Adriano Valério Resende
Muitas pessoas já devem ter percebido que a maior parte da água que utilizamos provém do solo e chega à superfície por meio das nascentes. Essas também são conhecidas com outros nomes, tais como: fonte, mina, minadouro, brejo, olho d’água, manancial etc. As nascentes são comuns em áreas rurais, mas estão do mesmo modo presentes no meio urbano, por isso estão sujeitas a maiores intervenções antrópicas. Resende Costa é um típico exemplo. Várias nascentes foram incorporadas pela expansão da malha urbana e uma, em especial, nos chama a atenção, pois ficou no meio de uma rua na parte central da cidade.
Primeiramente, convém destacar que realizar a gestão da oferta de água de forma sustentável não tem sido uma tarefa fácil para a humanidade. Fato preocupante perante a disponibilidade desse precioso líquido no planeta: 97,5% de água é salgada e 2,5% é doce. Desse total de água doce, 68,9% estão nas calotas polares, nas geleiras e nas altas montanhas e 29,9% são águas subterrâneas profundas. Assim, da água superficial, 0,9% estão em diversas fontes, tais como pântanos e umidade do solo, e 0,3% estão em rios e lagos, sendo essa a que pode ser diretamente acessada (REBOUÇAS, 2002). Portanto, o homem tem acesso direto a uma pequena parte do total de água do planeta. Podemos comparar afirmando que de um copo de água, uma gota é de fácil acesso para nós.
Podemos nos perguntar: o que são nascentes? Tecnicamente, num sentido mais amplo, elas não são apenas os locais onde a água aflora, “[...] mas, sim, todo um sistema constituído pela vegetação, pelo solo, pelo relevo e pelos demais componentes das áreas de recarga a montante.” (EMATER, 2014). As águas que brotam das nascentes provêm dos lençóis freáticos. Os lençóis são abastecidos pelas águas da chuva que infiltram no solo, especialmente em áreas cobertas por vegetação nativa nas partes mais altas, as chamadas áreas de recarga. Trata-se de um sistema frágil diante das agressões decorrentes das atividades antrópicas, tais como queimadas, desmatamento, erosão do solo e o pisoteio pelo gado. “Neste sentido, as nascentes precisam ser adotadas, protegidas e, se for o caso, reabilitadas e recompostas.” (EMATER, 2014).
Aqui nos cabe outra pergunta: como a água fica no solo? O solo é constituído por partículas minerais, matéria orgânica, ar e água. Esses últimos (ar e água) representam algo em torno de 50% e dependem de sua porosidade, isto é, do percentual de espaços vazios. Outro fato é que quando estamos no período seco, o solo tem mais ar do que água e no período chuvoso, há mais água do que ar. Quando uma região ou camada do subsolo está com seus poros encharcados (ou saturados de água), temos um aquífero. Essas camadas podem ser profundas (aquíferos confinados ou semiconfinados) ou mais próximas à superfície (aquífero freático). As nascentes são, portanto, caminhos por onde o excesso de água do solo brota na superfície, oriundo dos lençóis freáticos, formando córregos e riachos.
Vale lembrar que muitas cidades surgiram próximas a cursos d’água. Os rios eram e ainda são vistos como fonte de água para abastecimento e escoadouro para o esgoto. E, com a expansão urbana, muitos córregos foram canalizados ou passaram a correr em galerias, sendo cobertos por concreto, tornando-se avenidas. Em Resende Costa, com a ampliação da malha urbana, algumas minas, que antes eram usadas para abastecimento de água, se tornaram receptoras de esgoto, foram canalizadas ou tiveram a vegetação do entorno suprimida para se tornarem ruas ou pomar nas hortas das casas.
Curiosamente, uma nascente dentro da cidade nos chama a atenção: ela está no meio da rua, no encontro da Praça Rosa Soares Penido com a Avenida Ministro Gabriel Passos. É uma nascente intermitente, só corre no período das chuvas. Ela escoa o excesso de água que infiltra no solo a montante, ou seja, desde o entorno da Matriz. Segundo relato de moradores antigos, essa área sempre foi “molhada”, o que comprova que ali temos uma nascente intermitente.
Por fim, os cuidados com áreas onde as águas nascem são essenciais para a garantia quali-quantitativa desse recurso tão precioso. Por isso, os administradores públicos de Resende Costa precisam ter mais cuidado ambiental com as minas que brotam no entorno da cidade.