Raio X: como Aurélio Suenes pode transformar ou fracassar em São João del-Rei
21 de Dezembro de 2024, por Mauro Luiz do Nascimento Júnior 0
O cenário político de São João del-Rei, com a ascensão de Aurélio Suenes, desperta uma série de reflexões sobre os desafios que ele enfrentará ao longo de sua gestão. Ao observar a movimentação recente dos indecisos que aderiram a Suenes, percebe-se que sua atuação em áreas estratégicas, como o Departamento Autônomo Municipal de Água e Esgoto (DAMAE), a saúde pública e as questões relacionadas aos servidores, serão um ponto-chave de sua administração. Contudo, a história política da cidade demonstra que o apoio popular pode ser rapidamente revertido, dependendo de suas decisões.
São João del-Rei possui um eleitorado volátil, como evidenciado por políticos do passado que, em um momento, obtiveram ampla aceitação popular, mas, posteriormente, foram relegados ao esquecimento. O caso de Helvécio Reis, que alcançou expressivos 28.744 votos, é um exemplo claro dessa dinâmica. Entretanto, sua popularidade rapidamente se dissipou, mostrando como a cidade pode tanto elevar quanto descartar lideranças políticas em pouco tempo.
A gestão do DAMAE será um dos primeiros desafios de Suenes, e suas decisões podem reverberar em vários setores da sociedade. Cobrar daqueles que estão inadimplentes, incluindo famílias de baixa renda e moradores de classe média alta, poderá gerar descontentamento. Isso se aplicaria, por exemplo, àqueles que têm piscina e que, presumivelmente, deveriam contribuir mais com as taxas de consumo de água. Todavia, a equação não é simples. Se, por um lado, é fundamental organizar as finanças da cidade e garantir o pagamento por parte de todos os contribuintes, por outro, essa medida pode desgastar politicamente o novo prefeito, sobretudo entre as famílias mais pobres.
Outro ponto de atenção será a atuação de Suenes na área da saúde. A manutenção dos serviços de saúde pública em São João del-Rei, como a Santa Casa, o Hospital Nossa Senhora das Mercês, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e os postos de saúde, exige um delicado equilíbrio. Privatizar esses serviços não parece uma solução viável, já que a população tem se mostrado cansada da falta de investimentos e de cortes orçamentários. Mesmo Nivaldo, que não é considerado um gestor exemplar, tem conseguido manter os serviços minimamente operantes. A era de Helvécio Reis mostrou quão desafiador é garantir o funcionamento adequado da saúde pública na cidade, o que reforça o peso que esse tema terá na nova gestão.
A relação de Suenes com os servidores municipais também será decisiva para sua popularidade e manter a possível insatisfação dos servidores sob controle será de suma importância para a estabilidade de sua gestão. Nivaldo, ainda que criticado, ao menos assegurava reajustes acima da inflação, e se Suenes optar por uma política mais austera, poderá enfrentar resistência e protestos. A importância dos servidores para o jogo eleitoral não pode ser subestimada, pois eles representam uma fatia significativa de votos na cidade.
Assim, a gestão de Aurélio Suenes será um teste não apenas de capacidade administrativa, mas também de habilidade política. Equacionar técnica e política em São João del-Rei requer uma compreensão profunda do “espírito da cidade”, que, como a história política local demonstra, pode ser tanto generoso quanto implacável com seus líderes. O caminho à frente exigirá não somente eficiência administrativa, mas ainda uma leitura sensível das demandas e expectativas populares.
A dualidade humana revelada: reflexões sobre o poema "PalhAÇO", de Terê Silva
23 de Marco de 2024, por Mauro Luiz do Nascimento Júnior 0

Ilustração PalhAÇO
“PalhAÇO,
Eis o que sou
PalhAÇO no mundo
PalhAÇO do mundo
Por fora,
Risos
Alegria,
Entusiasmo
Felicidade.
Paz!
Por dentro,
Mágoas,
Conflitos,
Decepções,
Frustrações,
Sofrimentos,
Angústias.
Palha por dentro,
AÇO por fora.
Palha e AÇO
União extravagante,
Eterno PalhAÇO!” (Terê Silva, PalhAÇO).
No intrincado tecido das emoções humanas, há uma dualidade que muitas vezes passa despercebida em nossa interação com o mundo. O poema “PalhAÇO”, de Terê Silva, captura de forma poética e profunda essa dicotomia entre a máscara que apresentamos ao mundo e as complexas emoções que carregamos internamente.
O poema nos conduz a uma reflexão sobre o papel do “PalhAÇO”, que, por fora, exibe sorrisos, alegria, entusiasmo e felicidade, enquanto por dentro guarda mágoas, conflitos, decepções, frustrações, sofrimentos e angústias. Essa dualidade é retratada através das palavras “Palha por dentro, AÇO por fora”, sugerindo uma união peculiar entre fragilidade e força.
