Após emancipação, Conceição da Barra de Minas passou 27 anos com nome de Cassiterita


Política

José Venâncio de Resende 0

Vista aérea

 

Por cerca de 27 anos, entre a criação do município em 1962 e o plebiscito transformado em lei em 1989 pela Assembleia Legislativa do Estado, Conceição da Barra de Minas foi conhecida como “Cidade de Cassiterita”. Desde a emancipação até hoje, Conceição da Barra de Minas já teve 13 prefeitos eleitos.

 

O antigo povoado de Nossa Senhora da Conceição da Barra surgiu em torno de uma capela construída pelos moradores das redondezas em 1726. Em 1765, foi promovida a Capela filial da Matriz de Nossa Senhora do Pilar de São João del-Rei, relata o professor Antonio Gaio Sobrinho (Conceição da Barra de Minas: Minha Terra Natal, FUNREI, 2001, São João del-Rei).

 

Em 1825, o arraial foi elevado à freguesia ou paróquia por Alvará Imperial, com duas capelas filiais: Nazaré e Ibituruna, conta Antonio Gaio. “O local era passagem das caravanas, tropas e viajantes que do sertão, procedentes dos lados de Formiga, demandavam o Rio de Janeiro, passando por São João e Barbacena. Por aí passavam os que do Rio Grande se dirigiam para as bandas de Pitangui.”

 

Em 1923, a denominação do povoado foi encurtada para Arraial da Conceição da Barra e, em 1943, “deixando a história para trás, passou à vila com a antipática denominação de Vila de Cassiterita”, observa Antonio Gaio.

 

Já no final do século XIX, as disputas eleitorais, pelo sistema censitário, se faziam na região entre os dois principais partidos do Império – Conservador e Liberal – relata Antonio Gaio (Memórias de Conceição da Barra de Minas, 1990, São João del-Rei).

 

Em 31 de janeiro de 1892, Antonio Francisco da Rocha foi escolhido “Agente Executivo” de São João del-Rei. Para representar o distrito de Conceição da Barra, foi eleito vereador José Gabriel Ferreira da Silva, nome ligado ao antigo Partido Conservador.

 

Durante a “República Velha”, até 1930, a política nacional obedecia ao chamado pacto dos Governadores, prevalecendo sempre a aliança São Paulo/Minas, conhecida como “Política do café-com-leite”, lembra Antonio Gaio. Era época do Partido Republicano Paulista (PRP) e do Partido Republicano Mineiro (PRM). Tanto que, em 1921, o PRM se instalou em Conceição da Barra.

 

UDN x PSD

 

No Estado Novo de Getúlio Vargas, foram abolidos os partidos políticos, assinala Antonio Gaio. Com o fim da ditadura, em 1945, surgiram vários partidos, com destaque para União Democrática Nacional (UDN) e Partido Social Democrático (PSD). “Foram exatamente estas duas agremiações políticas que vieram dividir as preferências eleitorais dos concepcionenses, cabendo suas lideranças entre nós a homens como Dâmaso José de Almeida, Capitão Elpídio Costa e Ataualpa de Oliveira, pela UDN; Pedro Canaan, Elias José de Moura e Vespasiano Araújo, pelo PSD.”

 

Conta Antonio Gaio que um dos dias, talvez, mais movimentados da vida política de Conceição da Barra foi o 22 de setembro de 1945, quando o país emergia do longo período da ditadura varguista. “Naquele dia, essas duas agremiações rivais promoveram na vila cassiteriana dois concorridíssimos comícios. A UDN promoveu para seus simpatizantes uma verdadeira festa, com muita comida, bebida e banda de música e o PSD retrucou com a banda local e o espoucar dos irritantes foguetes de vaias.”

 

A imprensa de São João del-Rei registrou o acontecimento por meio de seus dois jornais partidários, “Diário do Comércio” e “O Correio”.

