Aumento no custo da alimentação e redução de empregos em São João del-Rei


Economia

José Venâncio de Resende 0

Prédio da Associação Comercial de São João del-Rei

Além das contas típicas de início de ano (pagamento de prestações do fim do ano anterior, IPTU, IPVA, material escolar etc.), grande parte dos brasileiros inicia 2014 pagando mais impostos (imposto de renda, por exemplo). Sem falar do alto custo de vida, uma vez que o governo conseguiu em 2013 a proeza de conciliar uma inflação (5,91%) bem acima do centro da meta (4,5%) – elevada para os padrões internacionais – com um magro PIB (soma de tudo o que se produz no país) em torno dos 2%, o denominado “Pibinho”. 

Não fossem os preços administrados (combustíveis, energia, tarifas de ônibus urbanos etc.) contidos pelo governo, a inflação teria sido bem maior. Os preços livres ultrapassaram de longe o índice oficial (7,27%) e o câmbio mudou de rumo (crescente desvalorização do real frente ao dólar). Os principais segmentos que contribuíram para a alta foram “alimentação e bebidas” (8,48%) e “despesas pessoais” (8,39%). A maior inflação deve-se a fatores como demanda elevada (produtos e serviços) puxada pela renda e custo de mão de obra acima da produtividade, além dos gastos exagerados do governo. O cenário pode piorar em 2014, ano eleitoral e de copa do mundo.  

Em São João del-Rei, o custo da cesta básica alimentar, em dezembro de 2013, aumentou 16% em termos reais (descontada a inflação), para R$ 227,47, em relação ao mês do ano anterior, de acordo com o Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Janeiro foi o único mês do ano em que o valor da cesta básica diminuiu (1,9%), de R$ 198,11 (2012) para R$ 194,39 (2013). Na média do período janeiro-dezembro, a cesta básica do trabalhador são-joanense aumentou 10,3%, de R$ 194,49 (2012) para R$ 214,44 (2013).

Se o custo de vida encolheu o bolso, o nível de endividamento do consumidor são-joanense apresentou ligeira melhora. Os registros de pessoas físicas no Serviço de Proteção ao Crédito da ACI del-Rei aumentaram 9,7% no ano passado, ou seja, passaram de 24.522 inclusões no banco de dados do SPC (2012) para  26.890 inclusões (2013). Mas o número de registros excluídos do SPC cresceu bem mais (19,7%), de 14.553 (2012) para 17.424 (2013). Em resumo, para 2.368 inclusões a mais no SPC, houve 2.871 exclusões adicionais.

           

Menos empregos

No mercado de trabalho formal (carteira assinada), em São João del-Rei foram criados apenas 93 novos empregos (queda de 66,7%  em relação às 280 novas vagas de 2012), resultado da diferença entre 6.988 admissões e 6.895 desligamentos. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Emprego (CAGED/MTE). O setor serviços liderou a geração de postos de trabalho (147), seguido da construção civil (70). As reduções de emprego ocorreram principalmente na indústria de transformação (-61) e no comércio (-56).

 “Trata-se do pior saldo nos últimos dez anos”, afirma o professor Aluizio Antonio Barros, aposentado do Departamento de Ciências Econômicas da UFSJ. A queda em relação a 2012 foi expressiva, observa. “No meu acompanhamento dos dados no primeiro semestre, constatei a perda de emprego violenta no setor do comércio (menos 188 empregos no período de janeiro a julho). O setor se recuperou no segundo semestre e terminou o ano com uma pequena queda de seis empregos”.

Pelos dados levantados por Barros, em São João del-Rei houve uma queda muito forte no saldo de movimentações (admissões-desligamentos) nos primeiros meses de 2013, ou seja, “a queima de postos de trabalho chegou a 214 no primeiro trimestre”. Nos últimos dez anos, os saldos anuais (admissões-desligamentos) apresentaram as seguintes evoluções: 2004 (450 novas vagas); 2005 (610); 2006 (172); 2007 (683); 2008 (319); 2009 (332); 2010 (1164); 2011 (350); 2012 (280) e 2013 (93). 

Estes resultados estão em linha com as estatísticas nacionais de emprego formal do CAGED, interpreta Barros. “O País criou 1,1 milhão de empregos com carteira assinada em 2013, mas é o pior saldo em dez anos. O resultado é 15% inferior ao de 2012 (1,3 milhão de novos postos de trabalho).”

Isto decorre do desempenho da economia que vem perdendo força desde 2010 quando cresceu 7,5%, explica. “O crescimento estimado do PIB brasileiro para 2013 é 2,3%. Os resultados para 2011 e 2012 foram, respectivamente, 2,7% e 1%. As projeções para o corrente ano de 2014 apontam para algo em torno de 2%.”

 

O desempenho da economia regional ou local pode se descolar desse resultado esperado para a economia nacional, aposta Barros. “A instalação de um grande empreendimento local ou preços favoráveis de produtos da agropecuária local podem favorecer o quadro econômico regional na comparação com o contexto nacional”.

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