Em um mundo que muitas vezes exige uma apresentação pública de felicidade e positividade, o “PalhAÇO” é um símbolo daquilo que ocultamos por trás de nossas máscaras sociais. A mensagem subjacente é clara: todos nós, de certa forma, desempenhamos esse papel de “PalhAÇO”, equilibrando nossas próprias contradições internas com as expectativas externas.
A beleza e a complexidade do poema residem na ideia de que essa dualidade não é uma fraqueza, mas uma manifestação da profundidade humana. Através da metáfora da “Palha e AÇO”, somos lembrados de que as pessoas são mais do que aparentam ser. Cada indivíduo carrega sua própria narrativa interna, uma mistura de vulnerabilidade e força, tornando-se assim um “União extravagante”.
A expressão “Eterno PalhAÇO”, no final do poema, nos coloca diante da noção de que essa dualidade é uma parte inerente de nossa existência contínua. A jornada da vida nos leva a assumir papéis diversos, mas a essência do “PalhAÇO” permanece, evoluindo e adaptando-se às situações.
Em nossa busca por autenticidade, é vital lembrar que o poema não nos encoraja a eliminar a máscara externa, mas a abraçar a complexidade de nossa humanidade. Reconhecer nossas próprias mágoas e lutas não diminui nossa força, mas nos conecta com a experiência universal de ser humano.
Ao final, “PalhAÇO” transcende as palavras escritas e se transforma em um espelho da alma humana. Uma obra que nos convida a olhar para além das superfícies, a ser mais compassivos com os outros e conosco mesmos, aceitando que todos somos, de alguma forma, um “PalhAÇO” em busca de equilíbrio entre as dualidades que nos definem.
Tempus fugit: uma reflexão sobre a natureza da percepção temporal
20 de Marco de 2024, por Mauro Luiz do Nascimento Júnior 0

Tempus fugit (ilustração)
“O conceito de percepção temporal é a interação de fatores biopsicossociais, históricos e culturais” (Deusivania Falcão).
O conceito de tempo, uma entidade intangível que permeia nossa existência, apresenta uma dualidade intrigante: é simultaneamente constante e mutável. Enquanto a física postula sua invariabilidade e linearidade, nossa vivência cotidiana revela uma percepção fluida, influenciada por circunstâncias e disposições emocionais. A observação de Deusivania Falcão, professora de gerontologia na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, destaca a complexidade da percepção temporal, resultante de interações intrincadas entre fatores biopsicossociais, históricos e culturais.
No âmbito biológico, a interpretação temporal varia conforme o contexto. Em momentos de prazer ou envolvimento, como durante uma atividade cativante, o tempo parece dilatar-se, enquanto em situações de monotonia ou desconforto, cada instante se estende ad infinitum. Este fenômeno sugere uma ligação íntima entre percepção temporal, emoções e o funcionamento do sistema nervoso.
Além disso, o contexto social e cultural exerce influência marcante sobre nossa compreensão e valorização do tempo. Em culturas que enfatizam a produtividade e a eficiência, como muitas sociedades ocidentais contemporâneas, o tempo é tido como um recurso precioso a ser maximizado. Em contraste, em culturas que adotam visões contemplativas e holísticas da vida, o tempo é concebido como fluido e menos sujeito a rigidez.
A história pessoal de cada indivíduo também desempenha papel crucial na percepção temporal. Experiências passadas, traumas, sucessos e fracassos moldam nossa relação com o tempo, influenciando expectativas futuras e apreciação do presente. Para alguém que enfrentou perdas significativas, o tempo pode parecer estagnado, enquanto tenta assimilar sua dor.
Diante desta complexidade, surge a indagação: como podemos habitar o tempo com consciência e significado? A resposta talvez resida no reconhecimento da subjetividade de nossa percepção temporal, cultivando consciência sobre como emoções, contexto social e histórico pessoal influenciam nossa experiência temporal. Desta forma, podemos desfrutar momentos de alegria e gratidão, mesmo quando o tempo parece fugaz (tempus fugit), e encontrar paz em momentos de espera e reflexão, mesmo quando o tempo se arrasta.
A percepção do tempo é apenas uma faceta da experiência humana, desafiando a possibilidade de uma compreensão completa e definitiva. É uma jornada individual e coletiva, moldada por uma infinidade de influências internas e externas. Ao refletir sobre nossa relação com o tempo, podemos obter insights valiosos sobre nossa própria existência e humanidade.
Referência:
<https://jornal.usp.br/campus-ribeirao-preto/o-tempo-e-imutavel-mas-a-sensacao-de-passar-rapido-ou-lentamente-depende-da-percepcao-individual>. Acesso em: 22 fev. 2024.
A “Terceira Provação”: momento final da formação jesuíta
06 de Agosto de 2023, por Mauro Luiz do Nascimento Júnior 0

Após alguns anos exercendo o apostolado como padre ou irmão, os jesuítas concluem a última etapa de formação, conhecida como a “Terceira Provação”. Nesse momento, os jesuítas são convidados a mergulhar novamente na profundidade da experiência dos Exercícios Espirituais de trinta dias e no estudo da espiritualidade e do carisma da Ordem religiosa.
