar seu acervo e propor ações que possam tornar o espaço mais atraente e qualificado. Os serviços precisam ser informatizados para facilitar o acesso ao acervo e controle sobre empréstimos de livros. Podemos acrescentar ainda a ampliação do horário de atendimento ao leitor e a imediata contratação de profissional especializado em biblioteconomia já aprovado em concurso público. Cabem ainda duas questões que julgo importantes: facilitar o empréstimo de livros para os que moram nos povoados da cidade e uma pesquisa sobre o perfil e as demandas dos leitores que possa ajudar a apontar ações positivas de aperfeiçoamento do atendimento ao público.

Novo Carnaval para Resende Costa

13 de Marco de 2018, por Edésio Lara 0

Eu disse que não tocaria mais no assunto Carnaval nesta coluna. Mas, não tem jeito. Em 2017, depois de termos dito e escutado em todos os cantos que o Carnaval de Resende Costa estava morto, restou-nos a certeza de que algo deveria ser feito para o renascimento do mesmo. O sinal de alerta vinha sendo dado há bastante tempo, com a saída em massa de resende-costenses para passar o Carnaval em outras cidades. O nosso já não interessava mais. Era preciso rediscutir procedimentos, novas maneiras de fazer a festa. Para tanto, o prefeito municipal nomeou uma equipe, da qual fiz parte, que pudesse encaminhar proposta de nova agenda para o Carnaval. Soubemos, antecipadamente, que os recursos liberados pela prefeitura municipal para a organização do evento seriam inferiores aos de anos anteriores. Deparamo-nos, portanto, com uma dificuldade a ser vencida. Partimos do princípio de que prefeitura não faz Carnaval. Ela apóia e libera alguma verba, o restante, fica por conta da comunidade. O desafio estava lançado: era preciso promover festa melhor, com verba pública menor.

Para o festejo deste ano, acertadamente, abriu-se licitação – concorrência pública – para que empresários, com experiência comprovada, se dispusessem a assumir a responsabilidade de organizar os serviços de sonorização, comunicação, contratação de músicos, seguranças, montagem de palco entre outras ações fundamentais de infraestrutura para grandes eventos. A função do poder público municipal, desta forma, terminava ali. Por sua vez, os carnavalescos da cidade cuidaram de organizar seus blocos, fantasias, grupos musicais, por fim, aquilo que lhes cabe fazer. E tudo saiu a contento. Houve pré-carnaval com saídas de blocos já tradicionais, acompanhados por bateria e música instrumental, aula de zumba na avenida, baile retrô na Casa de Cultura e shows em lugares diferentes na cidade.

Para ilustrar, cito duas situações em que empresários se incumbiram de organizar eventos. No Mandacá Açaí, foi possível assistir a shows com artistas de cidades vizinhas durante os dias oficiais da festa. Um dos grupos que lá esteve foi o À Rita, de São João del-Rei. Seu repertório é amplo e rico e a cantora Rita Moreira tem na voz um timbre bonito, equilibrado e característico. Com uma peruca azul brilhante, ela e seus companheiros – um percussionista e o outro guitarrista – deram conta do recado, como dizemos normalmente. A casa estava lotada naquela tarde de segunda-feira para ouvi-los. E acreditem, estava tão bom, que os músicos foram “obrigados” a permanecer no palco durante quatro horas. Já no final da apresentação, Márcio Antônio Pinto (Marcinho do Chichico) comentou, “nossa, essa cantora é 10”. Outra manifestação, e espontânea, nos veio da Helena – filha do Cícero e Cristiane – quando ela, uma garota de uns 9 anos, tomou o microfone da Rita e pediu aos presentes: quem gosta da Rita, bate palmas. Os presentes, reconhecendo o talento e a competência dela e dos instrumentistas, cobriram-lhes de calorosos aplausos.

Houve, também, festa noutros pontos da cidade, com todas as ações patrocinadas por comerciantes. Não teve dinheiro público para cobrir as despesas do evento realizado na Várzea em frente ao Moe’s Bar. No pré-carnaval de domingo que prepararam, havia tanta gente que chegar até o local tornou-se praticamente impossível. De longe se notava a alegria contagiante dos que compareceram ao local.

Para concluir, destaco duas situações que considero importantes. Primeiro, para se ter boa música, não há necessidade de mandar buscar artistas em grandes centros pagando-lhes cachês altíssimos, distantes da nossa realidade. Segundo, ações como essas, assumidas por empresários locais, revelam e reforçam nova tendência do Carnaval, que é a da folia mais diurna que noturna. Com música ao vivo, criação de novos blocos carnavalescos, manutenção do carnaval retrô, atenção em programação destinada às crianças e qualidade dos serviços de sonorização e comunicação, nosso Carnaval tende a se tornar melhor. Ele poderá se recuperar, voltar a fazer sucesso e a alegria de todos como em outros momentos.  

