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A crise hídrica e a dependência de água para gerar energia

19 de Agosto de 2021, por Instituto Rio Santo Antônio

Nos últimos meses, estamos acompanhando novamente a mídia falar em crise hídrica. E a causa é a falta de chuvas, que estão abaixo da média. E, como sempre, quem sofre as consequências é a população, principalmente devido ao aumento no preço da energia elétrica, ao racionamento no abastecimento de água e ao encarecimento dos alimentos. Mas cabe aqui pensarmos em algumas questões: As precipitações (chuvas) estão realmente diminuindo? A crise hídrica seria reflexo de uma crise ambiental? Como utilizamos nossas águas, especialmente as armazenadas nos grandes reservatórios? Precisamos melhorar nossa gestão das águas e da geração de energia?

Entender o clima e, especificamente, o regime das chuvas não é uma tarefa fácil. Vários fenômenos acontecem e possuem certa regularidade de atuação. Podemos citar, por exemplo, o El Niño, a La Niña e a Oscilação Decadal do Pacífico. Cabe destacar que o território brasileiro é diverso e heterogêneo; na questão das chuvas, não poderia ser diferente. Devemos ter em mente também que as chuvas são cíclicas, sucedendo-se anos com maior ou com menor intensidade. E acrescentamos a isso as interferências humanas, como o desmatamento, o desperdício de água tratada, utilização de métodos ineficientes na irrigação etc. Diante do mencionado, fica claro que precisamos de uma eficiente gestão para não sofrermos nos períodos de menor precipitação. No entanto, isso envolve uma série de questões.

Vejamos um exemplo: a geração de energia. O Brasil é um dos campeões em utilização de fontes renováveis (principalmente de derivados da cana-de-açúcar, hidráulica e eucalipto). Estas representam quase 44% da origem da energia consumida no país, contra os 14% da média mundial. Apesar disso, ainda consumimos muito combustível fóssil (carvão mineral, gás natural e, especialmente, o petróleo). Os setores de transporte e industrial consomem quase 80% da energia gerada.

Para a geração de energia elétrica, o que particularmente aqui nos interessa, somos muito dependentes da matriz hidráulica, que representa 65% de toda energia produzida, seguida dos 15,5% dos combustíveis fósseis. Apesar de serem limpas e de termos um bom potencial de crescimento, o Brasil ainda gera pouca energia solar (1,9%) e eólica (10,3%). Em épocas em que há menos água nos reservatórios, aumenta-se a geração nas usinas termelétricas, que utilizam combustíveis fósseis; essas, além de poluentes, são mais caras. O resultado vem no aumento na tarifa de consumo de luz, especialmente com a bandeira vermelha.

O verão passado foi marcado pela La Niña, que vai atuar até meados de 2021, sendo o terceiro mais intenso dos últimos anos, de acordo com o que foi noticiado pela mídia. Esse fenômeno ocorre entre El Niños, que acontecem em intervalos de 2 a 7 anos, e normalmente provoca diminuição das chuvas no centro-sul do país e aumento no norte/nordeste. Daí a crise hídrica.

Por outro lado, existem informações divulgadas por uma mídia alternativa, afirmando que os reservatórios não estão baixos por causa da suposta seca, mas sim porque os reservatórios foram esvaziados em 2020 (ano de redução de crescimento devido à pandemia, portanto, de menor consumo de energia elétrica) sem que a água passasse pelas turbinas. Mas, algumas usinas privadas produziram energia acima da média. Há o argumento de que o volume de água que entrou nos reservatórios brasileiros foi o quarto melhor da última década. Cita-se também que as termelétricas são privadas, sendo que o setor é dominado pelo mesmo grupo das hidrelétricas. Nesse sentido, não há crise hídrica e o que estamos vivendo é a consequência das privatizações no setor e da destruição da soberania energética do país. Tal situação se aprofundará com a privatização da Eletrobrás.

Por fim, o setor elétrico brasileiro ainda é dependente das hidrelétricas e, assim, qualquer alteração no regime anual de chuvas afeta o nível dos reservatórios e, consequentemente, a quantidade de energia elétrica gerada. Para além da questão da crise hídrica, o fato é que certamente estamos vivendo uma crise de gestão da energia. Energia que é essencial para o crescimento da economia do país e para o bem-estar da população.

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