As tais redes sociais têm tomado cada vez mais espaço em nossas vidas. Tempo também. Aproximando quem está longe e afastando quem está perto. Elas têm dado voz e repercussão a tudo e a todos, o que tem um lado bom e outro ruim. E o ruim só lá vai crescendo, sobretudo em relação à disseminação de preconceitos, ódio, ostentação e informações equivocadas. A “polêmica da vez” diz respeito a um tema muito importante de nossas vidas: a amamentação.
Pode parecer estranho que algo tão natural venha a se tornar um tabu, a ponto de virar pauta de discussões em pleno ano de 2015. Mas é o que nossa sociedade “moderna” está nos propiciando. A polêmica diz respeito a uma mulher que compartilhou a foto de uma mãe amamentando seu filho, na rua e em cima de uma bicicleta. Disse a moça – entre tantas outras imbecilidades - que aquilo seria “pobre fazendo pobrice”; que era um absurdo aquele peito para fora; que em bairros e restaurantes nobres essa cena não existiria; que após seis meses não é preciso amamentar, e que o governo a estimula, para não ter que gastar dinheiro com leite artificial. Ah, e ainda arremata: “o mundo tá evoluindo, gente!”.
Tento fugir de polêmicas desse tipo na internet. Por outro lado, acho que podemos fazer bom uso desses pensamentos a fim de refletir sobre determinadas questões e sobre que sociedade está sendo formada. A questão da amamentação, que naturalmente faz parte da questão alimentar, merece bastante atenção. E muitas mudanças.
Já assuntamos por aqui o grande problema dos hábitos alimentares atuais, em que os alimentos industrializados e cheios de agrotóxicos tomaram conta da vida de todos, até do homem da roça. Adoecem e matam silenciosa e legalmente, trazendo ainda prejuízos naturais, econômicos e culturais, enquanto outros apodrecem de dinheiro. Tudo isso graças ao estilo de vida em que estamos nos metendo, sem tempo ou modos de plantar, cozinhar e cuidar de nós mesmos e dos próximos. E amamentar também.
No caso da amamentação, além da questão comercial do enorme lucro que os leites artificiais promovem, ainda entram vários fatores que dificultam a sua execução. Como o ideal criado de que a mulher “moderna” precisa continuar exercendo sua profissão normalmente, sem deixar de cuidar do corpo e de tudo como fazia antes, independentemente da sua nova fase de vida. Alguns mitos criados e uma cultura da chupeta também atrapalham, assim como a falta de apoio do marido e da família, além de vontade própria. Existe também o fator “seio à mostra”, como se no país da cultura das bundas de fora isso fosse um sacrilégio. Antes de objeto sexual, os peitos já tinham a sua função alimentar. Aliás, o desejo vem intrinsecamente daí.
Qual o resultado disso? A terceirização do leite, afinal de contas, pregam por aí que o artificial é a mesma coisa, ou até melhor, o que está na cara ser uma inverdade. A começar pelo fato de que, para quase tudo na vida, o artificial dificilmente se equivalerá ao natural. Em segundo lugar, os estudos comprovam que o leite materno ainda possui hormônios, anticorpos e vários elementos que contribuem para o desenvolvimento celular, neurológico e da flora intestinal do bebê que mama no peito. O que, aliás, ainda ajuda na saúde da mãe, prevenindo câncer mamário. Outra impagável vantagem é a criação de um laço afetivo maior entre as partes. Ah, e é de graça!
Vale lembrar que essa lamentável terceirização não se limita à amamentação. Ela vem lá da gravidez, sem o devido respeito aos limites do corpo e da nova etapa. Continua com a escolha da via de parto “mais prática” - a cesariana sem indicação - e segue depois que a criança nasce, seja com o leite de mentira, com a “chupeta cala-boca”, com as comidinhas prontas industrializadas ou com as babás e escolinhas o dia todo.
Não sou mulher, nem tenho leite para dar. Mas sou pai de uma mocinha que completou o primeiro ano de vida firme, forte e feliz. Graças ao leite, ao colo e ao amor da mamãe dela, todos disponíveis em tempo integral nessa fase inicial e tão importante da vida.