 

“Constituiu-se sob a chefia do Dr. Mário Teixeira de Almeida o diretório da UDN de Conceição da Barra , reunindo nomes os mais expressivos que filiados à grande organização política sustentarão o nome do Brigadeiro Eduardo Gomes (...). Na residência do Sr. Acácio Alves foi oferecido um lauto almoço à caravana. D. Delfina de Andrade Alves, sua exma. esposa, prodigalizou-se em gentilezas aos convidados.”

 

“No dia 2 de setembro de 1945 houve dois comícios em Conceição da Barra. Ao meio dia o da UDN que contou com banda e caravana vinda de S. João del-Rei e à tarde o do PSD quando falaram pró-candidatura do Gen. Eurico Gaspar Dutra os políticos locais José de Alencar Borges, Elias José de Moura e Dr. Gerardo Cid de Castro Valério.”

 

Cassiterita

 

Com a emancipação político-administrativa – desmembramento de São João del-Rei – por força da lei 2764 (30/12/1962), foi nomeado intendente de Cassiterita o então Juiz de Paz distrital José da Silva Alvim (Zé do Dim), que se encarregou de implantar a máquina administrativa e os serviços municipais. Em 1963, ele deu posse ao primeiro prefeito eleito, Vespasiano de Araújo (PSD), para o período 1963-66.

 

Em meio ao mandato de Vespasiano, o golpe militar de 1964 pôs fim ao “populismo” no Brasil, observa Antonio Gaio, ao criar o bipartidarismo com a Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB).

 

Assim, o segundo prefeito foi Ataualpa de Oliveira (ARENA), que administrou o município no período 1967-70. O mandato-tampão de dois anos (1971-72) foi ocupado por Antonio Silva, também da ARENA. O partido de sustentação do regime militar emplacou mais uma vez o gestor municipal, trazendo de volta Ataualpa para cumprir o mandato de 1973-76. “Sua administração foi das mais fecundas, destacando-se pela atenção dada às estradas municipais; aos serviços básicos da sede, como calçamento, água e comunicação; e à cultura, sendo responsável pela criação de diversas escolas rurais e pela instalação da Biblioteca Municipal”, resume Antonio Gaio.

 

Em 1977, Vespasiano voltou à prefeitura, desta vez pelo MDB, mas faleceu durante o mandato e foi substituído pelo vice-prefeito José Palumbo Filho (Palumbinho). “Vespasiano e Palumbinho cuidaram da urbanização da sede, calçando ruas, remodelando praças e construindo a Praça de Esporte, junto à Igreja de Santo Antonio, iniciativa esta que marcou a curta administração de José Palumbo Filho”, conta Antonio Gaio.

 

PDS x PMDB

 

No início da década de 1980, ARENA virou Partido Social Democrático (PDS) e MDB acrescentou um “P” de Partido no início do nome, tornando-se PMDB. “Em 1982, em meio ao clima de transformações e esperanças nacionais, foi eleito prefeito municipal o jovem líder Cornélio Galdino de Paiva, que tomou posse em 1983”, relata Antonio Gaio.

 

Entre as realizações de Cornélio no período 1983-88, Antonio Gaio destaca a transformação em hospital da “malquista cadeia pública estadual” e a humanização dos logradouros públicos através de calçamento e construção de belos jardins. Mas “seu grande sonho”, que era “também de todos nós”, era a pavimentação asfáltica da estrada entre Conceição e a MG-265.

 

Este sonho, “para alegria de todos”, tornou-se realidade em meados de 1988, relata Antonio Gaio. “Cornélio deixa assim seu nome alcandorado entre os maiores administradores municipais mineiros e, sem dúvida, o maior, até hoje, do Município Concepcionense.”

“Ainda que continue prevalecendo em Conceição da Barra esse bipartidarismo, sente-se já uma saudável renovação nas lideranças bem como sinais do aparecimento de novas formulações partidárias, encarando ideias renovadas”, observa Antonio Gaio.

 

Plebiscito

 

Em 1986, durante o mandato de Cornélio, a população, mediante plebiscito, optou pela antiga denominação, Conceição da Barra, em substituição a Cassiterita, de acordo com relato de Antonio Gaio. Em 1989, o Legislativo mineiro confirmaria este nome (Lei Estadual nº 9960), acrescido da palavra "de Minas", para se diferenciar do município homônimo no Espírito Santo.

