Depois de um ano de muita seca e pouca chuva, de nascentes, rios e reservatórios se esgotando, de fiasco de Copa do Mundo, corrupção e brigaiada de eleição, chega o fim do ano. Tempo das águas e das ceias. Tempo de regar nosso solo de chuva e nossos lares de afeto e comilança boa.
Tempo também de fazer nossa tradicional reflexão, a começar pelas prosas que mais uma vez tive o privilégio de ter com vocês (essa é a 40ª!). Iniciamos o ano falando do “arroz sem feijão” e das inúmeras possibilidades de combinação desse grão tão presente nas nossas despensas e nos restos de geladeira. Em seguida debulhamos o “milho crioulo”, aquele milho rústico e natural que tem caminhado para a extinção, já que os transgênicos tomaram conta até da rocinha mais arcaica do nosso interior.
A prosa seguinte também foi para acender outro sinal de alerta, lembrando que “você é o que você come”, e que hoje em dia estamos morrendo pela boca. Isso graças ao estilo de vida pautado nos alimentos industrializados - ou cheios de agrotóxicos terríveis - que deitam e rolam numa legislação brasileira frouxa e prostituída frente ao poderio econômico das grandes empresas, juntamente com uma total falta de política pública e desinteresse da sociedade.
Para adoçar a conversa depois de assunto tão amargo, foi a vez de tratar do “xocoatl”, ou melhor, chocolate, esse alimento incrível originário das Américas, que conquistou o mundo e até mesmo as tpm’s das mulheres. No artigo seguinte, pausa para fazer uma distinção entre “chef x cozinheiro”, definições que têm se confundido muito nos dias de hoje. Vale então repetir que o chef seria o cozinheiro líder, o comandante e maestro de uma cozinha profissional. Já o cozinheiro seria aquele detentor de conhecimento e prática de cozinha, porém não necessariamente profissional.
“Hambúrguer e cachorro quente” foram as guloseimas da prosa seguinte, esses dois sanduíches típicos da cultura americana, porém, de origem alemã, cujas dicas pessoais são: fazer o bife de hambúrguer em casa e substituir a salsicha do cachorro quente por linguiça, opções mais saudáveis e muito mais gostosas.
No meio do ano assuntamos sobre a “copa e a cozinha”, sobre o evento futebolístico e a gastronomia e o turismo que o rodeiam. Se fazer uma copa num país que sequer tem hospitais e escolas é – ou foi – um absurdo, deixar de aproveitar as lições turísticas que ela nos deu também é. A primeira delas é que nós mineiros temos a faca e o queijo (do bom!) na mão, com nossa hospitalidade singular, nossa comida número um e nossas riquezas naturais, históricas e culturais. Os gringos se surpreenderam e viram que o Brasil tem muito mais que suas praias e suas bundas. A segunda lição é a de que ainda temos muito que evoluir em relação ao turismo e a como mostrar e servir tantas riquezas, o que se aplica inclusive à nossa Resende Costa.
“Foi sem querer querendo” que acabei assuntando sobre o México no mês seguinte, país muito interessante e parecido com o nosso no aspecto cultural e gastronômico. Muitas semelhanças na cozinha e nos ingredientes, porém, com algumas diferentes – e curiosas - formas de consumo, como o do abacate, por lá consumido com sal, como na deliciosa pasta de guacamole.
De volta do México fomos “de Resende Costa à Ritápolis a caminho das Arábias”, para salivar com as delícias da culinária sírio-libanesa, uma das mais queridas do mundo. E muito bem servida no restaurante Saliya, em Ritápolis, que não fica atrás de nenhum do gênero na capital.
Continuando o cavaco, decidimos “botar água no feijão” para reverenciar esse alimento tão importante para nós mineiros. Vimos até que foi graças a ele que Guimarães Rosa conseguiu atravessar seu Grande Sertão: Veredas.
A Folhinha Mariana já indicava o mês de novembro quando a conversa descambou para um “doce mel”. Alimento mágico e único, tal como minha filha que chegou junto com as águas, minha doce Mel.
E assim passou o ano, chegando outra vez nessa época tão especial, gostosa como cheiro de chuva, doce como as mangas e jabuticabas e verde como as taiobas pipocando pelo quintal. Casas e almas cheias como as mesas das ceias de Natal e Ano Novo. Bons tempos.