Os Exercícios Espirituais são um conjunto de práticas de oração e meditação que foram desenvolvidos por Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus. Os Exercícios são uma experiência profunda de encontro com Deus e com a própria vida. Eles ajudam os jesuítas a discernir o seu chamado e a viver sua missão no mundo.
A espiritualidade jesuíta é baseada no Evangelho e na vida de Jesus Cristo. Os jesuítas buscam seguir Jesus Cristo no seu amor pelos pobres, pelos excluídos e pelos que sofrem. Eles também buscam promover a justiça e a paz no mundo.
O carisma da Companhia de Jesus é a missão de servir a Igreja e ao mundo na educação, na pastoral e na promoção da justiça. Os jesuítas acreditam que a educação é um instrumento poderoso para transformar o mundo. Eles também acreditam que a pastoral é essencial para a evangelização e para o crescimento da fé. Por fim, os jesuítas acreditam que a promoção da justiça é uma responsabilidade de todos os cristãos.
A “Terceira Provação” é uma etapa importante na formação jesuíta. É um momento de aprofundamento da espiritualidade, do carisma e da missão da Companhia de Jesus. Os jesuítas que concluem a “Terceira Provação” estão preparados para servir à Igreja e ao mundo com amor, compaixão e justiça.
Sobre a Companhia de Jesus
A Companhia de Jesus é uma ordem religiosa católica fundada por Santo Inácio de Loyola em 1534. A Companhia de Jesus é uma das maiores ordens religiosas do mundo, com membros em mais de 100 países. Os jesuítas são ativos em diversos campos, como educação, pastoral, promoção da justiça e diálogo inter-religioso.
Referência:
<https://pontosj.pt/serjesuita/etapas-de-formacao>. Acesso em: 20 jul. 2023.
<https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/03/130314_papa_jesuitas_mm_ac>. Acesso em: 20 jul. 2023.
Uai, Minas Gerais! O espírito contagiante da comunicação mineira
28 de Julho de 2023, por Mauro Luiz do Nascimento Júnior 0

No vasto universo do dialeto mineiro, a expressão “uai” revela-se uma verdadeira preciosidade linguística. Com sua simplicidade aparente, encerra em si uma dualidade intrigante, capaz de expressar tanto a plenitude das palavras como a sua ausência. É um convite a explorar as complexidades da comunicação humana e apreciar a sutileza dos matizes linguísticos.
Ao proferir o “uai”, o cidadão mineiro mergulha em um mar de significados, simultaneamente aberto a expressar tudo e nada. Essa aparente contradição reflete a própria natureza da comunicação humana: nem sempre temos palavras suficientes para transmitir tudo o que sentimos ou pensamos, mas isso não implica que não haja algo a ser dito. O “uai” é um convite para mergulhar nas profundezas das emoções e ideias, mesmo quando as palavras se mostram insuficientes.
Por um lado, o “uai” é uma manifestação do fluxo inesgotável de pensamentos e histórias que residem nos corações dos mineiros. É uma abertura para compartilhar experiências, alegrias, tristezas, opiniões e sabedoria acumuladas ao longo dos tempos. É uma forma calorosa e acolhedora de se conectar com o outro, demonstrando que há muito a ser dito, mesmo quando as palavras parecem falhar.
Por outro lado, o “uai” também representa a consciência de que nem tudo pode ser expresso em palavras. Às vezes, diante das nuances da vida, das complexidades das emoções ou até mesmo da falta de conhecimento adequado, é preciso admitir a limitação da linguagem. O “uai” é uma maneira delicada de reconhecer que existem sentimentos e pensamentos difíceis de serem traduzidos em meras palavras, mas que ainda assim merecem ser compartilhados e compreendidos.
Assim, o “uai” nos convida a refletir sobre a importância da comunicação genuína e da escuta atenta. Ele nos lembra que, por vezes, é necessário ultrapassar as barreiras das palavras e buscar conexões mais profundas, onde gestos, olhares e silêncios também desempenham papéis significativos. Nos ensina a valorizar a sutileza das entrelinhas e a abraçar a beleza daquilo que não pode ser totalmente expresso verbalmente.
Em última análise, o “uai” transcende as fronteiras geográficas de Minas Gerais e nos convida a uma reflexão sobre a comunicação humana como um todo. Independentemente de onde estejamos, todos nós enfrentamos desafios em traduzir a totalidade de nossas experiências e emoções em palavras. O “uai” nos mostra que, apesar dessas limitações, a busca pela conexão e pelo entendimento mútuo é uma constante em nossa jornada.
Portanto, que possamos aprender com o encanto do “uai” e abraçar a maravilha da comunicação, tanto na sua plenitude quanto na sua ausência. Que saibamos ouvir além das palavras, compreender além do óbvio e valorizar a riqueza dos silêncios compartilhados. Pois é nesse espaço entre o tudo e o nada que reside a verdadeira essência da comunicação humana.