 

As eleições de 1988 ocorreram num cenário de novos partidos, ou novos nomes partidários. O candidato do PMDB, Elias José de Moura Neto, derrotou o empresário Eugênio Morgado, do Partido da Frente Liberal (PFL).

 

Mas, em 1992, o empresário Eugênio Morgado (PFL) conseguiu eleger-se para o período 1993-1996. Foi sucedido por Altair Alvim (Juju), do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), que engatou duas gestões (1997-2000 e 2001-2004). E ainda conseguiu eleger o seu sucessor, o também tucano José Tadeu de Souza, para o período 2005-2008.

 

Entre as ações de Juju à frente da prefeitura, são apontadas a construção do parque de exposições; viabilização da Cooperbom no município (maior competição no preço do leite); programas de financiamento de tanques de expansão de leite e de inseminação artificial; parceria com o SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) para realização de treinamento; implantação da APAE; realização da primeira exposição agropecuária e de artesanato; construção da usina de triagem e compostagem de lixo; aquisição de veículos, máquinas e implementos agrícolas para a administração municipal e a Associação dos Produtores Rurais. Além disso, são listadas obras de reforma, construção e melhorias em setores como estradas rurais, eletrificação, abastecimento de água, escolas, saúde, urbanização, habitação popular, esportes, lazer e cultura.

 

O PMDB voltou à prefeitura em 2009, com Cornélio Galdino de Paiva, mas perdeu a eleição de 2012 para o ex-prefeito Juju (PSDB). A centralização dos recursos financeiros nas mãos do governo federal e o aumento das exigências a serem cumpridas pelos municípios tornam mais difícil a nova gestão, diz o prefeito Juju. Entre os desafios de sua gestão, ele aponta uma dívida de quase dois milhões de reais, além de gastos com pessoal no limite.

Aspectos econômicos

 

Conceição da Barra teve sua origem ligada à procura pelo ouro, escreve Antonio Gaio. “Seus dias de glória constituíram, depois, o epifenômeno de sua riqueza material, representada, sobretudo, pelas suas ricas fazendas, produtoras de açúcar, café, polvilho, milho, leite e derivados.”

 

Até que houve a decadência, iniciada a partir da segunda guerra mundial, que “refletiu o êxodo demográfico, a minifundização agrária e o isolamento viário”. Abriram caminho para a reversão desse processo, segundo Antonio Gaio, a renovação das lideranças políticas, o aumento da demanda por educação superior, a multiplicação de iniciativas promissoras, a expansão da construção civil e, principalmente, o asfaltamento da estrada ligando a sede do município à rodovia federal BR-265.

 

Atualmente, o leite é a principal atividade agropecuária de Conceição da Barra, com produção de 18,25 milhões de litros, segundo relatório de 2012 do escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (EMATER-MG). O município participa do programa “Minas Leite”, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado, que busca acompanhar de perto propriedades de agricultores, em sua maioria familiares. O objetivo é estimular o uso intensivo de pastagens, novas tecnologias, inseminação artificial, formação de pastagens/canaviais e união para negociar o leite

 

Na segunda posição, aparece o milho com 6 mil toneladas por ano, seguido do café (5,675 mil sacas por ano). A maior parte da produção de milho é destinada ao consumo próprio, ou seja, para alimentar o gado leiteiro, explica o engenheiro agrônomo José Eustáquio Teixeira, da EMATER-MG. Existem alguns poucos grandes produtores, principalmente de soja, que exportam o grão para processamento fora do município.

 

A Emater-MG estima que o setor agropecuário equivale a cerca de 35% do produto interno bruto (PIB) – soma de toda a produção municipal nos vários segmentos econômicos – avaliado em R$ 29,8 milhões pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2010 (último dado disponível). A população está em torno de 3,95 mil habitantes (IBGE, 2010).

 

 

 

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