Requiem para dom Célio de Oliveira Goulart

16 de Fevereiro de 2018, por Edésio Lara 0

Foi sob aplausos que o esquife com o corpo de dom Célio carregado por padres deixou a Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar em São João del-Rei ao meio-dia do último 20 de janeiro. Foi no dia em que os católicos celebram a festa de São Sebastião, depois de missa de corpo presente concelebrada por inúmeros bispos e padres, notadamente de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo, que o corpo do religioso seguiu para Itaúna/MG, para ser sepultado em jazigo da família. O semblante triste e a emoção notada na face do padre Geraldo Magela da Silva - pároco da Paróquia Nossa Senhora do Pilar - era reflexo de todos os que compareceram à catedral para orar, prestar homenagens e despedir-se, agradecidamente, do homem que dedicou sua vida à Igreja Católica e aos fieis que estiveram sob sua orientação.

O que se viu em São João del-Rei naquele sábado de céu claro e límpido foi um cerimonial fúnebre de emocionar e, por que não, encantar, tocar fundo no coração de todos os presentes. O adro da igreja ganhou cores vivas, estava repleto de coroas de flores, e os sineiros da catedral não paravam com os dobres fúnebres próprios para o momento. Os sons dos sinos das igrejas de São João del-Rei são como música encantadora que nos chega aos ouvidos tanto nos dias de festa quanto naqueles momentos de despedida. Dentro da igreja, repleta de fieis desde o início da manhã, a movimentação dos músicos indicava que a tricentenária Orquestra Lira Sanjoanense, sob a direção do maestro Modesto Flávio Fonseca, se incumbiria de fazer tocar e cantar as músicas fúnebres compostas por ilustres músicos do lugar, especialmente, as do padre José Maria Xavier. A entrada dos sacerdotes para o início da missa e encomendação fúnebre se deu ao som da “Marcha Fúnebre 4 de Março” de autoria do maestro, também sanjoanense, Pedro de Souza (1902-1995) que a escreveu em memória de sua irmã falecida em 1945, conforme a data assinalada nas partes musicais.

Ao longo da cerimônia, predominou o repertório do Padre José Maria Xavier (1819-1887). Orquestra e coro se empenharam na interpretação da Missa de Requiem e do Ofício Fúnebre que o padre compôs em 1876, um ano antes de falecer. A música encantadora deste ilustre sanjoanense, patrono da cadeira de número 2 da Academia Brasileira de Música, desde que composta, próximo da virada dos séculos XIX e XX, é presença quase que obrigatória nas exéquias que ocorrem dentro da basílica do Pilar. Além do repertório próprio, isto é, de autoria de artistas da cidade, ouviu-se a Oração de São Francisco cantada pelo coro, em consideração à devoção que o bispo tinha por São Francisco de Assis.

A cerimônia durou exatas duas horas e vinte minutos sem que ninguém arredasse pé do interior da igreja ou do seu entorno. Do lado de fora, como não poderia ser diferente, estavam o carro do corpo de bombeiros e a tradicional Banda de Música Theodoro de Faria, todos preparados para um breve cortejo em que o conjunto, dirigido pelo estimado maestro Tadeu Nicolau Rodrigues, pôde tocar a Oração de São Francisco - que usou partitura adaptada por Reginaldo Aparecido dos Passos, também sanjoanense - a Marcha Fúnebre nº 1, de autor ainda desconhecido e Saudades, esta última de autoria do maestro Benigno Parreira, regente aposentado da Banda de Música do 11º Batalhão de Infantaria de Montanha, que se encontrava no interior da basílica e no coro da Lira Sanjoanense, cantando no naipe dos baixos. Saudades, como o próprio maestro me disse, em entrevista no ano de 2003, ele compôs em homenagem ao seu pai e uma irmã que faleceram em 1955.

O que se nota em momentos como esse é a robustez, a força de tradições que destacam a cidade de São João del-Rei, com reflexos em cidades vizinhas. Não é fácil encontrar no Brasil povo que conseguiu manter com tanta vivacidade, costumes que foram se fortalecendo desde o povoamento e erguidas as primeiras capelas no início do século XVIII. Devemos tudo isso à religiosidade do povo e do que tem sido feito pelos artistas locais, notadamente os músicos, que conservam o cerimonial, a pompa fúnebre que foi tão bem representada no Brasil desde primeiras décadas do século XIX.